Revista Philomatica

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Amor de verdade? O dos animais.


Em busca do carro das ideias corro os olhos pelas notícias da semana e não vejo nada além de balbúrdia. Balbúrdia em Brasília, balbúrdia nas universidades – não sou quem diz, mas um tal de Sr. Weintrauma -, enfim, balbúrdia nas ruas, nos sites de notícias e nas redes sociais. Fazendo as vezes de advogado do diabo: já notaram quanta gente tem passado por Harvard, quantas pesquisas brotaram de departamentos até então obscuros? O que me deixou pasmo não foi nem a pomada cicatrizante a partir de água de coco, mas a descoberta de que o cocô humano tem sido usado em tratamento contra infecções, obesidade e problemas mentais.
Ah vá, quem disse que contive as sinapses? Na hora fiquei achando que Brasília, o STF, leitor, deveria abandonar as lagostas e partir pra merda, afinal, o pessoal por lá anda um pouco além do peso e as faculdades mentais, bem, estas, considerando-se o que se decide por lá... prefiro não comentar, como diria Copélia! A dita refeição, penso, também deveria ser servida à gerência da rádio Jovem Pan, que ora censura o historiador Marco Antonio Villa por criticar o mandatário JB (que não é o whisky e nem o Jornal do Brasil). Deste, dizem, não partiu a ordem de suspensão do historiador e crítico do governo, mas, alguém acredita em notas emitidas por empresas de comunicação, pelo governo e por quem foi pego de calças curtas ou com a boca na botija?
O fato é que em meio a toda essa balbúrdia, resolvi dar um tempo e recolhi-me na leitura de um conto de Clarice Lispector, “A menor mulher do mundo”. Lá pelas tantas, a narradora diz: “Creio que também este conto vem de meu amor pelos bichos; parece-me que sinto os bichos como uma das coisas ainda muito próximas de Deus, material que não inventou a si mesmo, coisa ainda quente do próprio nascimento; e, no entanto, coisa já se pondo imediatamente de pé, e já vivendo toda, e em cada minuto vivendo de uma vez, nunca aos poucos apenas, nunca se poupando, nunca se gastando.”[1]
Volto às notícias e dou de olhos com a história de Capitán, o cão da cidade de Villa Carlos Paz, na Argentina. Capitán era uma dessas criaturas próximas de Deus, que não se reinventou, ainda cheia de um amor supremo, desinteressado e puro, há muito desaparecido de entre os humanos. Capitán pôs-se de pé, viveu de uma vez e cada minuto devotando todo o seu amor a seu dono, ainda que este já não estivesse mais entre os vivos. Capitán, repito, deu mostra de um amor que não é humano, pois este, o humano, é um bicho que reinventou a si próprio, se poupa a cada momento, não se gasta e, do alto de sua arrogância, jamais seria capaz de se entregar tão por inteiro.
Abaixo, transcrevo a história de Capitán, que retirei de um portal dedicado a contar relatos da vida desses seres tão especiais (a notícia também foi publicada no jornal Clarín, dentre outros), tão próximos de Deus, porém, tão maltratados diariamente - assim como a natureza -, por humanos que só veem Deus no invisível.

Morreu o cão que guardou fielmente o túmulo do dono durante dez anos



Capitán é o nome do cão mais conhecido em Villa Carlos Paz, uma província de Cordoba, na Argentina. O animal morreu no mesmo cemitério onde o dono está sepultado, depois de ter passado dez anos a guardar o seu túmulo.

