Revista Philomatica

quinta-feira, 31 de março de 2011

Da Nouvelle Revue Française às Éditions Gallimard

As Éditions Nouvelle Revue Française nascem em 1911 como uma espécie de extensão da revista literária criada por André Gide e seus amigos em 1909. Constatando a boa acolhida que tivera a revista, eles queriam dispor da biblioteca que tinham em mãos para publicar alguns volumes na NRF, fosse de material já publicado ou não, fossem romances ou trechos deles.
Os três primeiros livros das Éditions Nouvelle Revue Française (NRF) aparecem em junho de 1911: L'Otage, de Paul Claudel; Isabelle, de André Gide e La Mère et l'enfant, de Charles-Louis Philippe, logo seguido por Éloges, de Alexis Leger, posteriormente conhecido por Saint-John Perse. À época, Gaston Gallimard já estava por lá, surpervisionando tudo o que se imprimia, embora seu nome ainda não aparecesse capa, cuja única insígnia que trazia eram as letras NRF.
Gide consegue que Paul Claudel se comprometa em publicar suas futuras obras sob o insígnia da NRF, porém, apesar do respeito mútuo que une os dois autores, a aliança entre eles será fragilizada, não só porque a revista começa a abrir espaço para autores não ajustados à linha de Claudel, mas também porque Claudel talvez não concordasse com as inclinações de Gide e sua moral, que o autor não faz questão alguma de esconder.
A literatura, contudo, é um caso à parte e a NRF faz disso um lema. A literatura prevalece sobre as diferenças religiosas, morais ou políticas. À literatura não se deve restringir ou subtrair a experiência da diversidade humana.
Uma vez que já fazem para a revista, Gide e Jean Schlumberger estão dispostos a pagar os custos da jovem casa editorial, mas é preciso que alguém gerencie o negócio e não há ninguém melhor para ocupar o posto que Gaston Gallimard, que Gide conhecera em 1906. O filho de Paul Gallimard, proprietário do Théâtre de Variétés e colecionador de pinturas impressionistas, é um ávido leitor de seus trabalhos e ele tem, como Gide, laços normandos: os Galimard eram proprietários do solar Benerville, na região de Deauville.
Gaston é um homem de esprit, bem relacionado e, ao que parece, de alguma fortuna. Trata-se de um bom negócio para a NRF, especialmente porque nota-se nele um desejo de emancipação, que supera as limitações de uma origem um pouco suspeita, se vista da margem esquerda do Sena. Ele concorda em assumir a gestão da nova casa editorial e assina com Schlumberger e Gide o ato que trouxe à luz, em 31.5.1911, às Éditions de la NRF.
A participação do jovem é louvável: imediatamente após assumir seu posto, assina contratos, negocia com gráficas e livreiros, visita livrarias e contribui largamente para o financiamento da empresa. Gaston casou-se em 17.12.1912 com a neta de um antigo colecionador, proprietário do Hotel de Cluny, de Paris, Yvonne Redelsperger. De sua união nasceu, em 1914, seu único filho, Claude Gallimard.
A proximidade entre a revista e a casa editorial é extremamente bem sucedida. O catálogo das Éditions é enriquecido com os autores da NRF (Gide, Claudel, Leger, Fargue, Rivière, Larbaud, Suarès, Romains, Bloch...) assim como de outros escritores que vão diretamente às Éditions: Drieu la Rochelle, Roger Martin du Gard, autor do ótimo Jean Barois, enfim, cria-se um inquebrável laço entre Gide e Gaston Gallimard.
Atenta às vanguardas, a NRF não se limita a nenhuma delas. A editora vai, sob esta divisa, muito além da revista e não a acompanha no abandono aos surrealistas; ao contrário, sem qualquer dificuldade assimila as profusões de Cendrars e de Cocteau, as economias Morand e de Malraux, o savoir-faire de Kessel ou de Simenon. Dessa forma o espírito NRF parece ligar-se intimamente ao de seu fundador, André Gide, no que ele tem de ousado, liberal e de menos preconceituoso. Um dos episódios mais memoráveis ​​deste período é a recusa em publicar a primeira parte de La Recherche du temps perdu, de Marcel Proust, no final de 1912. Jean Schlumberger não presta muita atenção à obra, advertindo sobre a cópia volumosa que se recomenda não proceder à publicação, pois o autor é um mundano que gravita em uma órbita moral, social e estética que não é o da NRF. Du côté de chez Swann será lançado em 1913, às expensas do autor, pela editora Bernard Grasset. Nota-se então a gravidade da falta cometida e, será necessária uma ação combinada de Gide, Jacques Rivière - secretário da revista desde 1912 - e Gaston Gallimard, para que Proust deixe seu primeiro editor e prossiga a publicação da Recherche na NRF. Impresso em novembro de 1918 pela Éditions de la NRF, À l'ombre des jeunes filles en fleurs, recebe o Prêmio Goncourt em 1919.
Mesmo enfraquecida pelas restrições e as circunstâncias da guerra, a atividade das Éditons continua durante conflito, com Gaston Gallimard poupando-se de ir ao fronte. Assim, ele publica em 1917 La Jeune Parque, de Paul Valéry, que marca o regresso do mestre ao charme da poesia. Rebatizada Librairie Gallimard em 1919, a editora tornou-se, sob a liderança de Gaston Gallimard, um negócio florescente ligado a importantes autores, como Proust, Malraux, Saint-Exupéry, Queneau, Sartre, Hemingway e Faulkner, além de acolher numerosas coleções, incluindo a prestigiosa Bibliothèque de la Pléiade. Durante a guerra, Gaston Gallimard mostrou-se hábil nos negócios ao perceber que o melhor serviço que podia prestar à literatura era não isolá-la em uma ilha de excelência, mas financiar em tempo incerto a criação e o reconhecimento de obras através de uma política editorial menos exclusiva. O projeto de Gaston Gallimard havia sido compreendido por Gide desde 1916, quando o sugerira renomear as Éditons de la NRF, então muito associadas ao seu nome. Logo, Gaston em um verdadeiro golpe de ousadia, se associa a seu irmão e a seu amigo Raymond Couvreux Maney, impondo o excelente Jacques Rivière à direção da revista. As Éditions tomam novo impulso, levantam vôo e começam a ser vistas como grande referência e autoridade literária.
