“Onde
nascem os fortes”, título de um folhetim em cartaz, revela-se sintomático se
confrontarmos a ficção à realidade. Questões de verossimilhança à parte - até
mesmo porque sequer conheço o enredo do tal folhetim, portanto, qualquer coisa
que venha a dizer seria pura especulação -, atenho-me ao título, que sugere um grupo
de homens e mulheres perseverantes, resistentes às intempéries, cuja têmpera
vigorosa vai de encontro às vicissitudes da vida.
Vá
lá, por isso que a ficção é inebriante: quem não se lembra se Robinson Crusoé,
que bateu os pés contra os pais, que o queriam advogado, para lançar-se ao mar
em esplêndida aventura? Quem não se lembra de Julien Sorel, de aparência
frágil, traços irregulares e nariz aquilino, que enfrenta toda sorte de
pressões impostas pela sociedade e, malgrado sua origem modesta, revela-se
ambicioso e sedutor, ultrapassando as mais diferentes dificuldades?
É
possível que em um momento ou outro de suas narrativas, Defoe e Stendhal tenham
transferido características de seus contemporâneos às suas personagens. Não
quero dizer com isso que nos séculos XVIII e XIX não tenha havido seres
bastante suscetíveis e fracos. Mas, convenhamos, eram outros tempos, aliás
tempos em que as dificuldades se interpunham com muito mais frequência, não
importa quais fossem as iniciativas a que se propunha o homem.
Mas,
como disse, isso é ficção. Não por outra razão escritores usam de artimanhas
para criar seus heróis, eternizando-os por meio da escrita, ao passo que toda uma
raça de mortais, que vive no anonimato, não se esforça por deixar um vestígio,
uma trilha, uma marca. Falo dos jovens de nossos tempos.
Vivemos
época de muito falatório em que os discursos mais apreciados por essa geração
de fracos são aqueles que reverberam a vitimização. Alguns educadores creditam
o início do chororô atual a uma geração de pais que quiseram poupar seus filhos
das agruras que, no passado, viram-se obrigados a vivenciar. A palavra “não”
sofreu rápido interdito. Jovens, e muitos adultos de nossos dias, foram
poupados de todo o sofrimento e de toda a frustração. Exímios e hábeis em
determinadas atividades, são absolutamente desprovidos de crítica, deixam-se
ser manipulados e sequer dão conta de que estão sendo alienados a cada instante
em que repetem exaustivamente a cartilha deste ou daquele. O emocional desses
jovens é frágil, não têm resistência alguma, sentem-se vítimas do sistema, dos
pais, dos professores e de quem porventura lhes disser um sonoro “não”.
Se
a criação dessa geração de fracos começou no recôndito do lar – que clichê! -,
hoje ela tem continuidade nas escolas e universidades. Os estudantes –
refiro-me quase sempre aos estudantes de humanas, com os quais tenho contato -,
são politicamente atuantes, militantes, conhecem direitos das mais diversas
naturezas, de todas as classes que compõem a comédia humana e versam sobre leis
– nas redes sociais mostram-se juristas especializados em constituição,
criminalística etc e etc. Professam uma erudição funkeira que urge contra aqueles
que ousam desdizer suas afirmações categóricas, ao mesmo tempo em que defendem
a liberdade de expressão, para, no fim, valer a máxima de que só aceitam que o
outro diga o que querem ouvir, caso contrário, a tão propalada alteridade será
constituída pela execução sumária daquele que contradiz o que tomaram por
dogma. E, é claro, há sites e blogs especializados em entorpecer os
fracos.
Como
dizia, essa geração de jovens experts em tudo, mostra-se fraca e coloca-se como
VÍTIMA quando deve cumprir com suas obrigações. Peça a um estudante para ler
quatro, cinco livros, no semestre e o que se há de ouvir é choro e ranger de
dentes. O primeiro a ser posto contra a parede é o professor, depois reclamam
para outros professores e coordenadores. Muitos professores, sabendo que podem
cair em desgraça, edulcoram a pílula, ou seja, reduzem a carga de leitura,
escolhem os livros mais palatáveis, etc. Da esterilidade intelectual partem para a
sentimentalização. E, é claro, sempre encontram uma Delphine Roux pela frente a
lhes oferecer o ombro e a incensar a vitimização.
Evidente
que não generalizo, mas assusta o aumento de vítimas sem que ao lado imperem
seus opressores; estes, para essa geração de fracos, são exponenciais e
institucionalizados, de modo que hoje é comum ouvir professores universitários,
por exemplo, creditar o baixo desempenho de alunos à opressão imposta pelo
sistema.
Por
fim, o que me surpreende é esses jovens não se responsabilizarem por seus atos,
características dessa geração, afora a preguiça e o marasmo em enfrentar as vicissitudes
da vida, transpor barreiras do quotidiano, de modo que os fracos – e aqui vou
plagiar o modo de ser desses jovens, ou seja, culpabilizar alguém – nascem como
resultado dessa sociedade que abomina os fortes. Talvez porque o lugar destes
seja na ficção. É uma pena que não leiam! A leitura inspira!
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