Nesta semana, dia 8, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. Embora com atraso, aqui vai minha sincera homenagem, a história de uma mulher brilhante para sua época - Gabrielle Émilie Le Tonnelier de Breteuil, marquise du Châtelet. Deixe de lado a pompa e a nobreza do nome. Era comumente conhecida por Émilie du Châtelet ou Madame du Châtelet. Nasceu em Paris, em 1706, e morreu jovem, em 1749. Porém, ficou conhecida por ser uma intelectual sensual, que amava os livros, os diamantes, a álgebra e a física. Em geral, é tratada pelos biógrafos ora como mathématicienne, ora como physicienne. Teve a sorte de viver em um ambiente liberal. Era bastante instruída e amava as ciências. Estudou matématica e traduziu os princípios de Newton, acrescentado a eles comentários de álgebra. Desde menina, teve contato com os poetas Jean-Baptiste Rousseau e Fontenelle, no salão de sua família, em Paris. Deve a seu pai uma educação que raramente era dada às meninas. Ele lhe ensinou latim, grego e alemão. Como o pai também mostrava talento para a música, ela aprendeu a tocar cravo, amar a dança e o teatro. Amava a vida e os prazeres que ela oferecia, por isso se deu ao luxo de cometer extravagâncias. Tinha certa queda por roupas, sapatos e jóias. Casou-se aos dezenove anos com o marquês Florent Claude du Chatelet (ou Chastellet), porém, seu marido a deixa viver livremente, talvez por ter se dado conta de suas próprias limitações e por ter reconhecido as capacidades intelectuais da mulher. Devido à carreira militar, o marido a vê raramente. Nada mais compreensível que tivesse vários amantes. Voltaire foi, sem dúvida, o mais influente, encorajando-a a aprofundar seus conhecimentos de física e matemática, para os quais, reconheceu, ela tinha habilidades especiais.
A essa época, a palavra cientista não existia, mas, efetivamente, Madame du Châtelet, foi uma das primeiras mulheres a manter documentação capaz de comprovar sua atividade e ser assim chamada. Isso não significa que não tenha havido, antes, mulheres com pendor para as ciências. Basta lembrar-se da trágica morte de Hipátia, na antiguidade.
Émilie du Châtelet estudou Leibniz e manteve contatos com Claurault, Maupertuis, König, Bernoulli, Euler, Réaumur e muitos outros, aos quais se pode creditar o surgimento das ciências exatas, termo ainda inexistente à época. Atuante, quando começou a tradução Principia Mathematica, de Newton, foi visitar Buffon. Conheceu Voltaire, em 1734, quando ele tinha caído em desgraça na corte e se ausentado de Paris para viver seu inferno astral em Cirey. A relação dos dois durará por quinze anos. Voltaire incentivou-a a traduzir Newton, ressaltando a importância da liberdade de pensar por si mesmo.
Ela entrou na vida de Voltaire em momento em que ele precisava de um porto seguro. A perseguição era um hábito na França desses dias. A justiça e seus ministros tinham decidido perseguir Voltaire. O arcebispo de Paris, Vintimille, "que amava apaixonadamente as mulheres e detestava os filósofos", se queixa com o responsável pela polícia de Paris de um certo Epître à Uranie, de autoria de Voltaire. Falava-se também de uma epopeia sobre a virgem d'Orléans, que era um escândalo sem igual. Voltaire foi ameaçado; se o poema viesse à tona, seria enterrado em uma masmorra. Para Voltaire era inconveniente ter vocação para o apostolado quando não tinha sequer a de mártir, já que desejava viver e pensar livremente e não habitar a Bastille. Madame du Châtelet lhe oferece abrigo em seu castelo de Cirey, perto da fronteira, a alguns passos da Lorraine, onde seria fácil conseguir refúgio em caso de perseguições. Ele, claro, aceita e aí passa quatorze anos em estreita intimidade com a dona da propriedade.
