A
roda viva gira muito rápido, por isso arrisco-me a incorrer em erro; mas é
muito provável que grande parte dos leitores ainda se lembre da canção dos
Titãs, entoada às desbragadas por uma juventude supostamente faminta de
diversão, arte e fazer amor. Pois bem, a trancos e barrancos conseguimos comer,
mal, mas comemos; nem todos, é claro, mas uma maioria - comme toujours!
Contudo,
tratando-se da dita diversão, tudo é relativo! Para alguns, o funk não só diverte, como é pura arte!
Outros, no entanto, ao som de acordes do gênero, só não enfiam a cabeça no
buraco feito avestruz porque a retaguarda fica desprotegida, e é nisso que o funk mira e é disso que os funkeiros
gostam. Isto posto, a juventude não só come, mas faz amor!
Ela,
a juventude, crê-se informada! Não à toa, as redes sociais estão plenas de
especialistas. Descreio de muita coisa e, na dúvida, volto-me aos meus botões.
Como sabem, sempre há um que me socorre nessas horas. Desta vez não foi
diferente: disse-me para não generalizar, pois o diabo não só mora nos
detalhes, mas sobretudo nas exceções; alertou-me também para que ficasse
atento, pois a maioria confunde informação com conhecimento.
Talvez,
por isso, na republiqueta Temer o ensino está cada vez mais sucateado, afinal,
para os liberais de plantão, qualidade é água (suja), conhecimento é pasto
(seco)! E você, tem sede de quê? Tem fome de quê? O pessoal da canaille, leitor, pouco se importa se
você tem fome ou sede, desconhece seus desejos; a imprensa, não faz diferente e
lança hora ou outra as ditas reportagens denunciadoras que só corroboram o
projeto político de sucatear o ensino público; os oportunistas, ah!, esses
nadam de braçadas como se a educação pudesse ser descartada como produto fora
de linha, substituindo-a por qualquer outro, em proveito do lucro e sem
qualquer desperdício para o conhecimento como afirmam.
Vejam,
por exemplo, o caso de um anúncio de vagas para professor veiculado nas redes
sociais: um colégio particular oferece vaga para professor infantil e
fundamental I a uma remuneração de R$ 1.450,00 mensais (período integral). Como
não se revoltar, se é sabido que um aluno paga uma mensalidade que ultrapassa
em muito o valor oferecido ao professor por um mês de trabalho?
O
curioso é que há entre o professorado aqueles que, por razões que desconheço,
tentam justificar um salário tão irrisório e, para isso, trazem como
justificativa os salários acachapantes e vergonhosos pagos aos professores
públicos. Há bem pouco tempo, as universidades eram repositórios de respeito ao
professor e de um salário, digamos, justo. Como disse, há bem pouco tempo,
porque a roda gira. A USP, renomada universidade e uma das melhores do país,
trata de fazer a sua parte para o recrudescimento desse quadro já vergonhoso.
Hoje,
segundo notícia do Estadão[1], o
número de professores temporários na USP triplicou desde 2014. Há pouco, o
Departamento de Ciências Sociais lançava edital em busca de professor
substituto: 12 horas de trabalho semanais a um salário de mil e poucos reais. O
detalhe é que esse substituto deve fazer aquilo que o professor efetivo faz, às
vezes mais, e para que chegue a fazer esse mais, é preciso titulação – no mínimo,
doutorado, e um Lattes recheado de publicações etc e tal.
As
notícias da semana só reforçam esse plano de reduzir o ensino público a nada: a
USP, a UNICAMP preveem déficit, a UNESP pede verba. A culpa? A tal da crise;
uma mão na roda na hora de se criar uma desculpa, aliás, crise que jamais atinge
a canaille, cujos salários são
majorados rotineiramente. A Estácio demitiu 1200 professores de uma tacada só;
a Universidade Metodista mais uns 50. E assim caminha o ensino...
Mas
não há motivo para pessimismo! Tudo vai mudar com o novo ano que se aproxima:
2018 é ano eleitoral e a educação, como num passe de mágica, torna-se a
principal pauta dos políticos, corruptos ou não. Nós, brasileiros, como somos
afeitos a promessas, acreditamos em Papai Noel, duendes, Salvadores da pátria e
otras cositas. Por isso, votamos e
acreditamos em dias melhores.
[1] http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,numero-de-professores-temporarios-na-usp-mais-que-triplica-desde-2014,70002099343
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