Revista Philomatica

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Desejo de nomeada e hipocrisia na Bananalândia


Ah, quanta diferença entre o discurso e a prática, entre o ser e o não ser, entre o ser e a fraude, entre o camarão e o molho! Um leitor afinado à literatura machadiana há de ter reparado no desejo de nomeada de algumas de suas personagens. O escritor, é claro, parodiava, ironizava a hipocrisia reinante entre seus confrades e figuras eminentes na sociedade de sua época.
E por falar em eminência, vamos ao rol de títulos que fazem com que os medíocres se debatam e se digladiem entre si: se começarmos pelas universidades, de pronto temos a Vossa Magnificência ou Vossa Excelência, e como vocativos, Magnífico reitor, Excelentíssimo Senhor Reitor (o termo é usado mesmo para aqueles que surrupiam o erário e mantém seus clubes de suivants).
Em pleno século XXI, acreditem leitores, há seres afeitos a toda essa titulação, casca que esconde o podre dentro da fruta. Pois há! E isso não é o pior: há também os pequenos poderes. Assessores, presidentes de comissões, coordenadores e diretores de departamentos e, junto deles, toda uma legião de aduladores e puxa-sacos, ávidos por um naco de poder, uma verbinha aqui e outra acolá. Para isso, caluniam, tergiversam, blasfemam, insultam, imprecam, tumultuam e, claro, bajulam, seduzem e corrompem.
No meio judiciário a coisa é tão enojada quanto. Quem já não leu nos noticiários sobre as estripulias de juízes e ministros do STF/TCU/ETC/ETC, cujas biografias constroem-se em conchavo com o que há de pior na política e na criminalidade? Estes, nomeiam-se Meritíssimo Juiz ou Vossa Excelência e trazem como vocativos Meritíssimo Senhor Juiz ou Excelentíssimo Senhor Juiz. Para os advogados, aduladores por excelência, tais figuras são seres eminentes.
A proeminência, penso, que deveria ser intelectual e moral, na maioria das vezes é parda! Casos recentes como os dos ministros do TCU Aroldo Cedraz e Raimundo Carreiro, não me deixam mentir. Ambos, depois de se declararem impedidos para julgar um processo de superfaturamento, voltaram atrás ao ver que o ex-senador Efraim Morais e o ex-diretor geral Agaciel Maia, hoje deputado distrital em Brasília (os dois, ex-dirigentes do Senado e ligados ao MDB), seriam condenados a devolver ao menos R$ 14 milhões em prejuízos aos cofres públicos. Nada de novo no horizonte: mais um caso em que a canalha se junta e se acoberta.
Hoje não foi diferente, o “eminente ministro Marco Aurélio” (palavras do advogado do Lula), às vésperas do Natal, resolveu presentar a corja com a qual se coaduna. Numa canetada só deferiu uma liminar movida pelo jurássico PCdoB, libertando condenados em tribunais de segunda instância, o que, no frigir dos ovos, significa suspender “a execução de pena cuja decisão a encerrá-la ainda não haja transitado em julgado, bem assim a libertação daqueles que tenham sido presos, ante exame de apelação”.
Não sou douto em leis e direitos, mas, conversando com meus botões, constatamos o óbvio: trata-se de um indulto perpétuo de Natal para a “cumpanheirada” do ministro, a constituição é mentirosa porque sim, alguns estão acima da lei (o ministro, por exemplo, usando da subjetividade e da hermenêutica ao examinar as leis, aplica-as como lhe convém, portanto, está acima de todos e da lei, até mesmo porque não pode ser processado e preso), os tribunais de segunda instância são teatros, não valem de nada, haja vista a caneta do ministro desfazer tudo o que fizeram e, por fim, o povo é palhaço. Ave às eminências!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

República dos livros


Um pouco de paródia não faz mal a ninguém. Tampouco alguma ironia. O título, portanto, remete à República das Letras, designação que, desde a Renascença, congregava estudiosos que partilhavam traços, escritos, língua, valores e ideais humanistas comuns. Hoje, nesse torrão tupiniquim, chamemo-la de República dos livros. Afinal, afirma o nosso Cointet (ao menos é isso que deduzo a partir de uma série de réplicas destinadas ao sr. Luiz Schwarcz que pululam na internet): “o livro no Brasil vive seus dias mais difíceis”.
Não sou livreiro, mas entendo um pouco de livro, meu objeto de trabalho e razão de muito do que faço; sei das dificuldades ao produzi-lo, as etapas a serem vencidas (revisão, preparação de texto, editoração, produção da capa, impressão, etc) e, sobretudo, os esforços para levá-lo até às mãos do leitor. Não tiro a razão do sr. Schwarcz, mas, refletindo com meus botões, vimos nele um naco de ingenuidade, senão duas presas lupinas.
Vejamos: o sr. Schwarcz, é provável, um dia, talvez na adolescência, leu a obra que Balzac dedicou ao livro, portanto, é de se admirar que tenha perdido as ilusões a ponto de sugerir ao público uma rede de solidariedade em favor das grandes livrarias e editoras e que tenha se esquecido dos pequenos como David Séchard. Sim, porque me parece que o que mais alarmou o sr. Schwarcz foi o pedido de recuperação da Saraiva e da Cultura, duas gigantes do ramo, não as formigas livreiras em cujas costas sustentam caixas feito tartarugas.
Não o culpo por ter se esquecido do drama de Séchard, que padeceu nas garras dos Cointet. É claro, ele não está entre os Séchard de hoje, que carregam caixas de livros de cima para baixo em feiras de livros para lucrar, às vezes, nem 10% e, de quebra, expirar nas mãos gigantes das grandes livrarias e editoras.
Pequenos livreiros, assim como o sr. Schwarcz, “têm no afeto aos livros a razão de viver”, mas o têm à moda antiga, sem os holofotes das grandes negociações. A maioria deles aposta em cada livro publicado muito do suor que escorre dos seus rostos; não à toa leem o que publicam e, tal como Gide, ressentem-se de ver desperdiçada a grande chance por terem ignorado os manuscritos de Proust que porventura lhes caíram às mãos.
A Saraiva e a Cultura, desculpe-me, sr. Schwarcz, talvez não tenham recebido o seu recado para adentrar a rede de solidariedade. Exemplo disso talvez seja a compra do site Estante Virtual pela última; os leitores e habituais clientes da Estante hão de ter notado a recente majoração no preço dos livros – é sabido que a Estante Virtual era uma congregação de sebos do país, hoje, agregada a Cultura tem funcionado como uma Amazon mal ajambrada.
Pequeno livreiro, o sr. Pedro Paulo Graczcki[1], parece-me, exultou com a preocupação de Cointet ao afirmar que “o sr. Luiz Schwarcz, da Cia das Letras, escreveu uma pseudocarta de amor aos livros [...] nos ped[indo] algo que ele nunca teve: solidariedade e defesa de classe”, para, parágrafos depois, concluir: “Quer saber? Bem feito!”
Ao ler as razões do sr. Graczcki, pensei tratar-se de um ressentido, como encontrei alguns, mas este senhor expõe suas dificuldades e vemos nelas a consequência das garras do grande irmão, que mastiga as presas menores sem dó nem piedade. De todo o lacrimejo do sr. Graczcki, ficou-me a dúvida do porquê de as grandes editoras obterem um desconto de 100% de impostos e as pequenas apenas 7,8%. Falta de lobby? Eis aí, se a informação for verdadeira, a deixa para o sr. Schwarcz iniciar de fato uma grande rede de solidariedade. Vale ressaltar que conheço dois pequenos livreiros e ambos não recebem das grandes livrarias há cerca de dois anos.
Por outro lado, há o projeto de lei no 49, de 2015, de autoria de Fátima Bezerra (PT-RN) - senadora que se esqueceu de um dia ter sido professora – que propõe uma espécie de “lei do preço fixo”. A lei do preço fixo, parada no Senado, parece-me, corre agora a passos de serelepe, depois que o lobby dos editores reuniu-se com o Temeroso. Sob escudo eufemístico, Luiz Antônio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro – CBL, diz tratar-se de uma regulamentação de desconto, os mesmos descontos que o sr. Graczcki afirma que a Saraiva e a Cultura utilizam para destruir as pequenas livrarias: “Eu vi muitos colegas mudando de profissão depois de 20, 30, 40 anos de estrada porque os descontos praticados pela Saraiva eram muito superiores ao preço que vocês nos vendiam.”
Ocorre que agora em tempos de vacas magras, os grandes resolveram juntar-se à canalha política para defender seus interesses, afinal, apareceu a Amazon, que não só não atrasa o pagamento aos livreiros, como também lhes oferece antecipação do pagamento e, de quebra, tem um sistema de entrega que os outros parecem desconhecer. A Amazon, agressiva, vende livros, corteja, seduz o leitor a comprá-los, oferece descontos para entrega e/ou isenta o cliente do pagamento do frete na compra de determinado valor, enfim, a empresa faz o que faz com qualidade e não joga o ônus nas costas do leitor. Falta saber se ela trabalha com os pequenos.
Sobre lei a ser implementada com a benção do lobby das grandes editoras e livreiros, Carlos Carrenho, consultor da Publishnews, sustenta que ela não só castiga quem é produtivo e eficiente e consegue ter preços mais baixos, como tornará o preço médio dos livros populares e best-sellers mais caro, de modo que os livros populares subsidiarão os livros intelectuais e voltados para um público de classe média alta.
Como se vê, Carrenho desvela um jeito de raciocinar bem tupiniquim no mercado livreiro. Por fim, enquanto o país não desenvolver políticas públicas para o incentivo à leitura, é o que temos à frente, principalmente se figuras como a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) não se curar da amnésia e se lembrar de que um dia foi povo e foi professora.


