
Há
quem diga que coincidências não acontecem - e eu acredito - mas há momentos em
que o universo parecer conspirar e aí você fica sem saber o que dizer, algo
como a dinâmica da natureza explicada pela ciência, que os metafísicos insistem
em atribuir ao criacionismo. Em busca do carro das ideias, dei de olhos com
notícias sobre o lançamento do livro de Geyse Arruda. Sim, aquela moça que
esqueceu a calcinha na gaveta e foi ovacionada ou assediada pelos colegas
estudantes em uma universidade na cidade de São Paulo.
Há
tempos escrevi sobre uma autora que passou dias trancada em uma jaula
depositada em uma livraria, na tentativa de chamar a atenção do público e da
imprensa para o livro que acabara de publicar. Não sei se a peça de marketing surtiu efeito, haja vista nem
me lembrar do nome da literata. No caso de Geyse, o marketing é mais agressivo. O
Prazer da vingança, da autora, é anunciado não com a foto de capa, mas com
a foto da bunda da “escritora”. As aspas indicam alguma ironia, mas não é culpa
minha, afinal, em meio aos contos eróticos, o leitor leva de brinde muitas
fotos da bunda e peitos da “intelectual”.
No
Instagram sim há a foto da capa e
para ser coerente nela também Geyse exibe seu avantajado derrière. Como disse, o marketing
é ousado, de modo que a autora alerta o leitor: “Vai começar a putaria boa...Vocês pediram e eu
vou liberar meus contos eróticos: Serão mais de 100 páginas de histórias com
fotos exclusivas feitas por mim em um Motel Suite Sadô, para ilustrar cada
conto. Teremos spoiler: contos de
masturbação, sexo virtual, sexo lésbico, suruba, inversão, shibari, Cuckold “Corno
Manso” e muitoooo mais...”.
Haja
vista desconhecer o que seja “shibari” e “Cuckhold Corno Manso”, penso que a
obra não é de se jogar fora e traz algo didático. Instrutiva ou não, Geyse
conseguiu o sucesso que muitos outros autores jamais conseguiram ou
conseguirão, isto é, que a grande imprensa divulgue, em diferentes espaços, o seu
trabalho. Dizer o quê? Azar o deles e delas que talvez tenham mais cérebro do que bunda!
O
sucesso deve ser retumbante, dado os comentários dos internautas. Vá lá, seguem
alguns: “Vai fluir”, “Sexy”, “Ancioso” (sic), “Aí sim enh... adoro vc”, “Temas interessantes e eu
já escrevi algo assim também...”, “Só compro se tiver os contos eróticos da faculdade.” – e por aí vai. Há
também os solidários, que sugerem títulos, como este internauta: “Um título
interessante seria "50 tons de rosa". Nota-se pelos pitacos um
leitorado contumaz, quiçá leitores semióticos.
Em resposta à ala conservadora, há internautas que
se revoltam contra o país e sua hipocrisia: “Brasil, o país mais careta,
arcaico, conservador hipócrita que pode existir. Deve ser por influência da
Igreja Católica, apesar de achar que o Papa atual é menos conservador que nossa
sociedade hipócrita. Sociedade que condena tudo em público e faz mais orgias do
que os liberais na sua mente ou até nas escondidas. Parabéns Geisy, apesar
desses que tem (sic) medo de sexo, eles serão os principais leitores de sua obra de arte. Continuem no eterno
papai-mamãe, é bom também.” Está valendo! (Ah! O destaque ao “obra de arte” é
de minha autoria.)
Como tratei das coincidências, volto a uma obra sem
surubas, shitakis, sushis ou sashimis: Boêmios,
de Dan Franck, em que o autor olha para a Paris do início do século XX revelando
o quotidiano de figuras como Picasso, Alfred Jarry, Modigliani, Braque,
Matisse, Breton, Max Jacob, Apollinaire, Aragon e tantos outros que não
mostraram a bunda, mas, extravagantes, “organizavam festas inusitadas, puxavam
o revólver e provocavam o burguês de mil maneiras”.
A quarta capa do livro de Franck traz o seguinte
entrecho: “A obra está além dos problemas da ordem e dos costumes. Antes de
qualquer outra coisa, o artista produz obras de arte. Picasso pode se vestir
como quiser. Alfred Jarry pode puxar a arma tantas vezes quanto desejar (e ele
o fez), Breton e Aragon podem ameaçar aqueles que desprezam, todas essas
bravatas pouco significam se comparadas aos caminhos que eles traçaram. A arte
moderna nasceu das mãos desses sublimes provocadores. De 1900 a 1930, eles não
se contentaram apenas em levar essa vida de artistas que os tornou detestáveis
para alguns e que muitos outros invejaram: acima de tudo, eles inventaram a
linguagem do século.”
Eis porque não se deve julgar, odiar ou invejar Geyse
ou Anitta. Nesse começo de século XXI elas estão a inventar uma nova linguagem
em que a bunda fala, escreve e canta, coisa que nem Jarry, Picasso ou
Modiagliani conseguiram. E isso, leitor, convenhamos, não é pouca coisa!
Publicado originalmente em https://www.z1portal.com.br/sexo-lesbico-suruba-e-diversao-a-estreia-de-geyse-arruda-na-literatura/
Nenhum comentário:
Postar um comentário