Primeiro
vieram os monistas. Na filosofia, mais precisamente na metafísica, afirmavam
que toda a essência da realidade de baseava em um princípio único e original. Não
era assim Platão. Mas parece que Platão não está na moda. Portanto, nada de
dualismo, pluralismo, o escambau, sobretudo quando se trata de ideias.
A
alteridade, o outro, a opinião do outro, valem só em nível de discurso,
portanto, aqui também, nada de pragmatismo. Refiro-me ao pragmatismo enquanto
tratamento não dogmático, ao abordar questões literárias, filosóficas,
políticas, enfim – e por extensão -, o quotidiano.
Monistas
que somos, tendemos a negar tudo aquilo que vai além do horizonte que nossa
vista alcança. Não à toa, tem-se negado o óbvio não só quando ele está além dos
umbrais de nossas janelas, mas principalmente quando jaz debaixo dos nossos
narizes. A frequência com que ouvimos “não sabia de nada”, “não fui informado”,
“nunca soube disso”, etc, tem sido algo constrangedor, sobretudo porque as
desculpas, via de regra, partem da canalha política, antro onde ninguém assume
nada!
Mas
o pior disso é quando, mesmo com a comprovação dos fatos, as negaças persistem
e políticos, professores, pseudopensadores e pesquisadores afirmam teorias da
conspiração e complôs, exibindo certa demência ou perversidade intelectual.
Tem-se então o que chamamos de negacionismo.
O
negacionismo, termo relativamente recente, foi criado em 1987 pelo francês
Henry Rousso para contestar o genocídio judeu pelos nazistas durante a Segunda
Guerra Mundial. Para um bom entendedor, meia palavra basta! E nem é preciso
dizer que dessa forma a França preservou seu antissemitismo, abrigando sob as
asas de um perverso revisionismo uma pá de “formadores de opinião”, fascistas e
conservadores que negam o óbvio.
Como
os franceses tem gosto pela erudição e produzem como ninguém teses, ensaios,
tratados, proposições, experimentos e tudo o mais que a cozinha
literário-filosófica permite, a semana foi de relembrar as asneiras de Robert
Faurisson, um dos ideólogos do negacionismo (nego-me a grafá-lo em maiúscula!).
A France Culture, em sua página
‘facebook’, claro, dada as suas tendências antiisraelitas, contribui dando
visibilidade a Faurisson, felizmente explicada por Valérie Igounet, especialista
em negacionismo, ultradireita e antissemitas de carteirinha.
No
vídeo publicado pela France Culture,
vê-se Faurisson afirmar que as câmaras de gás de Auschwitz eram utilizadas para
exterminar piolhos; Jean-Marie Le Pen dizer que elas são um detalhe da guerra;
Alain Soral sustentar que a população judia hoje dobrou desde 1939, o que, para
ele, contradiz o extermínio dos judeus.
Igounet
afirma que para os negacionistas o Holocausto é a primeira teoria de complô,
pois ela aparece três anos após a Segunda Guerra, data que coincide com a
criação do Estado de Israel. Os negacionistas, por perversidade, antissemitismo
e mau-caratismo, via Faurisson, mediatizaram a questão (o site Slate.fr afirma:
“Faurisson está morto, mas seus métodos estão bem vivos”).
Faurisson
afirmou nas páginas do Le Monde, em
29/12/1978, que foi zero o número de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial.
Segundo Igounet, os negacionistas, imbuídos de uma ideologia, distorcem os
fatos históricos, selecionam documentos, procuram testemunhos de pessoas que se
adequam à teoria de que o extermínio de judeus nunca existiu e, dessa forma,
através de métodos nada científicos e desiguais, corroboram um postulado e
estruturam um discurso de modo a sustentarem a negação do óbvio, uma vez que no
caso específico dos judeus, há uma produção historiográfica indiscutível à
prova de qualquer análise.
Se,
à época, Faurisson criou um certo escândalo na França ao divulgar suas ideias
no Le Monde, na imprensa em geral e
nas rádios públicas, hoje, órgão públicos de imprensa, tal a France Culture, dissimulando mea culpa, mais uma vez ecoa – e propaga
- as ideias de Faurisson, para o deleite de um bando de loucos à espreita de
algo que os incite e os convença de que o ódio é algo naturalmente aceito, se
já não bastasse o fato de gente como
Jean-Gabriel Cohn-Bendit, da extrema-esquerda, tê-lo publicado em nome da
liberdade de expressão. Assim, o ódio assume ares político-intelectuais e, de
forma sub-reptícia, o antissemitismo aparece em obras como Les Mythes fondateurs de la politique israélienne, do comunista
Roger Garaudy, afora as asneiras vomitadas pelo iraniano Mahmoud Ahmadinejad e
pelo humorista antissemista Dieudonné.
Não
é preciso dizer que os ecos do ódio oriundo dos negacionistas ecoaram nos
trópicos, fotos de encontros dos militantes dos partidos nanicos da extrema
esquerda brasileira estão aí e não me deixam mentir (disponíveis na rede).
Sob
os auspícios dos negacionistas, nego ter escrito este texto, assim como nego
que haja corrupção no Brasil, assim como nego qualquer forma de intolerância
nesse torrão de meu Deus, assim como nego que existiram o genocídio
circassiano, o dos hererós e namaquas, o armênio, o Holodomor, o genocídio de
Bangladesh de 1971, o cambojano, o de Ruanda, o de..., o de..., o de...
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