Pois
é leitor, parece que a semana foi mesmo dedicada ao orifício! Ao menos, espero,
a partir de agora há de se grafar o monossílabo sem o dito acento. Sim, porque
embora o acento traga lá certo erotismo, cu, a palavra, não tem acento. Talvez,
depois que divulgaram o vídeo de um rapaz que, do nada, grita a plenos pulmões
na fila do Burger King “eu quero dar o cu” e de Zé Celso ter declamado Rimbaud
para o, como é mesmo? Feriado? – ah, sim -, o Holiday, na Câmara Municipal de
São Paulo, terminemos a semana menos hipócritas.
Afinal,
quem na vida já não viu alguém com o cu falido? Quem já não trabalhou para esse
maldito governo até o cu fazer bico? Quem, depois de uma escorregadela, não
caiu de cu? Qual o cristão que assustado ao extremo e tomado pelo medo, por um
segundo não sentiu o cu cair da bunda? E não me venham dizer que nunca se
referiram a um glutão dizendo que ele encheu o cu disso ou daquilo. O pavor,
quando nos bate à porta, deixa-nos com o cu na mão; o que fazer? A situação é
tamanha que há almas que não têm no cu um periquito que roa, tal a miséria. Por
outro lado, há aqueles que nasceram com o cu para lua, pois, dentre outras
coisas, quase nunca moram lá no cu do Judas. Mas você pode estar se perguntando
o que tem a ver o cu com as calças; ora, em geral, aqueles cujo cu miram a lua,
pouco fazem, sempre tiram o cu da reta e cabe ao pobre miserável tirar o cu da
seringa, isto quando não vê o cu ao pé das calças. No fundo, no fundo, Zé Celso
é quem tem razão: “Vamos todos tomar no cu”, de um jeito ou de outro. E veja,
leitor, abstive-me de usar o verbo “dar”; “tomar” fica por conta do Zé Celso.
O
genial na conversa do Zé Celso com o vereador Feriado, foi o dramaturgo cantar
os versos de Rimbaud. De quebra, além de matar com o pau aqueles que põem
acento no cu, trouxe à imprensa fétida o sublime poeta francês. Zé Celso, a meu
ver, só pecou porque não conseguiu conter a emoção e vergastou o vereador
Feriado com a frase: “A sua visão do mundo é o fascismo, o nazismo, uma coisa
inclusive racista”. Digo isso porque essa história de chamar de fascista,
nazista e racista é igual a mandar alguém tomar no cu: as pessoas gostam, não é
mais um xingamento. Talvez tenha sido há algum tempo, mas, hoje, tempos em que um
enfia o dedo no cu do outro em público, vá lá, convenhamos, já virou história
de carochinha. Aliás, ocorre-me agora a versão de Chapeuzinho Vermelho em que o
lobo dá uma dedada no cu da vó!
Dito
isto, caros leitores, fiquem com Rimbaud (só para não transcrever os deliciosos
poemas de Pietro Aretino):
SONETO DO OLHO DO CU
Obscuro e franzido como um cravo roxo,
Humilde
ele respira escondido na espuma,
Úmido
ainda do amor que pelas curvas suaves
Dos
glúteos brancos desce à orla de sua auréola.
Uns filamentos, como lágrimas de leite,
Choraram,
ao vento inclemente que os expulsa,
Passando
por calhaus de uma argila vermelha,
Para
escorrer, por fim, ao longo das encostas.
Muita vez minha boca uniu-se a essa ventosa;
Sem
poder ter o coito material, minha alma
Fez
dele um lacrimário, um ninho de soluços.
Ele é tonta azeitona, a flauta carinhosa,
Tudo
por onde desce a divina pralina,
Canãa
feminino que eclode na umidade.
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Justificando
o título: opinião, dizem, é como cu, cada uma tem a sua, portanto, do meu cu
cuido eu, e você leitor, espero que faça o mesmo.
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