Londres
já não é mais a mesma. Nesta manhã, a comoção tomou conta dos ingleses ao
saberem que Elizabeth II falecera no Royal London Hospital. À espera de um primeiro
boletim médico que esclareça a morte da monarca, jornalistas do mundo todo se
concentram defronte ao hospital. Contudo, comenta-se que a rainha teria vindo a
óbito após ter comido um priániki de chocolate, que lhe fora oferecido por Alexandr Yakovenko, embaixador russo em Londres. Fontes
não oficiais informam sobre intensa movimentação na Scotland Yard; a Royal Air
Force, segundo jornalistas do The
Guardian, movimenta-se em direção ao Kensington Palace Gardens, sede da embaixada
russa. Moscou, até agora, é de um silêncio sepulcral.
Haja
vista esta coluna tratar da semana em curso - e dada a relevância do assunto -,
desculpo-me desde já, caro leitor, por interrompê-lo, mas, sinto-me obrigado a perambular
entre os foliões antes de voltar à fria Londres.
Antes
que soubesse da morte Rainha, à espera do carro das ideias, corri os olhos
pelas diferentes notícias. O que vi confirma a lógica de que padecemos todos de
alguma coerência. Foliões travestidos de mulher agridem casal gay em beijo caloroso
na orla de Florianópolis; militantes da causa animal desfilam enfeitados com
penas de pavão (a escola campeã de São Paulo gastou meio milhão de reais só em
penas da malfadada ave, afirma a imprensa); apoiadas em carros estacionados nos
becos de Ouro Preto, feministas se deixam fotografar em momento de luxúria com
rapazes ‘bombados’; outros, que bradam aos quatro cantos o emblema da
apropriação cultural, acabam-se no Carnaval, esquecendo-se de que ele nasceu no
covil de lobos brancos de olhos claros e com os pés bem fincados nas Lupercálias
e nas festas dionisíacas, e così via...
De qualquer modo, como o ano só começa agora, desejo-lhe um Feliz Ano Novo!
É
provável que você tenha vindo até esta página em razão do título. Felizmente a
simpática Rainha continua lá, firme como uma rocha. Para encerrar algumas
ideias desenvolvidas em textos anteriores (Fatos,
opiniões e pós-verdade e Imprensa
folhetinesca), decidi partilhar do mesmo modus operandi da imprensa atual, qual seja, lançar mão de um
título sensacionalista a fim de arrastar o pobre leitor até suas páginas.
Depois
de quase uma semana em que meus ouvidos foram postos à prova sob intenso bum bum paticumbum prugurundum, didático,
comento como jornais e sites de
notícia criam notícias falsas à cata de leitores.
Títulos
sensacionalistas pululam nas redes sociais e até mesmo nos grandes jornais - a
dita imprensa tradicional -, aquela que se coloca a serviço do Brasil, ou vem a
cavalo, ou vê o que vê no imperativo, ou nomeia-se carta.
Pois
bem leitor, você já deve ter notado que seu texto é incessantemente
interrompido por propagandas; para dizer a verdade, elas se intrometem por
todos os lados, apertam-no, fazem dele uma coluna estreita em meio a carros,
modelos, banners de imobiliárias e
lojas, anúncios de cartão de crédito, fotos paradisíacas de agências de viagem,
etc. Tudo isso não está lá à toa. A cada vez que você se distrai e clica em um
desses atrativos, esquecendo-se do texto, o site
hospedeiro lucra um pouquinho. Eis o lema: clique é dinheiro.
Uma
vez que a maioria dos leitores não sabe distinguir fato de boato, a mídia e as
redes sociais navegam de vento em popa e a verdade, se antes já mostrava ter
uma coluna bastante flexível, hoje, é relativizada a ponto de a ambiguidade surgir
como pré-requisito, pois é instrumento de fidelização do público. Em geral,
embaralha-se verdade e mentira. Desta feita, a militância, a intolerância, o
ódio ou mesmo a simples curiosidade, encarregam-se de retroalimentar as
notícias divulgadas por meio de infinitos compartilhamentos (espero que você
faça o mesmo com meu post).
Para
o sites e portais eletrônicos - o
mesmo aplica-se à imprensa escrita -, pouco importa o estrago provocado pela notícia.
Quando muito o ofendido entra com um processo, o juiz obriga a retirada da
notícia e, vez ou outra, à cata do vil metal, um processo por dano moral
continua; mas o link já foi
disseminado, copiado, colado, gravado na memória de milhões de almas que o
reproduzem ad infinitum. O fato é que
se lucra com a notícia e quanto maior a audiência, mais se ganha com
publicidade.
A
maioria dessas notícias são publicadas em sites
sensacionalistas registrados fora do país; não se publicam o expediente,
endereço ou telefone para contato e sequer os autores dos textos são
identificados - primeira pista para que você desconfie da veracidade do que está
lendo.
Sob
a bitola de “tudo é business, tudo é
dinheiro”, a responsabilidade de saber o que é e o que não é fica a cargo do
leitor, de modo que, relativizada, a verdade passa a ser uma questão de ponto
de vista, uma pós-verdade, cada um acredita no que acha que deve acreditar,
ainda que o fato esteja lá, diante dos olhos, e/ou posteriormente apareçam os
desmentidos.
Os
descalabros na política tem sido uma inesgotável fonte de criação de notícias
sensacionalistas e, como não poderia deixar de ser, aparecem os especialistas.
Estes, dividem-se ao sabor dos diferentes pontos de vista, uma vez que muitos
deles também fazem as vezes de Teseu alimentando o Minotauro das fake news. Alguns clamam por uma regulação
global, uma alfabetização midiática; outros proclamam uma autocorreção da
mentira à medida que o tempo passa, acreditando que assim tudo se esclarece;
outros ainda minimizam o assunto, registrando que ao compartilhar uma notícia falsa,
que nos choca ética ou moralmente, nos sentimos, de fato, participativos.
O
fato é que em tempos em que governos bradam gastos sensacionalistas com a
educação, institutos apontam que apenas 8% dos brasileiros entre 15 e 64 anos
de idade são capazes de se expressar por escrito, opinar, argumentar, ler
gráficos e tabelas. Daí, vale que para essa maioria, a imagem ou o vídeo que
muitas vezes vem acoplado ao texto passa ao largo do que jaz escrito, revelando-se
uma crítica inócua.
Uma
vez que o objetivo é provocar a desinformação e solapar a credibilidade de
notícias pretensamente objetivas, cabe ao leitor agarrar-se àquela que lhe
pareça mais fidedigna, já que nada de braçadas em um mar de mentiras. Mas nada disso
é novo: há muito, ao escrever Anekdota, Procópio arruinou a reputação do
Imperador Justiniano; Maria Antonieta foi outra que passou pelo crivo da
imprensa clandestina pré-Revolução, que produzia notícias falsas e sensacionalistas
às desbragadas.
Para
terminar a prosa, leitor, só molequei no título por brincadeira - e nem
precisei fazer como aquele jornal a serviço do Brasil que, para tentar elevar
garatujas em paredes à categoria de Basquiat, precisou de um videozinho e fotos
de pichação em estilo modern art para
falar a mesmíssima coisa que falei aqui. E God
Save the Queen.
Publicado originalmente em http://z1portal.com.br/category/miscellanea/
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