“Nunca vi uma coisa assim”, disse Marta Clot, florista do cemitério, ao “20 minutos”, recordando em lágrimas Capitán, que com 16 anos, depois de vários problemas de visão e complicações articulares, morreu.
O cão foi uma prenda de surpresa de Miguel Guzmán ao filho Damián. Um ano depois, em 2006, Miguel morreu e o cão desapareceu de casa, regressando algum tempo depois, permanecendo junto à casa da família.
O animal voltou a desaparecer e a família pensou que tinha morrido ou fora adotado por outras pessoas, até que o encontraram no cemitério, deitado no túmulo de Miguel. “De certeza que veio procurar o dono”, disse a florista.
Tendo em conta que o cão viveu grande parte dos últimos dias no cemitério, várias pessoas pedem para que os restos mortais do animal sejam depositados no cemitério. Para que isso seja possível, será necessária uma autorização especial.[2]


[1] LISPECTOR, Clarice. “A menor mulher do mundo”. In: Laços de Família: contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, pp. 77-86.






sábado, 25 de maio de 2019

A Slow Science Academy e os congressos predatórios nas universidades brasileiras


Na terça-feira desta semana, levantei-me de madrugada e peguei um ônibus para uma viagem de aproximadamente seis horas. Meu destino? Um congresso na capital mineira, Belo Horizonte. Lá chegando, dirigi-me para a sala na qual apresentaria meu trabalho, resultado de meses – para não dizer anos – de leitura, reflexão e escritura. Logo no início dos trabalhos nos informaram (éramos três pesquisadores alocados na sala) que cada um teria no máximo vinte minutos para a apresentação de seu trabalho. O público, em geral exíguo nessas ocasiões, foi informado de que teria dez minutos para perguntas, caso pretendesse fazê-las, porque a sala deveria ser liberada em seguida, sem atrasos na programação, assertiva bastante desmotivadora para qualquer criatura que se atrevesse a fazer uma questão. Não é preciso dizer que o modelo é obsoleto. Alguém se lembra do golpe que políticos, especialmente vereadores, aplicavam – ou aplicam – nas prefeituras, dizendo participar de congressos, para os quais recebiam diárias exorbitantes, mas na verdade saíam a turismo?

Pois bem, no nosso caso, nós pesquisadores, haja vista esse governo desalmado afirmar que nas universidades faz-se muita balbúrdia, não fizemos turismo e não tivemos diárias; alguns, mal recebem algum caraminguá para inteirar o transporte - e devo dizer que pesquisadores cruzam o país para participar de tais congressos, dada a pressão constante que têm sobre as costas para publicar. A publicação, não é preciso dizer, tornou-se o indicador que regula toda a vida acadêmica. Pesquisadores com bolsa produtividade pairam nas alturas e, de lá, lançam seu olhar oblíquo sob seus pares, a despeito de todo o discurso de igualdade.
Não é preciso dizer que, a exemplo dos congressos predatórios e caça-níqueis – sim, caça-níqueis porque a impressão que se tem não é a de que tais congressos fomentem o conhecimento por meio de uma análise conjunta, em que pesquisadores de diferentes lugares compartilhem suas descobertas e reflexões, mas a de que um grupo de pesquisadores-organizadores à caça de menções no Lattes, diga-se, em busca evidente de mostra de produtividade, submetem outros ao pagamento de inscrições para uma reflexão inexistente, para inglês ver – a superprodução de artigos e revistas, no quesito qualidade, tem muito pouco a oferecer.
