tag:blogger.com,1999:blog-14762825303201382102024-02-20T02:44:25.571-03:00Revista PhilomaticaLiteraturas Brasileira e Francesa, Machado de Assis, comentários e variedades.Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.comBlogger266125tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-81343711203437614082020-01-22T10:14:00.000-03:002020-01-22T10:14:11.188-03:00Um viajante entre os nazistas<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifGF3mlYyySokPD4oUdcdohn9ZqQlFtfd9jSHRsxbYKn19CsXlUN-MABrvfx-SsOijiyXUSTBysLT3avxpA_lzqcBY1Cq8aOAlhhP77tNFzwSTmlHP1BCWVH76QsdO2WK-t1v7Xyu0Bxs/s1600/Foto+texto+160.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="528" data-original-width="770" height="273" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifGF3mlYyySokPD4oUdcdohn9ZqQlFtfd9jSHRsxbYKn19CsXlUN-MABrvfx-SsOijiyXUSTBysLT3avxpA_lzqcBY1Cq8aOAlhhP77tNFzwSTmlHP1BCWVH76QsdO2WK-t1v7Xyu0Bxs/s400/Foto+texto+160.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
tentativa de fugir do carro das ideias, que, medíocre, hoje chegou quase vazio,
volto-me aos livros. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O viajante</i>, de Ulrich
Boschwitz ainda não ganhou uma tradução para o português, mas aí vai uma dica
se você lê francês, inglês, italiano, espanhol, alemão... Bem, você não precisa
ser poliglota ou erudito, um idioma estrangeiro resolve o problema, até mesmo
porque a menção a esses idiomas ironicamente nos mostra o quanto somos um povo singular;
traduzimos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">best sellers</i> de Gary John
Bishop (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pare com essa merda</i>), de Mark
Manson (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A sutil arte de ligar o foda-se</i>),
de David Focker (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Seja foda, seja
inteligente</i>) e ignoramos solenemente obras não ligadas à moda dos
excrementos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ou da escatologia, a
coprologia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Falemos
então de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O viajante</i>. Como fugir da
Alemanha em 1938, quando você é judeu? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
resposta encontra-se nesta obra de Boschwitz, uma obra-prima escrita em 1939
por um autor de 23 anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
personagem se chama Otto Silbermann. Difícil ter esse nome na Alemanha, sobretudo
após a célebre Noite dos Cristais (novembro de 1938) e passar despercebida. Tão
logo negociara apressadamente a venda de sua casa, os nazistas vieram
prendê-lo. Escapando por uma porta dos fundos, Silbermann inicia uma odisseia
ferroviária. Berlim-Hamburgo-Dortmund-Aix-la-Chapelle-a fronteira
belga-Berlim-Dresden-Berlim: o Reich, que fechou suas fronteiras para os
judeus, tornara-se uma vasta e perigosa armadilha. A aranha nazista teceu sua
teia silenciosa, fazendo de todos os caminhos um beco sem saída, e um pária
como Silbermann sentia o laço apertando cada vez mais o seu pescoço, considerando-se
que tudo o que tinha não ultrapassava os 40.000 marcos que carregava em uma toalha.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Novo
judeu errante, ele passa por um café, depois um restaurante, um hotel, que ele
logo deixa; enfim, um fantasma fugindo dos arianos, potenciais denunciantes,
cujas vítimas deviam evitar. Tudo o que era simples, de repente tornou-se
bastante complicado, a menor certeza vacila e a vida fácil já é impossível. Nos
corredores dos trens, nos vagões, Silbermann conhece outras figuras, judeus
mais pobres que ele, mas também em fuga, cidadãos sobre os quais ele não sabe o
que pensar e que nada suspeitam do seu drama. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era
preciso dizer que ele não era judeu. Mas, a propósito, como é parecer judeu? “Parecer
ansioso, alarmado.” Ora, ele estava cada vez mais ansioso. “Os judeus declaram
guerra à Alemanha”, lê nas manchetes de jornais. “Que seja a guerra, eu estou
bem ciente disso”, disse ele a si mesmo, “mas se fui eu quem a declarou, isto eu
não sabia”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Silbermann
lutara na Primeira Guerra Mundial. “Mas nós éramos muitos em ambos os lados. Hoje,
sou só eu e tenho que lutar a minha guerra sozinho.” Ele a luta, contudo, mas
luta cheio de humor estridente – “ao menos eu descubro a Alemanha”, “eu deveria
ter feito uma assinatura” - ou desespero – “o que quer que fazemos, sempre
atraímos suspeitas”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há muitos
sobressaltos, parênteses reconfortantes, mas, diante dos fracassos, ao sabor das
traições de amigos que subitamente o ignoram, esse Ulisses confuso acaba
perdendo a coragem e a humanidade. Um ódio estridente de seus irmãos acaba por
invadi-lo. “Tudo isso é por causa deles. O que eu tenho em comum com eles?” Silbermann
tenta o suicídio; a loucura o ameaça, a loucura de um animal que gira em sua
gaiola. Um bolero trágico realizado com maestria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
viajante</span></i><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> também poderia ser chamado de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O fugitivo</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Perseguido pela morte </i>ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
inimigo invisível</i>. Um inimigo que imperceptivelmente tira do homem tudo o
que ele tem e tudo o que ele é. “O que resta de mim?”, ele se pergunta. “O que
eles querem de mim?” O leitor sabe bem, e no entanto, se consome ao acompanhar
a fuga de perder o fôlego empreendida por Silbermann, torcendo por ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Devemos
esta obra-prima esquecida a um judeu de 23 anos, Ulrich Boschwitz, que a
redigiu apressadamente em Paris, em um mês, depois de ter fugido da Alemanha
após o evento da Noite dos Cristais. Essa emergência contamina o texto muito
literário, tornando-o ao mesmo tempo engraçado e desesperado, e, paradoxalmente
a pressa imprime à narrativa um tom de reportagem: temos a impressão de estar
lá, um sentimento tão raro e tão precioso na literatura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Precocidade
surpreendente de um autor, capaz desde 1938 de restaurar, assim, do exterior, a
decomposição progressiva de um indivíduo preso nas rodas dentadas de uma
máquina infernal. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O viajante</i> apareceu
nas principais editoras de Londres e Nova York em 1939, nunca em alemão ou
francês, e só foi encontrado no final de 2015 nos arquivos de literatura
exilada da Biblioteca Nacional de Frankfurt pelo editor Peter Graf, que revisou
o manuscrito - o autor ainda queria corrigi-lo, mas não teve tempo. Partindo
para Londres antes de 1940, Boschwitz teve o triste privilégio de ser internado
como alemão pelos ingleses em um campo australiano. A história, que ainda não
havia terminado, não abriria mão dessa esperança da literatura mundial. Quando
ele acabou de ser libertado em 1942, contra a promessa de se envolver com os
Aliados, seu navio inglês foi torpedeado por um submarino alemão perto dos Açores.
Como seu herói, ele não escapou dos tentáculos do polvo nazista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
fim, aqui no torrão tupiniquim, é esperar passar a moda dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">best sellers</i> excrementológicos e torcer
para que um editor se disponha à empreitada de publicá-lo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span lang="FR" style="font-family: "Calisto MT", serif; line-height: 150%;">* </span><span lang="FR" style="font-family: "Calisto MT", serif; line-height: 150%;">A partir da
reportagem de François-Guillaume Lorrain, <i>Le
Point</i>.</span><span lang="FR" style="font-family: "Calisto MT", serif; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span lang="FR" style="font-family: "Calisto MT", serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/um-viajante-entre-os-nazistas/"><span style="color: black;">https://www.z1portal.com.br/um-viajante-entre-os-nazistas/</span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<em style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-family: "pt serif", Georgia, serif; text-align: start;"><span style="font-size: x-small;">Ulrich Boschwitz. Le Voyageur. Ed <span style="color: black;"><a class="surligner" href="https://www.lepoint.fr/tags/grasset" style="border-bottom: 1px dashed rgb(0, 0, 0); box-sizing: border-box; font-family: inherit; text-decoration-line: none !important;"><span style="color: black;">Grasset</span></a>.</span> Trad de l'allemand par Daniel Mirsky. 340 p. 19 €.</span></em></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-11278971772851943592020-01-11T09:04:00.000-03:002020-01-11T09:04:18.418-03:00Sobre sobremesas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7dZSWcF_Uhsn8KjN212XTjErpfe5QpEDbbYLou6APvmKllBrVmnzNZ3MjYDJel0wyv8sH3LK3hb4KpdlnAP98glGoZqF8sGealcEADowwvKdSzzcq9nAl7NcPYfEUlyDa7pomwg_O0wk/s1600/Foto+texto+159.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7dZSWcF_Uhsn8KjN212XTjErpfe5QpEDbbYLou6APvmKllBrVmnzNZ3MjYDJel0wyv8sH3LK3hb4KpdlnAP98glGoZqF8sGealcEADowwvKdSzzcq9nAl7NcPYfEUlyDa7pomwg_O0wk/s400/Foto+texto+159.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
ano começa e, parece-me, as notícias ainda não se reciclaram ou não se deram
conta de que o calendário mudou. A balela veiculada pelos emburrecedores (e
embrutecedores) programas de TV e portais de notícia de que é preciso se vestir
de verde amarelo rosa azul-anil para ter dias felizes no próximo ano, as
notícias, impávidas, olharam indiferentes para o vozerio e continuaram a
oferecer o café amargo do dia a dia que, embora delicioso, para os açucólatras
lembra o lado cruel e amargo da vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
ameaças dos países centrais e periféricos estão na ordem do dia. Cada um acusa
à sua maneira e também usa seu poderio militar e terrorista a seu modo – e que
vença não o melhor, o mais ético, mas o mais forte. Afinal, o que dizer? Melhor
é se conformar como o povo ovelha que, diante do aumento dos combustíveis, em
um raro dia em que vi os noticiários na TV, dizia: “fazer o quê, né?, é sempre
assim, não muda nada.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
à toa Leibniz dizia lá nos tempos de antanho que vivíamos no melhor dos mundos
possíveis. Ainda que tenha sido ridicularizado por Voltaire, a máxima
mostrou-se tão obstinada quanto a craca na crosta do navio, é preciso tempo e
paciência para soltá-la. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Darwin, por sua
vez, anteviu toda a bandalheira de hoje e de sempre com a sua teoria da
evolução e a seleção natural. Não à toa, repito, o evolucionismo tornou-se a
religião dos governos no século XIX e, hoje, vemos os governos e os poderosos
solapando a massa sem dó nem piedade, e a massa, a massa, meu Deus, diz “fazer
o quê?”. Achando-me revoltado, obtuso leitor? Você viu a notícia de que
deputados e senadores, e toda a canalha que habita a ilha da fantasia Kubitschek,
gastaram nada menos que R$ 3.100.000.000,00 (isso mesmo!, três bilhões e cem
milhões de reais) em trajetos para Paris, Roma, Nova York e Las Vegas??? E o
presidente interrompe sua pausa entre o Natal e o Réveillon para assinar um salário
mínimo de R$ 1.039,00? E a massa que desconhece a ironia diz “fazer o quê?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isso
só acontece, creio eu, em razão do esforço conjunto da mídia, de políticos,
sociólogos, antropólogos, futurólogos, ideólogos, obtusólogos e todos os ólogos
existentes que, consubstanciados com o poder, alienam e inculcam na massa que
ela deve morrer de trabalhar porque trabalhar dignifica o homem. Não discordo,
mas, pergunto-me ao ler tais notícias quais homens são ou serão dignificados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto
isso, parte da mídia alimenta o imaginário da massa com sobremesas. Machado de
Assis há muito dizia que temos o hábito de comer a sobremesa antes do prato
principal. Você viu que em algumas capitais, nas comemorações de Ano Novo, as
escolas de samba já saíram à rua para dar, digamos, uma canjinha, para entreter
a massa? Esta, dopada, drogada, surtada e descompassada não sei com o quê, ri
às desbragadas, fica feliz e mostra o cartazinho às câmeras com os dizeres
“mamãe, eu estou na Globo”. E assim <i style="mso-bidi-font-style: normal;">la
nave va</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
não só os opressores e poderosos que subjugam e embrutecem as massas não. A massa,
quando pode, não perde a oportunidade de explorar seu igual. Anotem esta historieta
que presenciei na feira sábado passado. Aproximei-me de um banca em que um
agricultor expõe milho, limões e mandiocas que cultiva, na esperança de lucrar
algum dinheiro para seu sustento. Como o milho não advém do agronegócio, as
espigas são díspares, algumas plenas de grãos e maiores, outras, talvez em
razão do solo ou das intempéries, não se mostram tão atrativas e suculentas.
Por isso, o agricultor teve a ideia de separá-las e a elas atribuir preços
diferentes. Nada que qualquer outro comerciante não faria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Uma
jovem, ao analisar o milho decide pela compra das melhores espigas. Ao ser
informada do preço, reage com desdém e diz: “Mas isso é muito caro. Eu não
quero pagar isso!” O agricultor sequer teve tempo para a resposta, pois o Iphone
11 da jovem começou a soar insistentemente. Resolvida a ligação que a
interrompera, a jovem volta-se para o agricultor que, com suas mãos grossas
pela lida do trabalho e o contato diário com a terra, descascava umas outras
espigas e continua: “Já disse que não posso pagar isso!”, ao que o agricultor
replica: “Moça, mas essas espigas foram selecionadas, por isso o preço é
diferente das outras.” A jovem, por sua vez, insiste: “Veja, até mesmo as
outras acho caras. Vou explicar: eu tenho calopsita!” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
agricultor: “Eu sei, mas é o melhor preço que posso fazer. Se você procurar
pela feira vai ver que o meu preço não é maior que o dos outros que vendem
milho.” A jovem: “Parece que o senhor não entendeu. Eu tenho calopsita. Não
posso pagar esse preço. O senhor vai ter que fazer um preço diferenciado pra
mim. Eu tenho calopsita!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Irritado,
deixei a banca, pensando na facilidade em que as pessoas transferem suas
responsabilidades aos outros. A calopsita, assim como as farras em Las Vegas e
a escola de samba animando a massa, tudo se insere na ordem das sobremesas. A
calopsita, a jovem decidiu por vontade própria comprá-la, porém, na hora de
pagar pela alimentação do pássaro, decidiu transferir o ônus para o pequeno
agricultor que conta os poucos caraminguás que junta com a venda do milho para
sobreviver; a canalha política, torra o erário sem qualquer medida abusando da
sobremesa, enquanto ao pobre sequer o prato principal lhe é permitido colocar à
mesa e, por fim, para esse pobre, oferecem a ele o samba como sobremesa,
afinal, não é de hoje que o mundo gira sobre a roda do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">panem et circenses</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: x-small;">Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/sobre-sobremesas-o-ano-comeca-e-parece-me-as-noticias-ainda-nao-se-reciclaram-ou-nao-se-deram-conta-de-que-o-calendario-mudou/">https://www.z1portal.com.br/sobre-sobremesas-o-ano-comeca-e-parece-me-as-noticias-ainda-nao-se-reciclaram-ou-nao-se-deram-conta-de-que-o-calendario-mudou/</a></span>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-55950629723216074552020-01-11T08:59:00.002-03:002020-01-11T08:59:35.063-03:00Textos que ninguém lê<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPVaadXzGcQj8jvP7eHseSULT85EVGHXZvxH09CHZHJ-eVdUhAE6DJ3ICEPeT7qNpEPR9y5AfRTwoK_G3UYx8XZvQ3miAm25cP_4-uZin539P_cnpZBypnnNlR9Es07bvxq7w74JwvpIA/s1600/Foto+texto+158.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="85" data-original-width="151" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPVaadXzGcQj8jvP7eHseSULT85EVGHXZvxH09CHZHJ-eVdUhAE6DJ3ICEPeT7qNpEPR9y5AfRTwoK_G3UYx8XZvQ3miAm25cP_4-uZin539P_cnpZBypnnNlR9Es07bvxq7w74JwvpIA/s400/Foto+texto+158.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
semana revelou mais um pouco da perversidade humana. O revelar-se recai em pura
redundância, uma vez que até o mais obtuso dos humanos conhece a si próprio e
aqueles que o rodeiam, portanto, sabe de que barro é feito e não ignora que em
meio algumas pitadas de ética, bondade e retidão, a grosso modo, o que dá
consistência à matéria são ingredientes à disposição em qualquer prateleira da
esquina: hipocrisia, vilania, ganância, violência, covardia, estupidez e muito
mais. A diferença entre esses itens e qualquer outro produto é a
disponibilidade do cidadão em prová-los, principalmente porque por eles não se
paga. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, é só por isso, covardes, violentos e gananciosos são os 41 homens que
foram presos por patrocinarem rinhas entre cães em Mairiporã. Dentre eles,
destacam-se um veterinário, um médico e um policial. No frigir dos ovos, a
balança da justiça pendeu para a injustiça, que aos olhos da lei deve ser
perpetrada sempre. Dos 41 espúrios, só um ainda continuava preso - e duvido que
continue. O que esperar da humanidade em tempos em que todos se voltam para o
nascimento do Cristo e, hipocritamente, pregam a bondade, a nobreza e a retidão
de espíritos? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
perversidade dos homens em seu quotidiano ressoa na literatura. Machado de
Assis, por exemplo, demonstrou genialidade incomparável ao tratar da essência do
espírito humano sob o crivo da ironia. Shakespeare fez das intrigas palacianas o
fermento para obras monumentais. Outros, mais contemporâneos, buscam na
curiosidade do leitor pelo desconhecido, sua intemperança, seu desespero e suas
atribulações o mote de suas obras e com isso se dão muito bem. Dan Brown e
Paulo Coelho estão aí a faturar milhões de caraminguás e a encher suas burras!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
nem todo mundo lê. É claro, não devemos culpar o leitor, jamais, agindo como
agem as facções políticas de nossos dias, que preferem a animosidade ao
entendimento. Mas o fato é que não raro o escritor escreve para um leitor
ideal, conjecturando que um dia será lido, por isso a premissa de que todo
mundo que escreve, escreve para ser lido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
razões de textos não serem lidos têm suas variantes e, às vezes, isso parte de
uma autocrítica. Kurt Wolff em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Memórias
de um editor </i>conta o périplo de Kafka que, antes de morrer, recomendou a
seu amigo Max Bord que destruísse o que escrevera, pois o considerava de baixa
qualidade. Felizmente, Max Brod o desobedeceu. Há casos, como de Emily
Dickinson, que, reclusa, escrevia em cadernos e cuja obra só veio à luz por
causa de amigos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dito
isso, a caça aos leitores depende de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">marketing
</i>– e Paulo Coelho está aí como prova de que não estou mentindo. Leandro
Karnal, Mário Cortella e Mark Manson com seu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A sutil arte de ligar o foda-se</i>, entre tantos outros, também estão
aí para trazer respostas rápidas a problemas incômodos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
vou entrar na questão da literatura de massa, a despeito de as subcelebridades
em suas redes sociais recomendarem o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">foda-se</i>;
penso em Kafka, não porque eu seja um leitor melhor que os outros, mas porque
procuro algo que me fale ao espírito e não somente às partes baixas – sejam
elas intelectuais ou físicas. No mais, reflito no porquê de ninguém lerem meus
textos e eu insistir em escrevê-los a mim mesmo: li que textos na internet
devem ser curtos, cheios de espaços, fotos, insistir nas palavras-chave que os
sistemas lembrem quotidianamente e, o mais importante, devem ser curtos, bem
curtos, sempre curtos. Curtíssimos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Portanto,
já passei da medida. As intersecções entre a vilania do homem, sua
representação na ficção e o fato de ninguém querer ler textos que a elas se
referem, se não ficou claro, definitivamente não leia Lukács ou Auerbach, mas veja
TV ou leia qualquer livro que traga a palavra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">foda-se</i> ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">merda</i> na capa,
e isso por três razões: subcelebridades como Marília Mendonça e Juliana Paes os
recomendam, editores dizem que são irreverentes e, o mais importante, a vida
sob a máscara da ignorância é muito mais bela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Portanto,
se chegou até aqui leitor, considere-se “o cara”, pois terá sido um dos poucos
ou quem sabe o único a ler essas garatujas. Sendo assim, recomendo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A morte de Ivan Ilitch</i>, de Tólstoi, ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Almas mortas</i>, de Gógol. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;"><o:p>Publicado originalmente em </o:p></span><a href="https://www.z1portal.com.br/textos-que-ninguem-le/">https://www.z1portal.com.br/textos-que-ninguem-le/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-9567352344422125662020-01-11T08:55:00.001-03:002020-01-11T08:55:14.568-03:00A ressurreição e morte de Eva Todor<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi_DRXnUgxLg4hNpN6QB1hBGgRWvdVacLb0mTE0sOw3Z4ShJjUlRpg6u15B1hQguUu3ECrNr1yVl2c2XfB-WXFki7zxYvd9Q2dnLx_66A5pRqEWAh2UhqDcSHh-LRiZ-Ymn5wpFqRdQDE/s1600/Foto+texto+157.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="359" data-original-width="825" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi_DRXnUgxLg4hNpN6QB1hBGgRWvdVacLb0mTE0sOw3Z4ShJjUlRpg6u15B1hQguUu3ECrNr1yVl2c2XfB-WXFki7zxYvd9Q2dnLx_66A5pRqEWAh2UhqDcSHh-LRiZ-Ymn5wpFqRdQDE/s400/Foto+texto+157.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
busca do carro das ideias, deparei-me, uma vez mais, com a obtusidade que
permeia as redes sociais. Ontem, muitos lamentavam a morte da atriz Eva Todor.
