Revista Philomatica

quinta-feira, 2 de junho de 2011

MEC irá apurar erros e pobremas em livros distribuído

O bolso, dizem, é a parte mais sensível do corpo, e a amizade, indestrutível ao tempo. São aforismos, clichês, mas eu, cá com meus botões, acredito piamente que um aforismo contradiz o outro. Quer ver? É só aquele seu amigo querido começar com o vezo de não mais se lembrar de pagar o dinheirinho, que na hora do aperto – dele -, você emprestou. Não há amizade que resista!
Agora uma outra situação: vá você a um café, consuma o equivalente a 10 reais, pague a dívida com uma nota de 20 reais e receba de troco 8 reais. A conta está certa? Claro que não! Prova de que o bolso é a parte mais sensível do corpo é que você, de pronto, reivindica os 2 reais que lhe são de direito. E por que para o MEC 16 menos 8 é igual a seis, 10 menos 7 é igual a 4?
Dito isto o MEC me autoriza a começar o próximo parágrafo de duas maneiras: Tem sido tão frequentes as gafes do ministério que... (ou) Tem sido tão evidente a incompetência do ministério que...
Escolha uma ou outra, leitor, e verá que no final dá – ou dará - tudo na mesma: não se achará os responsáveis, haverá meia dúzia de explicações contraditórias e tudo acabará em pizza!
Há menos de um mês o MEC foi notícia: distribuiu em 4.236 escolas do país um livrinho intitulado Por uma vida melhor que reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso escrito e o oral. Em tempo: segundo a imprensa o livro foi idealizado pela ONG Ação Educativa que, não se esqueça, deve ser patrocinada com dinheiro do contribuinte. Lá, no livro, você encontra pérolas como: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado.”
Você leitor, claro, já notou que há erro de concordância. Mas e daí? Você pode dizer os livro? Sim, pode! Afinal, não havia um ex-presidente que dizia que sua mãe havia nascido analfabeta? Ironias a parte, a autora do malfadado livro se explica (pág. 15): “Você pode estar se perguntando: Mas eu posso falar os livro? Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”.
Segundo o MEC o livro está em acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) – normas a serem seguidas por todas as escolas e livros didáticos, e em respaldo ao livro, afirma no texto dos PCNs: “A escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma ‘certa’ de falar, a que parece com a escrita; e o de que a escrita é o espelho da fala” e complementa: “Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos”.
Ora, tudo isso é óbvio. É sabido de longa data que o discurso oral é diferente do escrito, aliás, frequenta-se a escola para descobrir, entre outras coisas, detalhes linguísticos como este que, caso passem despercebidos, podem comprometer o futuro do estudante. Vá um estudante que tenha se revoltado contra a tal mutilação cultural participar de uma entrevista de trabalho e nela empregar o discurso do MEC dizendo coisas como nóis vai, os livro, a gente somos... Sorte a dele se a entrevista for para pleitear um trabalho no MEC, pois, caso contrário, em qualquer outra empresa - séria -, se forem compreensíveis, lhe dirão que seu português é sofrível, senão, nem isso.
Qualquer cristão sabe que ao dizer “Nóis vai de ônibus” ou “Nóis é di menor” a função comunicativa também se realiza, seu interlocutor compreende não só aquilo que você quis dizer, como também fica a par de suas deficiências linguísticas.
Do outro lado do cipó está o linguista Evanildo Bechara, da ABL, que critica a intelligentzia do MEC: “Há uma confusão entre o que se espera da pesquisa de um cientista e a tarefa de um professor. Se o professor diz que o aluno pode continuar falando ‘nós vai’ porque isso não está errado, então esse é o pior tipo de pedagogia, a da mesmice cultural” e conclui: “Se um indivíduo vai para a escola, é porque busca ascensão social. E isso demanda da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar”.
Afinal, o que fica é não pender para exageros, o que não quer dizer que qualquer registro linguístico pode ser usado em qualquer situação.
Essa foi a polêmica do começo de maio. Para junho, o MEC criou outra envolvendo a área das exatas - a matemática.
Ontem li que o MEC vai abrir uma auditoria para apurar os responsáveis pelos erros em 7 milhões de livros usados como material de apoio em escolas públicas por todo o país. Valor da conta? R$ 13,6 milhões pela impressão das obras, não contabilizados, claro, o valor gasto com autoria e revisão.
Espera-se que os cálculos tenham seguido a lógica apresentada nos livros, onde 16 menos 8 é igual a 6: aí o governo sai ganhando; porém, como nada é perfeito, a conta pode ter sido feita com base no cálculo de que 10 menos sete é igual a 4, neste caso, prejuízo para o governo, para o contribuinte e para o aluno em sala de aula.
Segundo a imprensa, o esmero e o cuidado é tal nos exemplares da coleção Escola Ativa (35 livros – no total, 200 mil coleções foram impressas e distribuídas) que há páginas em branco, textos sem continuidade, contas matemáticas e tabuadas erradas, além de outros problemas.
Especula-se, segundo li hoje, que haja outros envolvidos nesse imbróglio todo: Tiririca, integrante da Comissão de Educação de Cultura da câmara dos deputados está bem cotado. Há também Palocci, que pode ter sugerido como fonte um livro excepcional que possui. Nele, dizem, na página 2010, há um cálculo curioso: aplicando-se um valor x, por um período de quatro anos, pode-se multiplicar esse valor em até 20 vezes!
Dizem ainda que se trata de uma nova fórmula matemático-socialista de enriquecimento do patrimônio particular.

É..., pior que tá, fica!

Imagens: Todas disponíveis no Google-Images.

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