[1] https://www.diariodocentrodomundo.com.br/bem-feito-voces-nos-ferram-ha-anos-carta-de-um-pequeno-livreiro-a-luiz-schwarcz/?fbclid=IwAR0ocxNQezeR5I3MCLd8uVBOfyTMYnqHr5cw25i1K0WULkbnRTOi8F5L6tw

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Semana de horror


O título basta por si, leitor. Caso tenha corrido os olhos pelas notícias produzidas ao longo da semana, há de confirmar o dito de Guimarães, para quem a vida era um rasgar-se e remendar-se. Machado, cético, resmungava por cima dos ombros largos de Cubas que “a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e remendos”; a caminho do portal que fará da campa o meu repouso, vejo tudo difuso e, tomado pela bílis do pessimismo, desacredito da natureza humana.
A descrença, contudo, a despeito dos interesses e principalmente quando se trata de escolher um lado, não nos deve deixar dúvida sobre qual dos lados escolher. Embora muitos hesitem, sempre escolho o lado dos mais fracos. O caso de crueldade animal que se passou no Carrefour esta semana é mais uma confirmação de que estamos próximos (talvez nem tanto, mas já estivemos muito mais longe) do dia em que matar uma animal será o mesmo que matar um dos nossos – não digo humanos porque a muitos da nossa espécie o adjetivo não se justapõe. 
Os requintes de crueldade com que mataram o pobre cão, somada à gratuidade da ação, faz-me desconfiar daqueles grandes homens da Renascença, que acreditavam ser o humanismo um ato de fé na natureza humana. O humanismo, hoje definido como uma doutrina que tem por objeto o desenvolvimento das qualidades do homem, parece-me, nunca considerou seu antitético, a perversidade e a crueldade constitutivas da alma humana. O que vimos essa semana nos domínios do Carrefour mostra-nos o engano de Rousseau. Não, não, nem sempre a sociedade é a responsável por “nossa” (entre aspas porque generalizo e refiro-me à parcela de homens psicopatas que habita os subterrâneos dos infernos e cuja psique é povoada pela violência, a crueldade, a tirania e o desrespeito à vida) degeneração; creio que há casos em que, por um desvio da natureza, a maldade é gerada no ventre de mães caridosas e, do mesmo modo que Schopenhauer afirma que a vontade em-si nos obriga a agir em função da procriação, também o caráter é forjado em um estado de não-ser, quando o indivíduo jaz ainda em mar infinito, à espera de tornar-se uma simples e visível gota d’água. Rousseau enganou-se: bon sauvage! Que balela! Grande parte da nossa espécie é composta de selvagens no sentido moderno do tempo, seres inescrupulosos e cruéis, tal como o segurança do Carrefour, o gerente do Carrefour, os funcionários do Centro de Zoonose de Osasco, que queimaram provas e omitiram-se em várias etapas de um processo que poderia punir os culpados e, sobretudo, os expectadores. Sim, nas fotos vi expectadores: seres passivos, covardes e coniventes, tão culpados quanto aqueles que fizeram o serviço sujo, seres que se omitiram ante à violência.
Mas a semana não foi só dos horrores do Carrefour, o horror também alçou voo e ganhou os ares. Abordado por um cidadão que, dentro de um avião expressou a vergonha que sentia por seus tão vis representantes, um medíocre representante do STF, chamou a polícia, exercendo a tirania que a lex dura lex lhe outorga. Poderia não tê-lo feito e mostrar um pouco da grandeza que acredita possuir. Porém, julgando-se intocável, não só o fez como, ao explicar seu feito, valeu-se da retórica jurídica, dizendo estar em defesa de uma instituição que representa o país. Ora! Nós, gotas visíveis que escapamos à regra rousseauísta (falo da perfeição teorizada pelo filósofo) não partilhamos da mesma perfídia representada por Vossa Excelência. Sabemos que a casa que o abriga hoje é alvo de todas as suspeitas, e a mesma procurada por ladrões, burocratas, indolentes e corruptos – alguns juízes – quando estão à procura de guarida.
O horror vivido por famílias que têm a vida dos seus ceifada pela violência das ruas já virou estatística. Isso não conta! O horror da violência contra a mulher e as crianças, isso também não conta. A violência contra idosos, isso também não conta. Já nos acostumamos. Talvez a morte do pobre e indefeso animal seja uma chacoalhão nessa nossa letargia. Felizmente descobrimos sob a casca grossa que tomamos como escudo uma fissura, pela qual respiram sentimentos e alguma humanidade.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Fragmentos de tempos