O equilíbrio econômico vêm no início dos anos de 1930, quando transferem a divulgação da casa editorial às Messageries Hachette e se engajam, provisoriamente, na imprensa popular e política com os periódicos Détective, Voilà e Marianne.
No período entre as duas guerras, a editora extende a abrangência de seus negócios com a criação de inúmeras coleções: Les Peintres Nouveaux, Les Documents Bleus, Bibliothèque des Idées, Les Essais, Vie des Hommes Illustres e Du Monde Entier. A literatura francesa de criação encontra seu lar em coleções como Une Oeuvre, Un Portrait, e em Métamorphoses, que acolhe os jovens dadaístas e, depois, os surrealistas, assim como os escritos de Jouhandeau, Ponge, Michaux, ou Tardieu Audiberti.
Jean Paulhan, editor-chefe da revista após a morte de Rivière em 1925, é um dos promotores desta nova geração, apesar de seu rompimento com os surrealistas politizados, o que prejudica as boas relações de Breton e Aragon com Gaston Gallimard. Contudo, Gaston Gallimard rodeia-se de colaboradores com os quais se reúne semanalmente em um comitê de leitura. Entre eles figuram intelectuais ligados à revista: Jean Paulhan, Benjamin Crémieux, Ramon Fernandez, Bernard Groethuysen, logo acrescidos por Brice Parain, André Malraux, Arland Marcel e Raymond Queneau.
A casa traz então uma contribuição decisiva para a renovação do romance associando ao catálogo de obras mais antigas as obras singulares de Morand Supervielle, Cocteau, Cohen, Aymé, Kessel, de Saint-Exupéry, Giono, Simenon, Queneau e Sartre, porém, permitindo que escapem Montherlant, Céline e Gracq.
A casa editorial se destaca também pela publicação de textos de Freud e Alain, e obras filosóficas de Kierkegaard, Hegel e Heidegger; de ciências humanas publica Leiris e Dumézil, e, num contexto cada vez mais politizado, aparecem publicações de ensaios importantes de Gide, Giono e Bernanos.
O comitê de leitura das Éditions Gallimard é instituído em 1925. Com a ascensão da editora, vem a grande afluência de textos de todos os gêneros: hoje, por volta de 6000 manuscritos são recebidos anualmente pela editora. A comitê é o lugar onde a dimensão coletiva da NRF é manifestada. Os membros do comitê de leitura são recrutados principalmente entre autores e editores da casa. Patrick Modiano verá nisso certa dificuldade e renuncia ao seu cargo em outubro de 1981. Porém, o comitê não tem sido o único veículo de escolha editorial. Raymond Queneau, por exemplo, observa que, em 1948, excluindo a Série Noire, apenas um terço dos livros publicados neste ano foram objeto de deliberação.
Veio a guerra e durante a Ocupação Gaston procurou preservar a integridade de sua casa editorial. As equipes das Éditions se dispersaram durante o êxodo, quando os Gallimard e os Paulham passam o verão de 1940 em Carcassonne na casa do escritor Joë Bousquet. A publicação da NRF é então interrompida. Gaston Gallimard decide retornar a Paris em outubro de 1940 afim de preservar sua sociedade.
À época os alemães já tinham instaurado um regime de controle de edição na zona ocupada, ordenando a retirada de inúmeras obras que consideravam de certa toxité e exigindo dos Gallimards garantias particulares, uma vez que o catálogo da casa editorial possuía inúmeras delas. A sede da NRF é lacrada em 9 de novembro, porém, no dia 23 é estabelecido um acordo: Gaston mantém a direção de sua empresa, mas consente que os alemães se familiarizem com a NRF. Logo, Gaston aceita que a direção da NRF seja confiada ao colaboracionista Drieu la Rochelle, que abre a editora a escritos pró-alemães.
Privada de seus autores históricos, a revista deixa de circular em 1943. Ao mesmo tempo a resistência se organiza em torno de Paulham, Queneau e outros. É um período doloroso e complexo, mas, ainda assim, marcado pelo aparecimento das obras de Albert Camus e Maurice Blanchot, e, apesar da censura, pela publicação de textos de Eluard, Aragon, Sartre, Queneau, Saint-Exupéry e Jünger.
Com a liberação a revista é interditada por um comitê de seleção, chamado comité d'épuration. Anos mais tarde, em 1951, com a morte de Gide, a casa editorial viverá a verdadeira ruptura de suas ligações com o grupo de escritores que marcou sua origem.
As gerações se sucedem. Os filhos de Gallimard são acolhidos no seio da casa editorial. Sucessos da editora (Autant en emporte le vent, Le Petit Prince) e a coleção Pléiade permitem que a editora tenha sólido desenvolvimento editorial, depois confirmado com a compra de Denöel e do Mercure de France. Com a chegada de autores como Yourcenar, Le Clézio, Tournier e Modiano, Claude Gallimard adota uma política destinada a confirmar um desenvolvimento a longo termo, às vezes, sem esperança de rentabilidade imediata. A casa abre suas portas à literatura estrangeira: grandes romancistas americanos como Faulkner, Hemingway, Miller, Steinbeck farão parte do catálogo. Os franceses descobrem Borges, Cortázar, Roth, Pasternak, Kerouac e Kundera. Aparecem os ensaios, sobretudo com Aron, Sartre, Merleau-Ponty e Simone de Beauvoir. François Erval, J.-B. Pontalis e Pierre Nora introduzem o departamento de ciências humanas, cujo marco será a publicação, em 1966, de Mots et les choses, de Michel Foucault, obras de Duby e críticas de Starobinski.
As Éditions seguem de vento popa e sobre a capa branca, as três letras NRF, desenhadas por Schulemberger e associadas ao logo da Gallimard, lembram aos leitores que, há um século, no número 79, da rue Saint-Lazare, com alguns milhares de francos, escritores franceses construíram sua própria morada e deram asas a um sonho.


