Que
o mundo anda de cabeça para baixo, de ponta-cabeça ou de pernas para o ar, isso
todo mundo sabe! O que incomoda é o entorpecimento geral! A semana foi de
comemoração pelo dia do trabalho, contudo, poucos se deram conta de uma notícia
sorrateira que, arrisco, só foi publicada para, junto dela, o jornal vender sua
imparcialidade obscura.
Trata-se
de o governo usar o dinheiro do Fundo de Garantia (R$ 1,16 bilhão) para cobrir
calotes dos governos da Venezuela e do Moçambique junto ao BNDS. É claro, os
poucos que a leram e comentaram, resolveram apanhar o terço e impor suas
ladainhas e credos ideológicos, uns acusando os outros e todos se
esquecendo de que mais uma vez o trabalhador paga pela estupidez dos
“salvadores da pátria”.
O
analfabetismo funcional que muitos acreditam frequentar paradas de ônibus, chão
de fábrica e bares da esquina, creiam-me, abunda nas universidades a ponto de
intelectuais carimbarem o adorado vil metal pleiteando a liberdade do grande
irmão. O fato é que nas comemorações do dia do trabalho, segundo a imprensa,
não havia trabalhadores, mas povo marcado, cuja vida de gado, mais uma vez,
sofre uma rasteira, seja com as estripulias político-partidárias de lideranças
cujos nomes se ajustam cada vez mais ao noticiário policial, seja porque só
estão ali em troca de uns poucos caraminguás.
De
fato, a data perdeu todo o seu simbolismo; o trabalho perdeu sua centralidade e
os sindicatos só sobrevivem porque surrupiam parte do mísero salário do
trabalhador. A tecnologia e a globalização contribuíram para isso? Sim, mas a
falta de liderança e a presença de marginais nos sindicatos, parece-me, tem
sido a pá de cal que contribui para que os trabalhadores vejam quotidianamente
seus direitos subtraídos. A esquerda intelectual, que ama o discurso do
desconstrucionismo não se deu conta da desconstrução que ora ocorre na classe
operária.
Mas
deixemos a política torva e sanhuda para lá, afinal, a festa do trabalho foi
convertida em shows musicais e sorteios de carros, na tentativa de atrair a
massa para mais um evento em que o espaço de reivindicação do trabalhador
tornou-se pura e simplesmente palanque eleitoral.
O
fato é que em meio a tanta idiotice surgiu uma publicação deliciosa lá no Hexagone. Trata-se de La Nouvelle Quinzaine Littéraire, que
dedica todo um número ao “O que é a idiotice?” Não vejo a hora de pôr os olhos
em tais artigos, tal a onda que nos sufoca; isso tudo, claro, na
tentativa de submergir ao caos.
Ao
escrever o parágrafo acima me ocorreu a ideia de que a todo momento nos
autocensuramos. Os exemplos me vêm ao espírito, a coceira toma conta das mãos,
pelinhos dos metacarpos e falanges eriçam, tal a vontade de rechear o texto com
nomes e situações, mas, em nome do politicamente correto e na tentativa de
preservar algumas amizades, calo-me.
Mas
o idiotas são valorosos! Veja-se, por exemplo, a importância dada por Eco, meu
padre-santo, à idiotice e à burrice. Eco, por exemplo, empreendeu esforços na
tentativa de reunir testemunhos bombásticos sobre a paixão pelo equívoco,
afinal, afirmava ele, muito do que sabemos hoje é graças a esse bando de idiotas que
não se constrangeu em transformar suas ideias em tinta e deixá-las escorrer
sobre o papel.
Sob
autocensura, paro por aqui, afinal, até mesmo nas universidades, onde deveria
imperar o pluralismo de ideias, caso algo contrário seja dito ao grupo que se intitula
dono da verdade, corre-se o risco de ter à frente uma centena de estudantes
chamando-o de fascista aos gritos de “1, 2, 3, 4, 5 mil, lugar de fascista é na
ponta do fuzil!”
Et voilà, la nave va!
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