Lembro-me de um tempo em que, nas aulas de teatro, o diretor nos obrigava (Obrigava não! O que fazíamos, só o fazíamos porque aquilo nos alimentava a alma e sonhávamos com tempos em que a arte, soberana, pudesse dirimir a ignorância, impondo-se entre as fissuras que esta, por sua natureza, com conseguia preencher.) à repetição de exercícios em que precisávamos demostrar certa interioridade, isto é, extravasar vida e emoção nos tais movimentos - técnica grotowskiana que, porcamente comparada ao FLE, levaria os entusiastas actionnels a espasmos orgásticos.
A razão deste intróito à deriva nada mais é que minhas repetições, afinal, em busca do carro das notícias, o que vejo, obriga-me (agora sim!) à repetição contra um sistema ao qual, confesso, não me acostumei. Talvez antes não me desse conta da hipocrisia e da mediocridade que campeava à minha volta, por estar eu mesmo medíocre. Mas hoje, depois de Machado, Shakespeare, Calvino, Eco, Tolstói, Dostoiévski, Adorno, Habermas, Arendt, Stendhal, Balzac, Goethe, Alighieri, Lima Barreto e tantos outros (os nomes me vêm às enxurradas), é difícil não querer espernear, debater-se para sair do lodaçal de informações falsas que a imprensa tenta nos submergir. Vá lá! Não havia notado, leitor, que minha ranzinzice era, mais uma vez, contra a imprensa e seus esforços para dissimular a verdade (se é que esta existe!)?
Deixemos de lado a tão cantada imparcialidade que qualquer jornalista (se tal espécimen ainda existir) com vergonha na cara jamais ousará afirmar possuir, pois em nossos dias esta já não entra no rol das dissimulações ensaiadas pela grande imprensa. Também não vou falar da perversidade das agências de notícias, mas talvez, por eco, venha a elas de qualquer forma.
Prefiro falar desse nosso tempo contemporâneo e fragmentado, em que se tem a impressão de que nada mais pode ser criado, afinal, para se criar algo novo deve-se romper com o estabelecido. Como então romper com a modernidade? Tornando-se pós-moderno? Ora, esta definição já é passado e, se um dia excitou os espíritos, hoje não passa de um indicador cronológico. O que fazer nesse mundo de globalização e hiperinformação, em que desacreditamos até mesmo de nossos tempos passados e o que nos resta são estilhaços e uma cacaria generalizada pior que a mediocridade, pois os cacos, ceramizados, exteriormente nos induzem a acreditar em uma reconfiguração da imaginação?
Tudo engodo, leitor! Eles nos fazem crer criativos, mas não só embotam nossa inteligência, como surrupiam nossa capacidade de ver livremente novos horizontes, de modo que só nos cabe, como dizia Borges, maus tempos para viver. As mudanças, almejadas por todas as gerações, em nossos dias são dissolvidas com a ajuda de um rebaixamento da cultura, hoje feita para a alienação dos indivíduos e comprometida em dissimular a ruína em que vivemos.
Nesses nossos tempos de intensa narrativa visual, em que fragmentos da vida pessoal impedem o raciocínio a partir de uma totalidade - apesar do forte impacto que a imagem do almoço da celebridade da novelinha possa causar em seus seguidores do Instagram -, felizmente, uma centelha de leitores busca as narrativas escritas, ainda que estas reproduzam as crises e as fobias de uma geração individualista, drogada, hiperconectada, consumista e fútil, de modo que não nos resta outra coisa além da desconfiança e do ceticismo, tentativas de amalgamarmos fragmentos de nosso tempo para que, um dia, quiçá nos reconheçam. Mas precisamos disso?   

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Cacos de chuva


Depois de cinco dias chuvosos, textos sobre o fenômeno climático inundam a internet. Acabei, por acaso, correndo os olhos por um deles cujo título era “Por que o barulho da chuva acalma e ajuda a dormir?”. Saber que os sons da natureza são aconselháveis para momentos críticos, pois tranquilizam a alma, é de grande valia. Embora o assunto me despertasse o interesse, não continuei a leitura. Fui interrompido por vídeos, anúncios e mais anúncios; insisti, rolei a tela até o final para ver a extensão do texto, encontrei um “continue lendo” em meio a outros anúncios e, cansado dos ruídos que abafavam o barulho da chuva, parei.
Dei-me conta de que não me importo com a extensão dos textos no formato livro, leio, como dizia Hemingway, “de uma sentada só”, duas, três horas! Mas na tela do celular ou do notebook, a paciência me é pouca. O culpado, claro, acho que é o tal do merchandising. Conversando com meus botões, chegamos à conclusão de que o assunto é mais sério (sempre dramatizamos as situações).
O fato é que em todos os domínios, a sociedade atual vive um interregno, qual seja, aquele momento em que abandonamos as regras antigas (ao menos afirmamos isto) e ainda não temos nada que as substituam. Na melhor das hipóteses, debatemo-nos com conjecturas geradas por especialistas – a maioria facebookianos oriundos das escolas de filosofia e sociologia.
A minha impaciência em ler o texto na tela tem um pouco a ver com o modo como ele se mostra na atualidade: estilhaçado, desordenado. Antes, em tempos de menos turbulência e ansiedade, tudo, o tempo era mais linear, progressivo. Hoje, não bastasse aquela ideia de liquidez idealizada por Bauman, em que temos dificuldade de firmar laços, já que a liquefação da consciência deixa para as instituições a imposição de regras, condutas e sistemas simbólicos, nada nos resta além de seguirmos um pouco como zumbis, já que nossa memória está fragmentada.
Esta memória em cacos nos oferece tudo o que lemos na internet, daí a nossa falta de paciência em seguir um tempo linear. O resultado é a perda da memória. Esquecemos das coisas à medida em que perseguimos qualquer hipertexto, qualquer link, às vezes, esquecemo-nos até mesmo daquilo que procurávamos quando havíamos decidido usar o celular ou o notebook.
Até “ontem” a memória era indispensável para qualquer continuidade, para o progresso e avanços futuros – até mesmo os pessoais. O futuro dependia da memória. Hoje, ela nos desorienta, nos deixa perdidos. Dizem que na época áurea do Império Romano, qualquer dos Césares possuía muito menos memória histórica e informação que qualquer garoto de sete anos hoje!
Por outro lado, nossa memória recente nos oprime: o horror das duas grandes guerras, os genocídios perpetrados por ideologias, a ânsia de poder que produz miséria, tudo isso nos culpabiliza.
Diante disso, chego à conclusão de que não devo concluir a página. Quem leria? Os cem leitores de Stendhal? Talvez os cinco de Machado? Não creio! Topo todos os dias com estudantes de letras que nunca leram as Memórias. Olho para fora e vejo a chuva. Busco fragmentos de memória, chuvas antigas, reminiscências, lembranças. Desvio o olhar e resolvo ouvir a chuva. Os sons, dizem, acalmam. Mas só ouço cacos, cacos de chuva!

