Revista Philomatica

domingo, 6 de maio de 2018

E la nave va!


Que o mundo anda de cabeça para baixo, de ponta-cabeça ou de pernas para o ar, isso todo mundo sabe! O que incomoda é o entorpecimento geral! A semana foi de comemoração pelo dia do trabalho, contudo, poucos se deram conta de uma notícia sorrateira que, arrisco, só foi publicada para, junto dela, o jornal vender sua imparcialidade obscura.
Trata-se de o governo usar o dinheiro do Fundo de Garantia (R$ 1,16 bilhão) para cobrir calotes dos governos da Venezuela e do Moçambique junto ao BNDS. É claro, os poucos que a leram e comentaram, resolveram apanhar o terço e impor suas ladainhas e credos ideológicos, uns acusando os outros e todos se esquecendo de que mais uma vez o trabalhador paga pela estupidez dos “salvadores da pátria”.
O analfabetismo funcional que muitos acreditam frequentar paradas de ônibus, chão de fábrica e bares da esquina, creiam-me, abunda nas universidades a ponto de intelectuais carimbarem o adorado vil metal pleiteando a liberdade do grande irmão. O fato é que nas comemorações do dia do trabalho, segundo a imprensa, não havia trabalhadores, mas povo marcado, cuja vida de gado, mais uma vez, sofre uma rasteira, seja com as estripulias político-partidárias de lideranças cujos nomes se ajustam cada vez mais ao noticiário policial, seja porque só estão ali em troca de uns poucos caraminguás.
De fato, a data perdeu todo o seu simbolismo; o trabalho perdeu sua centralidade e os sindicatos só sobrevivem porque surrupiam parte do mísero salário do trabalhador. A tecnologia e a globalização contribuíram para isso? Sim, mas a falta de liderança e a presença de marginais nos sindicatos, parece-me, tem sido a pá de cal que contribui para que os trabalhadores vejam quotidianamente seus direitos subtraídos. A esquerda intelectual, que ama o discurso do desconstrucionismo não se deu conta da desconstrução que ora ocorre na classe operária.
Mas deixemos a política torva e sanhuda para lá, afinal, a festa do trabalho foi convertida em shows musicais e sorteios de carros, na tentativa de atrair a massa para mais um evento em que o espaço de reivindicação do trabalhador tornou-se pura e simplesmente palanque eleitoral.
O fato é que em meio a tanta idiotice surgiu uma publicação deliciosa lá no Hexagone. Trata-se de La Nouvelle Quinzaine Littéraire, que dedica todo um número ao “O que é a idiotice?” Não vejo a hora de pôr os olhos em tais artigos, tal a onda que nos sufoca; isso tudo, claro, na tentativa de submergir ao caos.
Ao escrever o parágrafo acima me ocorreu a ideia de que a todo momento nos autocensuramos. Os exemplos me vêm ao espírito, a coceira toma conta das mãos, pelinhos dos metacarpos e falanges eriçam, tal a vontade de rechear o texto com nomes e situações, mas, em nome do politicamente correto e na tentativa de preservar algumas amizades, calo-me.
Mas o idiotas são valorosos! Veja-se, por exemplo, a importância dada por Eco, meu padre-santo, à idiotice e à burrice. Eco, por exemplo, empreendeu esforços na tentativa de reunir testemunhos bombásticos sobre a paixão pelo equívoco, afinal, afirmava ele, muito do que sabemos hoje é graças a esse bando de idiotas que não se constrangeu em transformar suas ideias em tinta e deixá-las escorrer sobre o papel.
Sob autocensura, paro por aqui, afinal, até mesmo nas universidades, onde deveria imperar o pluralismo de ideias, caso algo contrário seja dito ao grupo que se intitula dono da verdade, corre-se o risco de ter à frente uma centena de estudantes chamando-o de fascista aos gritos de “1, 2, 3, 4, 5 mil, lugar de fascista é na ponta do fuzil!”
Et voilà, la nave va!

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