A
uma semana do sufrágio, palavra cujo significado alguns partidos (se me
acompanha, leitor, há de notar que um dia ao referir-me a esses ajuntamentos
ditos ‘políticos’, utilizei as palavras ‘quadrilhas’, ‘corjas’ etc, mas, hoje,
decidi não tecer com pleonasmos e redundâncias a trama desta curta prosa!)
sonegam aos seus eleitores, parece-me que o dito de Neruda, a filosofia de
Taine e a livre expressão de ideias vêm à tona.
Vá
lá! Neruda, por ser poeta, mexe com os sentimentos do leitor, e pode ser que
este, em momento de franca fragilidade (ah!, as aliterações) existencial, emule
de suas ideias o ritmo, a métrica, a lírica e tudo o mais que transcenda ao
mundo fático, tomando seus versos por mera autoajuda ou, no melhor dos casos,
como judiciosa advertência. “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é
prisioneiro das consequências.”
O
pleito do final de semana coloca o eleitor honesto – e só utilizo tal adjetivo
porque, como Anne Frank, ainda acredito na bondade humana - entre a cruz e a
espada: de um lado a busca por um salvador da pátria advinda do cansaço e da
desilusão de experiências recentes, de outro, a crença nas divisas libertárias
e humanistas que movimentam os espíritos racionalistas. Em ambos os casos
Neruda adverte, você há de ser prisioneiro de seus escolhas: os primeiros,
podem provar do fel – ou do mel -, que surpreende o paladar ao provar do fruto
exótico; os últimos, creio eu, se não se derem conta de que nisto que chamamos
de pós-modernidade, a razão como totalidade caminha a passos largos em direção à
própria degeneração, preconizando a dissolução de valores e costumes. Estes,
ainda não apreenderam que a razão já não oferece qualquer garantia de
compreensão do mundo, visto que, muitas vezes, está comprometida com as cabalas
e jogos do poder, insurgindo-se
como agente de repressão.
A repressão, no caso, começa por
desqualificar aquele que não compartilha de suas próprias ideias - ainda que
seja seu partidário, pouco importa. Até mesmo a grande imprensa (veja nosso Pravda tupiniquim) filtra as notícias e
ludibria o leitor, alterando de forma exponencial fatos sem importância para,
dessa forma, desviar o olhar e a atenção daquilo que compromete, tudo porque as
ideias ditas contrárias não se ajustam aos próprios interesses. E não me venham
com o evangelho da ideologia porque isso não pega mais! Não há ideologia em
nada disso! O que é há são projetos de poder e a ideologia vem de arrasto, no
intuito de sedimentar planos, conchavos, conluios, tramoias, intrigas, desvios...
- e a ganância pelo poder tout court.
É nessa hora que se desmontam os
discursos, sobretudo aqueles construídos sobre a pluralidade de ideias e a
alteridade, uma vez que o que serve para mim não serve para você, isto é, o que
eu digo merece ser considerado, refletido, discutido, o que você diz é algo
extremamente retrógado, representa o que há de mais primitivo no âmbito das
ideias, é primário, sequer pode ser levado em conta. Nas universidades, em
congressos, já vi alunos e professores levantarem-se e deixarem a sala, afinal,
a correção e a superioridade de suas opiniões podem ferir-se face a argumentos
contrários – e tão chinfrins! Tal é a susceptibilidade – e arrogância -
intelectual!
Os discursos desmoronam-se pela
intolerância: os que mais professam a intolerância, utilizam-na como prescrição
diária! E é aí que Taine entra na trama, já que os primeiros fios que se rompem
desse discurso autocentrado mostram a resistência do indivíduo à compreensão,
ao debate e ao pluralismo. Embora, nos corredores e nos cafés exibam postura
democrática e modernosa, ao defenderem suas ideias a partir da leitura de um
livro só, negam inteiramente toda a prática acadêmica (falo dos meios
universitários), que consiste na comparação e confrontação de pontos de vista e
mostram-se tal como Taine professava, qual seja, reiteram a afirmação de que o
ambiente, a raça e o momento histórico determinam a compreensão do homem e da
história.
Ora, sob tais discursos, fulano ou
beltrano não pode votar em sicrano dada a cor de sua pele e/ou sua condição
social, ou ainda porque em períodos recentes beneficiou-se de alguma ajuda do
erário. É claro que tudo isso não é dito descaradamente, mas leitores e
observadores contumazes leem entrelinhas, pausas, entonações. E tudo está lá,
claro, límpido, uma vez que em tais discursos sobejam ideias deterministas. Por
isso, parece-me importante o voto do final de semana, tão importante quanto
aquele churrasco na laje, afinal, em nossa pobre cleptocracia, resta optar por
aquele que, hipoteticamente, versará alguns caraminguás do erário em nossa
burra! O presidente está morto! Viva o presidente! Viva Bananalândia!
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