Nota: O texto acima é uma adaptação livre do texto de Jérome Garcin, parte da Exposição Virtual que comemora os cem anos da Editora Gallimard. Imagens: 1) André Gide, Jean Schlumberger, Jacques Rivière et Roger Martin du Gard à Pontigny, 1922 photographie © Coll. succession A. Gide/ Éditions Gallimard; 2) La Nouvelle Revue Française n° 1, février 1909, Couverture d'ouvrage, © Archives Éditions; 3) Gaston Gallimard, quando tornou-se gerente das Éditions de la NRF, photographie © Archives Éditions Gallimard. Todas disponíveis no site da Exposição Virtual Gallimard-BNF.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Exposição: Gallimard, um século de edição

As Éditions Gallimard comemoram cem anos de vida. Para festejar tão célebre aniversário a BNF - Bibliothèque nationale de France inaugurou, em 22 de março, uma Exposição Virtual que conta a história do modesto comptoir d'édition, fundado em 1911 e que, considerado seu trajeto, acabou por se confundir com a história da literatura francesa do século XX. Nomes ilustres - franceses e estrangeiros - estão ligados à casa: Gide, Claudel, Aragon, Breton, Malraux, Joyce, Faulkner, Saint-Exupéry, Michaux, Sartre, Queneau, Ionesco, Pinter, Camus, Yourcenar, Duras, Modiano, Kerouac, Le Clézio, Kundera, Tournier...
O que se esconde por trás da famosa capa branca é um catálago de riqueza excepcional. Com base principalmente em documentos inéditos - manuscritos, fotografias, correspondências, fichas de leitura, cartazes - a Exposição Virtual percorre um século de história intelectual nos rastros de uma das mais prestigiadas casas editoriais francesas. Produzida em regime de co-edição, a Exposição Virtual está disponível no site da Gallimard como também no da BNF; o nome de cada instituição, no canto superior esquerdo da tela, permite encontrar um ou outro site.A exposição de fotos, com textos de Alban Cerisier, convida o leitor a percorrer um século das publicações da Gallimard em cinco etapas: 1909-1919: la littérature au comptoir; 1919-1939: la double enseigne; 1939-1945: les années sombres; 1946-1970: d'un Gallimard l'autre e 1970-2010: une nouvelle donne. Documentos de arquivo, traços manuscritos, correspondências, recadinhos escritos à mão e numerosas citações conferiram - e conferem - vitalidade à literatura ao longo de todos esses anos.
O leitor poderá refazer o percurso da Gallimard por diferentes caminhos: cronologia, prêmios literários e também acompanhando os sucessivos membros do conselho editorial e comissão de leitura. Há ainda uma trilha mais lúdica e com diversão garantida através de uma seleção de livros oferecida ao jovens.
Há promessas de que o site brevemente terá novidades: visita guiada com a possibilidade de download em MP3 e comentários orais dos principais documentos da exposição. Após o passeio, você poderá encontrar estes comentários online, além, é claro, de explorar todo o material exposto com a ajuda e facilidade dos modernos breguetes da informática.
O arquivo deverá crescer, pois a exposição será complementada com importantes dados de literatura estrangeira, que também encontrou abrigo sob as asas da Gallimard. Logo haverá uma outra novidade: um arquivo pedagógico cujo tema é "ler, escrever, publicar", para que os estudantes possam acompanhar todas as etapas de uma publicação: do manuscrito ao livro nas mãos do leitor. As funções do manuscrito na escritura, a relação do escritor com seu primeiro leitor - ao longo destas etapas os alunos serão incentivados a usar as fichas de leitura dos membros do conselho editorial da Gallimard para aconselhar ou recusar a publicação de um texto -, as correções e reescrituras, a escolha do título, a capa, a escolha do melhor tipo de publicidade, a promoção do lançamento, as prováveis reedições, enfim, tudo será estudado e, a cada passo, estudos de caso serão oferecidos.
Também será disponibilizado o aplicativo pages lues - páginas lidas, isto é, a leitura de numerosos manuscritos, fichas de leitura e correspondências, o que permitirá a decodificação de milhares de páginas escritas à mão, diga-se, nem sempre tão acessíveis ao público não habituado a este tipo de leitura.


Imagens: Todas obtidas no site da Exposição: 1) Catalogue général de la Librairie Gallimard mai 1923, Couverture, © Archives Éditions Gallimard; 2) Le Temps retrouvé, de Marcel Proust , Brouillons autographes, 2 cahiers, 69 et 75 f., 22 x 17 cm. et 25 x 19 cm., BnF, département des Manuscrits, NAF 16691, 16697., © Archives Éditions Gallimard.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Cleópatra VII Thea Philopator Liz Taylor