Eva Todor morreu?, perguntavam os internautas entre boquiabertos e surpresos.
Sim, uma grande atriz, mas viveu bem, faleceu aos 98 anos, constata um senhora.
Outro, maldiz 2019 por levar mais um representante das nossas artes,
estabelecendo comparações com a mediocridade, leme das celebridades de nossos
dias. Há ainda aqueles que relembram personagens interpretadas pela atriz e,
saudosos, choram a sua perda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ocorre
que Eva Todor partiu em 10/12/2017. As redes sociais têm dessas coisas. Ali,
sem qualquer risco que traz as generalizações, ninguém lê. Quando lê, lê as
manchetes, pouco se importando se a notícia é de hoje, ontem ou será a de
amanhã. O que interessa é repassar o que tomam por uma notícia quente e
fresquinha, com todo o oximoro de direito. Não é preciso dizer que o grosso
dessa lama toda são as chamadas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fake news</i>,
anglicismo desnecessário diante das nossas notícias falsas, calúnias e fofocas.
Também não é preciso dizer que no caso das notícias falsas, elas só são
propaladas porque interessam às forças envolvidas no exercício da defesa de suas
cabalas. Sabem como é, o ditado popular é impiedoso, nada resiste ao “onde há
fumaça há fogo”, e, nesse ponto, o adágio assemelha-se às notícias divulgadas
na internet, razão pela qual a expressão “cair na rede” equivale à marca de
ferro quente no dorso do gado ovelha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Diante
do nada a partir do qual se produziram as notícias da semana, sobraram-me me os
livros. Corro os olhos pela estante e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aqueles
que queimam livros</i>, de George Steiner, salta-me aos olhos. Cético e
pessimista, Steiner é um daqueles humanistas que questionam a contradição entre
a riqueza da cultura e do pensamento ocidental e sua capacidade de produzir
genocídios que assustariam até mesmo o mais ingênuo dos neandertais. Não por
outra razão, diante da incredulidade, Steiner começa seu livro com a afirmação:
“A<span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-bidi-font-style: italic; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">queles que queimam livros, que banem e
matam os poetas, sabem o que fazem. O poder indeterminado dos livros é
incalculável.”</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Contudo,
ao ressaltar o caráter dialético do livro, Steiner traz um sopro otimista ao afirmar
que “precisamente porque o mesmo livro e a mesma página podem ter efeitos
totalmente díspares sobre diferentes leitores”, cabe aos lúcidos a tarefa do
convencimento, já que nem a hermenêutica e nem a psicologia podem prever os
estragos que uma obra mal lida pode causar. Não por outra razão muito da
barbárie conhecida foi gerada no seio da alta cultura por homens letrados e
intelectuais que sistematizaram o horror e banalizaram a virtude, razão pela
qual o autor sustenta que “na experiência humana, não há fenomenologia mais
complexa do que aquela dos encontros entre o texto e percepção, ou, como
observa Dante, entre as formas da linguagem que ultrapassam nosso entendimento
e os níveis de compreensão em relação aos quais nossa linguagem é
insuficiente”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, se o livro e a literatura, por mais singelos que sejam, são a chama ínfima
que ilumina o espírito perdido na escuridão da ignorância e do fanatismo,
também pode ser a flâmula que alimenta o obscurantismo, tal a hibridez das
ideias que o objeto livro pode abrigar. Mas nem por isso devemos nos desanimar,
sobretudo diante do muito que tem sido produzido em nossos dias - falo das
obras efêmeras e oportunistas que, segundo Steiner, são de apelo fácil à
violência, à intolerância, à agressão social e política -, pois, acreditem, o
autor, otimista, afirma que os “livros são a chave de acesso para nos tornamos
melhores”; diante de tal afirmativa, é claro, não se pode esquecer o leitor,
este ser repleto de ilusões e desilusões, esperanças, desesperanças e
expectativas. Se a obra pode suscitar o mal, também pode ser paliativo ao
espírito e afugentar o mal: quem não se lembra de Primo Levi, que recitava
Dante a seu amigo Pikolo, em Auschwitz?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
poder da leitura é inquestionável e os livros com suas alegorias e metáforas desconstroem
clichês e preconceitos, provocam discussões e nos elevam o espírito, até mesmo
diante do real que, ficcionalizado, ressuscitou Eva Todor, só para matá-la uma
vez mais e entristecer internautas incautos. Que venha 2021, quando então
poderemos prantear o novo luto de Eva Todor. E há incrédulos que não creem na
ressurreição do Cristo! <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span><br />
<span style="font-size: x-small;">Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/a-ressurreicao-e-morte-de-eva-todor/">https://www.z1portal.com.br/a-ressurreicao-e-morte-de-eva-todor/</a></span>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-59744710213018227362019-12-21T15:05:00.001-03:002019-12-21T15:09:09.624-03:00Como manter sua sanidade mental<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs1kB_lk3jKyfbxx9LtNxXPM4gU50afmS7I3cFu0tq_XPk4TsP0ljOxIGLoV8zEwbxp9sSMzKodHztFwZQq6WwHEY2LeGO14O4-RCxYGP__J6yxqauFPRCbi122BxHBM01WD7BST_JG4Y/s1600/Foto+texto+156-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="380" data-original-width="570" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs1kB_lk3jKyfbxx9LtNxXPM4gU50afmS7I3cFu0tq_XPk4TsP0ljOxIGLoV8zEwbxp9sSMzKodHztFwZQq6WwHEY2LeGO14O4-RCxYGP__J6yxqauFPRCbi122BxHBM01WD7BST_JG4Y/s400/Foto+texto+156-2.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
dias em que tudo se liquefaz, principalmente as amizades, é sempre bom
despir-se de preconceitos. Talvez seja esse o primeiro ponto para que tenhamos
uma mente saudável. Por isso, lance mão daquele esquecido livro de autoajuda e
folhei algumas páginas à procura de uma ideia qualquer que lhe possa indicar um
caminho. É provável que entre uma centena de páginas, você encontre duas ou
três que de fato mereçam ser lidas e guardadas no espírito, e só por isso vale
a pena.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
se esqueça de que a leitura é sempre seletiva. Quem não se lembra do homem da
tesoura, o guarda-florestal e leitor contumaz mencionado por Antoine Compagnon?
Pois bem, nosso leitor afirmava que tinha uma biblioteca pessoal que não servia
como exemplo a qualquer outro leitor; nela, dizia, havia livros de todos os
tipos, mas, se um leitor comum decidisse abri-los levaria um tremendo susto,
pois a maioria deles não continha mais que duas ou três páginas; todos
incompletos, haja vista nosso leitor ler com a tesoura nas mãos e cortar tudo o
que o desagradava. De Baudelaire dizia ter conservado apenas duzentos versos;
de Proust, apenas o relato de um jantar em casa da duquesa de Guermantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
vida, caso queiramos manter a sanidade mental, não devemos nos deixar enveredar
pelos redemoinhos criados por aqueles que estão à nossa volta, devemos sim é andar
com a tesoura nas mãos. Ao selecionarmos colegas e amizades, resultado de
nossas tesouradas, não fazemos nada além daquilo que pedimos ao Altíssimo em
nossas orações, qual seja, que nos livre de todo o mal, amém. Não devemos nos
sentir arrependidos ou ter remorsos de nos afastar deste ou daquele, até mesmo
porque quotidianamente encontramo-nos com os bons e os maus. Há, por exemplo,
os vampiros de energia, pessoas que se aproximam de nós com um único objetivo:
reclamar da vida e nos colocar para baixo. Reflita: quantos à sua volta são
assim? O que fazer? Tesoura neles!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há
também aqueles que são como Monsieur Orgon, personagem de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tartufo</i>, de Molière. Orgon entrega-se instintivamente a algo único
que lhe preenche o espírito: tiranizar e atormentar o próximo. É célebre a
frase da personagem <i style="mso-bidi-font-style: normal;">faire enrager le
monde est ma plus grande joie </i>(enfurecer o mundo é minha maior alegria),
que dá vazão à sua necessidade instintiva, tornando-o um sádico tirano
familiar. A vida não é fácil e, como dizia Sartre, o inferno são os outros, por
isso, respire fundo e siga alguns <i style="mso-bidi-font-style: normal;">passitos</i>:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">1.
Medite. Meditar tem lá suas especificidades, para cada um é uma coisa, mas, no
frigir dos ovos, nada mais é que desanuviar-se, tranquilizar-se. Ouça uma
música relaxante, inspire, expire, pense na sua respiração, procure um lugar
calmo, aproxime-se da natureza, escute o som dos pássaros, o vento a tocar nas
folhas, ouça o barulho da água. Discipline-se sobretudo, pois isto requer
treino uma vez que nos tornamos seres autômatos, guiados pela produção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">2.
Tenha um animal. Deixe as frescuras e a viadagem de lado, aquilo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ah! cachorro e gato soltam pelos</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cachorro cheira</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">é preciso limpar cocô</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tem
que sair para caminhar com o cachorro</i>; <i style="mso-bidi-font-style: normal;">e
quando eu viajar?</i>, sim esses amigos vão tornar-se bastante dependentes de
você, mas o retorno para a sua saúde mental não há Credicard que pague. Eles
são seus AMIGOS e amizades precisam ser cultivadas - estão aí a raposa e o
Pequeno Príncipe que não me deixam mentir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">3.
Reavalie seu estilo de vida. Não podemos nunca transformar nossa mente em uma
fortaleza. As paredes são sólidas caso acreditemos que uma situação x será
determinante para o futuro de nossa existência. A vida muda, as coisas mudam,
as pessoas mudam. Nada é perene. Por isso, seu grande problema de hoje, amanhã,
você o verá como algo desprezível e que não valeu a pena toda a energia e o
esforço nele consumido. Durma bem. Dormir ajuda a desligar os botões do
estresse, da vida profissional, dos vampiros de energia e dos sádicos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">4.
Procure válvulas de escape. Caminhe, cante, cozinhe, movimente-se, enamore-se!
Busque a natureza. Leia! Ocupe sua mente. Prefira o simples. Aprecie o céu e as
estrelas. Fuja das muvucas, por mais que você seja curioso. A confusão não é
contigo? Seja indiferente, ignore, não opine. É com você? Pondere, reflita; às
vezes é preciso dar o braço a torcer, faça seu opositor achar que está no
controle e recupere sua paz e sua calma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">5.
Respeite seus instintos. Relaxe. Ame-se e viva bem! Mesmo que queiramos, não
vamos consertar o mundo, por isso, cuide de seu quadrado e seja feliz!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: xx-small;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/como-manter-sua-sanidade-mental/">https://www.z1portal.com.br/como-manter-sua-sanidade-mental/</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-31308500760600677652019-12-20T09:23:00.001-03:002019-12-20T09:25:15.997-03:00Igualdade entre os homens? Só na criaturalidade ou na morte.<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3Dl1XMriJbClRrg_z__M_u_EtobQ5QnpHls-dWJFlJJYIiVvmuwkSFBunJs0ytkmRftaX0etNBzYp2LOupqMYPW655H1GgPZRLLnxqEnmi4dD4DdbPhTrhJnFu-FA2lXslwj3StdmV8M/s1600/Foto+texto+155.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="920" height="333" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3Dl1XMriJbClRrg_z__M_u_EtobQ5QnpHls-dWJFlJJYIiVvmuwkSFBunJs0ytkmRftaX0etNBzYp2LOupqMYPW655H1GgPZRLLnxqEnmi4dD4DdbPhTrhJnFu-FA2lXslwj3StdmV8M/s400/Foto+texto+155.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há
um aforismo popular a dizer que devemos andar pra frente e esquecer o passado.
Também dizem que a voz do povo é a voz de Deus, por isso acredito nos adágios e
ditos populares, mas, como trago na alma um ceticismo ferrenho que não me larga
nem quando acontece aquela explosão no espaço que vai da fruta ao caroço, vivo
desconfiado, razão pela qual bato o pé e insisto nas releituras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É
certo que em meio à descrença não deixo de me lembrar de Santo Agostinho e sua
reflexão sobre o tempo, quando o religioso comenta sobre os conceitos de passado,
presente e futuro. Budistas também preferem o caminho do meio, não ficam
remoendo o passado – e ali vivendo –, penso que nem mesmo planejam um futuro
incerto. Já os cristãos, estes se culpam pelo passado, penitenciam-se, não se
perdoam. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
fato é que o passado nos deixa fortes quando o canibalizamos, e, se na vida o
tempo escorre pelos vãos dos dedos sem que possamos recuperá-lo, nos livros
conseguimos preservá-lo e dele tirar lições – e quem sabe algum rumo para
continuar nossa aventura até que nos tornemos todos iguais. Sim, pois só a
morte traz a igualdade entre os homens, o resto é retórica, filosofia, sofismas
– balela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
como falei da releitura como veículo para voltar ao passado, passo a comentar
um texto de Auerbach, em que o autor chama a atenção para o conceito de
criaturalidade, isto é, o sofrimento a que o homem é submetido como criatura
mortal, algo comum e que se aplica a todos nós mortais, que nela nos irmanamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Basta
olhar para o passado e lá encontramos traços da criaturalidade desde os
primórdios do homem. Tome-se por exemplo a antropologia cristã, que ressalta a
condição criatural do homem, sujeito a sofrimentos e à mortalidade. A Paixão de
Cristo surge como o mais insigne exemplo desse modo de pensar, isto é, para se
chegar à salvação é preciso sofrer – e muito! E olha que nem falo de toda a
santaiada criada pela Igreja...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nessa
lógica, acontece uma relativização e uma desvalorização da vida terrena; não à
toa, no século XVIII, os Iluministas clamaram pela felicidade agora, já! O paraíso?
Deixa pra lá, depois a gente vê. Segundo Auerbach, “nos primeiros séculos da
Idade Média ainda estava muito vivo o conceito segundo o qual a sociedade
terrena tinha valor e metas”. Dante surge como “exemplo de um homem para quem o
planejamento secular e o esforço político por parte dos indivíduos e da
sociedade humana em geral eram esteticamente importantes, altamente
significativos e decisivos para a salvação eterna”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Velhos
tempos. O que há de diferente entre este homem do antigo humanismo e o homem
atual, que ejacula alteridade quotidianamente, clama por igualdade, mas é
indiferente à exploração e à miséria? Nesses nossos tempos cruelmente
particularistas e regidos pelos interesses, em que os novos acontecimentos são
incompatíveis com as ideias genuinamente humanistas, em que fingimos ser, guiando-nos
pelas aparências, já não conseguimos mais interpretar e ordenar esteticamente
as novas formas políticas, econômicas e artísticas. A arte tornou-se um
amontoado de fragmentos que responde às individualidades, em detrimento do
coletivo. Este, determinado pelo consumo, deixa-se alienar e trata a cultura de
massa como arte genuína. E paro por aqui, porque senão... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vivemos
um tempo de cansaço, esterilidade e aparências. Somos egoístas, venais, mas
sequer admitimos isso, porque antes de tudo somos vis e hipócritas! E, como o
tempo é curto, volto à minha releitura, mas não sem antes deixar um pequeno
entrecho de Auerbach, que ecoa lá do passado: “O que há de peculiar nesta
imagem radicalmente criatural do homem, o que está em nítido contraste com as
características do antigo humanismo, reside no fato de que, por mais respeito
que demonstre diante da roupagem terrena e social que o homem veste, perde todo
o respeito diante dele mesmo, tão logo a despe; por baixo desta vestimenta não
há nada além da carne, que será ofendida pela idade e pela doença, que será
destruída pela morte e pelo apodrecimento.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, no sofrimento e na morte, enfim, somos iguais, por mais que na vida tenhamos
sido Gugu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; line-height: 150%;"><o:p>Publicado originalmente em </o:p></span><a href="https://www.z1portal.com.br/igualdade-entre-os-homens-so-na-criaturalidade-ou-na-morte/">https://www.z1portal.com.br/igualdade-entre-os-homens-so-na-criaturalidade-ou-na-morte/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-486068682018018162019-12-04T13:02:00.001-03:002019-12-04T13:02:35.480-03:00Homens: hipocrisia, barbárie e literatura<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz4G1TCN6alTqXpw3M7234lzvIB2YI345nKEWf0MlsorQhrTpjahslp16DkTEhC0YwGHj0h8ocmso7LeU92GO_PBcygSwDfFuZgB9zKhMq7XkW8OcXsYBdrshC7hD1bZtaA9tWtilRflE/s1600/Foto+texto+154.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="664" data-original-width="996" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz4G1TCN6alTqXpw3M7234lzvIB2YI345nKEWf0MlsorQhrTpjahslp16DkTEhC0YwGHj0h8ocmso7LeU92GO_PBcygSwDfFuZgB9zKhMq7XkW8OcXsYBdrshC7hD1bZtaA9tWtilRflE/s400/Foto+texto+154.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Colocando
os pingos nos is: cansado da hipocrisia, da lisonja e do politicamente correto
que, como qualquer um, trago no espírito como arranhões, ao referir-me a homem
falo dos dois gêneros tradicionais e dos outros cinquenta e tantos que a
diversidade nos trouxe com a flâmula da liberdade desses nossos tempos mais
livres, porém, não menos ignorantes, bárbaros e bestiais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Hoje,
ao ler uma daquelas reportagens absolutamente dispensáveis, que jornais e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sites </i>de notícias produzem como uma
mancha de tinta, só para não manter o espaço em branco – talvez seja o caso
desta crônica –, consegui ainda me surpreender com a ética, o respeito, a
humanidade, a compreensão, a alteridade, a bondade, enfim, a cristandade dos
internautas em seus comentários. Ali, tem-se a impressão de que vivemos no
melhor dos mundos possíveis e, arrisco afirmar, é provável que já estejamos
vivendo a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Era de Aquarius</i> tal a
generosidade, a gentileza e a empatia que brotam do espírito dos homens na convivência
do dia a dia; tudo é tão intenso, tão eufórico, que acredito ter havido uma
total inversão da ordem: estamos nos céus e não nos demos conta – algo difuso
tem vedado nossos olhos –, a harmonia é tanta, o amor está no ar, tudo é tão
bom que o inferno evaporou nos ares ou adentrou às páginas dos livros de
literatura, este espaço inominável em que perversos e libertinos insistem em
invencionar e garafunhar sobre páginas em brancos a vida obscura e devassa de
personagens que a ficção tem produzido sem qualquer verossimilhança com este
nosso mundo real, caridoso e magnânimo, uma prova de que também o realismo e a
mimeses já não têm razão de ser, acabaram-se, por mais que tentemos endeusar
Aristóteles ou reler Auerbach.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
século XXI é a glória, sobretudo se comparado ao anterior, que hoje jaz
silencioso entre as páginas de livros cujas bordas e miolos acumulam o pó que
também cobriu a desfaçatez, a corrupção e o mal caráter do homem, fazendo deste
um ser sublime e etéreo que desliza pelos caminhos do céu terreno. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vivemos
um pós-realismo metafísico em que nossas vestes, alvas, sequer imaginam a vida
pregressa de aventuras que os livros escondem – e que não nos atrevemos a
curiosar, até mesmo porque já não temos mais paciência para a leitura, afinal,
para que ler 200, 300, 400 páginas se temos o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Twitter</i>, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Facebook</i>, áudios
e as imagens no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Instagram</i>? Para que
precisamos aprender a escrever se até recentemente insistiam em nos dizer que
devíamos nos arvorar contra tudo e contra todos que ousassem nos corrigir ou
nos ensinar? Felizmente em nossos dias já não há mais preconceito linguístico,
e o mais genial, já não há mais qualquer preconceito, já não há mais nada!, pois
somos lindos, felizes, humanistas, somos da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Era
de Aquarius</i>! Tudo isso está lá, nos comentários das redes sociais e das
reportagens publicadas em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sites</i> de
notícia. É como se lêssemos um diário celestial. Atingimos a perfeição! Quem
imaginaria? Rousseau? Este se foi há muito tempo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Alguém
arriscaria a dizer o contrário? Ninguém, claro! Só se quisesse passar uma
temporada na Casa Verde... bem, deixe-me explicar dado que já não lemos, a Casa
Verde, conhecem? Sim, aquela, aquela lá de Itaguaí, a do Alienista...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem
arriscaria a dizer que no século passado ainda éramos cruéis, hipócritas e
corruptíveis? Quem ousaria afirmar que usamos muito de nossa criatividade para
criar um mundo de horrores, duas guerras mundiais, governos fascistas e
totalitários, e proibíamos as pessoas de ir e vir? E tudo sob a desculpa de
espalhar a igualdade? Quem arriscaria uma temporada na Casa Verde, sob o risco
de imitar Lúcifer e ser expulso desse paraíso em que vivemos hoje? Só para ter
o gostinho de afirmar que criamos técnicas de extermínio em massa, câmaras de
gás, campos de concentração, muros, cercas eletrificadas, sequestros,
terrorismo, o maniqueísmo da direita-esquerda, e que implantamos tudo isso em
nome dos direitos do homem, da igualdade, da justiça e da liberdade? Eu não!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Orgulhosos,
criamos as revoluções culturais, a libertação dos povos, as teologias da libertação...
