Revista Philomatica

sexta-feira, 1 de junho de 2018

#somostodoshipocritas


A semana não foi das melhores. Os caminhoneiros conseguiram se fazer ouvir, porém, a dúvida persiste: quais as forças agindo por trás da grande paralização que pleiteia a baixa de combustíveis? Assim como a semana, o tempo e o caráter não têm sido exemplares. Transformamo-nos em uma troupe amadora, moral e eticamente corrompida.
O resultado é evidente: gritamos às desbragadas, tentamos nos fazer ouvir, imploramos por atenção, impomos nossas vontades e desejos aos gritos e, ao fazê-lo, relativizamos o outro, mas, é claro, colocamo-nos acima de qualquer suspeita, mostramo-nos respeitosos e bradamos aos quatro ventos o politicamente correto e a dita alteridade. Esta, vale ressaltar, tem sido estimulada e é objeto de palestras e encontros que enaltecem temas ultramodernos. Haja vista as humanidades, no âmbito universitário, não terem apresentado nada de definitivamente inovador, aparecem os encontros, seminários e colóquios dedicados à pós-sociedade e à pós-humanidade.
Essas determinações, digamos, formuladas por humanos que integram uma sociedade, soam risíveis, quando não hipócritas, pois na falta de conteúdo, buscam abrigo nos rótulos, algo, é obvio, bastante afeito ao gosto multiculturalista.
Rótulos: cisgênero, agênero, gênero fluido, transgênero, trans... Nada contra, mas, face aos tais congressos pós-sociedade e pós-humanidade, toda essa discussão cai por terra, afinal, já não vivemos mais em sociedade e somos sequer humanos. Então, o que somos? Não me veio outra palavra a não ser hipócritas. Sim, leitor, somos todos hipócritas.
A fluidez das ideias aqui surge algo negativo, sobretudo se decidirmos justapô-la à série de hashtags habitualmente disseminadas na rede e, hoje, substitutivas dos livros, objeto cultuado outrora por universitários e ora ignorados.
Parte-se, por exemplo, da noção de multidão – alienada, na maioria das vezes, ora pela direita, ora pela esquerda -, este sujeito ativo que age a partir de singularidades em comuns. Ocorre que essas singularidades, como já dito, são extremamente manipuláveis por interesses outros. Assim como os interesses, as hashtags são múltiplas, tendenciosas e seletivas. Há listas delas na rede, e que aumentam à medida que os expertises se dispõem a opinar. Não que não se deva opinar, pelo contrário, o que discuto é o compartilhamento de opiniões criadas por terceiros e que o internauta, sem mesmo se dar ao trabalho de lê-la, compartilha, engrossando o lodo das ideias. Isso, para não falar dos grupos especializados em criar notícias falsas e opiniões falseadas, pois baseiam-se em invenções.
A seletividade, assim como as opiniões, é tão volátil que acusados do mesmo crime recebem tratamentos diferentes da massa ou povão (termos usados pela direita) e/ou burguesia, classe média (termos usados pela esquerda): um singular exemplo foi a execração de Harvey Weinstein (pelo que li, merecida) por estupro e assédio, e cujas estripulias deram origem às hashtags #metoo e #time’sup nos estados Unidos e, na França repercutiu com a “balancetonporc. No Brasil, no rastro de José Mayer, tivemos a #mexeucomumamexeucomtodas. No entanto, Morgan Freeman, depois de algumas desculpas, vai bem obrigado e já retornou às gravações.
Daniel Araújo “Pax”, ao longo da semana, publicou um vídeo ironizando a hipocrisia das hashtags e a falsa preocupação com os caminhoneiros. A despeito da hashtag #somostodosquasecaminhoneiros, aventada pelo youtuber, acho mesmo que acertou a mão ao cravar a #todoscorruptos como se tivesse descoberto o ovo de Colombo.
Enfim, leitor, assim como no reino das humanidades, nada de novo no pós-humano, só mais uma hashtag dizendo o óbvio! #somostodoscorruptos!

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