A semana tem sido movimentada: o Japão ainda faz parte das manchetes internacionais, mais em razão da brisa radioativa que do próprio tsunami, responsável por ter dizimado milhares de almas - ou seriam corpos? Malgrado as inúmeras crenças que pregam sua perenidade, seu translado para outras esferas, fique você, leitor, com alma, é mais poético.
Certo, nada poético é o porquê da viagem, ainda que seja uma brisa - radioativa. No início da semana a França já fazia suas medições. Produtos do Japão? Nem pensar. Francês agora que se contente com brioches; nada de sushi, sashimi, nigiri, chirashi, temaki... É o Japão na berlinda!
No Brasil, é claro, fala-se do Japão, mas também fala-se da Líbia e do atentado terrorista em Israel; a imprensa contabiliza os mortos e Brasília condena a invasão no país árabe, afinal, somos radicalmente contra a violência. Somos seres pacíficos - por natureza. Acreditamos nisso! No entanto, por estas tranquilas paragens paulistanas, não se sabe bem por que, é um latrocínio seguido do outro. O mês nem acabou e dezoito almas já fizeram o caminho de volta. Os dados da violência são secretos, provável artimanha para mascarar a realidade, tal qual se fazia nos anos de chumbo. Nosso querido governador promete trazê-los a público - maquiados, penso eu.
Bem, vamos dar outro rumo à prosa, ainda sob a aura de Tanatos, certamente sem Caronte, embora, nestes casos, acredito que não faltasse o óbolo para pagar a fatídica viagem. Morreu na segunda, 21, Loleatta Holloway, diva da disco music, um vocal estrondoso, que pode ser ouvido em alguns dos maiores clássicos da disco como Catch Me On The Rebound, Love Sensation, Hit And Run e Relight My Fire, de Dan Hartman. Holloway escapou à pasteurização que deixa tudo mais chã, por isso é cultuada.
Outra que partiu para o andar de cima - já li ou ouvi essa mesma expressão, portanto, leitor, encare como intertexto - foi Elizabeth Taylor, no dia 23. Coincidentemente, quando soube da notícia, lia uma crônica de 15.12.1877, em que Machado de Assis lamentava a morte de José de Alencar. Machado, ao referir-se ao autor dizia: "Quando uma individualidade se acentua fortemente e alcança através dos anos e dos trabalhos, a admiração de todos, parece ao espírito dos demais homens que é incompatível com ela a lei morte. Uma individualidade dessas não cai do mesmo modo que as outras; não é um incidente vulgar, por mais vulgar e certo que seja o destino que a todos está reservado; é um acontecimento, em alguns casos é um luto público."
Não acho que tenha sido diferente com a morte de Liz Taylor. Certo que se deve guardar as devidas proporções entre as artes, mas, ainda assim, não se pode negar sua individualidade e a ascendência que exerceu no domínio da arte cinematográfica. Bons filmes Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof, Richard Brooks, 1958) e Quem Tem Medo de Virginia Wolf (Who's Afraid of Virginia Woolf, Mike Nichols, 1966). Porém, sempre que se fala da filmografia de Liz Taylor vem à tona Cleópatra (Cleopatra, Joseph Mankievicz, 1963). As filmagens de Cleópatra começaram em 1960 e fizeram de Elizabeth Taylor a atriz mais bem paga de Hollywood.
Diz a lenda que Elizabeth teria pedido, meio que de brincadeira, o que na época era uma quantia assombrosa como pagamento: um milhão de dólares. Para sua surpresa, o estúdio concordou. Mas não foi só isso. Liz fez outras exigências: exigiu 10% do lucro da bilheteria e que o marido fosse contratado como seu assistente pessoal, fora outras extravagâncias. O filme começou a ser rodado sob a direção de Rouben Mamolian, demitido logo nos primeiros meses de trabalho, por divergências quanto ao encaminhamento do script. Liz exigiu então que o diretor substituto fosse indicado por ela: ou George Stevens, que a dirigira em Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun, George Stevens, 1951) e Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956), ou Robert Mankiewicz, de De Repente, no Último Verão (Suddenly, Last Summer, Robert Mankiewicz, 1959), que lhe rendera uma indicação ao Oscar. Stevens estava ocupado com outro épico, A Maior História de Todos os Tempos (The Greatest Story Ever Told, 1965), então, Mankievicz foi convocado. Durante as gravações de Cleópatra, Liz conheceu Richard Burton, que viria a ser seu quinto marido. Ainda casada com Fischer, e à vista dele, Liz começou abertamente a ter um caso com Burton, que também era casado. Conta-se que os dois se entregavam a noitadas de bebedeira homérica e sexo, que acabavam muitas vezes em brigas e, pelo menos uma vez, numa ameaça de suicídio de Liz. Impotente diante da insubordinação hedonista de seus astros, Mankievicz teria se queixado aos executivos da Fox enviando-lhes um bilhete: "Liz e Burton não estão apenas interpretando Cleópatra e Marco Antônio". Com uma divulgação focada nos escândalos da vida dos protagonistas fora das telas, o filme foi um sucesso de bilheteria, embora tenha deixado a Fox no prejuízo, pois os US$ 26 milhões que arrecadou ficaram longe de cobrir seu custo assombroso de US$ 44 milhões. Esse valor corresponderia hoje, com correção monetária, a US$ 320 milhões, o que faz de Cleópatra o filme mais caro da história. Cleópatra também passou à história como o único filme a ter dado prejuízo a um estúdio, mesmo tendo sido a maior bilheteria do ano (1963).
Minha fascinação por história antiga já me fizera ler Kleopatra, do austríaco Oskar von Wertheimer, cuja segunda impressão da primeira edição, de 1935, coincidira com o lançamento do filme. Hoje, guardo-o como raridade à espera de uma releitura. Anos depois, li Cléopâtre ou le rêve évanoui, de Benoist-Méchin. Por confessa imaturidade, não fiz comparações. Hoje teria que reler os livros e rever o filme.
É comum entre a crítica a constatação de que o romance não se adapta muito bem às telas ou aos palcos. Machado já afirmava que "desde que a concepção foi vazada em um molde, é raro que ela possa viver transportada para outro". Há exceções, é claro, e, no caso, o romance já fizera sua parte, recontando a história e atualizando hábitos que o tempo fez questão de apagar e que nós, hoje, por achá-los por demais estranhos, muito provavelmente rejeitaríamos. Ao real o romance adicionou a criatividade e a fantasia e nos deu a verossimilhança. E o cinema? O cinema fez algo intertextual: alterou a imagem da verdadeira Cleópatra, sobretudo, diante das raras esculturas atribuídas à rainha egípcia. Hoje, é impossível falar de Cleópatra VII Thea Philopator, última rainha da dinastia dos Ptolomeus, suas conquistas e seus amores, olhar o mármore branco e pálido, sem se lembrar de Liz Taylor e seus intensos e magníficos olhos violeta.

Nota: Dados sobre o filme Cleópatra colhidos no site http://www.jornalstylo.com.br.
Imagens: Google Images.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quem paga a música escolhe a dança?

Em sequência ao post sobre Lobato, transcrevo artigo da Professora Marisa Lajolo, uma das maiores especialistas em Monteiro Lobato, publicado no portal IG - Último Segundo/Educação, em 3/11/2011. Nele Marisa Lajolo explica do que trata Caçadas de Pedrinho e opina sobre o parecer do CNE.

Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso. Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente. Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembléia muito divertida: felinos ferozes invadem o sítio e – de novo - é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças (particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça. Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de Dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos. Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares. O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes. Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu (D. Casmurro, Machado de Assis, 1900) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar... ! É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação - manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que lêem. Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos. Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolha a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e reescreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos. Trata-se de uma idéia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade contra a nova mulher do papai, mas – ao contrário - pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva... Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação - pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta. E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores . . No caso deste veto a Caçadas de Pedrinho, a Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas ; (...) aponta menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura. Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa ? Qual seria o conteúdo da nota solicitada ? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial ?) , assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que Caçadas de Pedrinho é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC? As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro . Como fecho destas melancólicas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir- será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este modelito da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder ... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê!

