
Em
todo o processo, sobretudo porque a educação é uma planta cuja semente demanda
solo fértil onde possa ser fecundada, o cultivo das ideias é campo aberto a
oportunistas. Dentre esses, brotam como erva daninha – a célebre tiririca – os
políticos e sua militância. A maioria, de fato, não é afeita à educação, mas em
períodos eleitorais traz o tema à baila e faz dele sua maior promessa de
campanha. Nessas épocas, o empenho e a preocupação dos políticos com a condição
da educação e os professores chega a ser algo comovedor. Eleitos, são os
primeiros a cortar e desviar verbas da educação. Quantos prefeitos já não
ganharam os holofotes da imprensa por desviarem verbas da merenda escolar? Dito
isto, a fronteira entre a pesquisa científica e o discurso interessado torna-se
bastante tênue, razão de incompreensões, desentendimentos e desavenças.
Distantes
dos centros do poder, das negociatas, dos ardis e da pusilanimidade da
política, o povo, nas redes sociais, tenta ser participativo, e, via de regra,
mete os pés pelas mãos.
Ontem,
ao correr os olhos por uma rede social, li a publicação de um senhor, a meu ver
sério, comprometido com a causa animal, alguém que dedica parte de seu tempo
com a família e o lazer no resgate de animais abandonados, assim como
compromete parte de seu orçamento na compra de remédios e alimentos para cães,
gatos, cavalos e pássaros. Pois bem, ontem, R... publicou: “Estudantes? Massa
de manobra para partidos da esquerda. Como é triste ver jovens sendo tão alienados
assim. Faculdades lotadas de parasitas, gente que nada produz, que nada será e
tão pouco estão (sic) se importando com o futuro deles próprios (sic) e muito
menos do nosso país.” É claro que R... não sabe o que diz. R... nunca pisou em
uma universidade, não sabe o conhecimento que ali se produz. R..., durante toda
a sua vida não fez outra coisa além de trabalhar, trabalhar e trabalhar. Assim
como eu, é muito provável que R... tenha ouvido quando pequeno que “a faculdade
não é para você, é para os ricos, nós temos é que sobreviver”.
R...
desconhece o esforço do trabalho intelectual. Trabalhar para R... é algo que
implica cansaço físico na produção e na repetição de movimentos, por exemplo. R...
não conseguiu romper a barreira da ignorância que o sistema teima em perpetuar
e tornou-se, ele próprio, um alienado e objeto de massa de manobra. R... está
reproduzindo o discurso em que os oportunistas fizeram-no acreditar. Tivesse
R... a oportunidade de se sentar em um banco universitário, pensaria ele de outro
modo e, vejam, só isso já é perigoso para os oportunistas, porque o fato de ali
se sentar e começar a pensar implica desconstruir os sofismas dos quais se constituem
o discurso dúctil.
É
claro que nas universidades habitam parasitas, mas eles são exceções. Para um
professor que engana em sala de aula, não escreve artigos científicos há meia
década e alimenta seu Lattes às custas de TCCs de graduandos e artigos de mestrandos
e doutorandos (quando orienta), há seguramente um dezena que se esfola, dorme
tarde da noite, não têm finais de semana e feriados e vive preocupada em manter
certa pontuação para que dela possa garantir a viabilidade de projetos e bolsas
para estudantes de iniciação científica, mestrandos e doutorandos. Essa gente
tresloucada produz ciência e conhecimento, é o motor que faz girar as
engrenagens do país. E digo mais, se há um grupo abjeto e parasita, é o grupo
da canalha política. Este, desvia e consome muito mais riquezas produzidas pelo
país que as universidades e a educação em seu conjunto. Portanto, lamento que
até mesmo R..., um homem de bem, tenha se deixado levar por tal engodo.
Não
preciso dizer que R... comprou um problema: ainda que tenha excluído seu
comentário, antes foi crucificado e achincalhado por uma centena de
internautas, alguns dos quais, creio eu, socorreram-no anteriormente quando
precisou de ajuda para o resgate de um ou outro animal desgarrado e maltratado.
Como punir R... por pensar assim? Tentar convencê-lo a repensar sua opinião e
seu ponto de vista mostrando como as coisas de fato são, penso, seria o
correto. Mas a guarda pretoriana composta de internautas ensandecidos – também
ela, objeto de manobra - não perdoa. A “justiça” virtual sentencia sumariamente,
não é compreensiva e não tem tempo para isso. Condena, xinga, avilta e coloca o
réu no paredão. Nada de direitos humanos. Sinto, mas é provável que o pedido de
ajuda de R..., na próxima vez em que precisar socorrer um cão ferido e
maltratado, não terá eco nem ressonância.
Publicado originalmente em https://z1portal.com.br/educacao-o-pomo-da-discordia/
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