criamos tudo isso e muito mais! E tudo, repito, pensando nessa nossa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Era de Aquarius</i> que ora vivemos e desfrutamos
sem sequer nos darmos conta! Os livros, ah! os livros... para que lê-los? A
ignorância e a hipocrisia são tão pacíficas, belas e aprazíveis... Para que
fuçar em Tolstói, Dostoievski, Bradbury, George Orwell, Machado, Voltaire,
Bielinski, Herzen, Turgueniev e tantos outros? Por que acreditar nesses homens
espúrios que denunciavam a falaciosa autonomia do homem e que, a exemplo de
Franz Werfel, afirmava que tudo terminaria em uma “confusão fatal da liberdade
com a anarquia moral” – e acrescento, ética!? Pra quê? Pra vermos a mentira e
nos cegarmos com a verdade, sermos expulsos desse nosso mundo céu paradisíaco? Afinal,
quem se atreveria a dizer que não vivemos no melhor dos mundos possíveis? Está
tudo tão perfeito... ontem mesmo, leitor, tivemos a prova disso: quem não soube
do ministro do STF homenageado pela câmara dos deputados por serviços prestados
a esse mundo que não é o nosso, mas deles? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;"><o:p>Publicado originalmente em </o:p></span><a href="https://www.z1portal.com.br/homens-hipocrisia-barbarie-e-literatura/">https://www.z1portal.com.br/homens-hipocrisia-barbarie-e-literatura/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-53413763465730675122019-11-28T11:16:00.002-03:002019-11-28T11:16:44.120-03:00A banalidade do mal e a causa animal<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5_aoOavN6Tv-UcJL0426_OsNXhiYPJGp-LKT6SHlT8UFgo1ThbZvEu68r_O1hvTO1yYu-PpaSCSd_I82SR7VNRshZq36wiK8yNseUanmZ5Fx0odbYIe6D7KXuTjowASa59-0GftbdXhA/s1600/Foto+texto+153.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="555" data-original-width="700" height="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5_aoOavN6Tv-UcJL0426_OsNXhiYPJGp-LKT6SHlT8UFgo1ThbZvEu68r_O1hvTO1yYu-PpaSCSd_I82SR7VNRshZq36wiK8yNseUanmZ5Fx0odbYIe6D7KXuTjowASa59-0GftbdXhA/s400/Foto+texto+153.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
história vem de longa data. Quem já não ouviu falar de Caim, o lavrador que,
ciumento, deu cabo em Abel? Por estas horas, a serpente já havia enrolado Eva
na conversa e Adão também já havia visto a boa vida que tinha no paraíso
escorrer-lhe pelos dedos. É provável que tenha se irritado com Eva e até mesmo
a odiado. O ódio, convenhamos, tem lá a sua pitada de maldade, assim como o
ciúme, razão pela qual Caim fez o que fez com Abel, o pastor. Disso, deduz-se
que o tropos do maior dos livros é um eterno embate entre o bem e o mal,
maniqueísmo que persiste até nossos dias e nos faz a ser o que somos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nos
anos de 1960, quando o Mossad, em uma operação espetacular, raptou Adolf
Eichmann, criminoso nazista e um dos principais idealizadores do Holocausto, na
Argentina, país também comandado por nazistas, a filósofa Hannah Arendt, a serviço
do jornal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The New Yorker</i>, acompanhou
o julgamento de Eichmann em Jerusalém. Findo o julgamento, Arendt escreve <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eichmann em Jerusalém</i>, obra em que aprofunda
o conceito de “banalidade do mal” por ela criado, ao defender que o resultado
da massificação das sociedades criou uma multidão incapaz de qualquer juízo
crítico, qual seja, inábil para julgamentos morais, aceitando ordens sem ao
menos questioná-las. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eichmann,
membro da elite nazista e um dos idealizadores da solução final, portanto,
visto como monstro em potencial, no julgamento revelou-se apenas um funcionário
zeloso que fora incapaz de descumprir as ordens que recebera. Com isso, o mal
torna-se algo banal. Bastante criticada, sobretudo porque o livro traz exemplos
de judeus e instituições judaicas que, submetidas aos nazistas, cumpriram suas
diretivas sem questionamentos, Arendt reflete principalmente sobre a violência
impetrada por governos totalitários, cujo domínio revela-se mais opressor que a
escravidão. Nas tiranias, sob a batuta das ideologias que as sustentam, seres
humanos são capazes de realizar ações impensáveis, como a destruição e a morte,
sem, contudo, serem motivados por qualquer malignidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao
se deparar com o depoimento de Eichmann, que relatava suas atividades como
carrasco nazista sem qualquer hesitação ou perplexidade, usando clichês e
palavras de ordem, justificando seu comportamento sob a moral da obrigação que
a função lhe exigia, e mais, argumentando que em nenhum momento poderia ser
tomado por um criminoso, pois apenas cumpria o seu dever, além de ser um bom
pai de família e não possuir nenhum ódio ao povo judeu – mas que, no entanto,
viabilizou a morte de milhões de pessoas –, Arendt pergunta: “o que faz um ser
humano normal realizar os crimes mais atrozes como se não estivesse fazendo
nada demais?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Deixo
a questão filosófica por aqui, porém, transfiro a reflexão para a causa animal. Se em nossas sociedades massificadas, em que a humanidade torna-se algo raro e
o que mais importa são as organizações econômicas e o lucro que elas geram,
enfim, universo em que ninguém se importa se nos sentimos abandonados,
solitários, submissos e alienados, imaginem o que não acontece com vidas que
transitam embaixo dos nossos narizes e não têm voz, voz para gritar quando o
desespero, o perigo, a fome e a morte batem à porta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
pessoas, robotizadas, não veem cachorros, gatos e outros animais perambulando
esquálidos pelas ruas. Essa falta de sensibilidade, penso, revela um pouco do
mal que paira sobre e em nossos espíritos, mas, não bastasse isso, alguns se
comprazem em torturá-los, agredi-los, matá-los. Às vezes, o que o animal
procura e quer é apenas um pouco d’água, algo para comer. E o que recebe?
Pauladas, chutes, água fervente. Se estiverem pensando que estas ações são
praticadas por pessoas moralmente descompensadas, enganam-se! São senhoras e
senhores, pais e mães, avôs e avós, muitos dos quais, aos domingos, vão à missa
ou ao culto e lá imploram pela bondade divina, esquecendo-se do mal que
cometeram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
leitor deve estar pensando porque falo disso agora, não é mesmo? Só porque depois
de um tempo sem acessar as redes sociais, especialmente o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">facebook</i>, onde participo de alguns grupos de proteção animal,
surpreendi-me, mais uma vez, com a quantidade de denúncias e pedidos de ajuda para animais vítimas de maus-tratos. Muitas vezes, a ajuda resume-se a uma
assinatura, na espera de que o caso venha a ser visto pelas autoridades e os
criminosos punidos, pois o animal já está morto. Mas a condenação, acreditem,
nos tempos em que vivemos, receio seja algo raro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lamentavelmente
o dito de Schopenhauer continua atualíssimo: “O homem fez da terra o inferno
dos animais.” Eis a banalidade do mal, eterna como o céu, profunda como o
inferno. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;">Publicado anteriormente em </span></span><a href="https://www.z1portal.com.br/a-banalidade-do-mal-e-a-causa-animal/">https://www.z1portal.com.br/a-banalidade-do-mal-e-a-causa-animal/</a></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-62953702744447697382019-11-22T08:40:00.002-03:002019-11-22T08:40:41.002-03:00Literatura pra quê?<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghfgiPZ9G35x37PJr5EyEswvO62f5UZ_2XUZBwqQiHYgMu3MwwbReodT27nWRZ3fKWSMXSbNdB4j4A-egv01qA_eokqIxHw-cZOcDs7ABvwob8jG6vdxVwnPLaY-CLzkCahJaZYkaRLqo/s1600/Foto+texto+152.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="437" data-original-width="701" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghfgiPZ9G35x37PJr5EyEswvO62f5UZ_2XUZBwqQiHYgMu3MwwbReodT27nWRZ3fKWSMXSbNdB4j4A-egv01qA_eokqIxHw-cZOcDs7ABvwob8jG6vdxVwnPLaY-CLzkCahJaZYkaRLqo/s400/Foto+texto+152.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Você
já ouviu especialistas dizerem que comida boa é aquela que você retira da terra
e não da prateleira do supermercado, é aquela que você descasca e não a que
você desembala? Parece o óbvio não é mesmo? Mas, mesmo assim a maioria insiste
em desembalar e ter overdoses de sódio ao consumir miojo e outras porcarias
como o leite, cuja validade ultrapassa um ano naquela caixinha projetada pela
indústria, em que sequer a soda cáustica misturada ao produto para neutralizar
sua acidez consegue corroê-la. Alguém das antigas conhece a validade do leite
de vaca – vaca mesmo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Os
hábitos foram tão alterados pela indústria que hoje as pessoas recusam o leite <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in natura</i> por considerá-lo nojento,
intragável. Pois é, com a literatura, acreditem se quiser, aconteceu o mesmo.
Se a narrativa não estiver a serviço de uma causa ou de uma ideologia – e
quando digo ideologia considero a indústria cultural e de entretenimentos – não
presta, é erudita demais, é canônica, representa o sistema, o opressor e tudo o
mais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Desconfio
de tudo! Se não leio, desconfio do texto; quando o leio, desconfio mais ainda,
tento esmiuçá-lo, trato-o como inimigo, não me deixo convencer, busco nas
entrelinhas o discurso sub-reptício que pode me alienar e me colocar a serviço
de uma causa cujos interesses sequer desconheço, até mesmo porque a dificuldade
em descobrir quem controla as marionetes na tentativa de nos tornar títeres de
seus desejos e interesses é inimaginável. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tome-se
por exemplo – antes de adentrarmos ao puramente literário – as celebridades. Não
falo de artistas, como Sophia Loren, que em sua biografia relata a ajuda que
teria dado a um menino e que tentara manter em secreto, mas que fora descoberta
pela imprensa. Refiro-me a uma casta de atores e atrizes cujo talento, na
maioria das vezes (pleonasmo) é fugidio. Na tentativa de trazê-lo para perto de
si, contratam empresas que gerenciam suas vidas profissionais e do nada
tornam-se ativistas e pilares do politicamente correto. Às vezes o passado
condena, mas essa mesma empresa trata de torcer a vara e adequar os discursos
para que as celebridades surjam ilibadas, quase perfeitas. Li há pouco que existe até
mesmo um cardápio de causas e à celebridade basta escolher entre militar na
causa feminista, indígena, racial, gay e demais variantes. O curioso é
quanto mais medíocre a celebridade, mais ela aparece! Houve até mesmo um casal
que adotou uma cachorrinha abandonada na beira da estrada... bem, previra
tratarmos de literatura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pois
bem, na literatura acontece o mesmo. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Estadão</i> publicou uma reportagem sobre o “mais completo levantamento sobre o
hábito de leitura do brasileiro, a Pesquisa Retratos de Leitura”, agora sob a
batuta do Itaú Cultural (desconfio de bancos sobretudo!). A novidade, no caso é
realizar pesquisas “menores” em “festivais literários para conhecer o perfil do
brasileiro que frequenta esse tipo de evento”. Deduz-se que quem frequenta
estas feiras já é alguém ligado a livros. Não creio. É o mesmo que afirmar que
alguém vai a Roma só para ver o Papa ou que todo muçulmano é terrorista!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É
claro, relativizei, mas há algo errado nessa reportagem que também generaliza o
brasileiro como grande leitor. Vejam: afirmam que 30% dos brasileiros gostam
muito de ler, porém, na Bienal, este índice sobe para 74% e na Flup (Feira
literária das periferias) 77%! Não creio que os hábitos se alteram ao badalar
dos sinos. Fato é que a mesma pesquisa Retratos da Leitura recentemente divulgou que
44% da população brasileira não lê e 30% nunca compraram um livro! Ademais,
basta pesquisar na rede para dar de cara com notícias que revelam uma queda de
17,94% na venda de livros nos primeiros meses deste ano em comparação com 2018.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
fato é que em sua maioria os livros e autores mencionados na lista da
reportagem referenciada parecem produtos das empresas de gerenciamento, cada um
contando seu drama pessoal, ajustando-o a uma causa da moda. No mais, me
intriga a distância desses 70% e<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> trá lá
lá </i>de leitores das escolas e universidades. Onde se meteram eles?
Confunde-me o espírito tal leitura, considerando-se o esforço que nós
professores fazemos durante um curso para que os alunos leiam três ou quatro
livros ao longo do semestre, sobre os quais giram as discussões em sala de
aula. Onde andam esses leitores que povoam as feiras de livros? Nunca adentram
as escolas e universidades?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vislumbro
públicos diferentes: há um caduco, em ruínas, que aprecia Machado de Assis,
Guimarães, Clarice, Dalton Trevisan, Rubem Braga, Dante, Balzac, Amós Oz,
Drummond, Ferreira Gullar, Fernando Pessoa, Camões (os nomes vieram-me aleatoriamente);
e há os antenados e socialmente comprometidos ou psicologicamente fragilizados à procura de pertencimento e de algum alento, que aprecia Zibia Gasparetto,
Alan Kardec, Lázaro Ramos, Augusto Cury, Paolo Coelho, Stephen King, Djamila
Ribeiro etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
vou adentrar a questão do cânone e nem à resposta que deveria dar à pergunta
que mantive como título, mas algo afirmado na reportagem continua a me corroer
o espírito: “enquanto 56% dos ouvidos pelo Retrato da Leitura em 2015 disseram
ser leitores, os números saltam para 95% na Bienal e 97% na Flup. É leitor pelo
menos quem leu um livro inteiro ou em parte nos três meses que antecederam a
pesquisa. [Meu Deus! Que definição!] 6,6% é a média de livros lidos nos últimos
três meses pelo público da Bienal, 7,9% pelo público da Flup e 2,5 pelo
brasileiro em geral.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Reflitam
vocês quatro sobre os índices – sim, porque creio que este texto não será lido
nem pelos cinco leitores que previra Machado ao escrevinhar seu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Memórias póstumas, </i>de modo que permanece
a questão: literatura pra quê? Talvez para fugir à ignorância que nos rodeia e
nos sufoca, e é exatamente por isso que me intriga saber o que um público de
95% 97% lê. Apesar da lista, a reportagem traz mais dúvidas que respostas. Detalhe:
do público da Bienal, que supostamente tem maior poder aquisitivo, apenas 7%
leem história, economia, ciências sociais, filosofia, economia e política,
enquanto 17% do público da Flup consomem obras relacionadas a essas áreas, o
que prova que outras pesquisas sobre a escolaridade na periferia não passam de
lorotas. Não estou a desmerecer a periferia, até mesmo porque de lá saí; afora
isso, a reportagem afirma que o gênero preferido dos leitores da periferia é o
romance - e eu também gosto de romances. Também não estou a desmerecer o
gênero, o que questiono é a diferença de índices. Perdidíssimo estou. Acho que
vou ler um romance, o gênero preferido de 100% dos brasileiros, essa massa
genial de leitores que ignora as celebridades pseudo-engajadas e até mesmo os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">derrières</i> cantantes, como disse semana
passada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">De
minha parte, prefiro a literatura de raiz – como se diz por aí – à literatura
das prateleiras de supermercado, alienante e ao gosto de interesses que sequer
imagino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/literatura-pra-que/">https://www.z1portal.com.br/literatura-pra-que/</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calisto MT","serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 150%;">Confira:
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,j-k-rowling-e-a-autora-mais-citada-na-bienal-do-rio-djamila-ribeiro-na-flup-diz-nova-pesquisa,70003078388"><span style="color: windowtext; font-family: "Calisto MT","serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 150%;">https://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,j-k-rowling-e-a-autora-mais-citada-na-bienal-do-rio-djamila-ribeiro-na-flup-diz-nova-pesquisa,70003078388</span></a><span style="font-family: "Calisto MT","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-40117041545382029732019-11-04T13:18:00.002-03:002019-11-04T13:25:54.583-03:00Sexo lésbico, suruba e diversão: a estreia de Geyse Arruda na literatura<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjabtF78ctZhpRy_4YGBvUWwvkeObcrVV1qUGNiiXGTgduSUNanu79TDhD3Jmj9lBIY-Wvvhpy_88lDpB2B2uGG2IkiMF3_kO1bN3iJ0vvUbSsLV1AMIOb1n9PKP6tOrsSMCn8Xk03tGqE/s1600/Foto+texto+151.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="652" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjabtF78ctZhpRy_4YGBvUWwvkeObcrVV1qUGNiiXGTgduSUNanu79TDhD3Jmj9lBIY-Wvvhpy_88lDpB2B2uGG2IkiMF3_kO1bN3iJ0vvUbSsLV1AMIOb1n9PKP6tOrsSMCn8Xk03tGqE/s320/Foto+texto+151.jpg" width="320" /></a><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há
quem diga que coincidências não acontecem - e eu acredito - mas há momentos em
que o universo parecer conspirar e aí você fica sem saber o que dizer, algo
como a dinâmica da natureza explicada pela ciência, que os metafísicos insistem
em atribuir ao criacionismo. Em busca do carro das ideias, dei de olhos com
notícias sobre o lançamento do livro de Geyse Arruda. Sim, aquela moça que
esqueceu a calcinha na gaveta e foi ovacionada ou assediada pelos colegas
estudantes em uma universidade na cidade de São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há
tempos escrevi sobre uma autora que passou dias trancada em uma jaula
depositada em uma livraria, na tentativa de chamar a atenção do público e da
imprensa para o livro que acabara de publicar. Não sei se a peça de <i>marketing</i> surtiu efeito, haja vista nem
me lembrar do nome da literata. No caso de Geyse, o <i>marketing </i>é mais agressivo. <i>O
Prazer da vingança</i>, da autora, é anunciado não com a foto de capa, mas com
a foto da bunda da “escritora”. As aspas indicam alguma ironia, mas não é culpa
minha, afinal, em meio aos contos eróticos, o leitor leva de brinde muitas
fotos da bunda e peitos da “intelectual”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No
<i>Instagram</i> sim há a foto da capa e
para ser coerente nela também Geyse exibe seu avantajado <i>derrière</i>. Como disse, o <i>marketing</i>
é ousado, de modo que a autora alerta o leitor: “</span><span style="background: white; border: none 1.0pt; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; padding: 0cm;">Vai começar a putaria boa...Vocês pediram e eu
vou liberar meus contos eróticos: Serão mais de 100 páginas de histórias com
fotos exclusivas feitas por mim em um Motel Suite Sadô, para ilustrar cada
conto. Teremos <i>spoiler</i>: contos de
masturbação, sexo virtual, sexo lésbico, suruba, inversão, shibari, Cuckold “Corno
Manso” e muitoooo mais...”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt;">Haja
vista desconhecer o que seja “shibari” e “Cuckhold Corno Manso”, penso que a
obra não é de se jogar fora e traz algo didático. Instrutiva ou não, Geyse
conseguiu o sucesso que muitos outros autores jamais conseguiram ou
conseguirão, isto é, que a grande imprensa divulgue, em diferentes espaços, o seu
trabalho. Dizer o quê? Azar o deles e delas que talvez tenham mais cérebro do que bunda!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">O
sucesso deve ser retumbante, dado os comentários dos internautas. Vá lá, seguem
alguns: “Vai fluir”, “Sexy”, “Ancioso” (sic), “</span><span style="background: white; font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Aí sim enh... adoro vc”, “Temas interessantes e eu
já escrevi algo assim também...”, “</span><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Só compro se tiver os contos eróticos da faculdade.” – e por aí vai. Há
também os solidários, que sugerem títulos, como este internauta: “Um título
interessante seria "50 tons de rosa". Nota-se pelos pitacos um
leitorado contumaz, quiçá leitores semióticos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt;">Em resposta à ala conservadora, há internautas que
se revoltam contra o país e sua hipocrisia: “Brasil, o país mais careta,
arcaico, conservador hipócrita que pode existir. Deve ser por influência da
Igreja Católica, apesar de achar que o Papa atual é menos conservador que nossa
sociedade hipócrita. Sociedade que condena tudo em público e faz mais orgias do
que os liberais na sua mente ou até nas escondidas. Parabéns Geisy, apesar
desses que tem (sic) medo de sexo, eles serão os principais leitores de sua </span><b style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; font-size: 12pt;">obra de arte</b><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt;">. Continuem no eterno
papai-mamãe, é bom também.” Está valendo! (Ah! O destaque ao “obra de arte” é
de minha autoria.)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como tratei das coincidências, volto a uma obra sem
surubas, shitakis, sushis ou sashimis: <i>Boêmios</i>,
de Dan Franck, em que o autor olha para a Paris do início do século XX revelando
o quotidiano de figuras como Picasso, Alfred Jarry, Modigliani, Braque,
Matisse, Breton, Max Jacob, Apollinaire, Aragon e tantos outros que não
mostraram a bunda, mas, extravagantes, “organizavam festas inusitadas, puxavam
o revólver e provocavam o burguês de mil maneiras”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A quarta capa do livro de Franck traz o seguinte
entrecho: “A obra está além dos problemas da ordem e dos costumes. Antes de
qualquer outra coisa, o artista produz obras de arte. Picasso pode se vestir
como quiser. Alfred Jarry pode puxar a arma tantas vezes quanto desejar (e ele
o fez), Breton e Aragon podem ameaçar aqueles que desprezam, todas essas
bravatas pouco significam se comparadas aos caminhos que eles traçaram. A arte
moderna nasceu das mãos desses sublimes provocadores. De 1900 a 1930, eles não
se contentaram apenas em levar essa vida de artistas que os tornou detestáveis
para alguns e que muitos outros invejaram: acima de tudo, eles inventaram a
linguagem do século.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eis porque não se deve julgar, odiar ou invejar Geyse
ou Anitta. Nesse começo de século XXI elas estão a inventar uma nova linguagem
em que a bunda fala, escreve e canta, coisa que nem Jarry, Picasso ou
Modiagliani conseguiram. E isso, leitor, convenhamos, não é pouca coisa!</span><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="background-color: white; font-family: "century gothic" , sans-serif;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/sexo-lesbico-suruba-e-diversao-a-estreia-de-geyse-arruda-na-literatura/">https://www.z1portal.com.br/sexo-lesbico-suruba-e-diversao-a-estreia-de-geyse-arruda-na-literatura/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-5538201940258832019-10-25T17:20:00.000-03:002019-10-25T17:20:06.551-03:00A ética ainda é possível?<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4seyJZFGfMz3C8CVMl6EpMTcqH_Hlal2JsgftySa436q_V1HJVQPQQnEfhGLzsNhii6ecB9c0DHZwlyvNVsLpPywTJkMjPuYppiOE8sW-6F5ArGK1YD3haoy-NJ9ck7LrEgqModjSY-s/s1600/Foto+texto+150.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4seyJZFGfMz3C8CVMl6EpMTcqH_Hlal2JsgftySa436q_V1HJVQPQQnEfhGLzsNhii6ecB9c0DHZwlyvNVsLpPywTJkMjPuYppiOE8sW-6F5ArGK1YD3haoy-NJ9ck7LrEgqModjSY-s/s400/Foto+texto+150.png" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
nossos dias, quando nos esforçamos para compreender o mundo, sim, este mundo
que nos parece tão familiar, mas que nos surpreende a todo instante, se
perguntarmos a alguém o que vem a ser ética é o mesmo que perguntarmos o que é
o tempo. Santo Agostinho, no capítulo XI de confissões, esclarece as nossas
dificuldades diante destes conceitos que nos perseguem ao longo de nossas
vidas. Sobre o tempo, Santo Agostinho pergunta: “Que é, pois o tempo? Quem
poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o
pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto
mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele
falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem
quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo
perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.
Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de constatação, que, se nada sobreviesse,
não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo
presente.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com
a ética, ocorre quase o mesmo. Todos sabemos o que é a ética, o que é ser
ético, mas se nos propormos a explicá-la, é provável que nos atrapalhemos. E
por quê? Porque assim como o tempo temos dificuldade em traduzir por palavras o
seu conceito. À busca do carro das ideias, lancei a pergunta “O que é ética?”
ao Google. A resposta foi o esfacelamento da ética; é claro que a definição
dicionarizada dá margem a isso, pois lá no dicionário ética é um “c</span><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">onjunto de regras e
preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de
uma sociedade”, por isso as éticas moral, profissional, cristã e por aí vai...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">De
hábito, as relações entre ética e moral são ordinárias, comuns, mas nem por
isso deixam de ser delicadas, isto porque a distinção entre esses dois termos é
diferente, segundo os pensadores. No sentido “comum”, o termo ética é sinônimo
de moralidade e refere-se a uma prática destinada a determinar o modo como se
vive em um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">habitat </i>em correspondência
aos fins ou papéis da vida do ser humano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No
entanto, se o termo “ética” é sinônimo de moralidade no sentido “comum”, por
que a palavra “moral” não é encontrada nem uma vez na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ética</i> de Espinosa, por exemplo? A razão para isto é que a
moralidade consiste em um conjunto de regras “relativas” estabelecidas ficciosamente
como boas e más absolutas, enquanto a ética é precisamente a moralidade livre
de suas crenças supersticiosas que absolutizam o relativo e suas condenações moralizadoras
e que são usadas como arma contra os outros, consonante Constantin Brunner, filósofo
herdeiro espiritual de Spinoza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Abandonando
a erudição, vamos a exemplos da falta de ética e moral nessa nossa sociedade
líquida em que nada mais assegura uma conduta adequada do ponto de vista ético
ou moral. Veja o que a polícia acaba de descobrir sobre o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dia do Fogo</i>, dia em que fazendeiros, madeireiros, empresários e motoqueiros
juntaram-se para pôr fogo na floresta Amazônica e, depois, foram protegidos por
delegados, deputados e senadores. A polícia descobriu que os incêndios dos dias
10 e 11 de agosto foram orquestrados via grupos de Whatsapp e financiados por
meio de uma vaquinha, com o objetivo de bancar os custos do combustível –
mistura de óleo e gasolina – e dos motoqueiros, pagos para disseminar o fogo em
trilhas perto das estradas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
é preciso dizer que depois do esforço do grupo, os focos de incêndio em torno
da cidade de Novo Progresso (o novo em si revela-se bastante irônico), no Pará,
aumentou em nada menos que 300%. Um dos suspeitos é Agamenon Menezes (Agamenon,
o nome, é uma afronta aos gregos), senhor bastante ético da cidade e presidente
do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade (de um sindicalista não esperava
algo diferente; desafio aqueles que creem em sindicalistas a me convencerem do
contrário).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Há
também um senhor de moral ilibada, Ricardo de Nadai, proprietário da loja
Agropecuária do Sertão e organizador dos grupos no Whatsapp; claro, imaginando
quanto faturaria com o desmatamento e a venda de apetrechos para a formação de
pastos. A notícia se espalhou e o delegado da Polícia Civil, Vicente Gomes, da
Superintendência da Polícia Civil de Tapajós, também ético, determinou que o
delegado de Novo progresso não repassasse a informação à Polícia Federal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
acordo entre fazendeiros e madeireiros foi revelado por Adécio Piran em 5 de
agosto, no site paraense da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Folha do
Progresso</i>; o rapaz, após a publicação, fugiu da cidade por ter sido
ameaçado de morte pelos moralmente éticos fazendeiros e madeireiros de Novo
progresso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
não é só isso caro leitor: um dos representantes dos ruralistas no governo
federal, o Sr. Luiz Antônio Nabhan rondou Novo Progresso e os policiais da
cidade afirmam que os fazendeiros da região são bem relacionados com deputados
e senadores do Pará e têm contatos com o alto escalão do governo federal.
Moralmente éticos ou não, covardes quando são pegos com a boca na botija,
esquivam-se: Agamenon atribuiu o aumento dos focos de incêndio ao período seco
e aos indígenas; o presidente da República, por sua vez, à época negou a
existência das queimadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Notou
porque é difícil responder o que é ética, leitor? A ética ainda é possível em
meio a tanta canalhice?</span><span style="font-family: "Calisto MT","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<br /><br />
Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/a-etica-ainda-e-possivel/">https://www.z1portal.com.br/a-etica-ainda-e-possivel/</a>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-65348832866032636802019-10-18T13:58:00.002-03:002019-10-18T13:58:50.593-03:00Réquiem a Harold Bloom <br />
<h1 align="center" style="text-align: center;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Century Gothic","sans-serif";"><o:p> </o:p></span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao Leitor:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Se você tem algum apreço pela
literatura e por aqueles que dela se ocupam, continue a leitura. Caso
contrário, deslize os dedos pela tela do seu smartphone ou clique um botão
qualquer de seu teclado; abandone a leitura pois este não é assunto do seu interesse.
<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXcyh7Q3VQIt56p7StjCAOf50y_RToCoCLtQJmk6OkbgHFgDY-6m7enJdUIhy8XVREPdCMtbIwPaHThP-d945DzeUKkEixo52fc16PyTOOIOAM0_enNme7QP_7LSWvW9vp1G1iJN7OFjs/s1600/Foto+texto+149.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="865" data-original-width="670" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXcyh7Q3VQIt56p7StjCAOf50y_RToCoCLtQJmk6OkbgHFgDY-6m7enJdUIhy8XVREPdCMtbIwPaHThP-d945DzeUKkEixo52fc16PyTOOIOAM0_enNme7QP_7LSWvW9vp1G1iJN7OFjs/s400/Foto+texto+149.jpg" width="308" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim
como parece não ter sido do interesse do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site</i>
de notícias que se anuncia como “a maior empresa brasileira de conteúdo”, ao
menos no dia 14/10/2019, segunda-feira, dia em que Bloom partiu para os Campos
Elíseos. Neste dia, o tal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site </i>ocupou
das separações e das bundas das celebridades, conteúdo, parece-me, do interesse
de um público que ignorou Bloom. Mas não culpemos o público; muitos professores
universitários fizeram – e fazem – o mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Harold
Bloom – se você é daqueles leitores teimosos e resolveu insistir no texto –
morreu aos 89 anos e foi um titã da crítica literária. Cultíssimo, era uma
enciclopédia ambulante da literatura inglesa; notório por se opor ao
politicamente correto e por seus julgamentos tradicionais e fora de moda sobre poetas,
romancistas e dramaturgos. Não era lá muito do gosto da patota
multiculturalista, sobretudo aquela que flutua pelas periferias do texto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Professor
de longa data de Yale e da Universidade de Nova York era, em si, um verdadeiro
oximoro, considerando que se tratava de um estudioso sério que escrevia para as
massas. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Ansiedade da Influência</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Canône Ocidental</i> são <i style="mso-bidi-font-style: normal;">best-sellers</i> inquestionáveis. O
primeiro, publicado em 1973, é uma obra densa que expõe uma teoria fortemente
dependente de Freud, sobre a luta psíquica que produz grandes poetas. Nos anos
posteriores, contudo, Bloom foi um populista determinado, traduzindo preocupações
de alto nível sobre educação literária para um público geral e mais abrangente,
razão pela qual tornou-se um dos raros críticos a ter suas obras nas listas de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">best-sellers</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tratando
das inseguranças culturais, Bloom ofereceu respostas inequívocas a perguntas
que considerava fundamentais para a literatura e o aprendizado dela. Quais
escritores pertencem ao panteão literário e quais estão no meio da confusão?
Devemos ler para satisfazer agendas sociais ou políticas, ou devemos ler para
entender nosso eu essencial? À medida que novas escolas de crítica tomavam
conta das universidades americanas na década de 1960, permitindo que os
defensores do marxismo, desconstrucionismo, feminismo e multiculturalismo
revisassem o currículo, Bloom emergiu como um defensor da tradição. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O Canône Ocidental</span></i><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
(1994) tornou-se sua réplica para os teóricos multiculturalistas, que ele reuniu
e ridicularizou como adeptos da “Escola de Ressentimento”. O livro destaca 26
escritores - quase todos homens brancos europeus mortos, incluindo Shakespeare,
Dante, Borges e Beckett - cujas obras ele considerou leitura obrigatória, razão
do chororô dos ressentidos. Sem papas na língua, extravagante em sua incorreção
política, ele alienou movimentos inteiros com críticas irreverentes sobre o que
chamou de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mal-estar</i> a varrer a
academia. “Eu não sou”, proclamou maliciosamente em um artigo no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Times</i> londrino, “um defensor da ficção
lésbica esquimó”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Considerado
o crítico mais audacioso de sua geração, em 1900 publicou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Livro de J</i>, em que tratava a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bíblia</i>
como literatura e sustentava que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Antigo
Testamento</i> fora escrito por uma mulher. Não é nem preciso dizer que os estudiosos
da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bíblia</i> refutaram a sua tese; o livro,
porém, tornou-se um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">best-seller</i>. O
mesmo aconteceu com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Como ler um livro e
por quê</i> (2000), versão condensada do cânone de Bloom.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
celebridade de Bloom era devido tanto à sua personalidade quanto às suas ideias;
foi uma personagem tão colorida quanto Falstaff, a grande criação cômica de
Shakespeare. Bloom, com seus olhos melancólicos, podia ser cáustico,
bombástico, atrevido e encantador. Aos 30 e poucos anos, sofreu uma depressão
profunda e começou a ler Freud obsessivamente. Suas lutas psíquicas se
arrastaram por seis anos, durante os quais ele começou a escrever um poema
épico inspirado em um pesadelo. O poema se transformou em uma teoria da poesia,
que veio à luz em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Ansiedade da
Influência</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sua
teoria sustentava que os poetas são como filhos que se rebelam contra o pai -
adaptação da teoria da raiva edipiana de Freud. Segundo Bloom, o desejo de
ofuscar o trabalho brilhante do passado leva poetas “fortes” a usurpar seus
antecessores e criar seus próprios trabalhos significativos. Para isso, baseou-se
nos românticos para ilustrar a teoria de que compor um poema é um “processo
feroz” de ultrapassagem e revisão das melhores obras poéticas do passado. O
livro, ao mesmo tempo deslumbrante e confuso, empregava tantos termos obscuros
que levou a escritora nova-iorquina Larissa MacFarquhar a afirmar “que parecia
ter sido escrito por um cabalista Lewis Carroll”. O crítico britânico Terry
Eagleton, contudo, chamou-o de “uma das teorias literárias mais ousadamente
originais da década passada”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bloom
era uma celebridade na academia, mas ficou cada vez mais atormentado. Ele havia
tolerado os desconstrucionistas - o principal deles, o pensador francês Jacques
Derrida - e, embora tenha contribuído com um ensaio para um livro com Derrida e
outros defensores da desconstrução, negou que fosse um deles. À medida que
outras novas escolas de crítica ganhavam popularidade - novos historicistas,
socialistas, feministas e multiculturalistas -, Bloom as ridicularizou
afirmando que faziam parte de “grupo de lemmings” que estavam destruindo os
estudos literários com suas agendas não literárias – por isso foi visto como
reacionário. Um de seus ex-alunos, o escritor Charles McGrath, observou que o
velho professor começou a brincar dizendo que era marxista da “escola marxista
Groucho ... cujo lema é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Seja o que for,
sou contra</i>”. Ao escrever <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Canône
Ocidental </i>afirmou que procurava salvar a educação literária tradicional dos
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bárbaros</i>,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>momento em que considerava o que era ensinado nas academias como
resultado de uma culpa social e cultural que assumira o controle. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tratado
como um dinossauro pela maioria de seus colegas, afirmava, disse não se importar,
pois acreditava na genialidade literária e no “poder de alterar o mundo da
imaginação de um poeta”, convencido de que a grande poesia mudou o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/requiem-a-harold-bloom/">https://www.z1portal.com.br/requiem-a-harold-bloom/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-61560335507699373582019-10-13T07:55:00.002-03:002019-10-13T07:55:16.121-03:00Irmã Dulce e os mitos fabricados<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvcWO6qJHWrm_Nfna4aVaMoRDeGFUSiQXbW8oCuq450QsFodzDvHjXxVTWplFu8ZQnBOo9LZq8zYozpKhWimQVeGHfsV5O6cmCiAKUEZj40KGJ5otBnoF3Lm8f_cfIvMiL508KqTHUPDw/s1600/Foto+texto+148.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="189" data-original-width="267" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvcWO6qJHWrm_Nfna4aVaMoRDeGFUSiQXbW8oCuq450QsFodzDvHjXxVTWplFu8ZQnBOo9LZq8zYozpKhWimQVeGHfsV5O6cmCiAKUEZj40KGJ5otBnoF3Lm8f_cfIvMiL508KqTHUPDw/s400/Foto+texto+148.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Um
dos parâmetros da caridade de Irmã Dulce é a internet. Hoje, quando a vida é
devassada e submetida aos comentários e julgamentos de uma tresloucada multidão
de internautas, a maioria obtusa, manter certa unanimidade e uma biografia
respeitável é algo no mínimo sagrado - e só por isso Irmã Dulce já pode ser
canonizada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ontem,
li que a quase santa baiana, lá do além, anda a fazer milagres. E que milagres
são esses?, pergunta-me o leitor curioso. Ora, cristão crédulo, não lestes o anúncio
de que o presidente não comparecerá à canonização de Dulce? Dulcinha, frágil,
porém porreta, já fez valer o dito bíblico de que se resistir ao diabo, ele
fugirá de ti, de vós, de nós. Ô Glória!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
fato é que em um país ético e moralmente pobre de homens e mulheres inspiradores,
alguns gatos pingados que fazem o que se espera que todos façam, ganham
relevância e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">voilà</i>, tornam-se heróis
pátrios ou recebem as graças de anjos e arcanjos, sobem aos céus e descem
santos cá pra essa terra cheia de maldades, pecados e corrupção. Não por outra
razão Deus está conosco até o pescoço e religiosos organizados em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lobbys</i> ditam as regras de uma República
em que pastores travestidos de lobos devoradores não só roubam os sonhos do
povo, mas também seu intelecto; dividindo assim, anjos e demônios, as almas a
seu bel prazer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Alguns
demônios – sim, porque os demônios são vários, assim como os santos – não
precisam ser tentados à exaustão, afinal, acreditam desde sempre que comandam todos
os reinos da terra e são adorados por todos os seus súditos. Lendas à parte, o
fato é que às vezes anjos são expulsos do paraíso e jogados terra abaixo.