O produção científica, estima-se, cresce a uma taxa anual de 5% sob a batuta exigente do sistema de avaliação acadêmica. Há casos de professores-pesquisadores que outrora produziram estudos interessantes e hoje, abrigados sob relativa nomeada, publicam artigos e livros bastante medíocres, sem qualquer rigor, às vezes, em um incessante autoplágio, e tudo isso com o objetivo de turbinar seus curricula.
Sei de periódicos nos quais muito do que se publica sequer passa por uma avaliação dos pares. Outro truque muito usado pelo pessoal da academia é o célebre salami slicing, qual seja, produz-se um estudo científico e depois começa-se a fatiá-lo em artigos de dez, doze, quinze páginas. E isto não é comum só nas humanas não, o pessoal que nos olha atravessado, por exemplo, não entendendo porque também nos consideramos cientistas, faz disso prática rotineira. O resultado, não é preciso dizer, é muitas vezes errôneo – e tudo por causa da ânsia da publicação. Tome-se por exemplo os departamentos de literatura, local em que os textos literários sequer são analisados; os clássicos não são mais lidos, faz-se leituras impressionistas de textos pobres (não generalizo, é claro, há muitos autores contemporâneos bastante interessantes) tentando ajustar a causa ao poema - fulana é exaustivamente estudada porque nasceu pobre, fulano porque é gay... e por aí vai.
Como tudo parece ecoar no buraco tupiniquim - os estudos multiculturalistas e pós-colonialistas, por exemplo, apareceram por aqui cerca de três décadas depois de os americanos terem começado a espernear nessa areia movediça -, ninguém ainda fala sobre a Slow Science Academy, iniciativa para desacelerar o ritmo da produção científica que, há quase uma década, começou a ser discutida em Berlim.
Não se trata de barrar o progresso da ciência, o manifesto de Berlim é claro sobre a questão: “Dizemos sim ao fluxo constante de publicações de revistas de revisão por pares e seu impacto, dizemos sim à crescente especialização e diversificação em todas as disciplinas. No entanto, afirmamos que isso não pode ser tudo. A ciência precisa de tempo para pensar. A ciência precisa de tempo para ler e tempo para falhar. A sociedade deve dar aos cientistas o tempo que eles precisam, mas o mais importante, os cientistas devem tomar seu tempo.” Parece-me que ainda não descobrimos a importância de se promover uma pesquisa mais reflexiva e pausada – por isso não culpo os organizadores do congresso supramencionado com suas apresentações the flash. Mas deviam saber!
Por fim, fica uma grande incógnita: em uma época marcada pelo visual, em que plataformas de internet limitam o número de caracteres, alunos universitários são afeitos ao control c control v, a quantidade se sobrepõe à qualidade, como produzir conhecimento sendo que o processo da ciência é lento, constante e metódico?


