Lembro-me
de um tempo em que, nas aulas de teatro, o diretor nos obrigava (Obrigava não!
O que fazíamos, só o fazíamos porque aquilo nos alimentava a alma e sonhávamos
com tempos em que a arte, soberana, pudesse dirimir a ignorância, impondo-se
entre as fissuras que esta, por sua natureza, com conseguia preencher.) à
repetição de exercícios em que precisávamos demostrar certa interioridade, isto
é, extravasar vida e emoção nos tais movimentos - técnica grotowskiana que,
porcamente comparada ao FLE, levaria os entusiastas actionnels a espasmos orgásticos.
A
razão deste intróito à deriva nada mais é que minhas repetições, afinal, em
busca do carro das notícias, o que vejo, obriga-me (agora sim!) à repetição
contra um sistema ao qual, confesso, não me acostumei. Talvez antes não me
desse conta da hipocrisia e da mediocridade que campeava à minha volta, por
estar eu mesmo medíocre. Mas hoje, depois de Machado, Shakespeare, Calvino,
Eco, Tolstói, Dostoiévski, Adorno, Habermas, Arendt, Stendhal, Balzac, Goethe,
Alighieri, Lima Barreto e tantos outros (os nomes me vêm às enxurradas), é
difícil não querer espernear, debater-se para sair do lodaçal de informações
falsas que a imprensa tenta nos submergir. Vá lá! Não havia notado, leitor, que
minha ranzinzice era, mais uma vez, contra a imprensa e seus esforços para
dissimular a verdade (se é que esta existe!)?
Deixemos
de lado a tão cantada imparcialidade que
qualquer jornalista (se tal espécimen ainda existir) com vergonha na cara
jamais ousará afirmar possuir, pois em nossos dias esta já não entra no rol das
dissimulações ensaiadas pela grande imprensa. Também não vou falar da perversidade
das agências de notícias, mas talvez, por eco, venha a elas de qualquer forma.
Prefiro
falar desse nosso tempo contemporâneo e fragmentado, em que se tem a impressão
de que nada mais pode ser criado, afinal, para se criar algo novo deve-se romper com o estabelecido. Como
então romper com a modernidade? Tornando-se pós-moderno? Ora, esta definição já
é passado e, se um dia excitou os espíritos, hoje não passa de um indicador
cronológico. O que fazer nesse mundo de globalização e hiperinformação, em que
desacreditamos até mesmo de nossos tempos passados e o que nos resta são
estilhaços e uma cacaria generalizada pior que a mediocridade, pois os cacos, ceramizados, exteriormente nos induzem a
acreditar em uma reconfiguração da imaginação?
Tudo
engodo, leitor! Eles nos fazem crer criativos, mas não só embotam nossa
inteligência, como surrupiam nossa capacidade de ver livremente novos
horizontes, de modo que só nos cabe, como dizia Borges, maus tempos para viver.
As mudanças, almejadas por todas as gerações, em nossos dias são dissolvidas
com a ajuda de um rebaixamento da cultura, hoje feita para a alienação dos
indivíduos e comprometida em dissimular a ruína em que vivemos.
Nesses
nossos tempos de intensa narrativa visual, em que fragmentos da vida pessoal
impedem o raciocínio a partir de uma totalidade - apesar do forte impacto que a
imagem do almoço da celebridade da novelinha possa causar em seus seguidores do
Instagram -, felizmente, uma centelha
de leitores busca as narrativas escritas, ainda que estas reproduzam as crises
e as fobias de uma geração individualista, drogada, hiperconectada, consumista
e fútil, de modo que não nos resta outra coisa além da desconfiança e do
ceticismo, tentativas de amalgamarmos fragmentos de nosso tempo para que, um
dia, quiçá nos reconheçam. Mas precisamos disso?
Nenhum comentário:
Postar um comentário