
Mas
Emília deixou de ser a boneca mais esperta de todas, perdeu para Pedro Bandeira
que, tão logo ouviu o tilintar do martelo a declarar a obra de Lobato domínio
público, entreviu a oportunidade de ganhar uns caraminguás e engordar ainda
mais a burra com a criatividade alheia.
Não
vou tratar aqui do mau-caratismo revisionista, que apaga a memória em proveito
de ideologias (até mesmo porque já falei disso antes nesta coluna), mas do oportunismo
de Pedro Bandeira, mosqueteiro do bom-mocismo, que, ao suprimir algumas frases
(e personagem) de Lobato, tascou seu nome na capa de Narizinho a menina mais querida do Brasil (título criado por
Bandeira ao estropiar Casamento de Narizinho,
Reinações de Narizinho, Narizinho arrebitado etc) e se apropriou
da inventividade, inteligência e talento de Lobato sob a alegação de “limpar” a
obra de lobatiana, constituindo-se em mais um caso em que o sub-reptício
interesse pelo vil metal faz da luta por uma causa metonímia para o uso
descarado do plágio. Trocando em miúdos, no quesito esperteza Bandeira passou a
perna na Emília.
Ouvi
dizer que Pedro Bandeira é fã assumido de Lobato. Não acredito! Se é fã, por
que desossar, desfolhar, encurtar, suprimir, destruir a obra do autor? Para
atender e se ajustar à bandeira da militância e com isso ganhar um dinheiro a
mais? A questão do racismo pode e deve ser discutida e refletida a partir da
obra e não suprimindo trechos! Isso é mau-caratismo! Há um blogueiro que,
referindo-se às interferências de Bandeira, afirmou que este deu uma “arejada”
na obra, driblando o racismo. Famelizar e desmontar a obra de Lobato, suprimir
Pedrinho da narrativa sob a alegação de que se trata de uma personagem fraca e,
de quebra, sustentar que “todas e cada uma das personagens lobatianas são
apenas coadjuvantes e ou figurantes dessa maravilhosa e apaixonante menininha”
[Narizinho], ora, convenhamos, escritor algum precisa de um fã como este,
melhor são os inimigos que, lendo-o mal, lançam mão de práticas intolerantes e
medievais para pleitear a queima de seus livros.
Antes
que conclua: o que dizer depois de Bandeira afirmar que Narizinho é, ao lado de
Capitu, a grande personagem da Literatura Brasileira? Sem querer fazer o que
Bandeira fez com Pedrinho, penso que Narizinho seja uma importante personagem,
mas não se compara a Capitu, de modo que o comentário, parece-me, senão um mau
conhecimento da Literatura Brasileira, algum problema com a qualidade do pó de
pirlimpimpim.
Por
fim, finalizo com as palavra de Bradbury em seu posfácio “Coda”, a Fahreinheit 451, quando o autor comenta
as ablações efetuadas em contos de Twain, Irving, Poe, Maupassant e Bierce:
“cada minoria, seja ela batista, unitarista; irlandesa, italiana, octogenária,
zen-budista; sionista, adventista-do-sétimo-dia; feminista, republicana;
homossexual, do evangelho-quadrangular, acha que tem a vontade, o direito e o
dever de esparramar o querosene e acender o pavio. Cada editor estúpido que se
considera fonte de toda a literatura insossa, como um mingau sem gosto, lustra
sua guilhotina e mira a nuca de qualquer autor que ouse falar mais alto que um
sussurro ou escrever mais que uma rima de jardim de infância.”
Por
isso, em tempos de bandeiras, menos Bandeira e mais Lobato!
Foto: Rede Globo, série infantil.
Publicado originalmente em https://www.z1portal.com.br/emilia-nao-e-a-mais-esperta/