O
fenômeno, em si, talvez não tenha nada de novo. Ocorre, porém, que à medida em
que as redes sociais adensam os vínculos - ou as rupturas -, ele ressurge flagrante
e invade o espírito. No espaço do texto, além de preencher o branco da página,
palavras e discursos reiteradamente ditos, carregam-se de diferentes sentidos e
utilizados à exaustão tornam-se ambíguos, perdem a significação e ganham certo
vazio cuja sonoridade produz eco tão frívolo quanto a fonte.
A
mocinha que diz que sua filosofia não é carregar na maquiagem ou o amor dito às
desbragadas nas redes sociais são exemplos de como as palavras ‘filosofia’ e ‘amor’
foram vandalizadas pelo uso. Fala-se muito e demais, diz-se pouco ou quase
nada.
Não
bastassem as palavras, nesse nosso tempo em que abundam celebridades,
intelectuais e filósofos - hoje, pops
e habitués de programas de variedades
na TV -, as personalidades também se pautam pela mediocridade. O mérito, tal o
carvalho frondoso, foi abatido pela obstinação da lâmina contra o caule; degenerado,
tornou-se constitutivo opressivo e de menosprezo.
Vilipendiado
pelo discurso multicultural, o mérito, por sua presença, contribui para a
relativização do respeito, e quiçá, da competência; esta, tal como a flor do
cacto, deve brotar de caules duros e espinhosos, em solo desértico e pedregoso,
caso contrário, não se deve respeitá-la. Outras flores, malgrado o encanto, a
delicadeza e a frescura, dado o discurso atual, são impiedosamente condenadas
por supostamente terem se nutrido da umidade da campina em que nasceram.
Ninguém quer saber do esforço empenhado por suas raízes, persistentes na
procura do húmus que jaz na profundeza. Assim, cantada em verso e prosa, pulula
a mediocridade!
No
nada desse mundo sem Deus, em que o século ainda jovem só faz perpetuar o
niilismo dos anteriores, tentamos a todo custo preencher o vazio. Para isso,
buscamos alguma segurança material e algum conforto moral substituindo as certezas
antigas, na maioria das vezes, por discursos antigos travestidos do novo, mas
um novo feito de palavras exauridas! Ensaiamos novas tournures de frases cujo conteúdo quase nunca alça voo, arremetemos
sempre! Esgotadas, as palavras sequer incomodam os ouvidos do sistema.
A
verdade, como dizia Schopenhauer, não é uma garota que pula no pescoço de quem
não a deseja, de modo que nos encantamos com o velho como se estivéssemos
diante de algo genuíno e novo. Engodo às polarizações, os discursos nos desviam
daquilo que realmente importa. E, no mais das vezes, fazemos ouvidos moucos,
alienamo-nos face às ideologias e à verborragia das palavras cansadas.
Os
fatos, por mais díspares que possam parecer, são ganchos para que os filósofos
das redes sociais expressem os mais variados sistemas, todos, sem exceção,
alheios ao mundo (ainda que se esforcem em mostrar-se interessados) e à
evidência, mas focados unicamente na política à qual são subservientes, fazendo
dela seu critério decisivo para julgar o que é bom, o que é ruim, o que é notável,
ou o contrário! Os que não leem a mesma cartilha e ejaculam o mesmo discurso,
as mesmas palavras velhas e cansadas, merecem a indiferença.
Neste
cenário, é comum a mediocridade frequentar todos os bares, todas as esquinas,
todos os becos, de modo que pode ser comprada e transmitida pela rede da qual o
cidadão faz parte. Nas universidades, como em qualquer outro lugar, a amável
mediocridade trabalha incessantemente, subserviente a interesses gerais ou
pessoais, fazendo com que o saber seja prostituído e desprezado, tornando-se,
não raro, simples favor.
Nesse
mundo sombrio, uma palavra nova e robusta equivale a um ponto de luz projetado
em meio à escuridão, capaz de emocionar, alegrar e nos consolar nesse deserto
que é a vida! Mas sempre é preciso algum cuidado: ainda que as palavras curem
os males, há sempre aquelas que matam!
Publicado originalmente em http://z1portal.com.br/category/miscellanea/
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