Não é de hoje que nesse recanto tupiniquim, abençoado por Deus e bonito por natureza, como diz a canção cantada às despregadas por gerações, polêmicas dão em nada. Aliás, como toda e qualquer polêmica, quando algo suscita discussões, divergências, controvérsias, espera-se que ao fim, no rastro de todo o falatório, haja ao menos um profundo debate de idéias. Qual nada! Aqui tudo vai pelo superficial, opta-se pela agressão gratuita, faz-se de vítima, procura-se logo a turma do barulho e, vislumbrado e garantido os interesses, a coisa esfria e tudo segue na mais santa e hipócrita paz.
Por que toda essa verborragia? Vá lá: parafraseando a conhecida rubrica: deu na Folha de São Paulo. O assunto veio à tona em tom ilustrado, com cara de diversão, meio escamoteado - como sempre, deixando para as entrelinhas as intenções de fato, no velho jeitinho brasileiro, sem ferir as suscetibilidades - ou sensibilidades - de uns e outros.
Mas há que se dar nomes aos bois: em 13 de março a Ilustrada publicou novo projeto da Rede Globo e da produtora Mixer para a atualização da obra infantil de Monteiro Lobato em novo formato. Segundo o jornal será um "game com sensor de movimento em que Pedrinho corre da Cuca, 15 aplicativos diferentes de Narizinho no iPad, videolog da Emília, Facebook da Dona Benta e um moderno desenho animado em HD".
Até aí, maravilha! Nesses tempos de imposição absoluta da imagem, não poderia aparecer ideia mais genial para que a novíssima geração, tão afeita às novas tecnologias e - reconheçamos, nem tão íntima das letras, pudesse conhecer as deliciosas histórias do Sítio do Picapau Amarelo.
Até aí também, maravilha!
Acontece que os baixinhos provavelmente sequer vão ouvir falar de Tia Anastácia e do genial pozinho de pirlimpimpim. Isso para agradar a tchurma dos excessivamente hipocritamente politicamente corretos e não despertar polêmica racial, sobretudo. O pó, como diz a reportagem também politicamente escrita, vai deixar de ser pó para que não haja qualquer ligação com qualquer substância alucinógina, trocando em miúdos, a cocaína. Nas escolas, ah!, isso pode! Basta acompanhar os noticiários: são frequentes as denúncias de sexo nos banheiros entre adolescentes, venda de maconha, crack e outras cositas mas no território aberto das escolas. Isso, publica-se hoje, amanhã a polícia passa pelo quarteirão da escola e depois de amanhã, problema resolvido, fica tudo o dito pelo não dito em razão da falta de memória coletiva e também porque, afinal, somos um povo pacífico, tolerante e respeitamos - sobretudo, a pessoa do outro e o sagrado direito universal de cada um.
Afora o tal pozinho, há a ablação de personagens e situações: Tio Anastácia, não pode mais. É preconceito racial. Certo, somos um país mestiço. Mas apagar parte da história é a melhor saída para não tocar na ferida e não afrontar parcela da população, diga-se, terrivelmente injustiçada? O próximo da lista certamente será o Jeca Tatu. Como nasci no interiorzão de São Paulo e, na infância, muitas vezes fui chamado de caipira, estou ansioso à espera da execração pública do Jeca. O fato é que o próprio Tiago Mello, um dos responsáveis pela produtora Mixer, reconhece que ao extirpar parte da obra do escritor estão fazendo dela um minotauro. Para tanto, disse: "As pessoas se esquecem da importância da Tia Anastácia. Ela é criadora dessa mitologia toda de Monteiro. Fez a Emília e o Visconde de Sabugosa". Mas, ainda assim o projeto continua. Afinal, o vil metal é preciso vir às burras e aí a ansiedade é muita, principalmente da Globo, que vislumbra uma mina de ouro à vista com o comércio de licenciamento de produtos, algo que sequer pó de pirlimpimpim proporciona. Desnecessário dizer, a família do ilustre escritor embarca nessa, claro; afinal, quem não gosta de uns muitos trocados a mais na conta bancária?
O fato é que nessa história toda não se discutiu a integridade da obra literária e artística de Monteiro Lobato. Talvez porque a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE), em iniciativa capitaneada pela Professora Nilma Lino Gomes - segundo publicado na imprensa, ter gerado intenso debate, meses atrás, em duas frentes: uma, que entende que a obra deve ser lida em seu contexto, portanto, sem qualquer mutilação; outra, partidária de uma obra "maquiada" para atender ao pensamento contemporâneo.