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Machado de Assis pop star


Depois de haver desabrigado o bichano que dormia profundamente na grande almofada, o garoto, que ali ainda mal se instalara, ouviu os gritos da mãe:
— Quantas vezes eu já disse que é para estudar no quarto e não na sala? — Mas mãe...
A mãe, dona Tonica, professora de literatura e mãe de Francisco desde sempre, retrucou:
— Não tem mais nem menos!
Salvo pelo gongo, ou melhor, pela campainha, ele ali continuou, refestelando-se na grossa almofada, preocupado com a folha e o lápis que, à sua frente, meio que lhe indagavam pelo toque suave dos dedos. Esquecera completamente a bronca da mãe. Era sempre assim. Quando algum de seus alunos chegava, ela se transformava: sua meiguice e delicadeza atingiam nível igual ou superior à sua inteligência. Conhecia tudo de literatura brasileira.
Aos dez anos, o pequeno Paco – era assim chamado em homenagem ao avô espanhol – não entendia muito bem porque era tão importante para a aluna de sua mãe, que chegara há pouco, saber das intimidades de Bentinho e Capitu. Afinal, ia ser médica. À menção de Capitu, lembrou-se de quando o pai dissera que a vizinha, dona Lucrécia, era mulher dissimulada, Capitu na vida, ouviu até mesmo quando ele suspirou um coitado do seu Ernesto, tão jovem e corno!
— Não diga isso na frente do menino, homem!, dissera a mãe.
Atento às explicações de dona Tonica, aos poucos sentiu-se sonolento e passou a visualizar a sua Capitu: loura como dona Lucrécia, seios grandes, olhos azuis... Não via mais nada, deixou-se levar e murmurou: Capitu...
— Ei! Acorda, moleque. Paco, Paco! Você não está me ouvindo? Venha cá, rápido! Vá até a banca de revistas do seu Manoel e me traga uma revista sobre o Machado de Assis. Ele sabe qual é; eu já havia reservado.
Num sobressalto o menino ouviu a enxurrada de imperativos e em instantes já corria em direção à banca do seu Manoel, que, numa liberdade não concedida, sempre lhe beliscava as orelhas e exclamava: “Mas é a cara do avô, não há o que dizer!”
— O que queres?
— Vim buscar a revista do Machado que minha mãe reservou.
— Não separei, meu jovem. Estou só, uma porção de coisas a fazer e, ainda por cima, adoentado. Ah! que saudades de quando era assim como tu, um pirralho... Bem, deixa pra lá! Vá lá, procure nos clássicos.
— Mas minha mãe acabou de dizer que ele é moderno!
— Ora, pois! Tão jovem e já acha que para ser clássico há que ser antigo. Mas aposto que tua mãe não te disse é que hoje já estamos a ver clássicos modernos. Pois lhe digo que, para mim, os clássicos são os mais procurados. Já ouvistes de tua mãe que, para o momento, nosso maior clássico está para ser o senhor Coelho?
— Não, esse nunca!
— Pois vá lá, se Machado é moderno estará entre os clássicos. Minutos depois, Paco, mãos vazias, exclama: “Não achei nada, seu Manoel!”
— Ah! Tu não sabes procurar! Não te disse que os clássicos são os mais procurados? Pois então, a revista de Machado está na seção dos populares, que para dar um ar de modernidade chamei de a seção dos pop stars. É fácil, vá lá! Vais encontrar o que mais se procura: Madonna, a mulher Melancia e também o teu Machado.
Paco contorna o estreito corredor e dá de cara com a mulher Melancia, pernas em V, bumbum em riste, como a piscar para Machado que, sereno, plácido, olhos perdidos sob o pince-nez, parecia olhar para além da Melancia (para Paco ele estava a apreciar), a apreciar Madonna que também de pernas ao ar e em contorcionismo radical provava a tese do seu Manoel.
A mãe, quando soube onde Paco encontrara os Cadernos Literários que estampavam Machado na capa, não se conteve e exclamou: “Ah, meu Deus! Ainda bem que ele já se foi”. A aluna, kardecista e pró-Capitu, disparou: “Eu penso é na Carolina, dona Tonica, que a essa hora pode até ter reencarnado!”



* O texto acima, escrevi-o quando existiam mulheres Melancias e Madonnas a provocar a libido masculina. Hoje, alguma poeira do tempo já sepultou as duas no ostracismo e a libido, fragilizada, perdeu-se entre os gêneros, foi criminalizada.

Caricatura de Machado de Assis: autor, Jefferson Nepomuceno

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Machos, pero no mucho!


Em tempos em que se discutem exaustivamente ideologias de gênero e que a cabeça do homem jaz como alvo sob o salto alto a lhe provocar enxaquecas, vale a pena voltar um pouco no tempo e resgatar a “origem” das mudanças que o tornaram, digamos, mais sensível. Sim, porque nem todo homem é um brutamontes como querem uns e outros.
Comecemos pela Primeira Guerra Mundial, evento que tornou difusa as fronteiras da masculinidade e da feminilidade. Entre 1914 e 1918, podemos vislumbrar crises que, justapostas, contribuem para o sfumato de crenças e definições cujos contornos eram antes bem definidos. A primeira delas é a morte do soldado heroico. A cultura de combate que imperava no século XIX, por exemplo, era uma cultura em que se valorizava a guerra. A guerra era uma prova de virilidade, um rito de passagem para o homem, uma questão de honra, razão pela qual, ao longo deste século, pululavam os duelos. Enfim, o soldado do início do século XIX era um soldado que combatia de pé e empunhava a espada ou a baioneta do fuzil na vertical.
Contudo, durante a Primeira Guerra já surgem os armamentos modernos e este soldado tem que se prostrar, abaixar a cabeça para se desviar dos tiros das metralhadoras. Ele, o soldado, não se mantém mais na vertical, algo que se traduz como um golpe para a sua virilidade. Não estamos mais em frente de um soldado de Napoleão, para quem a guerra era uma aventura, a glória, mas de um homem entrincheirado em buracos em meio à lama, em situações catastróficas.
Outra crise que desponta é a incapacidade de ordem moral e afetiva, já que retomar a virilidade de antes tornara-se algo impossível, ao menos para parte dos soldados que retornaram da guerra, a maioria, incapacitada, com rostos e corpos desfigurados e que já não podiam mais reintegrar-se à sociedade, obrigando-se a viverem em grupos separados. O sofrimento e o não-lugar dos heróis de guerra possibilita um dos grandes momentos da psiquiatria que, nesta época, começa a discutir os traumas psíquicos.
O fenômeno demora a ser compreendido, vem a Segunda Grande Guerra e a figura do soldado não servirá mais de ideal masculino; outras figuras vão surgir, em parte artistas, ainda que, à época, parte a população ainda tenha como modelo os grandes chefes militares. É nessa época que os gêneros são, digamos, desiquilibrados. Diferentes formas de amor são forjadas entre os soldados: relações homoeróticas, em razão de uma virilidade posta à prova e ao descaso; relações maternais, em que oficiais exercem o papel de mãe para soldados em situações de desespero, padecendo de sofrimentos físicos e psicológicos - e por aí vai.
É claro, havia as relações consentidas e aquelas não consentidas. O mundo militar era (ou é) um universo de frustração sexual em que a violência sexual aflorava. Para fugir do fronte, houve casos de soldados que se travestiram de mulher. Paul Grappe, em 1915, chegou a ser condenado por deserção, mas escapou por uma década, período em que viveu com sua mulher, sob falsa identidade.
Nesse período também, o homem é substituído pela mulher no mercado de trabalho, algo que propicia a emancipação da daquela. Não se pode ignorar, contudo, que logo após a guerra o homem busca recuperar seus postos de trabalho. Esse movimento pós-guerra produz o aumento da violência doméstica e conjugal, assim como um número maior de divórcios, sobretudo porque o homem tem dificuldade de sair da cultura de violência cultuada no fronte.
Tudo isso, vale destacar, não desculpa qualquer violência, mas é fato que a guerra alterou as representações de feminilidade e masculinidade, a ordem dos gêneros. O aparecimento da garçonne (jovem que usava cabelos curtos como os rapazes) na França dos anos 20 é um dos indícios da transformação da relação entre os sexos. 
Hoje, tal é a fluidez dos gêneros que nada sobrou além de esperneios conservadores, ranzinzice de quem jamais viverá uma Belle Époque. Por isso, acostumem-se aos novos tempos de machos, pero no mucho!