Foi uma longa ligação, porém, não menos tempestuosa. A agitação de Voltaire e o "temperamento de fogo" de Madame du Châtelet eram o combustível para faíscas frequentes e, quando havia hóspedes, recorriam ao inglês para se insultarem. Eram ativos e sem algum rancor. Cirey tornou-se um laboratório, um reduto da química. Voltaire e Madame du Châtelet se separavam todos os dias para fazer suas experiências ou para escrever. Eles concorrem entre si, sem que um não saiba sobre o outro, a um prémio dado pela Académie des Sciences sobre a natureza do fogo. Madame du Châtelet coloca tanto calor ao escrever seu estudo que, não raro, precisava se acalmar e mergulhar os longos braços em água fria. Ali, em Cirey, Voltaire escreveu os Éléments de la Philosophie de Newton e inúmeras outras obras. Matemáticos como Claurault e Maupertuis visitam os dois confrades. Admiram o ambiente simples e elegante do lugar, porém, a vida ali girava em torno do trabalho, das leituras, dos estudos e da ciência, capitaneados por Voltaire e pela não menos interessante e notável Madame du Châtelet.
A essa época, a palavra cientista não existia, mas, efetivamente, Madame du Châtelet, foi uma das primeiras mulheres a manter documentação capaz de comprovar sua atividade e ser assim chamada. Isso não significa que não tenha havido, antes, mulheres com pendor para as ciências. Basta lembrar-se da trágica morte de Hipátia, na antiguidade.
Émilie du Châtelet estudou Leibniz e manteve contatos com Claurault, Maupertuis, König, Bernoulli, Euler, Réaumur e muitos outros, aos quais se pode creditar o surgimento das ciências exatas, termo ainda inexistente à época. Atuante, quando começou a tradução Principia Mathematica, de Newton, foi visitar Buffon. Conheceu Voltaire, em 1734, quando ele tinha caído em desgraça na corte e se ausentado de Paris para viver seu inferno astral em Cirey. A relação dos dois durará por quinze anos. Voltaire incentivou-a a traduzir Newton, ressaltando a importância da liberdade de pensar por si mesmo.
Ela entrou na vida de Voltaire em momento em que ele precisava de um porto seguro. A perseguição era um hábito na França desses dias. A justiça e seus ministros tinham decidido perseguir Voltaire. O arcebispo de Paris, Vintimille, "que amava apaixonadamente as mulheres e detestava os filósofos", se queixa com o responsável pela polícia de Paris de um certo Epître à Uranie, de autoria de Voltaire. Falava-se também de uma epopeia sobre a virgem d'Orléans, que era um escândalo sem igual. Voltaire foi ameaçado; se o poema viesse à tona, seria enterrado em uma masmorra. Para Voltaire era inconveniente ter vocação para o apostolado quando não tinha sequer a de mártir, já que desejava viver e pensar livremente e não habitar a Bastille. Madame du Châtelet lhe oferece abrigo em seu castelo de Cirey, perto da fronteira, a alguns passos da Lorraine, onde seria fácil conseguir refúgio em caso de perseguições. Ele, claro, aceita e aí passa quatorze anos em estreita intimidade com a dona da propriedade.
Foi uma longa ligação, porém, não menos tempestuosa. A agitação de Voltaire e o "temperamento de fogo" de Madame du Châtelet eram o combustível para faíscas frequentes e, quando havia hóspedes, recorriam ao inglês para se insultarem. Eram ativos e sem algum rancor. Cirey tornou-se um laboratório, um reduto da química. Voltaire e Madame du Châtelet se separavam todos os dias para fazer suas experiências ou para escrever. Eles concorrem entre si, sem que um não saiba sobre o outro, a um prémio dado pela Académie des Sciences sobre a natureza do fogo. Madame du Châtelet coloca tanto calor ao escrever seu estudo que, não raro, precisava se acalmar e mergulhar os longos braços em água fria. Ali, em Cirey, Voltaire escreveu os Éléments de la Philosophie de Newton e inúmeras outras obras. Matemáticos como Claurault e Maupertuis visitam os dois confrades. Admiram o ambiente simples e elegante do lugar, porém, a vida ali girava em torno do trabalho, das leituras, dos estudos e da ciência, capitaneados por Voltaire e pela não menos interessante e notável Madame du Châtelet.
Nota: Madame du Châtelet e Château de Cirey, litografia da época.
Muito boa lembrança. Aliás, Madame de Châtelet é autora de "Discours sur le bonheur", um dos mais importantes ensaios escritos no século XVIII sobre a felicidade , segundo Robert Mauzi. Vale a pena ler, há uma tradução da Martins Fontes, não lembro o nome do tradutor.
ResponderExcluirabraços
ana
Bem, também foi ela quem inspirou Voltaire a escrever o Essai sur les moeurs.
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