Nessa discussão, desnessário dizer, a internet foi campo fértil para troca de farpas, muitas dissimuladas, politicamente corretas; outras, contundentes, sem medo algum de um preconceito às avessas. Embora não seja essa a minha intenção, sei que coloco o dedo na ferida. Li, por exemplo, no site Combate ao Racismo Ambiental as considerações da Sra. Katia Costa-Santos (http://racismoambiental.net.br/). Embora reconheça seu ponto de vista, achei-o um tanto exagerado, sentimental, cheio de palavras de ordem em sua réplica ao texto de Lya Luft - Crucificar Monteiro Lobato? Explico-me: a autora em diversos momentos reclama da mistura geral que é tudo aqui, argumentando que em outros paises brancos e negros vivem cada um no seu quadrado. Para isso relembra histórias pessoais e a todo instante usa termos tais como amiga branca, criança branca, criança não-branca.
Cada um sabe onde o calo dói, mas confesso que me surpreendi. Afinal, nunca em minha infância e agora, adulto, usei tais termos. Nunca tratei meu cunhado negro por preto da guiné, ou ainda, nunca referi-me a ele tratando-o por meu cunhado negro. Nunca falei de meus estimados e queridos amigos Valdete e Clélio, identificando-os por meus amigos negros. Não sou especialista no assunto, mas acredito que essa história dos quadrados só ajuda a despetar a animosidade entre pessoas que poderiam muitíssimo bem conviver irmamente.
A autora também critica intelectuais, pensadores, dramaturgos e "ficcionistas não-negros" brasileiros por calçarem botinas de sinhozinhos e sinhozinhas e pisotearem as sensibilidades dos negros brasileiros e, acrescenta: "a verdade é que nós negros brasileiros sempre fomos “coisas” prestadoras de serviços e ilustrações sem importância do cenário cultural brasileiro como um todo". Não vou - e nem posso - desmenti-la . Como disse, cada um sabe de seu calo. Mas, olhei para meu próprio umbigo e me perguntei: o quê há de errado? Sou branco e na história de minha família a coisa foi e é a mesma. Meus pais semi-analfabetos sempre trabalharam a terra - dos outros. Lembro-me de minha mãe contando que logo que se transferiu para a cidade foi ser empregada doméstica e frequentemente era obrigada almoçar às quatro da tarde, depois que o primogênito da patroa voltava da escola, quando então podia sentar-se à mesa e comer as sobras. Perguntei-me: será que não padeço da mesma esquizofrenia apontada pela Sra. Costa-Santos, já que penso que sou e não sou, penso que sou gente e sou "coisa", acho que faço parte da sociedade e, no frigir dos ovos, posso claramente constatar que também sou brutalmente hierarquizado, apesar de branco? Sinceramente, acredito que o buraco é mais embaixo e envolve respeito mútuo, educação e franca distribuição de renda.
No outro extremo, como disse, estão os intelectuais, pensadores, dramaturgos e ficcionistas não-negros, como apontou a Sra. Costa-Santos. Aqui, transcrevo trecho da reportagem Autores e leitores reagem contra parecer que veta Monteiro Lobato, publicada no portal IG - Último Segundo/Educação, em 03.11.2011:
"O CNE decidiu por unanimidade recomendar que não se distribua o livro Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933, a instituições de ensino por considerar que algumas passagens são racistas. O órgão recomenda ainda que, caso alguma escola queira usá-lo, haja preparação do professor para tratar de racismo e uma nota na obra alertando sobre o conteúdo. Para entrar em vigor, o parecer precisaria ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que já disse que não vetará a e pediu revisão da decisão.
A ocupante da cadeira número 1 da ABL, Ana Maria Machado, adiantou o que pensa: “Somos contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística. Uma cultura não pode se tecer com as linhas dos melindres e ressentimentos. Isso a empobrece, em vez de enriquecê-la.”
Uma das maiores autoridades no assunto, a professora titular aposentada da Universidade de Campinas (Unicamp), Marisa Lajolo, autora de vários livros sobre o autor, incluindo a organização de “Monteiro Lobato livro a livro” repudiou a decisão. Para ela, além de errar ao apontar racismo, a medida é “autoritária” e “amordaça” a literatura de forma geral. “O episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.”
Para ela, qualquer nota seria um “desastre”. “O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?) , assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que Caçadas de Pedrinho é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?”
Por que toda essa verborragia? Vá lá: parafraseando a conhecida rubrica: deu na Folha de São Paulo. O assunto veio à tona em tom ilustrado, com cara de diversão, meio escamoteado - como sempre, deixando para as entrelinhas as intenções de fato, no velho jeitinho brasileiro, sem ferir as suscetibilidades - ou sensibilidades - de uns e outros.
Mas há que se dar nomes aos bois: em 13 de março a Ilustrada publicou novo projeto da Rede Globo e da produtora Mixer para a atualização da obra infantil de Monteiro Lobato em novo formato. Segundo o jornal será um "game com sensor de movimento em que Pedrinho corre da Cuca, 15 aplicativos diferentes de Narizinho no iPad, videolog da Emília, Facebook da Dona Benta e um moderno desenho animado em HD".
