A
semana não foi das melhores. Os caminhoneiros conseguiram se fazer ouvir,
porém, a dúvida persiste: quais as forças agindo por trás da grande paralização
que pleiteia a baixa de combustíveis? Assim como a semana, o tempo e o caráter
não têm sido exemplares. Transformamo-nos em uma troupe amadora, moral e eticamente corrompida.
O
resultado é evidente: gritamos às desbragadas, tentamos nos fazer ouvir,
imploramos por atenção, impomos nossas vontades e desejos aos gritos e, ao fazê-lo,
relativizamos o outro, mas, é claro, colocamo-nos acima de qualquer suspeita,
mostramo-nos respeitosos e bradamos aos quatro ventos o politicamente correto e
a dita alteridade. Esta, vale ressaltar, tem sido estimulada e é objeto de palestras
e encontros que enaltecem temas ultramodernos. Haja vista as humanidades, no
âmbito universitário, não terem apresentado nada de definitivamente inovador,
aparecem os encontros, seminários e colóquios dedicados à pós-sociedade e à
pós-humanidade.
Essas
determinações, digamos, formuladas por humanos que integram uma sociedade, soam
risíveis, quando não hipócritas, pois na falta de conteúdo, buscam abrigo nos
rótulos, algo, é obvio, bastante afeito ao gosto multiculturalista.
Rótulos:
cisgênero, agênero, gênero fluido,
transgênero, trans... Nada contra, mas, face aos tais congressos pós-sociedade
e pós-humanidade, toda essa discussão cai por terra, afinal, já não vivemos
mais em sociedade e somos sequer humanos. Então, o que somos? Não me veio outra
palavra a não ser hipócritas. Sim, leitor, somos todos hipócritas.
A fluidez das ideias aqui surge algo negativo,
sobretudo se decidirmos justapô-la à série de hashtags habitualmente disseminadas na rede e, hoje, substitutivas
dos livros, objeto cultuado outrora por universitários e ora ignorados.
Parte-se, por exemplo, da noção de multidão –
alienada, na maioria das vezes, ora pela direita, ora pela esquerda -, este
sujeito ativo que age a partir de singularidades em comuns. Ocorre que essas
singularidades, como já dito, são extremamente manipuláveis por interesses outros.
Assim como os interesses, as hashtags são
múltiplas, tendenciosas e seletivas. Há listas delas na rede, e que aumentam à
medida que os expertises se dispõem a opinar. Não que não se deva opinar, pelo contrário,
o que discuto é o compartilhamento de opiniões criadas por terceiros e que o
internauta, sem mesmo se dar ao trabalho de lê-la, compartilha, engrossando o
lodo das ideias. Isso, para não falar dos grupos especializados em criar
notícias falsas e opiniões falseadas, pois baseiam-se em invenções.
A seletividade, assim como as opiniões, é tão
volátil que acusados do mesmo crime recebem tratamentos diferentes da massa ou
povão (termos usados pela direita) e/ou burguesia, classe média (termos usados pela
esquerda): um singular exemplo foi a execração de Harvey Weinstein (pelo que
li, merecida) por estupro e assédio, e cujas estripulias deram origem às hashtags #metoo e #time’sup nos estados
Unidos e, na França repercutiu com a “balancetonporc. No Brasil, no rastro de
José Mayer, tivemos a #mexeucomumamexeucomtodas. No entanto, Morgan Freeman,
depois de algumas desculpas, vai bem obrigado e já retornou às gravações.
Daniel Araújo “Pax”, ao longo da semana, publicou
um vídeo ironizando a hipocrisia das hashtags
e a falsa preocupação com os caminhoneiros. A despeito da hashtag #somostodosquasecaminhoneiros,
aventada pelo youtuber, acho mesmo
que acertou a mão ao cravar a #todoscorruptos como se tivesse descoberto o ovo
de Colombo.
Enfim, leitor, assim como no reino das humanidades,
nada de novo no pós-humano, só mais uma hashtag
dizendo o óbvio! #somostodoscorruptos!
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