Há
exatos sete dias Brumadinho começou a viver sua semana mais trágica com o
rompimento da barragem da Mina do Feijão. Isso não é novidade para ninguém,
afinal, o povo se indignou e se indigna – mas só o povo. Centenas de pessoas
mortas e desaparecidas. Não só a vida humana se perdeu na lama, mas também a
vida animal. Dos animais que sobreviveram presos à terra molhada, pastosa e
envenenada, poderíamos dizer que tiveram melhor sorte, porém, tudo foi momentâneo,
a mão humana amiga interveio e ceifou-lhes a vida com alguns balaços disparados
por fuzis da polícia, dando fim a sua já breve existência. Na mata atlântica,
nos rios, o estragos é incomensurável. Eis a tragédia!
Agora
o teatro: a tragédia acima, escrita pela corrupção e inépcia do poder público, a
ganância do poder privado, e a indiferença das agências fiscalizadoras e do
poder judiciário, hoje serve de pasto para grupelhos levantarem suas bandeiras
e se apropriarem da dor e do sofrimento de estratos da população, usados como
manobra na vergonhosa guerrinha político-ideológica.
Hoje,
um site de notícias trouxe a seguinte
manchete: “‘Homem branco fez terra vomitar’, diz líder de aldeia em
Brumadinho”. Ao ler, transportei-me para aqueles filmes do velho oeste, tamanha
a naturalidade expressa pela reportagem. Talvez, por isso, misturei sioux com tupinambá e ouvi um “mim não
quer colar/ índio quer apito”. A dita reportagem diz que a aldeia indígena Naô
Xohã estabeleceu-se às margens do Rio Paraopeba há pouco menos de dois anos.
Questiono as profundidades das raízes que os cinquenta membros das etnias
pataxó e pataxó hã-hã-hãe criaram nas terras recém ocupadas, que sequer são em
Brumadinho, mas em São Joaquim de Bicas.
Se
a reportagem pretendia mostrar a tragédia dos pataxós, o pouco ali escrito não
chega a drama, é um arremedo de nada, mostra-se um teatro montado ao gosto do
jornalista, que tem como coadjuvante a esposa do Hayô (o líder do grupo, que já
descaracterizado, não se vê como cacique), a sra. Célia Angohoró. Sem qualquer
ironia, ouço o sonoro Angohoró e processo o irresistível borogodó, algo que a
ativista (assim a nomeia o jornalista) deve ter e mostrar, afinal, nessas
ocasiões, para convencer, “líder” e “ativista” surgem paramentados para sessões
fotográficas.
Mas
a culpa não é do índio, o índio é a vítima. O índio precisa de respeito, não
“jornalistas” que o façam objeto de suas causas e reportagens, esta, aliás,
bastante infausta. Por isso, em defesa do índio e, quiçá, da conscientização do
homem branco, ainda perdura como documento insigne a carta do cacique de
Seattle, escrita em 1859 e endereçada ao presidente dos Estados Unidos, Francis
Pearce, cuja frase “O que ocorrer com a terra recaíra sobre os filhos da terra. O
homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o
que fizer ao tecido, fará a si mesmo.”
Imagem: Adriano Machado/Reuters
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