*Professora Titular (aposentada) da UNICAMP; Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pequisadora Senior do CNPq.; Organizadora (com João Luís Ceccantini) do livro de Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil) , obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2010 como melhor livro de Não Ficção. Imagens: Marisa Lajolo e atores da versão do Sítio do Picapau Amarelo para televisão, Rede Globo. Todas disponíveis no Google Images.

quarta-feira, 16 de março de 2011

As Caçadas de Pedrinho e o Monteiro Lobato Minotauro

Não é de hoje que nesse recanto tupiniquim, abençoado por Deus e bonito por natureza, como diz a canção cantada às despregadas por gerações, polêmicas dão em nada. Aliás, como toda e qualquer polêmica, quando algo suscita discussões, divergências, controvérsias, espera-se que ao fim, no rastro de todo o falatório, haja ao menos um profundo debate de idéias. Qual nada! Aqui tudo vai pelo superficial, opta-se pela agressão gratuita, faz-se de vítima, procura-se logo a turma do barulho e, vislumbrado e garantido os interesses, a coisa esfria e tudo segue na mais santa e hipócrita paz.
Por que toda essa verborragia? Vá lá: parafraseando a conhecida rubrica: deu na Folha de São Paulo. O assunto veio à tona em tom ilustrado, com cara de diversão, meio escamoteado - como sempre, deixando para as entrelinhas as intenções de fato, no velho jeitinho brasileiro, sem ferir as suscetibilidades - ou sensibilidades - de uns e outros.
Mas há que se dar nomes aos bois: em 13 de março a Ilustrada publicou novo projeto da Rede Globo e da produtora Mixer para a atualização da obra infantil de Monteiro Lobato em novo formato. Segundo o jornal será um "game com sensor de movimento em que Pedrinho corre da Cuca, 15 aplicativos diferentes de Narizinho no iPad, videolog da Emília, Facebook da Dona Benta e um moderno desenho animado em HD".
Até aí, maravilha! Nesses tempos de imposição absoluta da imagem, não poderia aparecer ideia mais genial para que a novíssima geração, tão afeita às novas tecnologias e - reconheçamos, nem tão íntima das letras, pudesse conhecer as deliciosas histórias do Sítio do Picapau Amarelo.
Até aí também, maravilha!
Acontece que os baixinhos provavelmente sequer vão ouvir falar de Tia Anastácia e do genial pozinho de pirlimpimpim. Isso para agradar a tchurma dos excessivamente hipocritamente politicamente corretos e não despertar polêmica racial, sobretudo. O pó, como diz a reportagem também politicamente escrita, vai deixar de ser pó para que não haja qualquer ligação com qualquer substância alucinógina, trocando em miúdos, a cocaína. Nas escolas, ah!, isso pode! Basta acompanhar os noticiários: são frequentes as denúncias de sexo nos banheiros entre adolescentes, venda de maconha, crack e outras cositas mas no território aberto das escolas. Isso, publica-se hoje, amanhã a polícia passa pelo quarteirão da escola e depois de amanhã, problema resolvido, fica tudo o dito pelo não dito em razão da falta de memória coletiva e também porque, afinal, somos um povo pacífico, tolerante e respeitamos - sobretudo, a pessoa do outro e o sagrado direito universal de cada um.
Afora o tal pozinho, há a ablação de personagens e situações: Tio Anastácia, não pode mais. É preconceito racial. Certo, somos um país mestiço. Mas apagar parte da história é a melhor saída para não tocar na ferida e não afrontar parcela da população, diga-se, terrivelmente injustiçada? O próximo da lista certamente será o Jeca Tatu. Como nasci no interiorzão de São Paulo e, na infância, muitas vezes fui chamado de caipira, estou ansioso à espera da execração pública do Jeca. O fato é que o próprio Tiago Mello, um dos responsáveis pela produtora Mixer, reconhece que ao extirpar parte da obra do escritor estão fazendo dela um minotauro. Para tanto, disse: "As pessoas se esquecem da importância da Tia Anastácia. Ela é criadora dessa mitologia toda de Monteiro. Fez a Emília e o Visconde de Sabugosa". Mas, ainda assim o projeto continua. Afinal, o vil metal é preciso vir às burras e aí a ansiedade é muita, principalmente da Globo, que vislumbra uma mina de ouro à vista com o comércio de licenciamento de produtos, algo que sequer pó de pirlimpimpim proporciona. Desnecessário dizer, a família do ilustre escritor embarca nessa, claro; afinal, quem não gosta de uns muitos trocados a mais na conta bancária?
O fato é que nessa história toda não se discutiu a integridade da obra literária e artística de Monteiro Lobato. Talvez porque a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE), em iniciativa capitaneada pela Professora Nilma Lino Gomes - segundo publicado na imprensa, ter gerado intenso debate, meses atrás, em duas frentes: uma, que entende que a obra deve ser lida em seu contexto, portanto, sem qualquer mutilação; outra, partidária de uma obra "maquiada" para atender ao pensamento contemporâneo.
Nessa discussão, desnessário dizer, a internet foi campo fértil para troca de farpas, muitas dissimuladas, politicamente corretas; outras, contundentes, sem medo algum de um preconceito às avessas. Embora não seja essa a minha intenção, sei que coloco o dedo na ferida. Li, por exemplo, no site Combate ao Racismo Ambiental as considerações da Sra. Katia Costa-Santos (http://racismoambiental.net.br/). Embora reconheça seu ponto de vista, achei-o um tanto exagerado, sentimental, cheio de palavras de ordem em sua réplica ao texto de Lya Luft - Crucificar Monteiro Lobato? Explico-me: a autora em diversos momentos reclama da mistura geral que é tudo aqui, argumentando que em outros paises brancos e negros vivem cada um no seu quadrado. Para isso relembra histórias pessoais e a todo instante usa termos tais como amiga branca, criança branca, criança não-branca.
Cada um sabe onde o calo dói, mas confesso que me surpreendi. Afinal, nunca em minha infância e agora, adulto, usei tais termos. Nunca tratei meu cunhado negro por preto da guiné, ou ainda, nunca referi-me a ele tratando-o por meu cunhado negro. Nunca falei de meus estimados e queridos amigos Valdete e Clélio, identificando-os por meus amigos negros. Não sou especialista no assunto, mas acredito que essa história dos quadrados só ajuda a despetar a animosidade entre pessoas que poderiam muitíssimo bem conviver irmamente.
A autora também critica intelectuais, pensadores, dramaturgos e "ficcionistas não-negros" brasileiros por calçarem botinas de sinhozinhos e sinhozinhas e pisotearem as sensibilidades dos negros brasileiros e, acrescenta: "a verdade é que nós negros brasileiros sempre fomos “coisas” prestadoras de serviços e ilustrações sem importância do cenário cultural brasileiro como um todo". Não vou - e nem posso - desmenti-la . Como disse, cada um sabe de seu calo. Mas, olhei para meu próprio umbigo e me perguntei: o quê há de errado? Sou branco e na história de minha família a coisa foi e é a mesma. Meus pais semi-analfabetos sempre trabalharam a terra - dos outros. Lembro-me de minha mãe contando que logo que se transferiu para a cidade foi ser empregada doméstica e frequentemente era obrigada almoçar às quatro da tarde, depois que o primogênito da patroa voltava da escola, quando então podia sentar-se à mesa e comer as sobras. Perguntei-me: será que não padeço da mesma esquizofrenia apontada pela Sra. Costa-Santos, já que penso que sou e não sou, penso que sou gente e sou "coisa", acho que faço parte da sociedade e, no frigir dos ovos, posso claramente constatar que também sou brutalmente hierarquizado, apesar de branco? Sinceramente, acredito que o buraco é mais embaixo e envolve respeito mútuo, educação e franca distribuição de renda.
No outro extremo, como disse, estão os intelectuais, pensadores, dramaturgos e ficcionistas não-negros, como apontou a Sra. Costa-Santos. Aqui, transcrevo trecho da reportagem Autores e leitores reagem contra parecer que veta Monteiro Lobato, publicada no portal IG - Último Segundo/Educação, em 03.11.2011:

