
Por
outro lado, na réplica, um representante tupiniquim desinformado, inexperiente
e obtuso, que alimentou o fogo e a fumaça com sua costumeira grosseria. Deu no
que deu. O assunto foi o mais discutido, o mais escrito e o mais comentado pela
turba que povoa o espaço das redes sociais. Enfim, não preciso retomar a
opinião de Umberto Eco sobre a capacidade cognitiva da fauna que o habita...
Em
meio a toda essa balbúrdia, alguns
desencavaram um texto de Cristovam Buarque, insigne representante da política
torva e sanhuda, mas também professor e engenheiro. Lúcido cidadão, parece-me. Buarque,
que estava em uma universidade americana, ao ser perguntado sobre a internacionalização
da Amazônia por um aluno que dissera querer ouvir a resposta não de um
brasileiro, mas de um Humanista, respondeu:
“
|
De fato, como brasileiro eu
simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que
nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.
Como humanista, sentindo o
risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua
internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a
humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética
humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas
de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da
humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das
reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e
subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital
financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma
reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de
um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego
provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos
deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na
volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu
gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O
Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das
mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse
patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e
instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um
milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre.
Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as
Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de
países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos
EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser
internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade.
Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada
cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao
mundo inteiro.
Se os EUA querem
internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros,
internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já
demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição
milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do
Brasil.
Defendo a ideia de
internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos
usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade
de comer e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas
elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados
do mundo inteiro.
Como humanista, aceito
defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como
brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!”
Publicado originalmente em https://www.z1portal.com.br/a-internacionalizacao-da-amazonia/
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