Até aí, maravilha! Nesses tempos de imposição absoluta da imagem, não poderia aparecer ideia mais genial para que a novíssima geração, tão afeita às novas tecnologias e - reconheçamos, nem tão íntima das letras, pudesse conhecer as deliciosas histórias do Sítio do Picapau Amarelo.
Até aí também, maravilha!
Acontece que os baixinhos provavelmente sequer vão ouvir falar de Tia Anastácia e do genial pozinho de pirlimpimpim. Isso para agradar a tchurma dos excessivamente hipocritamente politicamente corretos e não despertar polêmica racial, sobretudo. O pó, como diz a reportagem também politicamente escrita, vai deixar de ser pó para que não haja qualquer ligação com qualquer substância alucinógina, trocando em miúdos, a cocaína. Nas escolas, ah!, isso pode! Basta acompanhar os noticiários: são frequentes as denúncias de sexo nos banheiros entre adolescentes, venda de maconha, crack e outras cositas mas no território aberto das escolas. Isso, publica-se hoje, amanhã a polícia passa pelo quarteirão da escola e depois de amanhã, problema resolvido, fica tudo o dito pelo não dito em razão da falta de memória coletiva e também porque, afinal, somos um povo pacífico, tolerante e respeitamos - sobretudo, a pessoa do outro e o sagrado direito universal de cada um.
Afora o tal pozinho, há a ablação de personagens e situações: Tio Anastácia, não pode mais. É preconceito racial. Certo, somos um país mestiço. Mas apagar parte da história é a melhor saída para não tocar na ferida e não afrontar parcela da população, diga-se, terrivelmente injustiçada? O próximo da lista certamente será o Jeca Tatu. Como nasci no interiorzão de São Paulo e, na infância, muitas vezes fui chamado de caipira, estou ansioso à espera da execração pública do Jeca. O fato é que o próprio Tiago Mello, um dos responsáveis pela produtora Mixer, reconhece que ao extirpar parte da obra do escritor estão fazendo dela um minotauro. Para tanto, disse: "As pessoas se esquecem da importância da Tia Anastácia. Ela é criadora dessa mitologia toda de Monteiro. Fez a Emília e o Visconde de Sabugosa". Mas, ainda assim o projeto continua. Afinal, o vil metal é preciso vir às burras e aí a ansiedade é muita, principalmente da Globo, que vislumbra uma mina de ouro à vista com o comércio de licenciamento de produtos, algo que sequer pó de pirlimpimpim proporciona. Desnecessário dizer, a família do ilustre escritor embarca nessa, claro; afinal, quem não gosta de uns muitos trocados a mais na conta bancária?
O fato é que nessa história toda não se discutiu a integridade da obra literária e artística de Monteiro Lobato. Talvez porque a Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE), em iniciativa capitaneada pela Professora Nilma Lino Gomes - segundo publicado na imprensa, ter gerado intenso debate, meses atrás, em duas frentes: uma, que entende que a obra deve ser lida em seu contexto, portanto, sem qualquer mutilação; outra, partidária de uma obra "maquiada" para atender ao pensamento contemporâneo.
Nessa discussão, desnessário dizer, a internet foi campo fértil para troca de farpas, muitas dissimuladas, politicamente corretas; outras, contundentes, sem medo algum de um preconceito às avessas. Embora não seja essa a minha intenção, sei que coloco o dedo na ferida. Li, por exemplo, no site Combate ao Racismo Ambiental as considerações da Sra. Katia Costa-Santos (http://racismoambiental.net.br/). Embora reconheça seu ponto de vista, achei-o um tanto exagerado, sentimental, cheio de palavras de ordem em sua réplica ao texto de Lya Luft - Crucificar Monteiro Lobato? Explico-me: a autora em diversos momentos reclama da mistura geral que é tudo aqui, argumentando que em outros paises brancos e negros vivem cada um no seu quadrado. Para isso relembra histórias pessoais e a todo instante usa termos tais como amiga branca, criança branca, criança não-branca.
Cada um sabe onde o calo dói, mas confesso que me surpreendi. Afinal, nunca em minha infância e agora, adulto, usei tais termos. Nunca tratei meu cunhado negro por preto da guiné, ou ainda, nunca referi-me a ele tratando-o por meu cunhado negro. Nunca falei de meus estimados e queridos amigos Valdete e Clélio, identificando-os por meus amigos negros. Não sou especialista no assunto, mas acredito que essa história dos quadrados só ajuda a despetar a animosidade entre pessoas que poderiam muitíssimo bem conviver irmamente.