"O CNE decidiu por unanimidade recomendar que não se distribua o livro Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933, a instituições de ensino por considerar que algumas passagens são racistas. O órgão recomenda ainda que, caso alguma escola queira usá-lo, haja preparação do professor para tratar de racismo e uma nota na obra alertando sobre o conteúdo. Para entrar em vigor, o parecer precisaria ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que já disse que não vetará a e pediu revisão da decisão.
A ocupante da cadeira número 1 da ABL, Ana Maria Machado, adiantou o que pensa: “Somos contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística. Uma cultura não pode se tecer com as linhas dos melindres e ressentimentos. Isso a empobrece, em vez de enriquecê-la.”
Uma das maiores autoridades no assunto, a professora titular aposentada da Universidade de Campinas (Unicamp), Marisa Lajolo, autora de vários livros sobre o autor, incluindo a organização de “Monteiro Lobato livro a livro” repudiou a decisão. Para ela, além de errar ao apontar racismo, a medida é “autoritária” e “amordaça” a literatura de forma geral. “O episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.”
Para ela, qualquer nota seria um “desastre”. “O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?) , assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que Caçadas de Pedrinho é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?”


De todo esse imbróglio, não foi a constatação de que ainda não nos vemos como iguais e de que há muito ressentimento adormecido o que mais me assustou. Foi meu querido Machado. O que farão dele? Afinal, logo o negro Vicente, "nobre espírito de dedicação" no "corpo vil do escravo", pajem de Helena, será banido das páginas de Helena. Não será diferente o fim de Estevão Soares, outro negro bom como Vicente, do conto A Mulher de Preto, "mais irmão do que escravo, na dedicação e no afeto". Condenadas também estão páginas de Memórias póstumas de Brás Cubas, sobretudo o episódio que o memorialista presenciou no Valongo: o liberto Prudêncio vergalhando um irmão de raça, comprado e castigado pelo próprio ex-escravo, que se "desfazia" das pancadas de outrora, além, é claro, de todo o capítulo XI, que narra as estripulias de Brás Cubas menino, quando deitava cinzas ao tacho, para depois ir dizer à mãe que a escrava estragara o doce "por pirraça", ou ainda quando cavalgava Prudêncio, o moleque da casa, que recebia varadas, um cordel nos queixos, à guisa de freio e, assim que soltava um "ai, nhonhô", não ganhava retribuição outra que um "Cala a boca, besta!".
Que censurem Machado! E logo! Afinal, para os burocratas da educação, você leitor não é nada. É preciso que lhe digam como se lê, porque se lê, como se o texto não fosse feito de linhas e entrelinhas, enfim, passível de interpretações díspares, a gosto do freguês.


Imagens: Jacyra Sampaio (à dir.) interpretou Tia Nastácia entre 1977 e 1985, em uma das versões do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Globo; ao lado dela está a atriz Zilka Salaberry, que vivia Dona Benta; Monteiro Lobato, por volta de 1920 e capa do livro Caçadas de Pedrinho. Todas disponíveis no Google Images.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sheherazade no Carnaval

