Revista Philomatica

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Foto de cão dependurado em varal gera revolta no Facebook

Vamos falar de utopia? Pois é, dizem que a palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos ο - “não” e τόπος - “lugar”, portanto”, o “não-lugar”, algo como “lugar que não existe."
O termo se popularizou a partir da publicação, em latim, no ano de 1516, de Utopia, obra de Thomas More. More, fascinado pelos relatos de viagem de Américo Vespúcio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503, produziu uma obra que ao longo da história da circulação literária, tornou-se sinônimo de algo fantasioso e irrealizável.
Sempre que se fala em utopia, ventila-se a ideia de quimera, delírio, fantasia, etc., razão pela qual me pergunto o que pensara Mahatma Gandhi quando disse que “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”. Este sinal de uma civilização ideal, respeitosa, fantástica, há de ser sonho de pacifista até quando? Por que a cada dia, numa época em que as pessoas se julgam civilizadas e o progresso caminha a passos largos, nos deparamos com uma total inversão de valores a ponto de chegarmos a duvidar da ciência, que um dia afirmou ser o homem um animal "racional"?
O porquê da prosa? Ontem à noite, lia as últimas notícias na internet e me deparei com a notícia de que o jovem filipino, Jerzon Senador (qualquer semelhança do nome com estripulias do pessoal de Brasília, é mera coincidência), entediado, resolveu partir para a crueldade, dependurou seu cãozinho no varal, fotografou e publicou as fotos no
Facebook. Procurava, assim, de maneira covarde, seus quinze minutos de fama.
A campanha contra Senador foi grande, ele retirou as fotos e pediu perdão. Você perdoaria caso tivesse sido pendurado à exposição pública? Bem, é claro, o perdão depende do grau de cristandade do su
jeito – e as Filipinas, dizem, são um país cristão. Eu, pessoalmente, penso que estão se habituado a nos estapear a outra face.
Mas nem tudo está perdido, acreditem! Segundo li, nas Filipinas, em maio de 2010, houve a primeira condenação de alguém a
cusado de crueldade contra animais, o caso de um jovem da Universidade das Filipinas, multado em 2.000 pesos filipinos e condenado a dois meses de trabalho comunitário por ter matado um gato dentro do campus universitário e divulgado o assunto em seu blog.
Fim da prosa? Nada disso. O que mais me surpreendeu foram os comentários dos internautas brasileiros, povo cristão, ordeiro e respeitoso (?), sobre o ocorrido. Em geral não leio esse tipo de expressão pessoal, temo embrutecer, embora migalhas ali sejam aproveitáveis. Não vou reproduzir aqui as idiotices que li, porém, é curioso que os codinomes não condizam em nada com o que é falado. Uma pessoa intitulada Professor reclama de que há assuntos muito mais importantes a serem publicados e argumenta que o cachorro não sentiu dor física, embora sinta tensão emocional. “Nota-se isso pelo seu olhar!”, afirma o cara pálida. Um outro, o Dono da Razão, não questiona o fato, mas sim, a causa. Tivesse ele sido pendurado depois de um banho para que se secasse, tudo bem!
A estupidez vai além e há aqueles que acreditam que as pessoas não se importam com crianças de rua, assassinatos, a impunidade geral e irrestrita desta casa-de-mãe-joana, por que deveriam se importar com animais? Há ainda aqueles que, quando questionados sobre os absurdos ditos, sentem-se tolhidos em seu direito de expressão - essa mania de brasileiro que acha que o ouvido dos outros é pinico e por isso pensam que somos obrigados a concordar com tudo.
Que não concordem com meu respeito aos animais, vá lá, mas covardia é covardia! Digam o que quiserem, mas, ainda assim, continuo pensando feito Gandhi, mesmo que tudo não passe de utopia.

Para saber mais:

http://tecnologia.uol.br/ultimas-noticias/redacao/2011/06/15/fotos-no-facebook-de-cachorro-pendurado-num-varal-despertam-ira-de-usuarios-da-rede.jhtm

Imagens: Todas disponíveis no Google-Images.

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