Mais uma vez a canalha
política confirmou o clichê de que o Brasil não é para principiantes. Olhe para
as leis, leitor, e veja como essas senhoras tornaram-se dissimuladas e
traiçoeiras. Foi-se o tempo em que a elas nos dirigíamos respeitosamente e
bradávamos hora ou outra dura lex sed lex.
Volúveis, fanfarronas, hoje elas riem nas nossas caras e estão tão maleáveis
quanto as verdades - ou pós-verdades - na boca suja da politicalha. A situação
tem se tornado indigesta a ponto de até mesmo as generalidades na imprensa
adentrarem a folha política - ou de polícia -, uma vez que celebridades,
tomando-se por formadores de opinião, decidiram também vender suas
pseudo-ideias.
Parece-me que estamos a
cada dia menos humanos. Não por outra razão, fui buscar a história de uma
brasileira nas páginas francesas do Le
Figaro. Trata-se de Marina Amaral, artista aqui da terrinha, cuja ocupação
é passar horas e horas a fio trabalhando em fotos monocromáticas. Tudo o que
faz, afirma Amaral, é tentar humanizar documentos, o que não deixa de ser
ironia, comparando-se sua singeleza artística à truculência política.
Marina Amaral foi notícia
aqui só porque, recentemente, foi notícia lá fora. Entrevo aí uma nesga do nosso
velho complexo de vira-lata. Se o gringo diz ser bom, então tá, reconhecemos
que é de fato bom. O lixo, a imprensa teima em nos oferecer diariamente, como o
café, cujos melhores grãos são exportados e a nós, oferecem-nos palha e casca
torradas, talvez pensando que não sejamos capazes de digerir pérolas, como as
produzidas por Marina Amaral.
A artista trabalha em
fotos pungentes de forma meticulosa e o caso de Czeslawa Kwoka foi singular.
Kwoka tinha 14 anos quando, em 12 de março de 1943, sucumbiu no campo de
Auschwitz, logo após ter recebido uma injeção de fenol em seu coração. Pouco
antes, ela havia sido espancada por um Kapo e fotografada sob diferentes
ângulos. Sua história jazia desconhecida do público até 12 de março último,
quando Marina Amaral, tocada pelas imagens da garota ferida, mas que mantém a
cabeça erguida, resolveu colorir suas fotos monocromáticas.
“Eu queria dar a ela uma
chance de contar sua história e dar às pessoas a oportunidade de ver seu rosto
em cores pela primeira vez”, disse a artista. Compartilhada no Twitter pelo memorial
de Auschwitz, na Polônia, no dia do aniversário da morte de Czeslawa Kwoka, as
fotos coloridas imediatamente viralizaram na web. “Recebi mensagens de todo o
mundo, de pessoas totalmente diferentes, que entendiam minhas intenções”, afirmou
Marina.
Aos 25 anos, esta
colorista digital já conquistou um enorme público graças às fotos históricas em
preto e branco às quais adicionou cor. Martin Luther King, Elvis Presley,
Albert Einstein, a Rainha Elizabeth II, todos eles ficaram sob seus dedos de
fada. A jovem brasileira, que já trabalhou em mais de duzentos clichês, afirma desenvolver
uma atividade à qual não estava predestinada, pois estudava relações
internacionais. Seu trabalho de formiguinha adveio depois de descobrir na
internet uma coleção de fotos coloridas da Segunda Guerra Mundial. Marina então
decidiu reproduzir a técnica, meio que intuitivamente e, com o tempo, descobriu
seu próprio jeito de trabalhar.
Quando finalmente
encontra uma foto acessível, “com uma história pungente por trás dela”, Marina inicia
um processo de investigação sobre a origem e a história da foto. Esse trabalho
demanda um tarefa meticulosa, cujo objetivo é fazer com que a imagem permaneça o
mais fiel possível em relação ao slide. Isso pode durar semanas, explica
Marina. “Se, por exemplo, eu tenho uma imagem de um conflito armado, vou
procurar as cores originais dos uniformes, medalhas, botas, veículos, pele,
olhos e cabelos da pessoa ou personagens, quando é possível. Eu também tento
encontrar instantâneos recentes dos locais das fotografias”, detalha Marina.
Todo o trabalho artístico
de Marina faz com que o passado seja redescoberto de forma diferente. Marina
não descobriu a pólvora, diga-se, já que o processo de colorir fotos não é
novo, traços podem ser encontrados já em 1840 nas obras do famoso fotógrafo
suíço Johann Baptist Isenring, contudo, Marina é prata da casa, e só por isso
deve ser incensada, admirada. Infelizmente, o espaço que as redes sociais
concederam a Marina só encontrou correspondente na imprensa francesa, sob a
pena da jornalista Ludivine Trichot.
Para conhecer o trabalho
de Marina acesse:
E se você se apaixonar
pelo trabalho da artista, há o livro The
Colour of time: a new history of the world (1850-1860), de Dan Jones &
Marina Amaral, lançado recentemente pela Hardcover. É só apreciar!
Foto: Czeslawa Kwoka, vítima da barbárie nazista no
campo de Auschwitz, Memorial de Auschwitz/Marina Amaral.
Apesar de ser contra a colorização de fotos preto e branco, admiro o trabalho da Marina. Ela consegue dar alma as fotos, como é o caso da menina polonesa. Seu trabalho deveria ser mais divulgado por aqui. Infelizmente, esse tipo de pessoa nem aparece na midia brasileira, que esta mais interessada em alienar as pessoas, com noticias desses "famosos" dos BBB´s e das novelas. Que país triste!
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