Publicado originalmente em https://z1portal.com.br/a-slow-science-academy-e-os-congressos-predatorios-nas-universidades-brasileiras/

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Educação: o pomo da discórdia

Educação é um daqueles temas fronteiriços, essenciais – para não dizer, letais -, por isso atrai sonhadores, idealizadores e oportunistas. Fronteiriço porque a ele estão sujeitos o desenvolvimento ou o atraso de um país; essencial porque dele depende a riqueza ou a miséria intelectual – e econômica – das pessoas que habitam esse país; letal porque implica a sabedoria com que são analisadas, pensadas e colocadas em prática por seus cidadãos as ideias a respeito dela.
Em todo o processo, sobretudo porque a educação é uma planta cuja semente demanda solo fértil onde possa ser fecundada, o cultivo das ideias é campo aberto a oportunistas. Dentre esses, brotam como erva daninha – a célebre tiririca – os políticos e sua militância. A maioria, de fato, não é afeita à educação, mas em períodos eleitorais traz o tema à baila e faz dele sua maior promessa de campanha. Nessas épocas, o empenho e a preocupação dos políticos com a condição da educação e os professores chega a ser algo comovedor. Eleitos, são os primeiros a cortar e desviar verbas da educação. Quantos prefeitos já não ganharam os holofotes da imprensa por desviarem verbas da merenda escolar? Dito isto, a fronteira entre a pesquisa científica e o discurso interessado torna-se bastante tênue, razão de incompreensões, desentendimentos e desavenças.
Distantes dos centros do poder, das negociatas, dos ardis e da pusilanimidade da política, o povo, nas redes sociais, tenta ser participativo, e, via de regra, mete os pés pelas mãos.
Ontem, ao correr os olhos por uma rede social, li a publicação de um senhor, a meu ver sério, comprometido com a causa animal, alguém que dedica parte de seu tempo com a família e o lazer no resgate de animais abandonados, assim como compromete parte de seu orçamento na compra de remédios e alimentos para cães, gatos, cavalos e pássaros. Pois bem, ontem, R... publicou: “Estudantes? Massa de manobra para partidos da esquerda. Como é triste ver jovens sendo tão alienados assim. Faculdades lotadas de parasitas, gente que nada produz, que nada será e tão pouco estão (sic) se importando com o futuro deles próprios (sic) e muito menos do nosso país.” É claro que R... não sabe o que diz. R... nunca pisou em uma universidade, não sabe o conhecimento que ali se produz. R..., durante toda a sua vida não fez outra coisa além de trabalhar, trabalhar e trabalhar. Assim como eu, é muito provável que R... tenha ouvido quando pequeno que “a faculdade não é para você, é para os ricos, nós temos é que sobreviver”.
R... desconhece o esforço do trabalho intelectual. Trabalhar para R... é algo que implica cansaço físico na produção e na repetição de movimentos, por exemplo. R... não conseguiu romper a barreira da ignorância que o sistema teima em perpetuar e tornou-se, ele próprio, um alienado e objeto de massa de manobra. R... está reproduzindo o discurso em que os oportunistas fizeram-no acreditar. Tivesse R... a oportunidade de se sentar em um banco universitário, pensaria ele de outro modo e, vejam, só isso já é perigoso para os oportunistas, porque o fato de ali se sentar e começar a pensar implica desconstruir os sofismas dos quais se constituem o discurso dúctil.  
É claro que nas universidades habitam parasitas, mas eles são exceções. Para um professor que engana em sala de aula, não escreve artigos científicos há meia década e alimenta seu Lattes às custas de TCCs de graduandos e artigos de mestrandos e doutorandos (quando orienta), há seguramente um dezena que se esfola, dorme tarde da noite, não têm finais de semana e feriados e vive preocupada em manter certa pontuação para que dela possa garantir a viabilidade de projetos e bolsas para estudantes de iniciação científica, mestrandos e doutorandos. Essa gente tresloucada produz ciência e conhecimento, é o motor que faz girar as engrenagens do país. E digo mais, se há um grupo abjeto e parasita, é o grupo da canalha política. Este, desvia e consome muito mais riquezas produzidas pelo país que as universidades e a educação em seu conjunto. Portanto, lamento que até mesmo R..., um homem de bem, tenha se deixado levar por tal engodo.
Não preciso dizer que R... comprou um problema: ainda que tenha excluído seu comentário, antes foi crucificado e achincalhado por uma centena de internautas, alguns dos quais, creio eu, socorreram-no anteriormente quando precisou de ajuda para o resgate de um ou outro animal desgarrado e maltratado. Como punir R... por pensar assim? Tentar convencê-lo a repensar sua opinião e seu ponto de vista mostrando como as coisas de fato são, penso, seria o correto. Mas a guarda pretoriana composta de internautas ensandecidos – também ela, objeto de manobra - não perdoa. A “justiça” virtual sentencia sumariamente, não é compreensiva e não tem tempo para isso. Condena, xinga, avilta e coloca o réu no paredão. Nada de direitos humanos. Sinto, mas é provável que o pedido de ajuda de R..., na próxima vez em que precisar socorrer um cão ferido e maltratado, não terá eco nem ressonância. 


Publicado originalmente em https://z1portal.com.br/educacao-o-pomo-da-discordia/

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Ano que vem, em Jerusalém!


