Revista Philomatica

domingo, 4 de junho de 2017

Morre a Rainha Elizabeth II, do Reino Unido

Londres já não é mais a mesma. Nesta manhã, a comoção tomou conta dos ingleses ao saberem que Elizabeth II falecera no Royal London Hospital. À espera de um primeiro boletim médico que esclareça a morte da monarca, jornalistas do mundo todo se concentram defronte ao hospital. Contudo, comenta-se que a rainha teria vindo a óbito após ter comido um priániki de chocolate, que lhe fora oferecido por Alexandr Yakovenko, embaixador russo em Londres. Fontes não oficiais informam sobre intensa movimentação na Scotland Yard; a Royal Air Force, segundo jornalistas do The Guardian, movimenta-se em direção ao Kensington Palace Gardens, sede da embaixada russa. Moscou, até agora, é de um silêncio sepulcral.

Haja vista esta coluna tratar da semana em curso - e dada a relevância do assunto -, desculpo-me desde já, caro leitor, por interrompê-lo, mas, sinto-me obrigado a perambular entre os foliões antes de voltar à fria Londres.
Antes que soubesse da morte Rainha, à espera do carro das ideias, corri os olhos pelas diferentes notícias. O que vi confirma a lógica de que padecemos todos de alguma coerência. Foliões travestidos de mulher agridem casal gay em beijo caloroso na orla de Florianópolis; militantes da causa animal desfilam enfeitados com penas de pavão (a escola campeã de São Paulo gastou meio milhão de reais só em penas da malfadada ave, afirma a imprensa); apoiadas em carros estacionados nos becos de Ouro Preto, feministas se deixam fotografar em momento de luxúria com rapazes ‘bombados’; outros, que bradam aos quatro cantos o emblema da apropriação cultural, acabam-se no Carnaval, esquecendo-se de que ele nasceu no covil de lobos brancos de olhos claros e com os pés bem fincados nas Lupercálias e nas festas dionisíacas, e così via... De qualquer modo, como o ano só começa agora, desejo-lhe um Feliz Ano Novo!
É provável que você tenha vindo até esta página em razão do título. Felizmente a simpática Rainha continua lá, firme como uma rocha. Para encerrar algumas ideias desenvolvidas em textos anteriores (Fatos, opiniões e pós-verdade e Imprensa folhetinesca), decidi partilhar do mesmo modus operandi da imprensa atual, qual seja, lançar mão de um título sensacionalista a fim de arrastar o pobre leitor até suas páginas.
Depois de quase uma semana em que meus ouvidos foram postos à prova sob intenso bum bum paticumbum prugurundum, didático, comento como jornais e sites de notícia criam notícias falsas à cata de leitores.
Títulos sensacionalistas pululam nas redes sociais e até mesmo nos grandes jornais - a dita imprensa tradicional -, aquela que se coloca a serviço do Brasil, ou vem a cavalo, ou vê o que vê no imperativo, ou nomeia-se carta.
Pois bem leitor, você já deve ter notado que seu texto é incessantemente interrompido por propagandas; para dizer a verdade, elas se intrometem por todos os lados, apertam-no, fazem dele uma coluna estreita em meio a carros, modelos, banners de imobiliárias e lojas, anúncios de cartão de crédito, fotos paradisíacas de agências de viagem, etc. Tudo isso não está lá à toa. A cada vez que você se distrai e clica em um desses atrativos, esquecendo-se do texto, o site hospedeiro lucra um pouquinho. Eis o lema: clique é dinheiro.
Uma vez que a maioria dos leitores não sabe distinguir fato de boato, a mídia e as redes sociais navegam de vento em popa e a verdade, se antes já mostrava ter uma coluna bastante flexível, hoje, é relativizada a ponto de a ambiguidade surgir como pré-requisito, pois é instrumento de fidelização do público. Em geral, embaralha-se verdade e mentira. Desta feita, a militância, a intolerância, o ódio ou mesmo a simples curiosidade, encarregam-se de retroalimentar as notícias divulgadas por meio de infinitos compartilhamentos (espero que você faça o mesmo com meu post).
Para o sites e portais eletrônicos - o mesmo aplica-se à imprensa escrita -, pouco importa o estrago provocado pela notícia. Quando muito o ofendido entra com um processo, o juiz obriga a retirada da notícia e, vez ou outra, à cata do vil metal, um processo por dano moral continua; mas o link já foi disseminado, copiado, colado, gravado na memória de milhões de almas que o reproduzem ad infinitum. O fato é que se lucra com a notícia e quanto maior a audiência, mais se ganha com publicidade.
A maioria dessas notícias são publicadas em sites sensacionalistas registrados fora do país; não se publicam o expediente, endereço ou telefone para contato e sequer os autores dos textos são identificados - primeira pista para que você desconfie da veracidade do que está lendo.
Sob a bitola de “tudo é business, tudo é dinheiro”, a responsabilidade de saber o que é e o que não é fica a cargo do leitor, de modo que, relativizada, a verdade passa a ser uma questão de ponto de vista, uma pós-verdade, cada um acredita no que acha que deve acreditar, ainda que o fato esteja lá, diante dos olhos, e/ou posteriormente apareçam os desmentidos.
Os descalabros na política tem sido uma inesgotável fonte de criação de notícias sensacionalistas e, como não poderia deixar de ser, aparecem os especialistas. Estes, dividem-se ao sabor dos diferentes pontos de vista, uma vez que muitos deles também fazem as vezes de Teseu alimentando o Minotauro das fake news. Alguns clamam por uma regulação global, uma alfabetização midiática; outros proclamam uma autocorreção da mentira à medida que o tempo passa, acreditando que assim tudo se esclarece; outros ainda minimizam o assunto, registrando que ao compartilhar uma notícia falsa, que nos choca ética ou moralmente, nos sentimos, de fato, participativos.
O fato é que em tempos em que governos bradam gastos sensacionalistas com a educação, institutos apontam que apenas 8% dos brasileiros entre 15 e 64 anos de idade são capazes de se expressar por escrito, opinar, argumentar, ler gráficos e tabelas. Daí, vale que para essa maioria, a imagem ou o vídeo que muitas vezes vem acoplado ao texto passa ao largo do que jaz escrito, revelando-se uma crítica inócua.
Uma vez que o objetivo é provocar a desinformação e solapar a credibilidade de notícias pretensamente objetivas, cabe ao leitor agarrar-se àquela que lhe pareça mais fidedigna, já que nada de braçadas em um mar de mentiras. Mas nada disso é novo: há muito, ao escrever Anekdota, Procópio arruinou a reputação do Imperador Justiniano; Maria Antonieta foi outra que passou pelo crivo da imprensa clandestina pré-Revolução, que produzia notícias falsas e sensacionalistas às desbragadas.
Para terminar a prosa, leitor, só molequei no título por brincadeira - e nem precisei fazer como aquele jornal a serviço do Brasil que, para tentar elevar garatujas em paredes à categoria de Basquiat, precisou de um videozinho e fotos de pichação em estilo modern art para falar a mesmíssima coisa que falei aqui. E God Save the Queen.

 Publicado originalmente em http://z1portal.com.br/category/miscellanea/

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