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Agonia


Como o mar não está para peixe, falemos de literatura, ou sua materialidade, que seja! Hoje leio que editoras acabam de criar um bloco para negociar com as grandes livrarias. Estas, por sua vez, vivem um momento sombrio, em meio ao fechamento de lojas e pedidos de concordata. Quem já leu Ilusões Perdidas, este, um genial livro sobre o livro, há de saber que a vida nunca foi fácil para os livreiros, que sempre pescaram lambaris em água salgada.
A culpa, creditam à ausência de público leitor. Não os culpo, afinal, não é difícil constatar que o livro tornou-se um objeto estranho ao alunado. A má administração? Vá lá, pode ser que tenha nisso sua contribuição, afinal, hoje há muito gueri-gueri e livraria, sabemos, não é sex-shop ou grande magazine. Já não vemos aquelas livrarias em que a figura central era o livreiro com toda a sua sabedoria conhecimento invejáveis sobre autores, fábulas e personagens; verdadeiro crítico, este senhor que, não raro, ignorava as vitrines de néon em proveito de um banquinho de madeira puído, no qual se acomodava para trocar historietas com seus clientes habituais, encantava leitores. A memória me leva ao passado e imagino Garnier a tagarelar com os grandes de nossa literatura que flanavam pela Rua do Ouvidor. As reminiscências, verdadeira rede de arrasto, não me deixam esquecer do livreiro da Livraria Universal, ali na Francisco Glicério, ao lado do saudoso Hotel Terminus, a me recomendar Vida e feitos de Júlio César, obra que consumiu os caraminguás que havia poupado por mais de dois meses; a João Amêndola, onde adquiri meu Raul Pompéia, a Anchieta... todas, livrarias que se perderam na poeira do tempo e, com elas, seus grandes livreiros.
O fato é que não há culpados: a vida muda e isso é tudo! Houve o tempo dos códices, dos incunábulos; veio a imprensa e a popularização do livro, veio a Encyclopédie, veio muita literatura da boa, vieram as edições bem cuidadas, fetiches de colecionadores e orgulho das bibliotecas, veio a crítica que, por sua vez, matou os autores e previu a agonia e morte da literatura e, hoje, acreditem, vemos o fechamento de livrarias, alunos de letras que odeiam livros e se insurgem contra Vargas Lhosa, Harold Bloom e muitos outros, vomitando toda uma sapiência adquirida via scroll-down/scroll-up na grande obra facebookiana cujo autor, como previra a crítica, faleceu! Não há culpados, repito. Tornamo-nos uma sociedade pautada pelo visual, não temos paciência de ler meia dúzias de linhas; hoje, leem-se os títulos e produzem-se longos discursos orais cuja síntese é um tema na foto de perfil do facebook.
O fato é que a tecnologia, assim como fizera à época de Gutenberg, transformou o livro, a literatura, o que se lê e o jornalismo. Este último, parece-me, tem recebido estocadas mortais, sobretudo em época de eleições. Em um só golpe, padeceu a grande imprensa, antes chamada de golpista, e os marqueteiros, em proveito de um treco chamado whatsapp, execrado pelos jornais, televisões e toda a tropa que grita em favor da democracia. Para o bem ou para o mal, ainda não sabemos, o aplicativo deu certa independência ao cidadão, tirando-o das amarras alienantes impostas pelo poder e pelos órgãos de imprensa. Ao menos superficialmente, parece-me, a notícia tem se disseminado como rastilho de pólvora, sem as comportas impostas pelos grandes órgãos de imprensa associados ao poder. Ainda que haja muita invencionice, só o fato de você compartilhar a ideia sem ter que pedir aos Macedos, aos Saads e aos Marinhos, ah, convenhamos, isso já é uma grande coisa! 
A literatura? Esta jaz na cama do hospital, em agonia, mas resiste! Desde que os aspectos estéticos começaram a perder terreno em decorrência da banalização do conceito de “literatura” (Perrone-Moisés), e o sexo passou a ser discutido na narrativa de modo que toda uma leva de alunos está mais preocupada com o fiofó da personagem que seu lugar no mundo, muita gente já foi visitá-la no hospital e de lá saiu com um prognóstico nada positivo: Sartre, Blanchot, Todorov, Derrida, Otávio Paz e agora, em nossos dias, toda uma tchurminha que produz dissertações e teses sobre nada, já que não tem paciência ou não é capaz de ler textos que ultrapassem meia dúzia de linhas. Talvez, por isso mesmo a literatura resiste, ainda em estado de agonia, mas resiste!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A perversão do Negacionismo