A autora também critica intelectuais, pensadores, dramaturgos e "ficcionistas não-negros" brasileiros por calçarem botinas de sinhozinhos e sinhozinhas e pisotearem as sensibilidades dos negros brasileiros e, acrescenta: "a verdade é que nós negros brasileiros sempre fomos “coisas” prestadoras de serviços e ilustrações sem importância do cenário cultural brasileiro como um todo". Não vou - e nem posso - desmenti-la . Como disse, cada um sabe de seu calo. Mas, olhei para meu próprio umbigo e me perguntei: o quê há de errado? Sou branco e na história de minha família a coisa foi e é a mesma. Meus pais semi-analfabetos sempre trabalharam a terra - dos outros. Lembro-me de minha mãe contando que logo que se transferiu para a cidade foi ser empregada doméstica e frequentemente era obrigada almoçar às quatro da tarde, depois que o primogênito da patroa voltava da escola, quando então podia sentar-se à mesa e comer as sobras. Perguntei-me: será que não padeço da mesma esquizofrenia apontada pela Sra. Costa-Santos, já que penso que sou e não sou, penso que sou gente e sou "coisa", acho que faço parte da sociedade e, no frigir dos ovos, posso claramente constatar que também sou brutalmente hierarquizado, apesar de branco? Sinceramente, acredito que o buraco é mais embaixo e envolve respeito mútuo, educação e franca distribuição de renda.
No outro extremo, como disse, estão os intelectuais, pensadores, dramaturgos e ficcionistas não-negros, como apontou a Sra. Costa-Santos. Aqui, transcrevo trecho da reportagem Autores e leitores reagem contra parecer que veta Monteiro Lobato, publicada no portal IG - Último Segundo/Educação, em 03.11.2011:
"O CNE decidiu por unanimidade recomendar que não se distribua o livro Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933, a instituições de ensino por considerar que algumas passagens são racistas. O órgão recomenda ainda que, caso alguma escola queira usá-lo, haja preparação do professor para tratar de racismo e uma nota na obra alertando sobre o conteúdo. Para entrar em vigor, o parecer precisaria ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que já disse que não vetará a e pediu revisão da decisão.
A ocupante da cadeira número 1 da ABL, Ana Maria Machado, adiantou o que pensa: “Somos contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística. Uma cultura não pode se tecer com as linhas dos melindres e ressentimentos. Isso a empobrece, em vez de enriquecê-la.”
Uma das maiores autoridades no assunto, a professora titular aposentada da Universidade de Campinas (Unicamp), Marisa Lajolo, autora de vários livros sobre o autor, incluindo a organização de “Monteiro Lobato livro a livro” repudiou a decisão. Para ela, além de errar ao apontar racismo, a medida é “autoritária” e “amordaça” a literatura de forma geral. “O episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.”
Para ela, qualquer nota seria um “desastre”. “O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?) , assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que Caçadas de Pedrinho é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?”
De todo esse imbróglio, não foi a constatação de que ainda não nos vemos como iguais e de que há muito ressentimento adormecido o que mais me assustou. Foi meu querido Machado. O que farão dele? Afinal, logo o negro Vicente, "nobre espírito de dedicação" no "corpo vil do escravo", pajem de Helena, será banido das páginas de Helena. Não será diferente o fim de Estevão Soares, outro negro bom como Vicente, do conto A Mulher de Preto, "mais irmão do que escravo, na dedicação e no afeto". Condenadas também estão páginas de Memórias póstumas de Brás Cubas, sobretudo o episódio que o memorialista presenciou no Valongo: o liberto Prudêncio vergalhando um irmão de raça, comprado e castigado pelo próprio ex-escravo, que se "desfazia" das pancadas de outrora, além, é claro, de todo o capítulo XI, que narra as estripulias de Brás Cubas menino, quando deitava cinzas ao tacho, para depois ir dizer à mãe que a escrava estragara o doce "por pirraça", ou ainda quando cavalgava Prudêncio, o moleque da casa, que recebia varadas, um cordel nos queixos, à guisa de freio e, assim que soltava um "ai, nhonhô", não ganhava retribuição outra que um "Cala a boca, besta!".
Que censurem Machado! E logo! Afinal, para os burocratas da educação, você leitor não é nada. É preciso que lhe digam como se lê, porque se lê, como se o texto não fosse feito de linhas e entrelinhas, enfim, passível de interpretações díspares, a gosto do freguês.
Que censurem Machado! E logo! Afinal, para os burocratas da educação, você leitor não é nada. É preciso que lhe digam como se lê, porque se lê, como se o texto não fosse feito de linhas e entrelinhas, enfim, passível de interpretações díspares, a gosto do freguês.
Imagens: Jacyra Sampaio (à dir.) interpretou Tia Nastácia entre 1977 e 1985, em uma das versões do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Globo; ao lado dela está a atriz Zilka Salaberry, que vivia Dona Benta; Monteiro Lobato, por volta de 1920 e capa do livro Caçadas de Pedrinho. Todas disponíveis no Google Images.
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