Na imprensa, hoje, quinta-feira, ainda é Carnaval. Certo que com alguma ressaca e aquela dorzinha de cabeça constante por causa do batuque, mas ainda assim, é Carnaval. Nos telejornais: - novidade! acabaram de descobrir que há dias chove torrencialmente em Mato Grosso. Ah! apareceu também um vídeo no Estadão que mostra - mais uma! - deputada propineira. Algo rotineiro que, duvido, qualquer brasileirinho de dez anos não tenha ouvido ao menos uma dezena de vezes. Mas isso não é nada! Que mal pode haver em dezenas de cidades isoladas, uma mísera perda estimada em pouco mais de um bilhão e meio de reais - parte da safra de soja - e mais uma maracutaizinha em Brasília?!
Isso não é nada se comparado ao que afirmou a jornalista Rachel Sheherazade. Dizer que Carnaval é "negócio de ricos"!!! Isso sim é uma heresia! E a comunidade, como fica? E toda aquela gente, que mal sai da avenida e já vai para a quadra encomendar a próxima fantasia? Meu Deus! Morte a Sheherazade! Morte a Sheherazade!
"Mas isso é radicalismo, repressão, ditadura", dirão muitos uspianos. Você é reacionário! Ou seria reacionária? Calma leitor, afinal: estariam eles dirigindo-se a mim, que pedi a morte de Sheherazade, ou a ela, que transferiu o Carnaval do morro e colocou-o sob os auspícios das grandes cervejarias, ao som de pagodeiros e bandas de forró, enfim, sob a proteção do teto dos grandes camarotes?
Antes que alguém me acuse de intolerância por pedir a morte de Sheherazade, informo: só disse isso na esperança de que ela me contasse algumas histórias, feito aquelas das Mil e uma Noites. Não tenho e nunca tive a intenção de matar alguém, o que queria, na verdade, era ouvir a Xerazade, Sherazade, Scheherazade, Xerazard - sei lá, cada hora escrevem de um jeito, meu Deus, nunca chegam a um acordo! Quando era adolescente lia sobre o Khadaffi, hoje a manchete do jornal trazia Gaddafi: o que fez o homem retroceder no alfabeto? A idade ou a tirania?
Mas revenons à nos moutons: gerou polêmica as declarações da apresentadora Rachel Sheherazade ao jornal Tambaú Notícias, na Paraíba. Segundo a UOL Notícias de hoje, Sheherazade afirmou que o Carnaval não é uma festa genuinamente brasileira, pois teria surgido na época vitoriana e se espalhado pelo mundo. Embora tenha declarado que não é "inimiga" da festa, Sheherazade incomodou porque ousou dizer que o Carnaval não é uma festa popular. Para isso, afirmou: "Balela. O Carnaval virou negócio, e dos ricos. Que os digam os camarotes VIPs". Como toda verdade dói, crucificaram a moça.
Decididamente não é essa a minha intenção. Antes de mais nada, gostaria de me declarar solidário e dizer que ela tem lá suas razões, aliás, um amontoado delas, mas, ainda assim, me permito algumas correções.
Talvez o mais acertado seria dizer que o Carnaval teve suas origens nas festas pagãs na Roma Antiga, quando cristãos, escravos e seus senhores invertiam os papéis: por um dia apenas, eram os servos que mandavam. Isso devia ser delicioso! Imagina você com a possibilidade - legal - de estar com a vara em mãos! Mais tarde, já na Idade Média, aconteciam as missas e procissões cômicas e, mais uma vez as regras se alteravam: no lugar dos padres, guiavam as procissões personagens bizarras, tais como o Rei Momo, que resiste até os dias de hoje. A véspera da quaresma era uma festa: os foliões podiam satirizar os costumes religiosos e da Igreja, a autoridade máxima na época.
No Brasil a inversão não era tamanha, mas havia os entrudos, com aquela mania de atirar bolas de cera nos outros e guerrinhas d'água pela rua. Passasse você pela rua do Ouvidor e certamente seria alvo fácil.
Esta algazarra sem noção acontecia em diferentes partes do país. A polícia, embora tentasse, raramente conseguia conter as festas.
Machado, em suas crônicas, menciona leis municipais para coibir as manifestações populares, desnecessário dizer, ignoradas pela massa.
"Estes perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade enquanto caminhávamos pelas ruas", escreveu Darwin em seu diário ao visitar Salvador, em 1832, na companhia de dois tenentes da Marinha Britânica.
O fato, poderia prosseguir Sheherazade, ao contar sua história, é que a bagunça foi organizada para, de certa forma, tornar-se orgulho da nação. Para isso, bastou o "pai dos pobres", a exemplo do que fizera Mussolini, na Itália, misturar sua imagem à cultura nacional e popular. Vargas, na década de trinta, sob a égide dos costumes e ideologia fascistas, cunhou as regras da apresentação moderna, diferentes daquelas praticadas pelas sociedades carnavalescas dos anos 20.
Segundo Leandro Narloch, "as primeiras regras de avaliação e ordem do desfile, nasceram quando o interventor federal do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, começou a dar dinheiro para as escolas. A apresentação ocorria na Avenida Rio Branco, o mesmo local onde as demonstrações militares comemoravam a Independência todo dia 7 de setembro. Os instrumentos de sopro foram proibidos. Só poderiam participar entidades registradas como sociedades recreativas civis".
A festa ficou disciplinada, patriótica. Ainda segundo Narloch, a "Deixa Falar, primeira escola de samba de que se tem notícia, desfilou em 1929 usando na comissão de frente cavalos da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Três anos depois, o samba-enredo da escola era A Primavera e a Revolução de Outubro, em homenagem à tomada de poder de Getúlio Vargas em outubro de 1930".
Pode-se bem perceber que Sheherazade teria histórias para muitas outras noites e, ousando um pouco, poderia afirmar com folga, à maneira de Narloch, que sem a influência do fascismo italiano, o famoso desfile da Sapucaí não existiria e, sem ele, o samba seria outro, meio parecido com aquele que Piximguinha e Donga tocavam, na década de 1910, na casa da baiana Hilária Batista da Silva, a tia Clara, na Praça Onze, centro do Rio de Janeiro.


Para saber mais: DARWIN, Charles. O Diário do Beagle. Tradução de Caetano Galindo, UFPR, p. 60; NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. Ilustrações Gilmar Fraga. São Paulo: Leya, 2009, p. 123-148

Imagens: Desfile da Escola de Samba Beija-Flor, campeã do Carnaval do Rio de Janeiro em 2011, foto divulgação extraída do site: fttp//www.rac.com.br/entretenimento/carnaval; Entrudo, Jean-Baptiste Debret, de 1823 e Entrudo na Rua do Ouvidor, de Agostini, 1884.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Brasil Pitoresco, de Charles Ribeyrolles e a Exposição Retratos do Império e do Exílio