Primeiro vieram os monistas. Na filosofia, mais precisamente na metafísica, afirmavam que toda a essência da realidade de baseava em um princípio único e original. Não era assim Platão. Mas parece que Platão não está na moda. Portanto, nada de dualismo, pluralismo, o escambau, sobretudo quando se trata de ideias.
A alteridade, o outro, a opinião do outro, valem só em nível de discurso, portanto, aqui também, nada de pragmatismo. Refiro-me ao pragmatismo enquanto tratamento não dogmático, ao abordar questões literárias, filosóficas, políticas, enfim – e por extensão -, o quotidiano.
Monistas que somos, tendemos a negar tudo aquilo que vai além do horizonte que nossa vista alcança. Não à toa, tem-se negado o óbvio não só quando ele está além dos umbrais de nossas janelas, mas principalmente quando jaz debaixo dos nossos narizes. A frequência com que ouvimos “não sabia de nada”, “não fui informado”, “nunca soube disso”, etc, tem sido algo constrangedor, sobretudo porque as desculpas, via de regra, partem da canalha política, antro onde ninguém assume nada!
Mas o pior disso é quando, mesmo com a comprovação dos fatos, as negaças persistem e políticos, professores, pseudopensadores e pesquisadores afirmam teorias da conspiração e complôs, exibindo certa demência ou perversidade intelectual. Tem-se então o que chamamos de negacionismo.
O negacionismo, termo relativamente recente, foi criado em 1987 pelo francês Henry Rousso para contestar o genocídio judeu pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Para um bom entendedor, meia palavra basta! E nem é preciso dizer que dessa forma a França preservou seu antissemitismo, abrigando sob as asas de um perverso revisionismo uma pá de “formadores de opinião”, fascistas e conservadores que negam o óbvio.
Como os franceses tem gosto pela erudição e produzem como ninguém teses, ensaios, tratados, proposições, experimentos e tudo o mais que a cozinha literário-filosófica permite, a semana foi de relembrar as asneiras de Robert Faurisson, um dos ideólogos do negacionismo (nego-me a grafá-lo em maiúscula!). A France Culture, em sua página ‘facebook’, claro, dada as suas tendências antiisraelitas, contribui dando visibilidade a Faurisson, felizmente explicada por Valérie Igounet, especialista em negacionismo, ultradireita e antissemitas de carteirinha.
No vídeo publicado pela France Culture, vê-se Faurisson afirmar que as câmaras de gás de Auschwitz eram utilizadas para exterminar piolhos; Jean-Marie Le Pen dizer que elas são um detalhe da guerra; Alain Soral sustentar que a população judia hoje dobrou desde 1939, o que, para ele, contradiz o extermínio dos judeus.
Igounet afirma que para os negacionistas o Holocausto é a primeira teoria de complô, pois ela aparece três anos após a Segunda Guerra, data que coincide com a criação do Estado de Israel. Os negacionistas, por perversidade, antissemitismo e mau-caratismo, via Faurisson, mediatizaram a questão (o site Slate.fr afirma: “Faurisson está morto, mas seus métodos estão bem vivos”).
Faurisson afirmou nas páginas do Le Monde, em 29/12/1978, que foi zero o número de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial. Segundo Igounet, os negacionistas, imbuídos de uma ideologia, distorcem os fatos históricos, selecionam documentos, procuram testemunhos de pessoas que se adequam à teoria de que o extermínio de judeus nunca existiu e, dessa forma, através de métodos nada científicos e desiguais, corroboram um postulado e estruturam um discurso de modo a sustentarem a negação do óbvio, uma vez que no caso específico dos judeus, há uma produção historiográfica indiscutível à prova de qualquer análise.
Se, à época, Faurisson criou um certo escândalo na França ao divulgar suas ideias no Le Monde, na imprensa em geral e nas rádios públicas, hoje, órgão públicos de imprensa, tal a France Culture, dissimulando mea culpa, mais uma vez ecoa – e propaga - as ideias de Faurisson, para o deleite de um bando de loucos à espreita de algo que os incite e os convença de que o ódio é algo naturalmente aceito, se já não bastasse  o fato de gente como Jean-Gabriel Cohn-Bendit, da extrema-esquerda, tê-lo publicado em nome da liberdade de expressão. Assim, o ódio assume ares político-intelectuais e, de forma sub-reptícia, o antissemitismo aparece em obras como Les Mythes fondateurs de la politique israélienne, do comunista Roger Garaudy, afora as asneiras vomitadas pelo iraniano Mahmoud Ahmadinejad e pelo humorista antissemista Dieudonné.
Não é preciso dizer que os ecos do ódio oriundo dos negacionistas ecoaram nos trópicos, fotos de encontros dos militantes dos partidos nanicos da extrema esquerda brasileira estão aí e não me deixam mentir (disponíveis na rede).
Sob os auspícios dos negacionistas, nego ter escrito este texto, assim como nego que haja corrupção no Brasil, assim como nego qualquer forma de intolerância nesse torrão de meu Deus, assim como nego que existiram o genocídio circassiano, o dos hererós e namaquas, o armênio, o Holodomor, o genocídio de Bangladesh de 1971, o cambojano, o de Ruanda, o de..., o de..., o de...

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O craquelê do verniz: o caso Regina Duarte/Maitê Proença


Não é segredo: vivemos dias de intenso falatório, alteridade, lugar de fala e otras cositas más. Nada contra, ao menos podemos espernear, escancarar as mandíbulas, gritar e rir às desbragadas - quando convém. Ocorre que os discursos tem-se tornado impositivos e na rinha para definir o que é democrático e o que é fascista, ninguém dá o braço a torcer. Ambos os lados querem vencer no grito – ou no tiro -, e tudo fica por conta do gosto do freguês. Este, como se diz em jargão comercial, sempre tem razão, por isso não discuto, aceito pura e simplesmente, ainda que a meninge pulse a ponto de parecer explodir e/ou esmagar o encéfalo (aqui também tudo depende do ponto de vista do leitor).
Mas troquemos em miúdos toda essa farelagem: deu no Figaro; ontem, na França, Mélenchon (para quem não o conhece, Mélenchon é um daqueles políticos que grudam como craca na crosta do navio e que, hora ou outra tem sérias dificuldades em esconder seu proselitismo, misto de oportunismo e corporativismo – ah!, esses “ismos”), diante da pergunta embaraçosa de uma jornalista do sul do país, questão que por sinal desnudara toda a sua incoerência e seu mal caráter, resolveu ridicularizá-la e, para isso, destacou o sotaque sulista da moça.
Qu'esseuh-que ça veut direuh ? Quelqu'un a-t-il une question formulée en Français? Et à peu près compréhensible? (O que isso quer dizer? Alguém tem uma pergunta em francês? Um pergunta que seja um pouco compreensível?). Voilà, pego de calças curtas, Mélenchon deixou cair a máscara e revelou-se como é; o verniz craquelou! Em tempo: Mélenchon estava exasperado face à visita da polícia à sede do partido nanico que ele representa e, de quebra, como é comum nesses casos, virou-se contra os juízes, magistrados, aliás, que defendera recentemente quando emitiram ordens para investigar seus oponentes políticos. Mas isso é história de - e para - gauleses; o que vale ressaltar são as ranhuras no verniz que cobre o caráter de Mélenchon, político de esquerda que sempre militou em favor dos desfavorecidos e das minorias, algo louvável, diga-se. Contudo, ao primeiro incômodo, esqueceu-se de sua origem marroquina e ejaculou todo o seu preconceito, apontando o sotaque da jornalista, salvo engano, de Marseille. Nobody’s perfect, claro! Mas, no mundo da politicagem, pautado por causas que sustentam discursos (e vice-versa) e garantem votos, isto é uma bela de uma escorregadela que mostra, de fato, o que pensa Mélenchon sobre aqueles que não pensam exatamente como ele. E não nos esqueçamos de que nos trópicos temos as mulheres de grelo duro! É sempre bom lembrar!
E, já que falo dos trópicos, situação análoga de verniz craquelado, ocorreu ao longo da semana. Regina Duarte, atriz reconhecidamente de direita por seus posicionamentos políticos, deixou-se fotografar ao lado de um dos presidenciáveis. Movimento do bumerangue? Ao voltar, veio todo conspurcado de ódio, raiva, injúria, xingamentos e todo o mais que a vilipendiação pode provocar. E tudo isso porque Regina Duarte resolveu-se posicionar politicamente. Desprezada e injuriada pelo público e colegas de trabalho (alguns, aliás, de caráter bastante discutível) que, num átimo, apagaram o passado o passado da artista, condenando-a sumariamente ao ostracismo, a atriz teve o apoio de alguns poucos corajosos que defenderam o direito dela se posicionar, afinal, o que defendem os que a condenam, senão a dita democracia?
Uma dessas corajosas foi Maitê Proença que, por sua, vez, viu-se diante dos balaços atirados pelos democráticos. Maitê, em sua conta do Instagram, publicou um vídeo justaposto a um pequeno texto cuja primeira frase deixa claro o pensamento da artista: “Você não tem mais razão que o vizinho, tem apenas outra razão.” Ora, eis aí um princípio de tolerância e de pluralidade de ideias. Na sequência a atriz exalta a coragem da colega e o repúdio às agressões que recebera, além de ressaltar o conservadorismo que impera no mundo desde os tempos ancestrais o afirmar: “O mundo sempre foi conservador e nunca gostou de quem pensa diferente. Atenas se enchia de motivos e guerreava com Sparta, japoneses com chineses, judeus com palestinos, pretos com brancos, protestantes com católicos, e até crianças de cinco anos fazem bullying com seus coleguinhas que parecem diferentes.”
A frase da atriz foi lida ao gosto de seus opositores: os comentários são tão agressivos quanto os destinados anteriormente a Regina Duarte. Há internautas que afirmaram estar ela a defender torturadores e matadores de homossexuais...
No frigir dos ovos, mais uma vez tem-se o craquelê do verniz, qual seja, eu defendo a tolerância, o respeito, a diversidade, a alteridade e uma convivência pacífica desde que você pense como eu, caso contrário, democraticamente, você deve ser expurgado da sociedade e não importa se tenhamos que expurgar vários, até que logremos todos de uma mesma ideia. Ao menos assim não teremos qualquer autoritarismo e sequer tragédias, afinal, como dizia o grande líder, “a morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística”.
Como concluir?
– “... ... ... ... ... ...”

