
Ah
vá, quem disse que contive as sinapses? Na hora fiquei achando que Brasília, o
STF, leitor, deveria abandonar as lagostas e partir pra merda, afinal, o
pessoal por lá anda um pouco além do peso e as faculdades mentais, bem, estas,
considerando-se o que se decide por lá... prefiro não comentar, como diria
Copélia! A dita refeição, penso, também deveria ser servida à gerência da rádio
Jovem Pan, que ora censura o historiador Marco Antonio Villa por criticar o
mandatário JB (que não é o whisky e nem o Jornal
do Brasil). Deste, dizem, não partiu a ordem de suspensão do historiador e
crítico do governo, mas, alguém acredita em notas emitidas por empresas de
comunicação, pelo governo e por quem foi pego de calças curtas ou com a boca na
botija?
O
fato é que em meio a toda essa balbúrdia, resolvi dar um tempo e recolhi-me na
leitura de um conto de Clarice Lispector, “A menor mulher do mundo”. Lá pelas
tantas, a narradora diz: “Creio
que também este conto vem de meu amor pelos bichos; parece-me que sinto os
bichos como uma das coisas ainda muito próximas de Deus, material que não
inventou a si mesmo, coisa ainda quente do próprio nascimento; e, no entanto,
coisa já se pondo imediatamente de pé, e já vivendo toda, e em cada minuto
vivendo de uma vez, nunca aos poucos apenas, nunca se poupando, nunca se
gastando.”[1]
Volto às notícias e dou de olhos com a
história de Capitán, o cão da cidade de Villa Carlos Paz, na Argentina. Capitán
era uma dessas criaturas próximas de Deus, que não se reinventou, ainda cheia
de um amor supremo, desinteressado e puro, há muito desaparecido de entre os
humanos. Capitán pôs-se de pé, viveu de uma vez e cada minuto devotando todo o seu
amor a seu dono, ainda que este já não estivesse mais entre os vivos. Capitán,
repito, deu mostra de um amor que não é humano, pois este, o humano, é um bicho
que reinventou a si próprio, se poupa a cada momento, não se gasta e, do alto
de sua arrogância, jamais seria capaz de se entregar tão por inteiro.
Abaixo, transcrevo a história de
Capitán, que retirei de um portal dedicado a contar relatos da vida desses
seres tão especiais (a notícia também foi publicada no jornal Clarín, dentre outros), tão próximos de
Deus, porém, tão maltratados diariamente - assim como a natureza -, por humanos
que só veem Deus no invisível.
Morreu o cão que guardou fielmente
o túmulo do dono durante dez anos
Capitán é o nome do cão mais conhecido em
Villa Carlos Paz, uma província de Cordoba, na Argentina. O animal morreu no
mesmo cemitério onde o dono está sepultado, depois de ter passado dez anos a
guardar o seu túmulo.
“Nunca vi uma coisa assim”,
disse Marta Clot, florista do cemitério, ao “20 minutos”, recordando em
lágrimas Capitán, que com 16 anos, depois de vários problemas de visão e
complicações articulares, morreu.
O cão foi uma prenda de
surpresa de Miguel Guzmán ao filho Damián. Um ano depois, em 2006, Miguel
morreu e o cão desapareceu de casa, regressando algum tempo depois,
permanecendo junto à casa da família.
O animal voltou a desaparecer
e a família pensou que tinha morrido ou fora adotado por outras pessoas, até
que o encontraram no cemitério, deitado no túmulo de Miguel. “De certeza que
veio procurar o dono”, disse a florista.
Tendo
em conta que o cão viveu grande parte dos últimos dias no cemitério, várias
pessoas pedem para que os restos mortais do animal sejam depositados no
cemitério. Para que isso seja possível, será necessária uma autorização
especial.[2]
[1] LISPECTOR, Clarice. “A menor mulher do mundo”. In: Laços de Família: contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, pp. 77-86.
[2] https://www.portaldoanimal.org/morreu-o-cao-que-guardou-fielmente-o-tumulo-do-dono-durante-dez-anos/?fbclid=IwAR2FlZY9hzf_RiFWEB2rB2AwayTK6CK_jxmbNg0Pclq1mkFn9aA9ujt-elM
Publicado originalmente em https://z1portal.com.br/amor-de-verdade-o-dos-animais/