Revista Philomatica

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Educação, dias melhores em 2018

A roda viva gira muito rápido, por isso arrisco-me a incorrer em erro; mas é muito provável que grande parte dos leitores ainda se lembre da canção dos Titãs, entoada às desbragadas por uma juventude supostamente faminta de diversão, arte e fazer amor. Pois bem, a trancos e barrancos conseguimos comer, mal, mas comemos; nem todos, é claro, mas uma maioria - comme toujours!
Contudo, tratando-se da dita diversão, tudo é relativo! Para alguns, o funk não só diverte, como é pura arte! Outros, no entanto, ao som de acordes do gênero, só não enfiam a cabeça no buraco feito avestruz porque a retaguarda fica desprotegida, e é nisso que o funk mira e é disso que os funkeiros gostam. Isto posto, a juventude não só come, mas faz amor!
Ela, a juventude, crê-se informada! Não à toa, as redes sociais estão plenas de especialistas. Descreio de muita coisa e, na dúvida, volto-me aos meus botões. Como sabem, sempre há um que me socorre nessas horas. Desta vez não foi diferente: disse-me para não generalizar, pois o diabo não só mora nos detalhes, mas sobretudo nas exceções; alertou-me também para que ficasse atento, pois a maioria confunde informação com conhecimento.
Talvez, por isso, na republiqueta Temer o ensino está cada vez mais sucateado, afinal, para os liberais de plantão, qualidade é água (suja), conhecimento é pasto (seco)! E você, tem sede de quê? Tem fome de quê? O pessoal da canaille, leitor, pouco se importa se você tem fome ou sede, desconhece seus desejos; a imprensa, não faz diferente e lança hora ou outra as ditas reportagens denunciadoras que só corroboram o projeto político de sucatear o ensino público; os oportunistas, ah!, esses nadam de braçadas como se a educação pudesse ser descartada como produto fora de linha, substituindo-a por qualquer outro, em proveito do lucro e sem qualquer desperdício para o conhecimento como afirmam.
Vejam, por exemplo, o caso de um anúncio de vagas para professor veiculado nas redes sociais: um colégio particular oferece vaga para professor infantil e fundamental I a uma remuneração de R$ 1.450,00 mensais (período integral). Como não se revoltar, se é sabido que um aluno paga uma mensalidade que ultrapassa em muito o valor oferecido ao professor por um mês de trabalho?
O curioso é que há entre o professorado aqueles que, por razões que desconheço, tentam justificar um salário tão irrisório e, para isso, trazem como justificativa os salários acachapantes e vergonhosos pagos aos professores públicos. Há bem pouco tempo, as universidades eram repositórios de respeito ao professor e de um salário, digamos, justo. Como disse, há bem pouco tempo, porque a roda gira. A USP, renomada universidade e uma das melhores do país, trata de fazer a sua parte para o recrudescimento desse quadro já vergonhoso.
Hoje, segundo notícia do Estadão[1], o número de professores temporários na USP triplicou desde 2014. Há pouco, o Departamento de Ciências Sociais lançava edital em busca de professor substituto: 12 horas de trabalho semanais a um salário de mil e poucos reais. O detalhe é que esse substituto deve fazer aquilo que o professor efetivo faz, às vezes mais, e para que chegue a fazer esse mais, é preciso titulação – no mínimo, doutorado, e um Lattes recheado de publicações etc e tal.
As notícias da semana só reforçam esse plano de reduzir o ensino público a nada: a USP, a UNICAMP preveem déficit, a UNESP pede verba. A culpa? A tal da crise; uma mão na roda na hora de se criar uma desculpa, aliás, crise que jamais atinge a canaille, cujos salários são majorados rotineiramente. A Estácio demitiu 1200 professores de uma tacada só; a Universidade Metodista mais uns 50. E assim caminha o ensino...
Mas não há motivo para pessimismo! Tudo vai mudar com o novo ano que se aproxima: 2018 é ano eleitoral e a educação, como num passe de mágica, torna-se a principal pauta dos políticos, corruptos ou não. Nós, brasileiros, como somos afeitos a promessas, acreditamos em Papai Noel, duendes, Salvadores da pátria e otras cositas. Por isso, votamos e acreditamos em dias melhores.



[1] http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,numero-de-professores-temporarios-na-usp-mais-que-triplica-desde-2014,70002099343

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