La fantasia è un posto dove ci
piove dentro. (A fantasia é um lugar em que se
chove dentro.) O dito de Italo Calvino, como tantos outros, na maioria das
vezes não vale por si, mas por aquilo que traz nas entrelinhas. Justaposto à
ficção, no entanto, já na superfície evidencia a riqueza de expressão e a
opulência de ideias que orbitam o mundo ficcional. Falemos, por exemplo, de
autores reconhecidamente férteis: Alexandre Dumas, que não fica muito atrás de
Balzac, exibe criatividade admirável. Seu romance, O Colar da Rainha, publicado em folhetim entre os anos de 1849 e
1850, e livremente inspirado no Affaire
du collier de la reine, escândalo que frequentou o cenário político e judiciário
da corte de Luís XVI na década de 1780, parece-me, dada a crônica da semana,
história atual e nada ficcional.
E,
como a literatura fala da literatura, é bem provável que Raul Pompéia tenha se
inspirado em Dumas ao escrever As Jóias
da Coroa, historieta que narra as aventuras do malandro Manuel Paiva que
tenta roubar as joias pertencentes ao Duque de Bragança. Mas deixemos isto de
lado! Adentremos ao real imediato: a não ser algumas pequenas coincidências, as
joias e a malsucedida trapalhada, a malograda viagem do vice presidente da
Guiné Equatorial ao Brasil, mostrou-se um fiasco e alimentou a crônica da
semana, concorrendo com a ficção.
A
Guiné Equatorial é um daqueles países da África que, criado à canetada pelas
potências europeias, desenha-se como um retângulo incomodado em um de seus
lados pelo Atlântico. O ponto extremo da região de Bata, no Litoral,
assemelha-se a um nariz adunco e, considerando-se a fábula de Pinóquio, remete
às lorotas contadas por Teodoro Obiang Mang, o vice-presidente e sua comitiva.
Explico-me
ao leitor que não acompanhou as peripécias deste honrado senhor: Obiang Mang e sua
comitiva de mais dez pessoas desembarcou no aeroporto de Viracopos, em
Campinas, trazendo duas malas que continham nada mais nada menos que US$ 16
milhões em dólares e joias não declarados à Receita Federal. A saída para
explicar tal fortuna foi a alegação de ter vindo ao país para uma consulta médica.
Os incautos – e neste período eleitoral os temos em demasia – acreditaram que
tal monta destinava-se ao pagamento do médico e exames.
Outros,
porém – e dentre eles, este que vos fala -, desconfiaram da figura sombria do
vice-presidente e de seus propósitos no Brasil. Obiang Mang, filho do ditador
da Guiné Equatorial, responde a processo na França, país que o condenou a três
anos de prisão por ter acumulado uma fortuna considerável, segundo os
franceses, construída de modo fraudulento.
Obiang
Mang, que briga judicialmente com os franceses para escapar do xilindró, talvez
tenha se dado conta da seriedade jurídica dos europeus e resolveu ciscar em
outros terreiros. Em 2015, juntou-se ao tráfico e resolveu financiar o carnaval
carioca, em especial a Beijar Flor, escola de samba que homenageou seu país.
Também
é sabido que governos recentes do Brasil sorriram às desbragadas para África,
sob a alegação multiculturalista e anti-imperialista. Ideologias à parte, sinto
o cheiro podre da corrupção que irmana brasileiros e africanos. Afora isto,
leitor, vale refletir sobre as condições de vida do cidadão da Guiné
Equatorial, que vive com menos de um dólar por dia, em miséria extrema.
A
desconfiança, contudo, não deve se ater a Guiné. Há uma questão que a grande
imprensa eximiu-se de fazer: em período eleitoral, a quem se destinavam as
joias da Guiné? Financiariam quem, uma vez que ninguém conseguiu seguir o
rastro do tão eficiente médico que submeteria o ditador a tratamento? Quais
eram seus contatos no Brasil? A polícia, se quiser, descobre tudo, mas é preciso vontade e, convenhamos, tudo também depende das forças em ação, dos interesses,
de modo que la corruzione è anche un
posto dove ci piove dentro.
Realmente esse fato nos leva a crer que o partido que tanto se preocupou com os povos irmãos africanos teriam sua recompensa no financiamento da campanha eleitoral, mas se f...kkkkkk
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