Revista Philomatica

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O padre Fábio de Melo e a ciranda das vaidades


Roda, roda, roda
Pé, pé, pé
Roda, roda, roda,

Caranguejo peixe é


O padre, cuja retórica era arrimo para uma multidão de internautas desesperançados, resolveu tirar a trave dos olhos de seus fiéis seguidores, mostrar-lhes que a verdade liberta, e não deu outra, rodou! Na fogueira das vaidades, a hipocrisia que habita as almas girou, girou e padre rodou, rodou. Condenado sumariamente por um aluvião de hipócritas, não teve como fincar o pé, desistiu! Abandonou o Twitter. É possível que a roda viva, nas voltas que o mundo dá, o traga de volta, mas, no momento, para o padre, tudo estancou de repente.

O padre Fábio de Melo, aventurou-se emitir sua opinião a respeito das beneméritas saidinhas com as quais são premiados pela justiça brasileira os filicidas e parricidas. Como é senso comum que nem sempre a justiça se ocupa da justiça, acredito que o padre tenha se sentido à vontade ao se expressar via Twitter e deu no que deu. Internautas moralmente corretos, éticos, virtuosos, honestos e escrupulosos apontaram o dedo para o padre, condenando-o por sua falta de cristandade, afinal, se Jesus perdoou um ladrão segundos antes de seu último suspiro, por que o padre faria diferente? Com mil raios! O padre não é filho de Deus? Por que não perdoar um pai que espancou e depois atirou a filha de cinco anos do sexto andar do prédio em que morava? A menina, claro, índole difícil, não devia ser alguém com quem fosse fácil conviver, e o pai, pobre pai, tomado pela pressão do dia a dia, certamente agiu em legítima defesa. O resto, bem, o resto foi tudo intriga e armação da promotoria, razão pela qual continua, injustamente encarcerado.

Vale lembrar que do episódio até nossos dias rodaram-se apenas 11 anos, mas a memória, fraca, fez com que a turba se esquecesse de que, à época, tentara ela mesma fazer “justiça” com suas próprias mãos, ignorando os preceitos que agora cobra do padre.  Este, por sua vez, afirmou: “Este lugar [a internet, o Twitter] deixou de ser saudável pra mim”; isto, depois de expor sua opinião e ter sido chamado de ‘justiceiro, canalha, desinformado, desonesto’ e otras cositas impublicáveis.

O padre, conhecido por suas tiradas bem humoradas não se deu conta de que muitos dos seus sete milhões de seguidores, obtusos, só enxergam aquilo que querem enxergar. É perda de tempo mostrar, provar, argumentar... Parte desses fiéis - ignorou o padre - só é ética se tiver a certeza de que uma câmera paira sobre suas cabeças como um onipresente anjo alado, caso contrário, subtrai, surripia, rouba e trai, mostrando-se moralmente correta e altruísta.

Ora, é sabido que as redes sociais é o espaço do fingido, do hipócrita, do mentiroso, do desleal, do enganoso, do errado, do ilegal, do falso, do fraudulento, do pérfido, do traiçoeiro, do fariseu, enfim, é por esta fogueira de vaidades que o padre se deixou levar ao imaginar uma Ágora a sua conta do Twitter, lugar em que pudesse dialogar com as diferenças e estabelecer alguma dialética com certa natureza de seguidores que só povoa as redes sociais porque divide as características que mencionei acima. Estes, hipócritas, travestem-se de juízes dignos e impolutos, pessoas moralmente íntegras, e, irrepreensíveis, “enfiam suas violas no saco” ou “enrolaram o rabo e sentam em cima” - como dizia minha sagrada nonna - sempre que algo é do seu interesse. 
O padre, não se dando conta disso, reuniu-se com improváveis, achou que tudo fosse uma brincadeira de meninos, esquecendo de que mesmo a cantiga, serve-nos de aviso, afinal, caranguejo só é peixe na enchente da maré. Trocando em miúdos, só quando você fala aquilo que ele quer ouvir.




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