Rolados pelas encostas, aqui ganham legiões de adoradores, tripudiam dos honestos,
tomam a vil forma humana, tornam-se vereadores, deputados, senadores e até
mesmo presidentes. Há demônios desviantes que se autodenominam juízes,
promotores e que em razão dos privilégios ostentados, perpetuam-se materializando
seções do inferno sobre a terra, esquecendo-se das profundezas, das grutas e das
masmorras que alimentaram o gótico romântico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
não crucifiquemos Dulce, afinal, a baiana não é culpada da fragilidade das
instituições e da dispersão dos devotos, ainda que estes, heréticos, lembrem-se
da fé só em momentos limites da existência. O fato é que Dulce vem no rastro da
Santa de Manto Azul, achada às margens do Paraíba, e que só no início da
República, na tentativa de tranquilizar as almas, o poder central decide
torná-la Rainha e Padroeira do país, concedendo-lhe diversos títulos
eclesiásticos e civis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antes
dela, porém, veio Tiradentes, cuja indumentária foi aos poucos transformada
pelos interesses do poder a ponto de se assemelhar ao próprio Cristo, e,
Aleijadinho, o fazedor de anjos barrocos, o nosso Quasímodo, personagem criada
bem ao costume do Romantismo e que, segundo seu biógrafo, Rodrigo Ferreira
Bretas, teria sofrido de uma doença desconhecida (algo não comprovado),
“provavelmente sífilis ou lepra, que o fizera perder os dedos, os dentes,
curvar o corpo, não conseguir andar a não ser de joelhos e mutilar-se, numa
tentativa dramática de que a dor nos membros diminuísse” e que só não virou
santo como Padim Ciço, porque Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, devia
ser um mineiro de bem e também porque em Minas não havia cangaço, nem um
Lampião, com o qual o escultor pudesse tramar os seus ardis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
fato é que a Igreja, necessitada de santos, ainda que os devotos já os tenham
em demasia, precisa atualizar seu repertório, afinal, que emoções Santos como
Hipátia de Alexandria, Platão e Sócrates inspirariam no devoto do século XXI,
época em que a miséria espiritual se mede pelo estômago e não pelo intelecto? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
fim, Irmã Dulce, louvável Irmã Dulce, que se preocupava com os humildes e
miseráveis vai tomar um banho de loja de historiadores, museólogos, professores
e semiólogos (a maioria, ateísta!), ciosos em construir uma indumentária cuja
simbologia responderá aos desejos e à ignorância do povo e, de quebra,
atenderá, mais uma vez, aos interesses dos poderosos e da canalha política (o
Congresso vai pagar a viagem de sete senadores a Roma, em mais uma gastança
turística bancada pelo erário), que deveria – e não fez – o que fez Irmã Dulce.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Assim,
leitor, reserve alguns caraminguás para comprar mais um oratório e mais uma
santa. Esta agora, observe, deverá ter especificações precisas (se não as
tiver, não hesite em abrir um chamado no Procom ou no Reclame Aqui). Em sua
imagem canônica oficial, Irmã Dulce deve vir assim: vestida com seu tradicional
hábito azul e branco (vestes de quem integra a Congregação de Nossa senhora da
Conceição), trazer um terço de Maria, de quem era devota, e “carregar no colo
uma criança negra, sem roupas, descalça e desnutrida que, de acordo com uma
possível leitura iconográfica da peça, representa o menino Jesus”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
embalagem e todo o mais fica por conta da imaginação e da fé do devoto. Ah,
atente para o preço, que deve ser módico!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-44118575107937502132019-10-12T16:41:00.000-03:002019-10-12T16:41:52.136-03:00Lula, o papagaio holandês, Greta, Malala e os nossos maniqueísmos quotidianos<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJYZhkaFNfG4fS5_Xo6nnEVMYcWz2T9oA2KWwmx-R8Qy_ZWCue4tOh_oFmQ3qMJtkkxJFe-mVCMESNcFKG04Q64xcl5LZQ09LvRhNS_XtcElbCDle2dXSOrLbEW4gKUAyiYAX9kXk-Z-s/s1600/Foto+texto+147.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="332" data-original-width="590" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJYZhkaFNfG4fS5_Xo6nnEVMYcWz2T9oA2KWwmx-R8Qy_ZWCue4tOh_oFmQ3qMJtkkxJFe-mVCMESNcFKG04Q64xcl5LZQ09LvRhNS_XtcElbCDle2dXSOrLbEW4gKUAyiYAX9kXk-Z-s/s400/Foto+texto+147.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
homem, capaz de feitos impensáveis, transformou o mundo ao longo da história,
mas, parece-me, na sua essência permanece o mesmo; não admite, por exemplo, que
dentro do seu coração branco e tão puro reside o mal. A um homem multiforme, fragmentado,
senhor de desejos múltiplos, bondade e alguma vilania, prefere o ser raso,
plano e imutável. Para isso, em casos extremos, ao deparar-se com pares que se mostram
como de fato são, a ciência criou o Transtorno Dissociativo de Identidade, na
tentativa de explicar como um pode ser tantos. Nesses casos, é claro, mal se
fala da dissimulação quotidiana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
o leitor deve estar se perguntando o porquê de todo esse intróito, não é? Bem,
no fundo, não queria perder o carro das ideias, que passa rápido, e, se eu
deixar para a semana que vem o que se fala agora, é provável que Lula já esteja
discursando da sacada de sua cobertura (não a do Triplex!), o passarinho tenha voado,
Greta apareça serena e dócil e Malaia, bem, não consigo ver Malaia com aqueles
olhos crispados de raiva que Greta carrega, prova de que também sou maniqueísta
e vejo em tudo um embate entre o bem e o mal, ainda que procure me afastar o mais
que posso de todos os antipodismos e de todas as paralelas (estas, só porque me
lembrei de Belchior).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Esta
foi mais uma daquelas semanas espetaculosas que certamente renderia algumas
páginas a Guy Debord e, é claro, a imprensa tem se deliciado com imagens,
caras, bocas, cartas etc etc. Na política, longe de tomar partidos, dou razão à
minha avó, para quem todos são “farinha do mesmo saco”. Mas, convenhamos, há
momentos em que a situação em si é irônica, prosaica, e a mim não cabe outra
coisa além de rir de uns e de outros – e de mim! Divirto-me ao ver as pessoas comporem
antinomias e depois pares, iguaizinhos aqueles vasos que uma tia sexagenária
insiste em manter alinhados sobre o aparador da sala; ainda que um deles já
exiba a borda toda trincada, resultado da pátina do tempo, para ela o vaso é
perfeito, sem máculas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Veja,
caro leitor, no mundo do espetáculo Lula não exibe nódoas e, impoluto, revela
uma dignidade e elevação de caráter incomparável. Lula é o bem, e as pessoas
lutam pelo bem, razão, acredito, da criação do movimento Lula Livre e de
celebridades e intelectuais exibirem o polegar e o indicador, refutando o
canônico paz e amor dos meus tempos de adolescência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não,
leitor obtuso, não seja maniqueísta, não estou a condená-lo; procuro ver com
olhar de míope, apertando os olhos à procura das fissuras onde se escondem as
supostas verdades, ainda que relativas, até mesmo porque o maniqueísmo mostra
só a superfície e raras as vezes chega ao fruto dentro da casca. Assim se
produzem os espetáculos; da coxia, pouco se sabe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Querelas
jurídicas à parte, o fato é que agora Lula se recusa a sair da prisão. Ao
fazê-lo, torna-se um herói diverso daquele que estamos acostumados, qual seja,
inventivo e destemido, pleno de ações heroicas, de modo que vejo Dumas obrigado
a repensar boa parte de sua narrativa. Lula prefere o embate no STF, casa carregada
de todas as suspeições, cujas figuras sombrias que nela habitam, atravessados o
portão, a antessala do mal e o Aqueronte, não encontrariam dificuldade alguma
em se acomodar em qualquer dos círculos do Inferno de Dante. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
ironia da situação é que na briga de gato e rato, Lula e a Lava Jato, haverá o
esvaziamento do Lula Livre. Mas isso não é nada! O risível da situação é
contrapor o embate de Lula ao caso do passarinho levado à prisão em Utrecht, na
Holanda. O pássaro, como Lula, não sabia de nada! Foi enclausurado só porque,
durante um assalto, pousava no ombro do criminoso que, segundo o próprio
pássaro, nunca o vira antes e não sabia sequer seu nome, só estava ali por uma
infelicidade, como poderia ter pousado em um arbusto qualquer. “Não analiso a
espécie de árvore ou arbusto antes de pousar em seus galhos.”, piou o pássaro
aos policiais. A polícia holandesa, incorruptível, que desconhece até mesmo a palavra
propina, não de u mole e levou o pássaro em cana; não houve, dizem, piados que
convencessem os policiais. Na delegacia, como acontece com Lula, o pássaro tem
recebido a atenção da imprensa e tem sido muito bem tratado pelos policiais, de
modo que não poderá, em um futuro próximo pleitear indenizações do Estado –
espera-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sobre
Greta Thunberg pouco sei: de uma família de atores (li isto!), assumiu o
protagonismo do espetáculo das últimas duas semanas. Ao falar na ONU, exibiu
uns olhos crispados de ódio, rosto tenso e, da boca, as palavras de ordem saiam
como tiros de metralhadora. É louvável a sua preocupação com o meio ambiente,
mas afirmar que teve a infância roubada é algo que, penso, não deverá sustentar
por muito tempo, já que a retórica se altera de acordo com os interesses; à
medida em que for ampliando seus contatos na política é certo que afinará o seu
discurso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Malala,
esta sim, penso, teve uma infância roubada, obrigada a fugir dos preconceitos tribais
e do fundamentalismo islâmico. Comparar as duas, tornou-se mais um ato
maniqueísta nas redes sociais: a Greta, creditam certa maledicência, por
acreditarem ser ela títere de poderes obscuros em luta por seus próprios
interesses; já Malala, colocada frente à raiva discursiva de Greta, seu rancor
e sua agressividade, é vista como alguém que apresenta um semblante nobre,
sereno e humilde, mas que consegue se impor. Para os críticos, tudo isto faz
parte de um maniqueísmo maior e injetado de preconceitos, pois Malala
representaria o feminismo aceitável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Isto
posto, à espera de que Lula resolva sair da gaiola e os internautas
maniqueístas decidam entre Greta (saudosa Garbo!) e Malala, aguardo o voo livre
do pássaro, que também não sabia de nada!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/lula-o-papagaio-holandes-greta-malala-e-os-nossos-maniqueismos-quotidianos/">https://www.z1portal.com.br/lula-o-papagaio-holandes-greta-malala-e-os-nossos-maniqueismos-quotidianos/</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-28595479272747640862019-09-27T09:50:00.000-03:002019-09-27T09:50:59.410-03:00Emília não é a mais esperta!<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHy_vXOAdc-1A7pqtMAVA6RrnLClQPn42DcJkTkeIrIjZDoIwMK8PDGHuwOfEMcQaSxizKksh-T-gAl-UfNR73ozG1R94Z0wxUE6O_pjnV_x6sKV8fru4xFwhbDppzvk28HuaIIaSUlvI/s1600/Foto+texto+146.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="606" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHy_vXOAdc-1A7pqtMAVA6RrnLClQPn42DcJkTkeIrIjZDoIwMK8PDGHuwOfEMcQaSxizKksh-T-gAl-UfNR73ozG1R94Z0wxUE6O_pjnV_x6sKV8fru4xFwhbDppzvk28HuaIIaSUlvI/s400/Foto+texto+146.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Houve
um tempo em que as crianças dançavam menos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">funk
</i>e liam mais livros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Muitas dessas
crianças começavam seu percurso de leitor com as obras de Monteiro Lobato nas
mãos. O<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> Sítio do Picapau Amarelo</i>,
lugar mágico e encantado, era onde todas as crianças queriam estar. Lobato,
dentre tantas coisas, tinha como matéria-prima o sonho e ali no sítio, Emília,
a boneca mais esperta de todas, Visconde de Sabugosa, Pedrinho, Narizinho, Zé
Barnabé, Cuca, o Saci, Tia Anastácia, Dona Benta e outras personagens faziam a
imaginação dos jovens leitores girar a mil. Nada era empecilho para a fantasia:
quando se interpunha alguma dificuldade, estava lá o pó de pirlimpimpim (que os
puristas do politicamente correto querem banir porque, uma vez recuperados, não
suportam nada que os faça lembrar das carreirinhas da juventude).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
Emília deixou de ser a boneca mais esperta de todas, perdeu para Pedro Bandeira
que, tão logo ouviu o tilintar do martelo a declarar a obra de Lobato domínio
público, entreviu a oportunidade de ganhar uns caraminguás e engordar ainda
mais a burra com a criatividade alheia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
vou tratar aqui do mau-caratismo revisionista, que apaga a memória em proveito
de ideologias (até mesmo porque já falei disso antes nesta coluna), mas do oportunismo
de Pedro Bandeira, mosqueteiro do bom-mocismo, que, ao suprimir algumas frases
(e personagem) de Lobato, tascou seu nome na capa de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Narizinho a menina mais querida do Brasil</i> (título criado por
Bandeira ao estropiar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Casamento de Narizinho</i>,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Reinações de Narizinho</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Narizinho arrebitado</i> etc) e se apropriou
da inventividade, inteligência e talento de Lobato sob a alegação de “limpar” a
obra de lobatiana, constituindo-se em mais um caso em que o sub-reptício
interesse pelo vil metal faz da luta por uma causa metonímia para o uso
descarado do plágio. Trocando em miúdos, no quesito esperteza Bandeira passou a
perna na Emília. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ouvi
dizer que Pedro Bandeira é fã assumido de Lobato. Não acredito! Se é fã, por
que desossar, desfolhar, encurtar, suprimir, destruir a obra do autor? Para
atender e se ajustar à bandeira da militância e com isso ganhar um dinheiro a
mais? A questão do racismo pode e deve ser discutida e refletida a partir da
obra e não suprimindo trechos! Isso é mau-caratismo! Há um blogueiro que,
referindo-se às interferências de Bandeira, afirmou que este deu uma “arejada”
na obra, driblando o racismo. Famelizar e desmontar a obra de Lobato, suprimir
Pedrinho da narrativa sob a alegação de que se trata de uma personagem fraca e,
de quebra, sustentar que “todas e cada uma das personagens lobatianas são
apenas coadjuvantes e ou figurantes dessa maravilhosa e apaixonante menininha”
[Narizinho], ora, convenhamos, escritor algum precisa de um fã como este,
melhor são os inimigos que, lendo-o mal, lançam mão de práticas intolerantes e
medievais para pleitear a queima de seus livros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antes
que conclua: o que dizer depois de Bandeira afirmar que Narizinho é, ao lado de
Capitu, a grande personagem da Literatura Brasileira? Sem querer fazer o que
Bandeira fez com Pedrinho, penso que Narizinho seja uma importante personagem,
mas não se compara a Capitu, de modo que o comentário, parece-me, senão um mau
conhecimento da Literatura Brasileira, algum problema com a qualidade do pó de
pirlimpimpim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
fim, finalizo com as palavra de Bradbury em seu posfácio “Coda”, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fahreinheit 451</i>, quando o autor comenta
as ablações efetuadas em contos de Twain, Irving, Poe, Maupassant e Bierce:
“cada minoria, seja ela batista, unitarista; irlandesa, italiana, octogenária,
zen-budista; sionista, adventista-do-sétimo-dia; feminista, republicana;
homossexual, do evangelho-quadrangular, acha que tem a vontade, o direito e o
dever de esparramar o querosene e acender o pavio. Cada editor estúpido que se
considera fonte de toda a literatura insossa, como um mingau sem gosto, lustra
sua guilhotina e mira a nuca de qualquer autor que ouse falar mais alto que um
sussurro ou escrever mais que uma rima de jardim de infância.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, em tempos de bandeiras, menos Bandeira e mais Lobato!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;">Foto: Rede Globo, série infantil.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/emilia-nao-e-a-mais-esperta/">https://www.z1portal.com.br/emilia-nao-e-a-mais-esperta/</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-34994879603677976452019-09-24T15:12:00.001-03:002019-09-24T15:12:15.708-03:00Patrulhamento cultural e ideológico<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcx842_PJwxynBjqIoyd48aqdYkncaXs96LFR1nd9DJJTriWbyqWB4NbCyJpntjlWMncsA3CSM9xcRoF0-iDtYnGQxDAEToXmCqN1ww7RT1pkZFIpfD0JRYgcEDroxERjWJp3Znam9XS0/s1600/Foto+texto+145.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="182" data-original-width="276" height="263" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcx842_PJwxynBjqIoyd48aqdYkncaXs96LFR1nd9DJJTriWbyqWB4NbCyJpntjlWMncsA3CSM9xcRoF0-iDtYnGQxDAEToXmCqN1ww7RT1pkZFIpfD0JRYgcEDroxERjWJp3Znam9XS0/s400/Foto+texto+145.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu
venho de lá onde a amizade era leve e sorridente. Eu venho de lá onde os amigos
costumavam praticar rituais estranhos e exóticos, tais como se encontrar só
para se ver e, de quebra, compartilhar dores e amores; às vezes, porque eram
humanos, brigavam e se odiavam, mas logo se abraçavam. Eu venho de um tempo em
que as pessoas preferiam acreditar que eram responsáveis por si mesmas e os desentendimentos
eram momentâneos; depois das verdades ditas (ou ao menos achávamos que eram
verdades, as nossas verdades) e das desculpas aceitas, abraçávamo-nos e
cantávamos <i>Andanças. </i>Sim, porque se
hoje a saudade é imensa, só o é porque não conseguimos medir tanta areia
andada, tanto verso, tanto sonho, tantas luas, festas e serestas... Éramos
profanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quer
saber? Foi ótimo ter vivido intensamente os anos 80. Pouco importa se foi a
“Década Perdida” para os economistas e burocratas, afinal, quem liga pra eles? O
fato é que olhando para trás vemos uma década inovadora, plena de tendências
culturais e modismos que hoje, convenhamos, seriam rejeitados pelo bom mocismo
das patrulhas que regulam o politicamente correto e até mesmo o que você gosta
porque acha que gosta e o que você não gosta, mas nem sabe porque não gosta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
moda <i>New Age</i>, quem não se lembra?
Alguém sabe o que é sair para o trabalho usando camiseta verde-limão, calça
laranja e tênis vermelhos? A cidade era um festival de cores. Na TV, as manhãs eram
animadas pela Rainha dos Baixinhos, Xuxa, em trajes minúsculos, quase nua - e não
aparecia sequer uma mãe tresloucada, escoltada pelo Conselho Tutelar, gritando aos
ventos e acusando a loira de atiçar a libido dos baixinhos. Aos sábados,
Chacrinha cantava <i>Maria Sapatão, sapatão,
sapatão,/ De dia é Maria, à noite é João</i> e <i>Olha a cabeleira do Zézé/ Será que ele é/ Será que ele é</i>.. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Os
anos 80 trouxe o Asdrúbal trouxe o trombone, a Legião Urbana, Cazuza, o
Movimento das Diretas Já, Titãs, Paralamas do Sucesso, o primeiro <i>Rock in Rio</i>, o <i>punk</i>, o <i>soul</i> à
brasileira, a TV Pirata, Armação Ilimitada, Marina, Gal cantando <i>Vaca Profana</i>... Eita saudosismo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
hoje, o que sobrou? É certo que o respeito à diversidade é inalienável, mas
tudo tem ficado tão chato, mas tão chato que se você ousar afirmar em público
que não gosta de jiló é provável que a patrulha em defesa do jiló venha para
cima com tudo! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
deu outra, Lulu Santos aventurou-se a elogiar uma cantora e ao fazê-lo, disse:
“Você emagreceu, ficou mais bonita.” Pronto! Tornou-se alvo dos internautas
irados (todos certinhos). Lembrei-me dos anos 80 porque foi mais ou menos a essa
época que a expressão cunhada pouco antes pelo cineasta Cacá Diegues ganhou as
ruas. Foram tempos de patrulhamento inócuo, em que apareceram bizarrices como a
passeata contra as guitarras - essa, de 1967 -, que reuniu artistas ciosos em
zelar pela pureza da MPB. Hoje, mal podiam imaginar, a MPB jaz deitada
eternamente em berço esplêndido, isso se você leitor for magnânimo, caso
contrário, pode-se afirmar que ela nem existe mais, sufocada que foi pelo
pagode, o funk e todos esses ruídos que incomodam seus ouvidos e o seu sono. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Os
tempos são pendulares, mas, curiosamente, tratando-se do patrulhamento, vivemos situação semelhante aos anos 60 e 70,
quando toda arte que não fosse engajada era proscrita, gerando certa polaridade
em que o radicalismo emburrecedor inviabilizava o diálogo e dava azo às
patrulhas ideológicas; hoje, infelizmente, a arte parece ter sido espezinhada
dos dois lados e é a política que define que lado da luta escolher. No meio do
tiroteio, aí daquele que tentar criar um atalho entre os dois lados... Hoje,
até mesmo a amizade tem sido ferida pelo patrulhamento. Quem não conhece amigos
que deixaram de se falar pós eleições 2018?