A vírgula, no icônico cumprimento, não sei há ou não. Procurei aqui e ali e não a encontrei, mas resolvi introduzi-la porque, ao menos para mim, imprime certa esperança entre o futuro incerto e o desejo profundo. O povo israelita é marcado pelas diásporas. A diáspora, segundo a Bíblia, deveu-se à rebeldia de Israel e Judá para com Deus. Como disse semana passada, Deus não suporta ser contrariado, então, o que fez ele com o povo de Israel? Puniu, tirou-lhes a terra que lhes prometera. Espalhou-os pelo mundo até que, arrependidos, retornassem para a obediência a Deus. Metafísica de lado, para a História Moderna a diáspora judaica foi resultado do confronto do povo judaico com outros povos que tentaram subjugá-lo culturalmente e ocupar seu território.
A primeira diáspora ocorreu no século VI a.C., quando Nabucodonosor II invadiu o reino de Judá, destruiu o Templo e deportou os judeus para a Mesopotâmia. História Antiga que, quando adolescente, estudei na escola pública – acreditem! A segunda diáspora, que também aprendi no ginásio, ocorreu com a invasão romana no ano 70 d.C. e, repeteco, os judeus foram novamente espalhados por todo o planeta.
O porquê dessa história hoje? Bem, coincidências. Voltei às releituras ao preparar um curso sobre “História, Memória e Literatura”. Reli obras da adolescência, li história, teoria e biografias. Também resolvi falar sobre isso porque o Israel moderno completará 71 anos daqui a quatro dias!
Não vou comentar sobre a Shoah, o Holocausto - espero que ainda ensinem sobre isso nas aulas de história. Em tempo: àqueles cujo antissemitismo jaz sob a epiderme, informo-os de que não sou judeu, mas não teria vergonha alguma em sê-lo, sobretudo porque tenho imensa admiração por este povo tenaz, resistente, perseverante e empreendedor.
O IDH de Israel é considerado “muito alto” (22.o) e seu PIB nominal é de 373,751 bilhões de dólares. A título de comparação, o Brasil tem um IDH considerado alto (79.o) e um PIB de 2,141 trilhões de dólares. Estamos bem, não estamos? Pois então considere a população e a área dos dois países e verá que rolamos ladeira abaixo. Considerem ainda o fato de que nossas crianças não foram alvos nazistas, nossos pais e mães não foram mortos aos milhões em câmaras de gás e transformados em barras de sabão, bem, sei lá, não sei se estamos tão bem assim. E olha que junto com esses judeus foram destruídos centros de fé, estudo e erudição judaicos, geradores de gigantes nas artes, ciência e literatura.
Relendo a biografia Minha Vida, de Golda Meir, é impossível não compactuar da amargura da autora com os dias de hoje (e era 1975!), quando o “mundo preferiu adotar o terrorismo árabe de fascínio”. Sob o poder de fogo árabe desde as vésperas de sua independência, Israel conseguiu - dentre outras coisas - fazer brotar árvores no deserto, algo que até hoje somos incapazes de tentar no semiárido brasileiro. Ao reler Exodus, de Leon Uris, um misto de ficção e história, no volume II, Livro IV, capítulo II, o autor relaciona falas de personalidades árabes e manchetes de jornais no dia seguinte à aprovação da partilha da Palestina pelo Conselho das Nações Unidas. Leia, reflita sobre a tolerância, pergunte a si mesmo quem o aliena, reveja sua cultura facebookiana e tome suas próprias conclusões:

·        Kuwalty, Presidente da Síria: “Morreremos pela Palestina!”
·   Al Kulta, jornal do Cairo: “Quinhentos mil iraquianos se preparam para a Guerra Santa. Cento e cinquenta mil sírios atravessarão as fronteiras da Palestina e o poderoso Exército egípcio empurrará os judeus para o mar, se eles ousarem declarar seu estado.”
·    Jamil Mardam, “Premier” sírio: “Parem de falar, irmãos muçulmanos. Levantem-se e deem cabo da praga sionista.”
·    Ibn Saud, Rei da Arábia Saudita: “Somos cinquenta milhões de árabes. Que nos importa perder dez milhões, se conseguirmos matar todos os judeus? O preço vale a pena.”
·     Seleh Harb Pasha, Juventude Muçulmana: “Desembainhai as espadas contra os judeus! Morte a todos! A vitória é nossa!”
·     Xeque Hassan Al Bannah: “Todos os árabes se erguerão para aniquilar os judeus! O mar ficará juncado de seus cadáveres.”
·    Akram Yauytar, porta-voz do Mufti: “Cinquenta milhões de árabes combaterão até a última gota de sangue.”
·   Haj Amin El Husseini, Mufti de Jerusalém: “Eu declaro Guerra Santa, irmãos muçulmanos! Morte ao judeus! Morte a todos eles!”
·    Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe: “Esta será uma guerra de extermínio e massacre que ficará na história, como os famosos Massacres Mongóis.”