Nem só de letras vive o homem, mas de toda imagem que lhe atravessa os olhos. Era assim com Machado de Assis: nas crônicas "Ao Acaso", que escreveu regularmente no Diário do Rio de Janeiro entre os anos de 1864 e 1867, estão vários indícios da atração que lhe exercia a fotografia, sua história e os pioneiros dessa arte em terras tupiniquins.
Em 7/8/1864 o cronista relembra certo padre de nome Combes, que aportou no Rio de Janeiro em uma corveta francesa, L'Orientale, em janeiro de 1840, trazendo consigo uma máquina fotográfica. O padre, segundo o cronista, dirigiu-se para a hospedaria Pharoux e, na manhã do dia seguinte, 16 de janeiro, reproduziu três vistas - o Largo do Paço, a praça do mercado e o mosteiro São Bento. Três dias depois, a convite do Imperador, Combes repetiria sua experiência em São Cristovão. Talvez estes registros estejam entre os primeiros feitos na capital.
Pouco mais de duas décadas e a novidade do padre Combes já havia produzido mais de trinta casas especializadas em fotografia. A casa do Pachedo é descrita pelo cronista como a mais luxuosa da capital. Lá, diz ele, pode-se admirar a perfeição dos trabalhos e os rostos mais belos do Rio de Janeiro. Um mês depois, Machado cita Pôrto-Alegre que, referindo-se ao Pachedo afirma que "êle estava ficando um dos primeiros fotógrafos do mundo e que os seus trabalhos podiam competir com os melhores de Paris e de Berlim".
Anos antes, talvez tenha sido também por meio de um fotógrafo francês, Victor Frond, um antibonapartista radicado no Rio de Janeiro, com atelier à rua da Assembléia, 34, que Machado conheceu Charles Ribeyrolles. Frond, há meses tivera a ideia de publicar um livro chamado O Brasil pitoresco, edição bilingue financiada por meio de assinaturas e subscrições. Nos anúncios que publicara nos jornais, prometia trazer da Europa o material e o pessoal necessários para a confecção da obra. Para tanto, comprometia-se em viajar para a Europa especialmente para contratá-los e trazê-los. Porém, a viagem jamais se realizaria, pois fora impedido em razão da perseguição que lhe moveu o Chevalier de Saint-Georges, encarregado dos negócios da França no Brasil e representante de Bonaparte.
O fato é que em 7 de julho desembarcava no Rio de Janeiro, Charles Ribeyrolles, que estivera exilado em Guernesey, com Victor Hugo, e depois se transferira para Londres, onde enfrentava grandes dificuldades. Embora fosse pouco conhecido no Brasil, Ribeyrolles já havia publicado alguns livros, dentre eles, Le Sorcier de Rocamadour e Les Compagnons de la Mort. Em Londres havia publicado o panfleto Bagnes d'Afrique, talvez relato do período em que fora condenado a uma pena de prisão na África, razão pela qual seria imortalizado por Victor Hugo no poema "Pauline Roland", do livro Châtiments, coleção de poemas contra Napoleão, publicado na Bélgica, em 1853: "Bagnes d'Afrique! enfers qu'a sondé Ribeyrolles!".
O fato é que Machado se uniria ao grupo responsável pela tradução de Le Brésil Pittoresque, de Charles Ribeyrolles. Desse grupo fizeram parte Manuel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Remígio de Sena Pereira, Francisco Ramos Paz e Reinaldo Franco Montoro. Não se sabe exatamente quem traduziu o que, o resultado, contudo, é uma tradução sofrível e com erros históricos.
Para Machado, a experiência talvez tenha sido decisiva por dois motivos: primeiro, porque o contato com o grupo moldou sua mentalidade liberal; depois, porque seus sentimentos monarquistas talvez tenham se consolidado em razão do contato com o escritor francês, que não era nada hostil à monaquia brasileira e ao Imperador, para isso basta ler em Brasil pitoresco os elogios a D. Pedro II e à monarquia. Dizia, por exemplo, que no Brasil o pensamento não era embargado e nem suspeitado pela polícia ou pela alfândega. E perguntava, logo respondendo: "Isso por quê? Porque D. Pedro II coloca a majestade não nos privilégios, não na sua pessoa, e sim no caráter e nas ações".
É possível que os sentimentos monárquicos de Machado tenham criado raízes mais profundas à essa época, tanto é que, em 1870, não assina o Manifesto Republicano, como fizeram seus amigos íntimos Quintino Bocaiúva e Salvador de Mendonça.
Machado conheceria ainda um outro fotográfo francês, Marc Ferrez, por quem seria fotografado (Veja-se postagem de 6/4/2010 - Era uma vez... ).
Condecorado Cavaleiro da Ordem da Rosa e elevado ao posto de fotógarfo da Marinha Imperial, Marc Ferrez tivera livre acesso à intimidade da família imperial brasileira. Boa parte dos seus registros feitos então pode ser visto na exposição Retratos do Império e do exílio, que ocupa o Instituto Moreira Salles com 150 fotografias pertencentes ao acervo do príncipe dom João de Orleans e Bragança, curador da mostra ao lado de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS.
Compõem a exposição retratos da família imperial brasileira, muitos inéditos (em especial do período do exílio após a proclamação da República), além de importantes imagens associadas a eventos que marcaram o Império, como as comemorações do fim da Guerra do Paraguai e a abolição da escravatura. Os visitantes poderão conferir registros de Marc Ferrez e Revert Henry Klumb, professor de fotografia das princesas Isabel e Leopoldina.
Os dois mantiveram uma relação muito próxima com a família imperial – fotografaram momentos de maior privacidade no interior dos palácios, registrando imagens menos formais, em que os retratados se relacionam com a câmera de uma forma direta e menos mediada pelas exigências do cargo e da vida pública. Também estarão na mostra imagens de Alberto Henschel, Joaquim Insley Pacheco, Luiz Terragno, Otto Hess, entre os diversos fotógrafos atuantes no Brasil que integram o acervo, além de imagens dos fotógrafos retratistas europeus Félix Nadar e John Jabez Edwin Mayall, entre outros.
Agora, é torcer para que a exposição venha para São Paulo.

RETRATOS DO IMPÉRIO E DO EXÍLIO
Quando:de 23/2 a 29/5. De terça a sexta, das 13h às 20h; Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Onde: Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro (Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea. Tel.: 0/xx/21/ 3284-7400
Quanto: entrada gratuita

Imagens: 1) Princesa Isabel e conde d'Eu no exílio, castelo d'Eu, Normandia, França, 1919; 2)Família imperial reunida no castelo d'Eu, Normandia, França, 1918. No primeiro plano, da esquerda para direita: d. Maria Francisca, em pé, e d. Elisabeth Dobrzenky de Dobrzenicz, sentada, tendo ao colo d. João Maria; ao seu lado, d. Isabel, futura condessa de Paris, e d. Pedro Gastão, ambos em pé; sentados, conde d'Eu e princesa Isabel, seguidos de d. Pia Maria, em pé, d. Luís, sentado, d. Luís Gastão e d. Pedro Henrique, príncipe do Grão-Pará, ambos em pé; no segundo plano, da esquerda para direita, em pé, estão d. Pedro de Alcântara, d. Antônio e d. Maria Pia, Foto atribuída a P. Gavelle/ Acervo Dom João de Orleans e Bragança, sob a guarda do IMS; 3) Charles Ribeyrolles e 4) Marc Ferrez, em 1870, aos 27 anos.
Nota: dados sobre a exposição extraídos do site http://www.cultura.rj.gov.br/.