Era uma vez...


Era uma vez... A maioria das histórias infantis - e mesmo alguns contos filosóficos, como os de Voltaire -, trazem como principal constitutivo o fantástico; o cenário remete a reinos distantes; as narrativas constroem-se a partir do imaginário; as personagens, envoltas em total fantasia, deixam-se levar pelo capricho injustificável ou descontrolado da vontade ou da fábula, sem base alguma em realidades concretas. Não raro, trata-se de um mundo de total esquisitice e excentricidade, do qual desprende-se um fundo moral, provável tentativa de moldar a personalidade da criança, para muitos, ainda tabula rasa.
Ainda que Chapeuzinho tenha conseguido tirar a vovó da barriga do lobo, a Bela Adormecida, livrar-se de Malévola e casar-se com o príncipe, Branca de Neve ver a rainha pelas costas e, de quebra, juntar-se com outro príncipe, as três viveram instantes de medo e terror, este, por sinal, matéria-prima de histórias de meninos e homens.
O cenário político que se desenhou a partir do primeiro turno das eleições presidenciais, parece-me, só não traz o “cenário” de pitoresco, no mais, todos os outros elementos estão lá e só nos resta saber qual fundo moral há de se tirar de tudo isso.
Hoje, nas redes sociais, nota-se verdadeira confrontação entre o Bem e o Mal, maniqueísmo cuja natureza faz com que ambos os grupos atribuam a si o direito de opinião, o “estar certo”. Nesse conflito cósmico entre o Reino da Luz e o Reino das Sombras, penso, há muito mocinhos e mocinhas perderam a visão periférica e hoje sequer enxergar um palmo à frente do nariz.
A aura luminosa (ou sombria, depende do ponto de vista) fez com que ambos os lados olhassem para seus próprios umbigos, edulcorassem a pílula e afirmassem a de suas escolhas. Ambos veem um amanhã magnífico, belo e radioso caso consigam impor suas convicções, contudo, ganhando ou perdendo, a “Aura” já conseguiu seu objetivo alienante: todos se esqueceram da condição pútrida da fruta dentro da casca!
De sobra, o que se tem visto crescer como relva em campo orvalhado são as inimizades. No intuito de defender suas posições políticas, amigos já não são mais amigos e, de quebra, em suas justificativas, passam a considerar detalhes que um dia foram os ingredientes da boa amizade, qual seja, as diferenças.
Hoje, o reflexo das grandes forças ideológicas nocivas ao espírito afastam pessoas, de modo que a amizade vê-se submetida à convicção. Imaturas, pessoas digladiam-se por uma hipótese quase sempre – ou sempre – imperfeita e transitória. Arrisco dizer que em um futuro bem próximo lamentar-se-ão das amizades perdidas em razão de ideias já esquecidas. O obtusidade de hoje transforma a fantasia em verdade, semeando o medo no reino das águas claras, conspurcando-o de lama.
Entre amigos, não se tem mais a virtude da fidelidade! Deixamo-nos (e aqui me incluo!) manipular e nem nos demos conta. Agora é tarde! O final, arrisco do alto de meu ceticismo, será um ranger de dentes: a dor de sacrifícios indesejados e de perdas desnecessárias. No lugar das sinceras amizades, o trago amargo e ácido da verdade que todos teremos que engolir caso o Bem ou o Mal vençam. Não haverá remanso para se contar histórias e o Era uma vez tornar-se-á tão real e inócuo que não nos sobrará nada além de miseráveis tentativas - de sobreviver!


