Parece-me,
nenhuma! À primeira vista, a resposta ao título parece surpreender, afinal, na
Era do Caos em que vivemos, é incontestável a militância em favor dos direitos
humanos, ainda que em muitos aspectos tenhamos caminhado para trás. Hoje, para
reivindicarmos alguma tolerância, sufocamo-nos em rótulos e fobias. Não
bastassem os preconceitos raciais e sexuais, compartimentamos as variantes, e incitamos
a militância, acreditando assim salvar o mundo da intolerância.
Para
cada rótulo, seja ele racismo, homofobia, gordofobia, machismo, misoginia,
misandria, sexismo, antissemitismo, misantropia, etnocentrismo, xenofobia, etc
etc etc há uma antinomia propalada pela militância, lamentavelmente, por meio de
discursos líquidos. Ocorre que o excesso de rótulos mais atrapalha que ajuda,
isso porque os usuários se perdem na defesa de uma causa específica,
relativizando as demais. Ao fazê-lo, na maioria das vezes apropriam-se das
armas e métodos do opressor e/ou preconceituoso racista, capitalista, facista
ista ista (sonoro isso, as pessoas adoram)!
Nas
redes sociais a intolerância pulula, e não raro vem embalada em frascos
diminutos contendo pequenos textos denunciatórios e opiniões disseminadas em
comentários a reportagens ditas politicamente incorretas. Ao contestar o não politicamente
correto, o internauta escorrega, divide o prato com o intolerante e janta do
mesmo ódio. Satisfeito, não se dá conta de que sequer conseguiu disfarçar o
ódio que habita sob sua epiderme.
Tratando-se
de celebridades idealizadas, partidários da Escola do Ressentimento, sobretudo,
cometem certo deslize e se mostram tal como são ao torcer pontos de vistas para
que estes se adaptem a um discurso inconspurcado. É a velha história de ajustar
a causa ao poema. Temerosos, sub-repticiamente lançam mão do “eu lírico” para
justificar o que consideram politicamente incorreto, mas tudo está lá, na obra,
na letra da canção! Ora, ao fazê-lo, preconizam a perfeição em seres humanos
passíveis de erro! O mal, a raiva, o ódio, querido leitor, não é algo
extrínseco ao homem. Muito pelo contrário! O mal tem natureza humana, senta-se
à mesa do jantar, seja em lares pudicos e conservadores, seja nas moradas dos
mais liberais e dedicados defensores de rótulos e minorias.
Ao
reproduzir uma notícia falsa, por exemplo, no intuito de fustigar aquele que
não escolheu a mesma ideologia que ele para ler e interpretar o mundo, o
internauta, lá no fundo, assoma o desejo mais profundo de vergastar seu
adversário. Afinal, se esquece de que toda ideologia é mentirosa e crê-se “o dono”
de supostas verdades. E não falo aqui de seu desejo, também profundo, de se
expor nas redes sociais como humanista bonzinho, fazendo disso um hábito
fictício, não raro contagioso e, arrisco, pornográfico.
As
ideias se relativizam e o que se nota é um atraso cultural, cuja pungência em
nossos dias se assemelha a uma doença em estado de metástase. São opiniões e textos pautados por singular brutalidade, de valor estético rasteiro, e que
creditam toda e qualquer injustiça social à luta de classes, por exemplo. O
preconceito linguístico aventado pelo aluno vislumbrado com o mote da
supremacia da oralidade à norma erudita beira à ingenuidade. “Bagna-se” de
ideias geradas em uma diegese linguística, apartada do mundo real,
esquecendo-se de que seu guru, nos momentos raivosos, clama-se pela guilhotina
àqueles que não se ajustam aos seus dogmas.
Nesse
panóptico digital, todos vigiam-se continuadamente e a alienação advém do fato
de que para aglutinar a atenção e mobilizar seguidores e likes, o discurso torna-se amorfo, as opiniões são instáveis e os
resultados são incalculáveis. Não por outra razão, tudo é fugaz e se dispersa
ao sabor de novas crenças e ideologias, afinal, fatos não interessam mais,
pois, estes, para o bem ou para mal, trazem a acidez da verdade. O que sobra é
ler a favor de uma ideologia, algo que, trocando em miúdos, é o mesmo que não
ler de modo algum!
E tudo isso, c'est pas la faute à Voltaire!
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