No âmbito social, dá-se a mesma coisa com as investidas contra as
opiniões divergentes, algo nocivo que secciona as minorias, porque para muitos
que se arvoram defensores das minorias há minorias e minorias, e algumas
minorias são mais minorias que outras minorias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lembrei-me
agora do Festival de Cinema Pernambucano, em que cineastas retaliação às
apresentações de documentários considerados por eles como ligados a valores
tradicionais e à esquerda tucana dos anos 1990. À época, uma das signatárias do
texto emitido pelos cineastas, </span><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Cíntia
Domit Bittar, colocou em xeque a legitimidade da seleção, criticou a curadoria
e afirmou: “Não censuramos filme nenhum de estar no festival, nem incitamos
boicote. Apenas retiramos nossos filmes”. (Não mesmo?!) Em seguida à decisão, a
direção do festival decidiu suspender o evento. E como o patrulhamento - e a
censura – vira e mexe despertam a memória, lembrei-me de Cacá Diegues, que em
1978 teve seu filme <i>Chuvas de Verão</i></span><span style="color: #222222; font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> recebido com frieza pelos críticos –
o que já havia acontecido com <i>Xica da
Silva</i>, seu filme anterior. Após o banho de água fria, Diegues, em
entrevista à jornalista Póla Vartuck, publicada no jornal <i>O Estado de São Paulo, </i>denunciou as patrulhas
ideológicas, que seriam integradas por jornalistas ligados ao PCB e que não
teriam objetivo outro que detratar produtos culturais não alinhados ao
politicamente correto defendido por esses grupos formadores de opinião. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A polêmica que se seguiu à entrevista
de Diegues resultou em um livro, <i>Patrulhas Ideológicas</i>, de Carlos
Alberto M. Pereira e Heloisa Buarque de Hollanda, publicado pela Editora
Brasiliense. No livro, Diegues, em nova entrevista, define o <i>modus operandi</i> das patrulhas: “O que
existe é um sistema de pressão, abstrato, um sistema de cobrança. É uma
tentativa de codificar toda manifestação cultural brasileira. Tudo o que escapa
a esta codificação será necessariamente patrulhado.” <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Patrulhados ou não, parece-me,
Chacrinha e Xuxa saíram ilesos. Já Lulu, ovacionado dia desses por assumir seu
amor, ontem, distraído, foi tomado pela sinceridade e deu no que deu. <o:p></o:p></span></div>
<br /><br />
<span style="font-size: x-small;">Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/patrulhamento-cultural-e-ideologico/">https://www.z1portal.com.br/patrulhamento-cultural-e-ideologico/</a></span>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-21027453456677259632019-09-17T14:10:00.000-03:002019-09-17T14:10:56.827-03:00Vamos beijar Crivella<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmfsoGu670FMjeI33zlfU7z-GwscnSiUURMsZkDl_xzAX_oqJGeP2sVabg2jgg-AlERFjWv9tyQ0nlad-PzTSMekktWqGtGJyL1juUJsWsEREJPhQT9tgWWdz6xUOtvDBqI1DUtZscOMI/s1600/Foto+texto+144.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="870" height="227" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmfsoGu670FMjeI33zlfU7z-GwscnSiUURMsZkDl_xzAX_oqJGeP2sVabg2jgg-AlERFjWv9tyQ0nlad-PzTSMekktWqGtGJyL1juUJsWsEREJPhQT9tgWWdz6xUOtvDBqI1DUtZscOMI/s400/Foto+texto+144.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ontem,
recebi uma mensagem supostamente extraída do <i>Twitter </i>de Marcelo Crivella (claro, mais uma <i>fake news </i>elaborada pelos internautas, porém, deliciosa), em que o
tosco, comenta: “A culpa dos jovens estarem virando gays é desses homens
sarados e gostosos.” Ri, como muita gente riu, mas, pensando bem, o escárnio
traz um fundo de verdade: alguém eleito para administrar uma cidade, por sinal,
falida, e não o faz, mas passa a maior parte do seu tempo tentando regular o
fiofó do cidadão, parece-me um daqueles casos em que o populacho pede ao indivíduo
que saia do armário.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao
ler sobre a lambança de Crivella, lembrei-me da canção e pensei: por que não beijar
Crivella, ridicularizar a ordem, apostar na orgia, no bacanal, na carne vicejante,
no carnaval, comê-lo pela frente e pelo verso, comê-lo cru? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
bastasse Brasília, notória exportadora de lambanças, Crivella também foi
notícia no exterior, expondo novamente, é claro, o país ao ridículo. E tudo por
causa de um beijo entre homens em uma história em quadrinhos. Crivella, <i>furiosa</i>, em um gesto democrático, subiu
nas tamancas, bateu o cabelão, chamou seus bofes e decidiu proibir a venda de <i>Vingadores: a cruzada infantil</i>, obra à
venda na Bienal do Rio. Antes que continue, nem é preciso dizer que o tiro saiu
pela culatra: a visibilidade dada ao livro foi imensa, a procura enorme, enfim,
um <i>merchandising</i> que certamente a
editora não teria cacife para bancar; hoje, por exemplo, só o <i>download</i> do livro na rede não sai por menos
R$ 250,00.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
polêmica, inesperada, agitou a Bienal do Livro do Rio: funcionários da
prefeitura circulando pelos corredores da Bienal, os holofotes da imprensa, jornalistas,
fotógrafos, a militância, enfim, a espetacularização da mediocridade. O prefeito,
conhecido por sua homofobia, que já descreveu em um livro - sim, infelizmente
livros tornam-se objeto de obscurantismo - a homossexualidade como um “terrível
mal”, ordenou aos organizadores que cobrissem cada exemplar com um plástico
preto e um aviso - algo como aquelas embalagens de veneno, cujas tarjas e a
imagem de uma caveira, alertam o comprador de que o conteúdo é mortal. Diante
da recusa, o que fez o prefeito? Mandou a polícia apreender todos os exemplares
à venda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Crivella,
ao lançar mão da censura, sob a falácia de defender a Moral, a Religião e o
Estado, afirmou que visava proteger os menores. O vereador Alexandre Isquierdo,
por sua vez, lançou mão de sua conta no <i>Instagram</i>
para acusar a Marvel de “propagar o homossexualismo para as crianças”. Ambos,
prefeito e vereador partilham a visão de que a decisão de censurar e recolher
os quadrinhos na Bienal tinha apenas um objetivo: cumprir uma lei e defender a
família!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E,
como nesses shows midiáticos sempre há uma raposa à espreita, à espera das uvas
que pendem dos cachos em meio à confusão, não deu outra: o <i>youtuber</i> Felipe Neto que, dizem, é seguido por mais de 34 milhões
de assinantes (U. Eco e Carpeaux é que tinham razão... - de quebra, brindo-os com
Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade,
mas pela quantidade. Eles são muitos.”), comprou 14.000 livros com conteúdo
relacionado às comunidades LGBT e os distribuiu gratuitamente na Bienal, todos
embrulhados em plástico preto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Contudo,
não se engane: caso não esteja entre os 34 milhões de seguidores e procure por
vídeos de Neto no <i>Youtube</i>, é provável
que tenha lá seus anseios de bater com a cabeça na primeira quina que encontre pelo
caminho. A militância do moço é extemporânea, como aqueles furúnculos que
aparecem do nada, bem perto do joelho. Mas está valendo! Só pelo fato de
escolher como alvo figuras sombrias do cenário político e expor suas
estupidezes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Crivella
atacou a liberdade de expressão, mas, parece-me, isto é algo que os governos
atuais não têm ideia do que seja. Mariana Zahar, vice-presidente da SNEL,
indignou-se com Crivella e afirmou que “desde a ditadura a gente não vive o que
estamos vivendo agora [...] a censura é com a literatura, com os livros”,
reiterando que a Bienal é um símbolo da diversidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Até
mesmo a <i>Folha de São Paulo</i> - que
agora tenta assumir ares de esquerda, mas na França, por exemplo, foi chamada
de centrista - publicou a imagem do beijo interdito, na tentativa de alertar as
pessoas para os perigos da censura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Feito
isto, começou a guerrinha jurídica – diga-se, nada imparcial, em razão dos
asseclas que povoam o mundo polarizado da política e do judiciário. No sábado,
dia 6, alguns dias após o início da controvérsia, um tribunal decidiu a favor
de Crivella, afirmando que a revista em quadrinhos destinada a jovens leitores
não deveria abordar questões relacionadas à sexualidade sem aviso prévio. Nada
mais compreensível, afinal, o sexo dos velhos é o poder. Também, questão de
gravidade. Vale ressaltar que a decisão foi anulada pelo STF. O juiz que
decidiu a favor da não proibição, mais sujo que pau de galinheiro, resolveu
usar seus dois neurônios, de modo que você leitor já pode adquirir o livro, o
gibi, seja lá o que for. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
tempo: ao perguntar a um amigo sua opinião sobre o livro, ouvi: “bobinho, muito
bobinho”, de maneira que achei ter havido uma tempestade em copo d’água.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
fim, lembrei-me de um beijoqueiro que tomava de assalto as celebridades, isso
há uma ou duas décadas... Como protesto, lanço a <i>hashtag</i> #vamosbeijarcrivella. </span><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<br />
Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/vamos-beijar-crivella/">https://www.z1portal.com.br/vamos-beijar-crivella/</a>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-13677814022989650862019-09-07T09:21:00.001-03:002019-09-07T09:28:14.766-03:00As bruxas do SUS, ou as benzedeiras agentes de saúde pública<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEIE3ATdJnA5vcz-p-Bz-JsfFej75YERJn2H4RLBzzqatzmRXCtMU6nwcdDdpjX85lQg_G5Igt3ehg-RAks1AvAiD_JPCeF2DO4Z0amv9wC_-Gx-RPK9ZOmUBiwGbgpf4M7wuGFVXtG2I/s1600/Foto+texto+143.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="720" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEIE3ATdJnA5vcz-p-Bz-JsfFej75YERJn2H4RLBzzqatzmRXCtMU6nwcdDdpjX85lQg_G5Igt3ehg-RAks1AvAiD_JPCeF2DO4Z0amv9wC_-Gx-RPK9ZOmUBiwGbgpf4M7wuGFVXtG2I/s400/Foto+texto+143.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Às
vezes, lembro-me dos meus tempos de menino. As lembranças, fluxos de memória
involuntária, brotam do nada e o nada, é claro, não é nada parecido com a Madeleine
do Proust, que descobri tardiamente. Às minhas reminiscências, juntam-se muitos
capítulos de histórias ouvidas na infância que se tornaram referências e sustentação,
fazendo de mim o que sou hoje. E hoje, adulto, felizmente sou traído pelo tempo
que me lembra a todo o instante da sua passagem por meio de uma bobeira ou
outra que alguém diz, um aroma, uma música... e quando vejo lá estou de novo
vivenciando meus verdes anos. A meninice aflora e a nostalgia invade, por
vezes, até mesmo as horas mortas, roubando-me o sono; então, faço-me menino, imaginando
a delícia dos dias em que a preocupação da manhã seguinte era juntar os amigos
e escolher os jogos e as brincadeiras daquele dia que, findo, parecia sempre ter
sido o mais longo dos dias - até mesmo que os meus dias de hoje.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Terminadas
as brincadeiras, banho tomado, barriga aquecida com a comida caseira preparada
por minha mãe, nas noites agradáveis de primavera e verão, cercava-me de amigos
e primos e, juntos, íamos sedentos à sobremesa que não era sorvete nem nada
(não tínhamos uma geladeira), mas sim as historietas contadas pelos adultos que
recontavam histórias ouvidas há muito ou rememoram suas próprias infâncias, sempre
tomados pela saudade de aventuras perdidas na poeira do tempo. Sentávamos todos
sob a lua e as estrelas (onde morava não tinha energia elétrica) e ficávamos
atentos àquelas narrativas dos tempos de antanho: ouvíamos de tudo, a única
regra válida era a de que uma história puxa a outra, e assim, atentos,
passávamos horas embevecidos por relatos de pessoas cujas lembranças reduziam-se
a nomes. Às vezes, um tio trazia à roda um Sr. Isidoro, que morava no “córgo”
(córrego) da Anta... Identificados a personagem e o lugar, a história fluía.
Não raro, eram histórias recheadas de elementos fantásticos: uivos não
identificados que emergiam das matas, rodamoinhos, ventos inesperados, luzes
intensas que apareciam do nada, chuviscos repentinos em noites quentes e secas,
vozes assustadoras, imagens diáfanas (quase sempre mulheres, mas havia homens
também) que se interpunham nos caminhos. Os caminhos eram sempre em meio às
matas, trilhas de difícil acesso; até mesmo porque todos moravam, como dizia
minha mãe, nos ermos, em lugares recém desmatados, isto em uma época em que
desmatar e matar animais era a regra diária e ninguém se importava com isso. O
vizinho do meu Tio João, que matara uma onça no sítio, era visto com respeito
pelos outros moradores. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ah,
nessas histórias também era frequente uma personagem que, para nós meninos, à
época, era terrível até mesmo imaginar que andasse pelas matas, o diabo. Sim,
ele mesmo, o tinhoso, o capiroto, o pé-de-bode, o sete-peles, o renegado, e por
aí vai. Ao ouvir seu nome em meio a uma narrativa, levados pelo medo, contorcíamo-nos
todos, aproximávamo-nos uns dos outros imaginando que ele pudesse saltar do
escuro e consumir-nos todos, meninos e adultos. Desconfio até hoje de que um
vizinho azeitava suas histórias só para nos ver amedrontados. Mas isso é outra
história; o fato é que ficávamos aterrorizados, porém, dominados por essas
narrativas e à espera de seus desenlaces.</span><br />
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif;">Ah, havia histórias fantásticas, como a do “Boi
falô”, que data do tempo dos escravos, antiga... Tudo se passou em uma Sexta-feira
Santa, quando o administrador da Fazenda Santa Genebra, ali perto de Campinas, pediu
a um escravo por nome Toninho, que fosse até o estábulo pegar um boi para
realizar seu trabalho do dia. Ali chegando, o escravo se deparou com o boi
deitado no chão, tranquilo. Ao tentar pegá-lo à força, o animal, para espanto
do homem, disse-lhe: “Hoje não é dia de trabalhar, é dia do Senhor!”. Aterrorizado,
o escravo saiu o mais depressa possível dali e foi ao encontro do administrador;
este, ao lhe perguntar sobre o boi, ouviu apenas: “O boi falô!”. Hoje, em Barão
Geraldo, depois de a história correr de boca em boca, ser requentada e
acrescida de pontos e mais pontos, às vésperas da Páscoa, moradores e
visitantes se reúnem para comemorar e saborear uma tradicional macarronada em
homenagem à lenda do “boi falô”. O porquê da macarronada fica por conta dos
pontos, afinal quem conta um conto...</span><br />
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt;">Ah,
também havia histórias de bruxas e curandeiras. Estas, parece-me, deixaram os
rincões, os lugares ermos, as matas e mudaram-se para os centros urbanos. Há
festivais de bruxas, nos quais meninas e mulheres se travestem de bruxas –
sempre, é claro, trajando figurinos à la Disney, com uma ou outra customização
– e encenam danças em voltas de caldeirões, entoando canções um tanto
esdrúxulas, tomando-se por seres especiais que povoam o universo apesar dos
ridículos mortais que infestam a Terra mãe. As curandeiras, por sua vez,
proliferaram-se por duas razões: o metafisicismo que desde tempos imemoriais
conduziu as crenças humanas e a ausência da ciência, digo, um serviço de saúde
justo e subvencionado pelo poder público, direito de todo cidadão. Junte-se as
duas alternativas e </span><i style="font-family: "century gothic", sans-serif; font-size: 12pt;">voilà</i><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt;">, as
curandeiras tornaram-se agora agentes da saúde pública.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ontem, ao acessar as redes sociais, o que leio? Leio que em
algumas cidades do país há algum tempo benzedeiras, rezadeiras, curandeiras e
costureiras de rendiduras (dores musculares) foram reconhecidas como agentes de
saúde pública.</span><span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif";"> </span><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na prática, é o Estado reconhecendo
aquele chazinho e aquela suave surra de ervas em substituição à saúde pública;
trocando em miúdos: médicos, hospitais e postos de saúde. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao
entrar na onda de ONGs que congregam benzedeiras, como a MASA (Movimento
Aprendizes da Sabedoria), que cadastrou 161 em Triunfo (PR) e 133 em Rebouças
(também PR), o poder público tira seu corpo fora e, para isso, conta com a
ignorância de um povo acostumado ao falso conforto da mediocridade. Esta, como
dizia Carpeaux, entre os homens é tão profunda quanto o oceano. A representante
de uma das OGNs afirma que a iniciativa ajuda a combater o preconceito – e de
quebra, é claro, rende alguns caraminguás às ONGs (algo que ela não disse, mas
digo eu).<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ora,
convenhamos, não se trata de preconceito, mas de pura obtusidade. Ao dispensar
uma visita ao médico, o paciente pode, em muitos casos, retardar um tratamento,
algo que lhe será fatal mais tarde – e nunca ouvi falar de uma benzedeira que
tivesse ressuscitado um morto! No mais, não acredito que alguém que padeça com
um câncer, ao levar umas chicotadas de arruda, saia de lá saltitante e curado.
Respeito a fé, mas curandeira não substitui médico. Ao ler comentários efusivos
com a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">volta da ancestralidade</i> (que
duvido, conheçam) e com hipotético <i style="mso-bidi-font-style: normal;">despertar
que está acontecendo</i>, lembro-me do povo que tem se recusado a tomar vacinas
e penso que até para a ignorância há limites. Digo isso aos meus botões e eles,
no silêncio de suas casinhas, parecem concordar. Saravá!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/as-bruxas-do-sus-ou-as-benzedeiras-agentes-de-saude-publica/">https://www.z1portal.com.br/as-bruxas-do-sus-ou-as-benzedeiras-agentes-de-saude-publica/</a></span>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-7091856332249567242019-09-02T08:48:00.001-03:002019-09-02T08:48:10.247-03:00A internacionalização da Amazônia<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGtoy_bjOs1yzTvrMzUka2_nvHFM3nuxPsp3RMqm055FPwgpzjVpNFM4ZiwsgRq01VLG8b2IH4jFRpKqZeUq8rVwKISe_4tmjOMB-m9ZOXCclpuNrwKr1azFVLxYMuUsDWCKojKdpctoU/s1600/Foto+texto+142.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGtoy_bjOs1yzTvrMzUka2_nvHFM3nuxPsp3RMqm055FPwgpzjVpNFM4ZiwsgRq01VLG8b2IH4jFRpKqZeUq8rVwKISe_4tmjOMB-m9ZOXCclpuNrwKr1azFVLxYMuUsDWCKojKdpctoU/s400/Foto+texto+142.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ô
semaninha agitada essa! Com o fogo ardendo a floresta, a fumaça tornou-se
estratosférica e tóxica. Não bastassem o monóxido de carbono e outros compostos
químicos prejudiciais à saúde, a polarização gerada pelos incêndios acrescentou
à fumaça alguma bílis, rancor, desinformação, muita falta de educação e boa
dose de colonialismo. Sim, os interesses sempre falam alto nessas situações e o
representante do país da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">liberté</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">égalité</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fraternité</i>, saudoso dos tempos em que o colonizador transferia sábios
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">en mission</i> para as incultas colônias,
botou as garrinhas de fora. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
outro lado, na réplica, um representante tupiniquim desinformado, inexperiente
e obtuso, que alimentou o fogo e a fumaça com sua costumeira grosseria. Deu no
que deu. O assunto foi o mais discutido, o mais escrito e o mais comentado pela
turba que povoa o espaço das redes sociais. Enfim, não preciso retomar a
opinião de Umberto Eco sobre a capacidade cognitiva da fauna que o habita...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
meio a toda essa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">balbúrdia</i>, alguns
desencavaram um texto de Cristovam Buarque, insigne representante da política
torva e sanhuda, mas também professor e engenheiro. Lúcido cidadão, parece-me. Buarque,
que estava em uma universidade americana, ao ser perguntado sobre a internacionalização
da Amazônia por um aluno que dissera querer ouvir a resposta não de um
brasileiro, mas de um Humanista, respondeu:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="mso-element-anchor-horizontal: column; mso-element-anchor-vertical: paragraph; mso-element-linespan: 3; mso-element-wrap: around; mso-element: dropcap-dropped; mso-height-rule: exactly;">
<table align="left" cellpadding="0" cellspacing="0" hspace="0" vspace="0">
<tbody>
<tr>
<td align="left" style="padding-bottom: 0cm; padding-left: 0cm; padding-right: 0cm; padding-top: 0cm;" valign="top">
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 58.5pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-element-anchor-horizontal: column; mso-element-anchor-vertical: paragraph; mso-element-linespan: 3; mso-element-wrap: around; mso-element: dropcap-dropped; mso-height-rule: exactly; mso-line-height-rule: exactly; page-break-after: avoid; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 68.5pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-text-raise: -9.0pt;">“<o:p></o:p></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">De fato, como brasileiro eu
simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que
nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Como humanista, sentindo o
risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua
internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a
humanidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Se a Amazônia, sob uma ética
humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas
de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da
humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das
reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e
subir ou não o seu preço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Da mesma forma, o capital
financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma
reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de
um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego
provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos
deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na
volúpia da especulação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Antes mesmo da Amazônia, eu
gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O
Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das
mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse
patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e
instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um
milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre.
Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Durante este encontro, as
Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de
países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos
EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser
internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade.
Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada
cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao
mundo inteiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Se os EUA querem
internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros,
internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já
demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição
milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do
Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Defendo a ideia de
internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos
usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade
de comer e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas
elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados
do mundo inteiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="font-family-hybrid" style="background: white; line-height: 19.5pt; margin-bottom: 19.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Como humanista, aceito
defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como
brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!”<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: x-small;">Publicado originalmente em <a href="https://www.z1portal.com.br/a-internacionalizacao-da-amazonia/">https://www.z1portal.com.br/a-internacionalizacao-da-amazonia/</a></span>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-13580690132537840132019-08-24T14:04:00.002-03:002019-08-24T14:06:13.303-03:00Gênesis1 – A criação do céu e da terra e de tudo o que há na Amazônia<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9J-NzoQxKM9jsrOCy51slGk-BWDokIEorHX-AYBdVk4gk1JdZyJeBEZhEWxj3qaImk8PGtkZRC7orpQZ22LaZs7x7ni8L5kOetwb1HMebak6Z8qXIeUbPoE-Yu-214hmoaknrl-kkpJw/s1600/Foto+texto+141.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="430" data-original-width="750" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9J-NzoQxKM9jsrOCy51slGk-BWDokIEorHX-AYBdVk4gk1JdZyJeBEZhEWxj3qaImk8PGtkZRC7orpQZ22LaZs7x7ni8L5kOetwb1HMebak6Z8qXIeUbPoE-Yu-214hmoaknrl-kkpJw/s400/Foto+texto+141.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">1. No
princípio criou Deus os céus e a terra. [...]<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">11. E disse
Deus: “Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê
fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra.” E assim
foi.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt;">12. E a
terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore
frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie. E viu Deus que era
bom.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gênesis</i>, primeiro livro do Pentateuco, a narrativa bíblica não só é
pautada pela repetição, como também é marcada pelo predomínio do lendário,
afinal, como explicar a astúcia da serpente enredando Eva em uma prosa
científica, prometendo-lhe o conhecimento? Serpente e Eva punidas, sobrou-nos o
pecado original e as tentativas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ad
eternum</i> de arrependimento, até que Darwin batesse o pé e os criacionistas
os tambores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ainda que os criacionistas
glorifiquem as maravilhas divinas, como a criação dos céus e da terra e tudo o
que nela existe, parece-me, não respeitam Deus e sequer a sua obra. Mas isso
não é de hoje. Para os homens dos séculos XVII e XVIII, a maior prova da
existência divina era a natureza; toda a natureza, afirmavam, estava cheia de
traços que ajudavam a conceber as coisas celestes e as verdades mais sublimes.
Contudo, vieram os racionalistas e os materialistas, solapando a rocha sobre a
qual assentavam as ideias metafísicas. Deus no que deus! O cientificismo,
acreditando resolver todos os problemas das sociedades por meio do progresso e
da industrialização, ignorou as maravilhas concebidas pelo Altíssimo. Deu no
que deu! Com o tempo a própria ciência se deu conta de que a natureza era a
fonte de muitas de suas realizações; feito isso, voltou-se para as ervas, seus
frutos e suas sementes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Enquanto os europeus, depois de
passarem por duas guerras, verem o fim do comunismo e terem enfrentado atribulações
de percurso, decidiram que era a hora de pintar de verde o seu território, nós,
brasileiros, a passos céleres resolvemos colorir tudo de cinza e preto – como ocorreu
esta semana na cidade de São Paulo, quando o dia virou noite em razão do
corredor de fumaça oriundo das queimadas na Amazônia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A floresta é a última das
preocupações das forças políticas que se enfrentam e polarizam as opiniões no
cenário político atual. A destruição das matas é explicada por ambas as forças,
cada uma apresentando suas razões e ignorando a tragédia que ora vemos, sem que
nenhuma delas tenha implementado qualquer ação para impedir o fim da flora e da
fauna da Amazônia. Os interesses são diversos e ambas as forças lucram de uma
ou outra forma. O descaso é tamanho a ponto de os moradores-desmatadores da
cidade de Novo Progresso, no sul do Pará, terem instituído o “Dia do Fogo” (10
de agosto), cujo objetivo não é outro que o de queimar propositadamente a
floresta, sob o silêncio abençoado do governo federal, que sustenta um discurso
abjeto sobre a questão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não à toa, países como a Alemanha e
a Noruega, que contribuem com milhares de euros para a preservação da floresta,
ao se recusarem a continuar a abrir a burra para os brasileiros, têm sido
achincalhados pelo presidente e seus asseclas. Nesses nossos dias de
relativização da imprensa escrita, em que tudo é pautado pelo visual, é comum
recebermos imagens com frasezinhas curtas incitando o ódio contra
ambientalistas, além de afirmarem que os europeus só estão atrás das riquezas
minerais que jazem sob a camada verde criada pelo Altíssimo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não sou ingênuo: o interesse existe,
assim como existe a cobiça desenfreada das mãos nacionais e cristãs, cujos
ouvidos eriçam ao tilintar do vil metal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O resultado é que em razão da
polarização das forças políticas, a massa, que pouco e mal lê, deixa-se levar
por discursos construídos pelos salvadores da pátria de ontem e de hoje, e
passa a viver em bolhas <span style="background: white;">(também líquidas?), construindo
grupos que se juntam a fim de analisar e refletir sobre situações específicas,
porém, a prerrogativa para a admissão nesses círculos é a uniformidade das
ideias. Tem-se então a igualdade de pensamentos, as pessoas falam como se
estivessem frente a um espelho, que, refratário, lhes devolve a mesmíssima
coisa, e todo mundo fica feliz. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A circulação - e<span class="textexposedshow"> a evolução - das ideias exige contrapontos,
reticências, desacordos, mas, porém, contudo, todavia... Nesta semana a
imprensa divulgou comparação de pontos de vista de duas figuras do cenário
político nacional a respeito do desmatamento na Amazônia. Os comentários, no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">site</i> em que foi publicada, dão conta do
que eu disse acima e mostra a intolerância construída entre pares que dizem e
ouvem sempre um pouco mais do mesmo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="textexposedshow"><span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A despeito das variantes que envolvem o cotejo de opiniões publicado na
imprensa, parece-me que no momento ninguém está interessado na diversidade dos
discursos, na alteridade, na divergência de opiniões e no que pode advir disso.
Encastelam-se em suas opiniões e sustentam as primícias do “eu e eles” e da
“verdade absoluta”, nas quais o “eu” sempre prevalece, esquecendo-se de que o
que move o homem são os interesses - e política é política. Não por outra razão
Adorno nos advertiu um dia para desconfiarmos das ideologias, tenham elas o
matiz que tiverem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="textexposedshow"><span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Abaixo, reproduzo os pontos de vista mencionados acima só para provocar,
só para furar a sua bolha, caro leitor:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br />
<span class="textexposedshow">Lula: “Fico pensando que a Amazônia é que nem
aqueles litros de água benta que tem na igreja: todo mundo acha que pode meter
o dedo. Nós não podemos permitir que as pessoas tentem ditar as regras do que a
gente tem que fazer na Amazônia.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="textexposedshow"><span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bolsonaro: “Eu queria até mandar recado para a senhora querida Angela
Merkel, que suspendeu 80 milhões de dólares pra Amazônia. Pega essa grana e
refloreste a Alemanha, tá ok? Lá está precisando muito mais do que aqui.”</span></span><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="textexposedshow"><span style="background: white; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span class="textexposedshow"><span style="background: white; font-family: "century gothic" , sans-serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span></span><a href="https://www.z1portal.com.br/genesis-1-a-criacao-do-ceu-e-da-terra-e-de-tudo-o-que-ha-na-amazonia/">https://www.z1portal.com.br/genesis-1-a-criacao-do-ceu-e-da-terra-e-de-tudo-o-que-ha-na-amazonia/</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-32287228628813148482019-08-16T09:25:00.001-03:002019-08-16T21:19:20.237-03:00O padre Fábio de Melo e a ciranda das vaidades<br />
<h1 align="right" style="line-height: 115%; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-W-IoTn5KovUEqnwZn-w21zU1Kc98bi9etMXSZf2vLX6en2oH0iDWBoagAZG9kOzy9bTdU5GWN6Cst77G9_1sZMs5fTfRYKX9UgyzmjD1R-TItNhjFSAPKg9l0vDuve0mMynv5lPTmEE/s1600/Foto+texto+140.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="640" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-W-IoTn5KovUEqnwZn-w21zU1Kc98bi9etMXSZf2vLX6en2oH0iDWBoagAZG9kOzy9bTdU5GWN6Cst77G9_1sZMs5fTfRYKX9UgyzmjD1R-TItNhjFSAPKg9l0vDuve0mMynv5lPTmEE/s400/Foto+texto+140.jpg" width="400" /></a></h1>
<blockquote class="tr_bq" style="line-height: normal; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<span style="background: white; font-family: "century gothic" , sans-serif; font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Roda, roda, roda</span></span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="line-height: normal; margin-top: 0cm; text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "century gothic" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Pé, pé, pé</span></span></blockquote>
<div style="text-align: right;">
<span style="background: white; font-family: "century gothic" , sans-serif; font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Roda, roda, roda,</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background: white; font-family: "century gothic" , sans-serif; font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "century gothic" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Caranguejo peixe é</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "century gothic" , sans-serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O padre, cuja retórica era arrimo para uma multidão de internautas
desesperançados, resolveu tirar a trave dos olhos de seus fiéis seguidores,
mostrar-lhes que a verdade liberta, e não deu outra, rodou! Na fogueira das
vaidades, a hipocrisia que habita as almas girou, girou e padre rodou, rodou.
Condenado sumariamente por um aluvião de hipócritas, não teve como fincar o pé,
desistiu! Abandonou o Twitter. É possível que a roda viva, nas voltas que o
mundo dá, o traga de volta, mas, no momento, para o padre, tudo estancou de
repente.</span><span style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O padre Fábio de Melo, aventurou-se emitir sua opinião a respeito das
beneméritas saidinhas com as quais são premiados pela justiça brasileira os
filicidas e parricidas. Como é senso comum que nem sempre a justiça se ocupa da
justiça, acredito que o padre tenha se sentido à vontade ao se expressar via
Twitter e deu no que deu. Internautas moralmente corretos, éticos, virtuosos,
honestos e escrupulosos apontaram o dedo para o padre, condenando-o por sua
falta de cristandade, afinal, se Jesus perdoou um ladrão segundos antes de seu
último suspiro, por que o padre faria diferente? Com mil raios! O padre não é
filho de Deus? Por que não perdoar um pai que espancou e depois atirou a filha
de cinco anos do sexto andar do prédio em que morava? A menina, claro, índole
difícil, não devia ser alguém com quem fosse fácil conviver, e o pai, pobre
pai, tomado pela pressão do dia a dia, certamente agiu em legítima defesa. O
resto, bem, o resto foi tudo intriga e armação da promotoria, razão pela qual
continua, injustamente encarcerado.</span><span style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vale lembrar que do episódio até nossos dias rodaram-se apenas 11 anos,
mas a memória, fraca, fez com que a turba se esquecesse de que, à época,
tentara ela mesma fazer “justiça” com suas próprias mãos, ignorando os preceitos
que agora cobra do padre. Este, por sua vez, afirmou: “Este lugar [a
internet, o Twitter] deixou de ser saudável pra mim”; isto, depois de expor sua
opinião e ter sido chamado de ‘justiceiro, canalha, desinformado, desonesto’
e <i>otras cositas </i>impublicáveis.</span><span style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O padre, conhecido por suas tiradas bem humoradas não se deu conta de
que muitos dos seus sete milhões de seguidores, obtusos, só enxergam aquilo que
querem enxergar. É perda de tempo mostrar, provar, argumentar... Parte desses
fiéis - ignorou o padre - só é ética se tiver a certeza de que uma câmera paira
sobre suas cabeças como um onipresente anjo alado, caso contrário, subtrai,
surripia, rouba e trai, mostrando-se moralmente correta e altruísta.</span><span style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 11.25pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ora, é
sabido que as redes sociais é o espaço do fingido, do hipócrita, do mentiroso,
do desleal, do enganoso, do errado, do ilegal, do falso, do fraudulento, do
pérfido, do traiçoeiro, do fariseu, enfim, é
por esta fogueira de vaidades que o padre se deixou levar ao imaginar uma Ágora
a sua conta do Twitter, lugar em que pudesse dialogar com as diferenças e
estabelecer alguma dialética com certa natureza de seguidores que só povoa as
redes sociais porque divide as características que mencionei acima. Estes,
hipócritas, travestem-se de juízes dignos e impolutos, pessoas moralmente
íntegras, e, irrepreensíveis, “enfiam suas violas no saco” ou “enrolaram o rabo
e sentam em cima” - como dizia minha sagrada <i>nonna </i>- sempre
que algo é do seu interesse. </span><b><span style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 16.5pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 11.25pt; mso-outline-level: 2; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
padre, não se dando conta disso, reuniu-se com improváveis, achou que tudo
fosse uma brincadeira de meninos, esquecendo de que mesmo a cantiga, serve-nos
de aviso, afinal, caranguejo só é peixe na enchente da maré. Trocando em
miúdos, só quando você fala aquilo que ele quer ouvir.</span><b><span style="color: #222222; font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 16.5pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "century gothic" , sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-weight: normal;">Publicado originalmente em </span></span><a href="https://www.z1portal.com.br/o-padre-fabio-de-melo-e-a-ciranda/">https://www.z1portal.com.br/o-padre-fabio-de-melo-e-a-ciranda/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-20212604142418222402019-08-09T10:42:00.001-03:002019-08-09T10:42:47.632-03:00Toni Morrison: livre e insurgente<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZBpaJoVdCz3j731UuT5Hm3jonC9m_-OrqYwmOWfQAWdgz7QTJf0i6fdnyJGv32wcza1pScncBhwHk2RnzpAgh3fYG-uNl18h4H4401Kr24u8e2LJAF4nD6LM7EQIDHoB7LKJ8QwCMdUM/s1600/Foto+texto+139.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="532" data-original-width="830" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZBpaJoVdCz3j731UuT5Hm3jonC9m_-OrqYwmOWfQAWdgz7QTJf0i6fdnyJGv32wcza1pScncBhwHk2RnzpAgh3fYG-uNl18h4H4401Kr24u8e2LJAF4nD6LM7EQIDHoB7LKJ8QwCMdUM/s400/Foto+texto+139.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Toni
Morrison partiu esta semana. Ao ler sobre sua morte, uma vez mais lembrei-me de
Angela Davis, professora, ativista e insurgente contra o estado de coisas e o
sistema que nos sufoca. Mas a semana foi de Toni Morrison, professora, rebelde,
livre, pensadora, ativista, radical em suas análises e observações, isto é,
alguém que afirmava o que quer que seja sem o uso de meias palavras - sempre do
agrado de gregos e troianos -, alguém que afirmava ser a morte o significado da
vida e a linguagem, por podermos fazê-la, a medida de nossas vidas. Enfim,
alguém que dizia ser o “romance o lugar da liberdade”. Como não amar Toni
Morrison? Como não fruir da literatura de Toni Morrison?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Aos
avessos ao cânone, Morrison, queiram ou não, há de se tornar canônica; seu percurso
deixou traços na pátina das ideias literárias, o que é indício de repouso no
Panteão dos imortais. Agraciada com o Pulitzer de 1988, foi a primeira mulher
afro-americana a receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1993, por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Beloved</i>, um mergulho no universo negro
dos Estados Unidos no século XIX.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Toni
Morrison morreu na noite de segunda-feira sem que víssemos seu sentimento de
revolta se esvanecer por um só momento. Nem o sucesso internacional nem o
Prêmio Nobel de Literatura em 1993, nem os vários doutorados <i style="mso-bidi-font-style: normal;">honoris causa</i> e outras distinções alteraram
suas paixões e sua altivez, ainda que, depois de ver um afro-americano na
presidência dos Estados Unidos, testemunhasse o retorno do racismo desinibido
com a eleição de Donald Trump.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Neta
de ex-escravos, ela sabia de onde veio e nunca teve medo de chocar. Em outubro
de 1998, por exemplo, chamou Bill Clinton de “o primeiro presidente negro dos
Estados Unidos”. “Ele tem todas as características dos cidadãos negros: veio de
um lar monoparental, origem modesta, infância na classe trabalhadora, um grande
conhecimento do saxofone e um amor pela <i style="mso-bidi-font-style: normal;">junk-food</i>
digno de um rapaz do Arkansas”, disse ela. Recentemente, em 2015, quando
promovia em Londres seu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">God Help
the Child</i>, ao comentar os vários abusos policiais que haviam acabado de
acontecer nos Estados Unidos, disse ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Telegraph</i>: “Eu quero ver um policial atirar em um adolescente branco e indefeso.
