Os jornalistas, e sobretudo os cronistas, são os
maiores mágicos do meu conhecimento. Iludem o público de maneira singular e
impingem-lhes, pelo valor de uma assinatura, a mesma novidade que recebem
grátis das mãos do respeitável público.”
A
epígrafe, leitor, subtraí-a de Machado de Assis, cronista por excelência, que
frequentou a redação dos jornais por mais de quarenta anos. Nela, Machado
refere-se à cata de notícias a que todo jornalista, quotidianamente, empenha-se
na tentativa de produzir seu grande furo de reportagem. Mas dela também podemos
subtrair algo menos romântico - digo romântico porque me vem ao espírito o
grande escritor perambulando pela Rua do Ouvidor em conversas com homens do
poder, escritores e toda a gente de sua época, a colher notícias para, depois,
republicá-las, recheadas de imaginação e pitadas de filosofia, induzindo o
leitor àquilo que degustara aos escrevinhá-las, qual seja, a dúvida, ao provar
da fruta dentro da casca. Esta, é preciso que se diga, vinha polida com um
verniz literário que, mesmo hoje, ido mais de um século, ainda nos dá água na
boca.
Bebido
o leite romântico, o que sobra é ácido e também amargo. A facilidade com que
jornalísticas (e jornais), a serviços de ideologias e incorporações, ludibriam
todos os dias leitores desavisados, têm feito da leitura de jornais uma tarefa
árdua e cansativa, ato que exige até mesmo do leitor mais experimentado um
exercício ad eternum de análise do
discurso. Isto, é claro, não deve ser deixado de lado – nunca, mas, tem sido
difícil lidar com a malandragem, vá lá, intelectual.
O
curioso é que a imprensa, que produz notícias falsas diariamente, induzindo e
cooptando leitores aqui e ali, semeia reflexões sobre o assunto. O Estadão publicou recentemente um artigo
em que afirma estar os usuários da rede mais treinados a identificar notícias
falsas. Não nego, assim como não nego que a imprensa tem-se esmerado em burilar
seus textos à procura de uma tournure em
que o gato é vendido por lebre com ressaibos de alta reflexão.
Ocorre
que o dito artigo sustenta o argumento de que a atenção do leitor para
elementos como o otimismo, promessas grandiosas, falta de referências, erros
ortográficos etc, tem sido algo eficaz na identificação de uma notícia falsa,
provocando sua desconfiança. Vá lá, isto conta, mas é muito pouco! Bons
falseadores de notícias como a Globo, a Folha
de São Paulo, a UOL e inúmeros outros órgãos da imprensa tradicional fazem
isso diariamente e recheiam seus textos com referências, otimismo – e/ou
pessimismo, uma vez que tudo depende do lado em que a banca toca. Os erros
ortográficos, bem, estes deixaram de ser gralhas há muito tempo, tornaram-se
multiculturais, arroz de festa!
A
título de exemplo, sugiro que vejam um vídeo publicado no youtube em que um Sr, chamado Luciano Ayan, durante uma entrevista,
mostra ao jornalista como a empresa que ele representa produz notícias falsas.
A ironia, no caso, reside no fato de que o jornalista produzia uma matéria
sobre as fake news.
Voltemos
à reportagem do Estadão que destaca o
fato de o leitor e/ou usuário de aplicativos recusar-se a compartilhar uma
notícia que desconfia seja falsa. Ora, o grande jornal atem-se a toda essa
farelagem ora simplória ora maldosa que é repassada via whatsapp, quando o grosso da maledicência é produzida pela imprensa
(da qual faz parte) que recebe verbas governamentais, milita por interesses
próprios, elege deputados, senadores e presidentes, enfim, que manipula e
aliena!
Discute-se
ainda que a disseminação de notícias falsas depende mais da sociedade que de
instrumentos jurídicos ou ações de repressão. Isto é um fato, j’suis d’accord, mas, vejam, não falo
daquele blogueiro que disse o que todo mundo sabe sobre certo candidato à
presidência e que, sob a batuta da lei, penalizado, terá seus canais de
comunicação retirados da rede, resultado de uma ação na qual candidato,
advogado e juiz corroboram o dito de que fazemos parte de uma sociedade
essencialmente hipócrita, já que preferimos a mentira à acidez da verdade.
Falo
sim dos estratagemas e armadilhas usados pela grande imprensa, soturna e
sorrateira, que, em conluio com o poder, induz as pessoas a consumirem e a
acreditarem em algo que visa aos seus próprios interesses, ao imobilismo da
sociedade e sustenta um sistema em que a maioria dos cidadãos são mantidos reféns
de condições miseráveis intelectual e economicamente, tudo em proveito de uma
casta de políticos, juristas e poderosos que se julga superior aos demais.
Dessa corja toda, a mais nociva talvez seja a imprensa que “ilude o público de
maneira singular”!
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