Revista Philomatica

sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Tem animal solto na rua? Tem que matar.": vereadora Sílvia Fernanda de Almeida, a Beatriz Rondon da vez.

Há dias num desses comentários semanais – Chateaubriand, os sinos e o mau humor-, elogiei a pacata São João del-Rei por sua romântica persistência em manter a tradição de tocar os sinos. Isto porque em várias outras cidades pipocavam ações na justiça calando as badaladas que um dia encantaram Chateaubriand, o grande romântico francês.
Quando se acha que já se viu de tudo, não é que São João del-Rei abandonou seus tão badalados sinos, ignorou completamente meus elogios e ganhou as manchetes da semana? Quer saber como, leitor? Pelo arruar de uma de suas filhas, a vereadora Sílvia Fernanda de Almeida (PMDB), que provocou polêmica ao defender o extermínio de animais de rua em sessão da câmara dos vereadores.
Permita-me, leitor, infiltrar-me por seus pensamentos - sem quebra de sua integridade
, claro-, e repetir o que ora se pergunta: “Como? Exterminar animais? Não entendi. __ Nem eu, leitor. Para que serve mesmo um vereador? Essa, leitor, nem sei como ou o quê lhe responder. Dada a extensão da matéria, caso seja paciente, é provável que consiga garimpar muita coisa nas páginas ditas político-policiais. Antes, porém, confesso: minha intenção era falar de um livro delicioso que ora leio – O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer, mas, essa tal de Sra. Almeida se intrometeu em minhas ideias, desviou-me do caminho, e como tenho eterno apreço pelos animais, aqui estou a defendê-los e a denunciá-la.
Adianto que não sou versado em pantomimas políticas, mas embuste é embuste, logro é logro e, não se tendo nada a fazer – a educação e a saúde em São João del-Rei são as pérolas da cidade, motivo de orgulho -, a ilustre vereadora voltou-se aos indefesos animais. Portanto, cidades desse grande antônimo de federação: mirem-se no exemplo de São João del-Rei e lá encontrareis o que há de melhor para seus filhos e do
entes.
Mas, ainda assim, algo me preocupa: por onde andará a sanidade da Sra. Almeida em terra onde a cura está ao alcance de todos? Leitor, talvez não tenha entendido nada. Nem eu! O que fazer com ideias tão antípodas? Perco-me entre a arte e o interesse.
Criam-se ONGs, leis e institutos para preservar a vida animal: por que a cidadã mineira toma rumo contrário? Inclino-me a acreditar que há algo de errado com a sanidade da vereadora.
Contudo, dizia Boileau: Rien n’est beau que le vrai; le vrai seul est aimable. Deveria, pois, seguir o conselho da Sra. Almeida?: “Tem animal solto na rua? Tem que matar. Eu sou a favor de uma atitude que ponha fim definitivamente ao problema.” Afinal, isso é o verdadeiro – le vrai -, foi o exatamente isto que ela disse.
T
alvez, se perfilhasse o raciocínio de Schopenhauer e não acreditasse na ilusão da bondade da vida – ilusão, porque para o filósofo, o que preenche a vida é o conflito, o sofrimento, o desespero e a miséria-, talvez, aí sim, desse algum crédito à vereadora. Mas, por ora, fiquemos com o poeta e vamos ao que a Sra. Almeida disse de verdadeiro – é só ver o filminho na rede -, “Tem animal solto na rua? Tem que matar.”
Ora, procurada pela imprensa, a vereadora fez o que todo político pego de calças curtas faz: fez-se de ingênua, mal-compreendida et cetera e tal. Defendeu-se dizendo que não propôs um projeto para acabar com “todos” os animais soltos nas ruas da cidade e que a declaração no vídeo foi “infeliz e retirada do seu contexto”, o que, para mim, é menosprezar a capacidade intelectiva do leitor. Para isso basta ver
o vídeo em todo o seu contexto: 11m34 de longa exposição, raciocínio lógico e largamente pontuado com todos os pingos nos is.
Questionada sobre sua relação com os animais, a Sra. Sílvia Fernanda de Almeida (PMDB), partiu para a ofensa e afirmou
que “ama os animais”.
No dia seguinte aos seus quinze minutos de fama, buscando ainda os holofotes, a Sra. Almeida disse estar sofrendo ameaças de morte e disse em seu blog que seu projeto previa a doação de animais, o que, diga-se, a vereadora esqueceu-se de dizer ao longo de sua fala inflamada que veio a público, na internet. E, como sempre, a culpa é da mídia. Em política, desvia-se, rouba-se, mostra-se incompetência e a culpa é da mídia. Ah! mídia malvada, pervertida, lobo mau! E não é que a Sra. Almeida veio com um discursozinho batido, chinfrim, cheio de clichês, caças às bruxas, compactuar com os maus, atender aos poderosos etc., na sanha de se fazer passar por vítima frente aos algozes animais de São João del-Rei? Ah! esqueci-me das penas ao vento – hilário. Leia leitor, leia, e tire suas próprias conclusões, e não se esqueça de seu voto nas próximas eleições. Afinal, esse grande satã, essa besta que é a mídia, sempre desvirtuando tudo, colocando palavras na boca das pessoas...:
"A mídia, como sempre muito competente para atender aos poderosos, não me ouviu e, se o fez, editou de maneira a favorecer o clima de caça às bruxas. Espalharam um travesseiro de penas ao vento, que não tenho como recolher. Os que não me conhecem, acreditam em qualquer coisa porque são inocentes quanto ao jogo político. Aceitarão a manipulação e nada posso fazer. Aos que me conhecem, peço tão somente que se inteirem dos fatos com profunda para não serem induzidos a compactuar com os maus", escreveu em seu blog.

Para saber mais, acesse:

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/05/25/vereadora-de-minas-gerais-defende-exterminio-de-animais-de-rua-e-cria-polemica.jhtm

http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/05/26/vereadora-que-propos-exterminio-de-animais-diz-ter-sido-ameacada-de-morte/

Imagens: Todas disponíveis no Google-Images.

2 comentários:

  1. É um absurdo uma pessoa que está no poder publico, de dar o exemplo de querer matar os animais. Cada dia que passa eu fico mais indignado. Parabéns pelo o blog.

    ResponderExcluir
  2. A Sra Silvia está sempre apresentando suas pérolas na tribuna da Câmara Municipal. Depois da última besteira, ela se recusa a dar entrevistas a qualquer meio de comunicação caso as perguntas não sejam enviadas antes. É lamentável ter um representante do povo que nem sabe se expressar ou pensar antes de falar.

    ResponderExcluir