Eu quero ver um homem branco encarcerado por estuprar uma mulher negra. Só
então, se você me perguntar: “Acabamos com as distinções raciais?”, eu
responderei a você sim.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chloe
Ardelia Wofford nasceu em 1931; ao converter-se ao catolicismo adotou o nome de
Anthony, que seus amigos abreviaram paraToni. Seu avô era um fervoroso leitor
da Bíblia e com ele logo aprendeu a ler e a escrever. Bolsista, Chloe Anthony
Wofford (Morrison vem de seu casamento com Harold Morrison, em 1958) foi uma
estudante brilhante, defendeu uma dissertação sobre o suicídio em Faulkner e
Virginia Woolf e iniciou uma carreira docente. Em 1973, publicou pela Random
House uma antologia de escritores negros, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Black Book</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Entre
os anos 1989 a 2006, lecionou literatura na Universidade de Princeton (New
Jersey), havia muito proibida para negros. Em 1989, ela já era uma escritora
reconhecida, porém, tudo começou no ano de 1970, quando publicou o primeiro de
seus onze romances, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Bluest Eye</i>,
que não teve sucesso e é apreciado com reservas pela comunidade negra. Na obra,
uma menina de 11 anos, Pecola Breedlove, sonha em ter olhos azuis e acaba cega,
louca e persuadida a ter um aspecto de cor cobalto, graças à operação de um
charlatão negro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além
de seus romances, vale ressaltar ensaios como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Playing in the dark</i>, extraído de suas conferências na Harvard, no
qual pode-se observar a natureza radical de suas análises e suas observações: “Eu
falo da construção da brancura em literatura. Como a literatura se torna ‘nacional’,
como Melville ou Twain tiveram a ideia do branco que eles eram, imaginando o negro:
sua linguagem, estranha, diferente, quase estrangeira; o modo de associar os negros
a certos traços: a violência, a sexualidade, a raiva ou, se for um bom negro, o
servilismo, o amor. O que não tem nada a ver com a realidade, mas é a maneira
como os brancos imaginam os negros. Por exemplo, eu estudo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Benito Cereno</i>, de Melville, em que o homem branco não consegue
imaginar que o negro possa fazer algo inteligente. Em Hemingway (em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ter e não ter</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Jardim do Éden</i>), Saul Bellow, Flannery O'Connor, Willa Cather,
Carson McCullers, Faulkner ... eles contemplam corpos negros para refletir
sobre si mesmos, sobre sua própria moralidade, sua própria violência, sua
própria capacidade de amar, ter medo etc.”</span><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; font-size: 12pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
Morrison não reflete só sobre os preconceitos que constroem o tecido social,
mas também sobre a escrita. Em 1998, referindo-se a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jazz</i>, publicado em 1992, afirmou depois de ter sido acusada de “não
respeitar o que fundamenta todo o romance, a unicidade da voz narrativa”:
“Hoje, ser moderno é um crime!”, “Sem falar daqueles que me colam a etiqueta de
“realismo mágico”, evocando alguma proximidade com Garcia Márquez, o que não
faz sentido. ‘Realismo Mágico’ é o que dizemos quando não sabemos o que dizer,
para ‘literatura não branca’”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
fim, leitores, espero que essas garatujas lhes deixem algo do espírito da Sra.
Morrison, que gostaria, lessem um dia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;">Publica originalmente em </span></span><a href="https://www.z1portal.com.br/toni-morrison-livre-e-insurgente/">https://www.z1portal.com.br/toni-morrison-livre-e-insurgente/</a></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-10906607241963192462019-08-02T08:46:00.000-03:002019-08-02T08:46:20.489-03:00Lições da África<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLfEtdYnIaw0teutNerRk_IaJw9ZqxJ9Q4yUKcIlAqWRgxnCrSFdFCKkkffxOdAsQqfHk6Xkf1X-9mNdYNeDWNFcwh3f2k-u7pNuzDecwJa33bqaSopa6jgrfPh4UyyBSr2W1SLSLxvBw/s1600/Foto+texto+138A.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLfEtdYnIaw0teutNerRk_IaJw9ZqxJ9Q4yUKcIlAqWRgxnCrSFdFCKkkffxOdAsQqfHk6Xkf1X-9mNdYNeDWNFcwh3f2k-u7pNuzDecwJa33bqaSopa6jgrfPh4UyyBSr2W1SLSLxvBw/s400/Foto+texto+138A.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Aos
olhos dos países ricos europeus, Estados Unidos e Canadá, a África, a despeito
de todos os beneméritos discursos dos líderes ocidentais, continua sendo vista
com descaso, lugar fugidio de tribos e povos incultos, selvagens, pouco afeitos
à inventividade coletiva e ao talento individual; a este, quando valorizado, atribui-se
algum destaque em razão de seu caráter exótico. Não que os europeus não tenham
visto - e vejam - a nós, brasileiros, da mesma forma. Ocorre que nós, quer queiram
ou não, do alto de nosso espírito de colonizado, arrogantes, reputamo-nos
colonizadores e sempre olhamos para a África a partir do olhar europeu, nunca
fomos lá fuçar e tentar entender a África a partir de seus filhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Prova
disso são as centenas de dissertações e teses defendidas nas universidades públicas
brasileiras, cujo teor são as relações culturais, as literaturas africanas e as
literaturas pós-colonialistas; seus autores, na maioria das vezes, não se
deslocam para Angola, Moçambique, Cabo Verde etc., mas sim, vão a Lisboa,
Coimbra, Paris... - é sempre mais prazeroso estudar os povos africanos à margem
do Sena. Desse modo, em parte perpetuamos a ideia de uma África atrasada,
longínqua e inacessível. Não generalizo, é claro, mas parte do que tenho visto
hoje são produções pautadas por certo equívoco, resultado de pouca leitura e super
valorizando as questões raciais como parâmetro para a criatividade, o talento,
a aptidão e a capacidade. Dito isto, penso em qual seria a cor da literatura ou
das literaturas. É claro que as literaturas refletem seus meios e a manufatura
de um autor africano ou descendente terá traços e marcas próprias do seu espaço,
das suas histórias e de seus traumas, enfim, da saga do povo africano. Mas é
preciso reconhecer, é isso é polêmico, que muitos que se arvoram por esses
estudos o fazem superficialmente, uma vez que os olhares - como disse - foram
intermediados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
deixemos os estudos literários de lado e tomemos o bonde das notícias. Vejam
como o pensamento na Etiópia está a anos luz à frente do brasileiro: aqui, o
governo defende abertamente o desmatamento das florestas e o sucateamento dos
parques nacionais, empenhando-se em uma política retrógada que, se revertida,
demorará décadas, oxalá século, para que a natureza e fauna se refaçam – o que
não acredito, dada a ânsia de saúva que nos tomou a todos. Explico-me: nós,
brasileiros, (generalizo, embora deva respeitar uns poucos que navegam contra a
maré, pois é fato que a maioria ainda não se deu conta de que é um hospedeiro consumindo
seu organismo - o planeta – de tão forma avassaladora cujo fim não é outro senão
a morte de ambos) ainda não sabemos conviver com outras formas de vida,
derriçamos tudo, flora, fauna, enfim, praticamos a política da terra arrasada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lá,
na Etiópia, o governo adquiriu nova consciência em relação ao meio-ambiente, o que
faz com que nos envergonhemos das notícias por nós produzidas nos últimos anos.
Lá, na Etiópia, o governo está empenhado no reflorestamento do país. Estranho,
não!? É possível que as boas ideias tenham aparecido lentamente, mas como nunca
é tarde, a Etiópia propôs-se a plantar 4 bilhões de árvores para preservar seus
recursos naturais e combater as mudanças climáticas. Também é possível que os
etíopes tenham se dado conta disso às custas de muito sofrimento: quem não se
lembra da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Carestia de 1983-1985</i>, na
Etiópia? Essa fome em massa que exterminou 400.000 etíopes e impulsionou o
concerto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Liv-Aid</i>, elevando a fome a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">status</i> internacional e garantindo algum recurso
aos etíopes. À época, se alguns acharam a ideia maravilhosa, outros
discordaram, haja vista o acadêmico Alex de Waal ter afirmado que “a ajuda
humanitária prolongou a fome, e com ela, o sofrimento humano”, talvez porque,
ele próprio, jamais tenha sentido o estômago preso às costas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
hoje os etíopes estão enxergando para além dos umbrais de suas portas. Na
segunda-feira passada, segundo notícias da agência AFP, o governo dispensou os
funcionários e organizou um esforço coletivo junto aos cidadãos para que
pudessem plantar árvores, motivando assim o restante do país a fazer o mesmo.
[Interrompa sua leitura, caro leitor, e compare as ações dos etíopes aos
discursos e o não fazer nada dos brasileiros. Quanto aos europeus, estes são
sensíveis à causa, mas plantam pouco ou coisa nenhuma!] <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Feito
isso, continue.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Depois
de o governo etíope ter afirmado que cerca de 350 milhões de mudas de árvores
foram plantadas, o porta-voz do primeiro ministro Abiy Ahmed afirmou:
“Demonstramos a capacidade de as pessoas se unirem coletivamente.” De quebra,
ressaltou que a campanha cujo objetivo é reflorestar áreas desmatadas ao longo
das últimas décadas surgiu como uma boa oportunidade de solidarização entre os
cidadãos, qual seja, plantar árvores tornou-se instrumento humanitário, algo
que talvez seja óbvio para os indígenas, povos que têm por hábito o respeito à
natureza e estão aqui por perto, mas tão perto, que os ignorarmos - e os
matamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
fim, se para os etíopes o desmatamento tornou-se um problema muito sério, para
os brasileiros a consciência de que desmatar é algo nocivo à natureza está
longe de se tornar uma questão quotidiana, haja vista o INPE ter anunciado hoje
um aumento de 40% no desmatamento da Amazônia. É claro, há gente que desmereça
o INPE, afinal...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para
concluir: a África é a mãe de muitas outras lições que o tempo e o espaço não
me permitem retomá-las.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "Century Gothic", sans-serif; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/licoes-da-africa/">https://www.z1portal.com.br/licoes-da-africa/</a></span></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-48686983050694731392019-07-26T14:41:00.000-03:002019-07-26T14:43:48.918-03:00Miriam Leitão e a intolerância<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnyA6m_p66J163SRGuDmg-KL0dlRgyuVmuWN85PrjWEagNc-B99UzChwIfGNccld-RqxcW4Ga4oib9OzOIEhgm2Pt6qDpLCIj9ULjfAYXuekJAVM2J0TZ8qw1Nd8m4xjOoqnEm_4nhvx0/s1600/Foto+texto+137.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="191" data-original-width="264" height="289" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnyA6m_p66J163SRGuDmg-KL0dlRgyuVmuWN85PrjWEagNc-B99UzChwIfGNccld-RqxcW4Ga4oib9OzOIEhgm2Pt6qDpLCIj9ULjfAYXuekJAVM2J0TZ8qw1Nd8m4xjOoqnEm_4nhvx0/s400/Foto+texto+137.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pesquisando
periódicos oitocentistas e do início do novecentos, deparei-me com uma carta
publicada no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Correio da Tarde</i>
maranhense de 26/8/1911. A correspondência a qual me refiro, afirma o jornal,
era uma promessa aos leitores sobre “factos de Portugal”. Eis um pequeno entrecho:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif";">Frederico o Grande, que foi
alguém na história da humanidade e que manejava a pena e a espada com igual
destreza, enviava em 1725 a Voltaire, o amigo íntimo com quem durante anos trocou
uma correspondência que ficou célebre pelo saber profundo, pela agudeza do
espírito e pela sutileza filosófica, uma carta em que se destacam essas
palavras: “Felicito-vos pela excelente opinião que formais dos homens. Para
mim, que em virtude da minha situação, conheço bastante esta espécie de dois
pés e sem penas, afirmo que nem vós nem todos os filósofos do mundo corrigirão
o gênero humano da superstição... Creio, no entanto, que a voz da razão, à
força de se insurgir contra o fanatismo, poderá tornar a raça futura mais
tolerante do que a do nosso tempo: e já isso será lucrar muito.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif";">O rei Frederico teve a
admirável intuição de algumas verdades, que depois de sua morte floriram e se
verificaram. Nos juízos que acabo de reproduzir, porém, ou falhou ou os
formulou com muitos séculos de antecipação, antes que eles possam ser
reconhecido como exatos. Com efeito, cento e quarenta e seis anos volvidos
sobre a sua epístola a Voltaire, é fácil observar que a rez pensante do nosso
tempo é tão intolerante ainda como o foi nos dias em que Frederico o Grande
reinava. Reside nela o mesmo orgulho, a mesma vaidade, a mesma ânsia do
domínio, a mesma vontade do triunfo sobre o seu semelhante: - e ativamente
pretende impor a sua opinião à opinião dos outros e fazer prevalecer as suas
ideias sobre as ideias alheias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 42.55pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O articulista escreveu tais palavras
em 1911, referindo-se a um contexto de 1725. E hoje, o que temos? Algum avanço
na esfera das ideias? Avanços no respeito à diversidade e à opinião contrária?
Parece-me que não! Quando um país inteiro pensa de um só modo, isto é algo
bastante perigoso. Obrigar cidadãos a pensarem do mesmo modo, na historiografia
moderna, tem um nome: ditadura, fascismo, nazismo etc. Etc porque nesses nossos
dias em que a modernidade é líquida e a razão </span><span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">já não oferece qualquer garantia de compreensão do mundo, uma
vez que, muitas vezes, comprometida com os jogos do poder, insurge-se como
agente de repressão, o que dizer do episódio envolvendo a jornalista Miriam
Leitão? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Miriam Leitão, ainda que tenha
militado no PCdoB, penso, não come ou comeu criancinhas. Gostem ou não os
apoiadores do presidente, os quais, destacaram-se publicamente no cenário
nacional por clamarem por democracia, Miriam Leitão tem direito à sua opinião.
No caso, é claro, ela não é apoiadora do atual presidente, assim como não era
dos anteriores, um dos quais mencionava o nome da jornalista nos palanques,
aventando a sua desaprovação à política econômica que praticava. Miriam foi
achincalhada em um voo pelos asseclas do tal presidente, que a chamavam de
direitista e neoliberal. Quem viu o vídeo constatou tratar-se de uma situação
aterradora, beirando a fronteira da agressão física. Não por outra razão, a
Profa. Maria Sylvia afirmava que a “ideologia emburrece”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na bola da vez, com a alternância das
forças políticas, Miriam Leitão novamente sofre ataques, mas agora não foi insultada
pela massa cuja ideologia aliena, mas pelo próprio presidente. E tudo isso por
quê? Segundo nosso articulista, por causa da “vaidade, [d]a mesma ânsia do
domínio, [d]a mesma vontade do triunfo sobre o seu semelhante”. Por isso, e só
por isso, Miriam Leitão pode – e deve – ser aviltada, afinal, ainda que as
forças e os jogos de poder tenham se alternado, a máxima continua a mesma: “a
ideologia emburrece”, o que faz com que as pessoas não enxerguem muito além dos
umbrais de suas portas, protegidas em sua zona de conforto. Talvez por isso, os
comentários animosos e violentos direcionados à jornalista por apoiadores do
presidente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Voltaire, o interlocutor de
Frederico o Grande e paladino da tolerância, perguntava: “O que é a tolerância?
É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros;
perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da
natureza.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dito isto, parece-me que sua
eminência, o presidente, esqueceu-se inclusive do aforismo que encoraja os
crédulos a jogar a primeira pedra caso jamais tenham pecado. Trocando em
miúdos, sejamos mais humildes, respeitemo-nos, afinal, homens demais já decepcionaram
Voltaire e fizeram com que Frederico o Grande incorresse em erro. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "century gothic" , "sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Imagem: Tolérance, por Boussoussa. </span><span style="font-family: "bookman old style" , "serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
Publicado anteriormente em <a href="https://www.z1portal.com.br/miriam-leitao-e-a-intolerancia/">https://www.z1portal.com.br/miriam-leitao-e-a-intolerancia/</a>Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1476282530320138210.post-77533683437887202052019-07-19T10:37:00.003-03:002019-07-19T10:37:44.776-03:00Sísifo: revolte-se e mereça a vida!<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTBd2JkT2yp6pvKlNY3HBfHYla5gWRP78tgxNRdYWkKGoXvjEYX4Lv_bFgvsnPyLxuCG9MByF24feiotbt-QoxYbZFSZ57oLkF50WNI1YtfwdFXDjSRPMK67vp2tLic2tzTbFtO8VM8pw/s1600/Foto+texto+136.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="763" height="366" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTBd2JkT2yp6pvKlNY3HBfHYla5gWRP78tgxNRdYWkKGoXvjEYX4Lv_bFgvsnPyLxuCG9MByF24feiotbt-QoxYbZFSZ57oLkF50WNI1YtfwdFXDjSRPMK67vp2tLic2tzTbFtO8VM8pw/s400/Foto+texto+136.jpg" width="400" /></a><span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“É porque há revolta que a vida de Sísifo
merece ser vivida, <o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">a
razão por si só não lhe permite dar sentido ao absurdo do mundo.”<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif";">Albert
Camus<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
busca do carro das ideias, leio as notícias da semana e agradeço ao universo
por ainda termos a literatura. A literatura, diferente dos Evangelhos, não nos
pede nada – sequer que amemos uns aos outros -, não nos promete coisa alguma,
contenta-se tão somente em alimentar-nos o espírito. Tudo depende de nós.
Muitos, porém, nutrem por ela certo asco, sobretudo ignorantes e os poderosos,
cuja função não é outra que cercear as liberdades em proveito de interesses. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Troca-se
a canalha política no poder e tudo continua igual, até mesmo a ideia de que o
livro é arma perigosa. E talvez seja mesmo, afinal, ali a verdade das
ideologias é esmiuçada a ponto de o leitor perspicaz subtrair dos discursos a
máxima de que todos eles são alienantes. Por essa razão, creio, a presença de
Miriam Leitão e Sérgio Abranches foi vetada pela comissão organizadora da 13<sup>a
</sup>Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, leitor, se as coisas não estão indo bem hoje, diga a si mesmo que você
poderia ter sido Sísifo. Ou pode vir a ser, quem sabe? Do jeito que a banda tem
tocado, manadas de gados felizes encurralando junto ao abatedouro os revoltosos...
e estes, só assim chamados porque discordam dessa ou daquela cartilha. Ainda
assim, afirmo, somos agradecidos e felizes, pois temos a literatura e nos
revoltamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
revolta, diferente do que muitos afirmam, é maná distribuído feito pão a nós
homens perdidos no deserto da ignorância. Portanto, revoltemo-nos. Isso me leva
a Sísifo, um Sísifo feliz, tal como disse pela primeira vez o pensador japonês
Kuki Shuzo, antes mesmo de o ser por Albert Camus. Mas Sísifo não se deixa
imaginar facilmente na alegria. Sísifo, nos poemas de Homero, é o mais
inteligente dos homens, é um navegador, um grande comerciante, um homem muito
seguro de si mesmo, pois não hesitou em desafiar Zeus, revelando ao deus-rio Azopos,
onde se encontrava sua filha Aegina, que Zeus havia raptado porque a desejava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
vingança, Zeus pediu a Thanatos que matasse Sísifo, mas Sísifo conseguiu
acorrentá-lo, impedindo-o de levá-lo ao inferno. Tudo isso provocou a ira de
Zeus, que condenou Sísifo a rolar com suas mãos uma rocha até o topo de uma
montanha, de modo que toda vez que estivesse quase alcançando o topo, a pedra
rolaria montanha abaixo até o ponto de partida em razão de uma força
irresistível, invalidando todo o esforço empreendido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
interpretações variam: para alguns, Sísifo encarna os movimentos perpétuos da
natureza, o sol, as marés; para outros, Sísifo personifica a infelicidade do
homem, o absurdo da vida. Esta é, em particular, particular a concepção de
Albert Camus em seu mito de Sísifo. Mas para Camus, Sísifo também é um lutador,
ele não cede ao desespero porque continua a rolar sua pedra, ele escolhe a vida
contra e apesar de tudo. Ele se revolta, não se desespera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É
por isso que Sísifo encarna, segundo Camus, a única questão filosófica
realmente séria, a do suicídio. Viver, claro, nunca é fácil, escreve Camus,
continuamos a fazer os gestos que a existência comanda por muitas razões, a
primeira das quais é o hábito. Não há punição mais terrível do que a de um
trabalho inútil e absurdo como o de Sísifo, um trabalho absolutamente sem
sentido, um trabalho sem fim. O que dá sentido à existência dessa personagem é,
em última análise, o modo como ela desafia os deuses, se liga à vida, enfim, o
modo como se revolta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
significado de sua existência é a luta. Esse mito é trágico porque essa
personagem está ciente disso, ela sabe muito bem que seu destino enfrenta uma
punição irracional (assim como hoje temos enfrentado decisões irracionais!).
Por fim, como disse Camus: “Sísifo, proletário dos deuses, impotente e rebelde,
conhece toda a extensão de sua miserável condição. É nela que ele pensa durante
a descida, e a lucidez que deveria constituir sua tortura, pela mesma ação consome
sua vitória. É porque há revolta que a vida de Sísifo merece ser vivida, a
razão por si só não lhe permite dar sentido ao absurdo do mundo.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, leitor, alegre-se, se você já não é um Sísifo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Imagem:
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sisyphus</i>, por Antonio Zanchi, c.
1660=1665.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Century Gothic","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Publicado originalmente em </span><a href="https://www.z1portal.com.br/sisifo-revolte-se-e-mereca-a-vida/">https://www.z1portal.com.br/sisifo-revolte-se-e-mereca-a-vida/</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Revista Philomaticahttp://www.blogger.com/profile/03641607636449143433noreply@blogger.com0