Dito isto, leitor, é compreensível que a esperança tenha lá seu cumprimento: “Ano que vem, em Jerusalém!”



sexta-feira, 3 de maio de 2019

Desejos mórbidos


O homem é um animal singular e complexo. Preocupa-me bastante o verso bíblico que afirma nossa semelhança com o Altíssimo: éramos, na origem, tão vis quanto somos hoje? À pergunta, minha consciência cristã refuta qualquer afirmativa, caso contrário, nosso Deus seria mais vingativo e cruel do que comumente se mostra. Não me entenda errado, leitor: a crueldade divina é necessária, haja vista sua criação ter extrapolado limites que até mesmo a metafísica imaginou.
O homem é um ser vil, não saber conviver com as diferenças, sejam elas de ordem moral, sejam físicas, e quando digo físicas, não me refiro às comparações entre si, mas às espécies que são obrigadas a dividir o espaço com a pusilanimidade humana.
O homem – não generalizo, falo da grandessíssima maioria (caso em que a redundância cai como uma luva) – tem um dedo infecto, em tudo o que toca, adoece e morre! O homem alimenta um desejo mórbido pela tortura, o extermínio, a morte. Já li sobre pessoas cujo único pensamento é a morte. Fazem dela irmã e companheira. A morbidez, afirmam os especialistas, surge em contraposição ao desejo biológico da vida. Mas, vejam, pensar em morrer, acabar com a própria existência é uma coisa, destruir, exterminar tudo o que está à sua volta por interesse próprio, almejando o vil metal ou qualquer outra coisa como o prazer doentio de ver sua vítima ofegante, isso é uma vilania de outra ordem, abjeta, não humana, mas que também não é animal!
Li que na Austrália, o governo pretende exterminar cerca de dois milhões de gatos selvagens. Até 2020, tencionam há de perecer cerca de um terço de todos os felinos “vadios” do país. Em Queensland, no nordeste, há a recompensa de dez dólares australianos por animal morto. Por que matá-los? Ora, porque os consideram destruidores da vida animal. E o homem? O homem, além de não destruir a vida animal, mata por prazer, e isso é nobre, já os gatos, bem, os gatos precisam comer; afinal, porque gatos precisam comer? Isso é tão comum!
Hoje li em um site português que um milhão de espécies estão em risco de extinção, muitas delas desaparecerão nas próximas décadas. “Nós precisamos de reconhecer que as alterações climáticas e a perda de [diversidade] natural são igualmente importantes, não apenas para o ambiente, mas também como fatores econômicos e de desenvolvimento”, declarou à France Presse Robert Watson, líder da equipe das Nações Unidas responsável pelo relatório, acrescentando, sem se referir às conclusões constantes do estudo, que “a forma como produzimos os nossos alimentos e energia está a desregular [os processos naturais] e os bens que obtemos a partir da natureza.”
No Brasil, a morbidez do homem tem sido particularmente cruel para com os animais e a natureza. Há deputados fiéis a Deus empenhados na morte – falo da legalização da caça. Em meio aos horrores publicados na imprensa quotidianamente, a notícia de hoje é encabeçada pelo projeto de lei elaborado pelo filho de sua eminência parda, o senador Flávio Bolsonaro (PSL) e seu comparsa, o senador Mário Bittar (MDB). Ambos, por meio do projeto, pretendem revogar as normas referentes à proteção da vegetação nativa nas propriedades rurais.
Não é preciso dizer que matas, florestas e a vida selvagem perecerão a olhos vistos, mas os parlamentares, autores do projeto, argumentam que é preciso abdicar da proteção às matas e toda vegetação nativa para garantir o que chamam de “direito constitucional de propriedade”. Traduzindo: garantir o lucro. O Código Florestal atual permite o uso sustentável dos recursos naturais nessas áreas, com desmatamento restrito e percentuais mínimos de preservação. O que querem os senhores F. Bolsonaro e M. Bittar é avançar o desmatamento em proveito da exploração desenfreada, sem qualquer respeito à vida.
O desejo mórbido que envolve politiqueiros, agronegócio – este, representado pela Menina Veneno – madeireiros e contrabandistas de madeira de lei e animais, não é outro senão o da morte – para os outros.