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

07/10/2018 e a importância do voto em Bananalândia


A uma semana do sufrágio, palavra cujo significado alguns partidos (se me acompanha, leitor, há de notar que um dia ao referir-me a esses ajuntamentos ditos ‘políticos’, utilizei as palavras ‘quadrilhas’, ‘corjas’ etc, mas, hoje, decidi não tecer com pleonasmos e redundâncias a trama desta curta prosa!) sonegam aos seus eleitores, parece-me que o dito de Neruda, a filosofia de Taine e a livre expressão de ideias vêm à tona.
Vá lá! Neruda, por ser poeta, mexe com os sentimentos do leitor, e pode ser que este, em momento de franca fragilidade (ah!, as aliterações) existencial, emule de suas ideias o ritmo, a métrica, a lírica e tudo o mais que transcenda ao mundo fático, tomando seus versos por mera autoajuda ou, no melhor dos casos, como judiciosa advertência. “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.”
O pleito do final de semana coloca o eleitor honesto – e só utilizo tal adjetivo porque, como Anne Frank, ainda acredito na bondade humana - entre a cruz e a espada: de um lado a busca por um salvador da pátria advinda do cansaço e da desilusão de experiências recentes, de outro, a crença nas divisas libertárias e humanistas que movimentam os espíritos racionalistas. Em ambos os casos Neruda adverte, você há de ser prisioneiro de seus escolhas: os primeiros, podem provar do fel – ou do mel -, que surpreende o paladar ao provar do fruto exótico; os últimos, creio eu, se não se derem conta de que nisto que chamamos de pós-modernidade, a razão como totalidade caminha a passos largos em direção à própria degeneração, preconizando a dissolução de valores e costumes. Estes, ainda não apreenderam que a razão já não oferece qualquer garantia de compreensão do mundo, visto que, muitas vezes, está comprometida com as cabalas e jogos do poder, insurgindo-se como agente de repressão.
A repressão, no caso, começa por desqualificar aquele que não compartilha de suas próprias ideias - ainda que seja seu partidário, pouco importa. Até mesmo a grande imprensa (veja nosso Pravda tupiniquim) filtra as notícias e ludibria o leitor, alterando de forma exponencial fatos sem importância para, dessa forma, desviar o olhar e a atenção daquilo que compromete, tudo porque as ideias ditas contrárias não se ajustam aos próprios interesses. E não me venham com o evangelho da ideologia porque isso não pega mais! Não há ideologia em nada disso! O que é há são projetos de poder e a ideologia vem de arrasto, no intuito de sedimentar planos, conchavos, conluios, tramoias, intrigas, desvios... - e a ganância pelo poder tout court.
É nessa hora que se desmontam os discursos, sobretudo aqueles construídos sobre a pluralidade de ideias e a alteridade, uma vez que o que serve para mim não serve para você, isto é, o que eu digo merece ser considerado, refletido, discutido, o que você diz é algo extremamente retrógado, representa o que há de mais primitivo no âmbito das ideias, é primário, sequer pode ser levado em conta. Nas universidades, em congressos, já vi alunos e professores levantarem-se e deixarem a sala, afinal, a correção e a superioridade de suas opiniões podem ferir-se face a argumentos contrários – e tão chinfrins! Tal é a susceptibilidade – e arrogância - intelectual!
Os discursos desmoronam-se pela intolerância: os que mais professam a intolerância, utilizam-na como prescrição diária! E é aí que Taine entra na trama, já que os primeiros fios que se rompem desse discurso autocentrado mostram a resistência do indivíduo à compreensão, ao debate e ao pluralismo. Embora, nos corredores e nos cafés exibam postura democrática e modernosa, ao defenderem suas ideias a partir da leitura de um livro só, negam inteiramente toda a prática acadêmica (falo dos meios universitários), que consiste na comparação e confrontação de pontos de vista e mostram-se tal como Taine professava, qual seja, reiteram a afirmação de que o ambiente, a raça e o momento histórico determinam a compreensão do homem e da história.
Ora, sob tais discursos, fulano ou beltrano não pode votar em sicrano dada a cor de sua pele e/ou sua condição social, ou ainda porque em períodos recentes beneficiou-se de alguma ajuda do erário. É claro que tudo isso não é dito descaradamente, mas leitores e observadores contumazes leem entrelinhas, pausas, entonações. E tudo está lá, claro, límpido, uma vez que em tais discursos sobejam ideias deterministas. Por isso, parece-me importante o voto do final de semana, tão importante quanto aquele churrasco na laje, afinal, em nossa pobre cleptocracia, resta optar por aquele que, hipoteticamente, versará alguns caraminguás do erário em nossa burra! O presidente está morto! Viva o presidente! Viva Bananalândia!


sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Do porquê de a Terra ser plana


O cenário político atual não tem sido promissor só à criatividade, mas sobretudo à crença. A semana mostrou-nos ateus convictos, envaidecidos porque o discurso Papal assemelha-se àquele repetido pela cartilha do partido. Vá lá, Marx está aí e não me deixa mentir: a religião é o suspiro da criança, o ópio do povo.
Como cada um acredita naquilo que quer, a cena política, repleta de malfeitores, de uma hora para outra viu-se povoada por um sem-número de Robin-Hoods. Muitos dizem tratar de burrice pura e simples dos eleitores, contudo, especialistas (sempre os especialistas!) dizem que nosso cérebro está adaptado a extrair informações do mundo e, nessa leitura particular que fazemos do mundo, há momentos em que os dados objetivos são completamente ignorados.
Talvez seja essa a razão de muitos eleitores acreditarem que a Terra é plana. É uma questão de fé! A fé em um Salvador da Pátria. E, como dizia Voltaire, “a fé consiste em crer nas coisas porque elas são impossíveis”. Assim, basta ver um planisfério para muitos se esquecerem da esfericidade do globo. Nossos presidenciáveis que em maioria só não frequentam as manchetes policiais porque a grande impressa, ciosa de seus interesses, criou a “coluna política”, desafiam a fé do eleitor. Afinal, completa Voltaire, “a fé consiste em acreditarmos, não naquilo que nos parece verdadeiro, mas naquilo que se apresenta como errado e falso ao nosso entendimento”. Só pela fé o cidadão pode acreditar na seriedade e honestidade dos atuais presidenciáveis.
Vá lá, o leitor não é de todo culpado, contudo é inegável sua fatia de responsabilidade nesse processo espúrio. Golpe ou não golpe, a conversa de que este ou aquele não me representa, faz parte de um discurso clichê tão rasteiro e chué que só mesmo os crentes na platitude da Terra são capazes de sustentá-lo, por isso faz-se necessária a ética ao escolher um provável candidato. Mas, como dizia, a responsabilidade do eleitor está no fato de ele vislumbrar certa vantagem adaptativa caso de seu candidato sair vencedor; hipoteticamente suas chances aumentariam em relação àqueles que optaram pelo opositor. Hipoteticamente, vírgula! As vantagens potenciais são muitas, sobretudo para aqueles entranhados à máquina, conhecedores do mecanismo.
Maria, professora universitária, não acredita que políticos tenham desviado do erário. Para ela, tudo o que lemos são teorias conspiratórias. Maria acredita que se a empresa do João superfaturou a obra para beneficiar políticos, não houve nada de irregular, não se tirou caraminguá algum do pobre, não se deixou de construir mais escolas e hospitais... E Maria é professora universitária!
Pensando em Maria, não a condeno, prefiro buscar uma razão, digamos, científica, que explique sua compreensão e opiniões. Afinal, Maria é professora universitária! Talvez não tenha que chegar a tanto: arrisco que Maria, talvez, não seja versada em media literacy. Reflito e resolvo pedir ajuda aos meus botões; aquele que sempre me acorde nessas situações resolve brincar comigo e diz: “Não esqueça, ela é...”. Interrompo-o e digo: “Já sei, já sei...”. “Professora univ...”, corta-me ele”
Não condeno Maria e vou à procura de uma explicação, mas o caldo entorna quando encontro um outro professor, um tal de Whitmore, da Universidade de Kent, afirmando que a tendência em acreditar naquilo que parece falso ao nosso entendimento é uma necessidade que o cérebro tem de “receber informações confirmantes e que harmonizem com o ponto de vista já pré-estabelecido do indivíduo”.
Em que acreditas? Qual é a sua fé, Maria? Whitmore assegura que “na verdade, pode-se dizer que o cérebro está programado para aceitar, rejeitar, confundir ou distorcer informação baseada naquilo que é visto como aceitável ou ameaçador para suas crenças pessoais”.
Como disse, Maria é profess... Ah, deixa pra lá! Não, não deixa... não! Não me conformo, minha garganta arranha "a tinta e os azulejos"... uma vontade de saber se ela não se expõe a diferentes pontos de vista. Sei que é difícil, mas praticar deliberadamente este exercício, penso, deve nos ajudar a moderar nossas opiniões, a enxergarmos outros horizontes, a nos tornarmos menos extremos, enfim, a construirmos um pensamento crítico aberto que nos leve a questionar aquilo que nos disseram desde a infância - ou que nos disseram quando nos deram a cartilha do partido para decorar. Maria, por favor, seja cética, mulher! O ceticismo é salutar, Maria!
Mas deixemos Maria com suas teorias conspiratórias, o FBI, a CIA! Devo deixá-la mesmo? Maria é professora... e uma pesquisa recente apurou que de cada 3 jovens, 1 acredita que a Terra pode ser plana! O que andará ensinando Maria???