11ª
praga: “Porque a carne é fraca, haverás de comê-la pobre por todos os dias de
sua existência.”
Os
egípcios não levaram a sério a monomania de Moisés, enfrentaram o Altíssimo, e deu
no que deu: padeceram dores e flagelos com as dez pragas. Ah, as pragas!
Outrora sofrimento, hoje são a alegria de diretores de folhetins que, na falta
de roteiros bem elaborados, douram a pílula e fazem delas estripulias dignas de
Hollywood.
Gago,
talvez Moisés tenha encontrado alguma dificuldade em se expressar; pode ser
também que do alto do trono Faraó não tenha feito lá muito esforço para
entendê-lo. Lenda ou verdade, o fato é que os egípcios pagaram caro por terem
ignorado Moisés. Má vontade dá nisso!
No
fundo, lá na filigrana, os acontecimentos da semana não diferem em nada da
lenda bíblica. Ainda que a tabuleta tenha sido trocada (lembram-se da Tabuleta
Nova em Esaú e Jacó?), Faraó fez
questão de manter no nome as cinco letrinhas e nas ações a mesma arrogância.
Representante-mor da canaille, finge
desconhecer a ética. Moisés, por outro lado, sofreu certo esfacelamento e hoje
virou instituição.
Moisés,
não se sabe bem o porquê, veio a público dizer que acabara de descobrir que o
povo hebreu padece da 11a praga: come carne pobre, seja de bois de
sequestro, seja porque resolveram misturá-la a resíduos de papelão antes de
chegar à mesa - ou à laje -, e não se dá conta.
Assim
como na historieta bíblica, vale o aforismo espírita da lei do retorno. Faraó,
seus asseclas e cúmplices estavam fadados a serem descobertos - sempre souberam
disso -, mas detêm o poder e isso relativiza tudo; já o povo hebreu, por mais
que se tenha mostrado incrédulo com a preparação da iguaria, não é assim tão
ingênuo.
A
prova disso é que há muito se publica na internet como nuggets e salsinhas são produzidos. Também há muito ativistas
procuram conscientizar o povo da crueldade e do sofrimento imposto aos animais.
E não é só isso: há muito este obstinado povo hebreu tem conhecimento de toda
sorte de substâncias venenosas e/ou cancerígenas que são misturadas à carne,
assim como suas implicações à saúde, não obstante as menininhas exibirem
orgulhosas, já aos oito anos de idade, belos pares de peitinhos.
Mas
o povo hebreu é faminto: o maná já não lhe satisfaz. Obtuso, além do churrasco
na laje, parece viver a copular e a vibrar com a vitória de seu time favorito,
esquecendo-se da profusa podridão que orbita seu espírito e que, hora ou outra
fede, impregna as urnas, e o faz predestinado a uma vida de gado.
Por
essas e outras que a surpresa descabida não se justifica! Qualquer hebreu
atento teria notado que a escolta da polícia aos caminhões da Friboi, na greve
dos caminhoneiros de 2015, era indício de que o estado da carne não estava lá
essas coisas. O porquê de só agora Moisés decidir dar com a língua nos dentes é
ainda um mistério. É sabido que à época de Hatshepsut, e até mesmo do Faraó
anterior, as megacorporações de carnes foram beneficiadas com empréstimos
polpudos do BNDES e que o TCU já via ali indícios de favorecimento.
A
venda de carne apodrecida, com validade vencida, misturada a resíduos papelão e
aditivos cancerígenos, entre outras fraudes, faz com que a maledetta propina paga aos cúmplices e ao partido do Faraó pareça
café pequeno. Assim, mais uma vez o povo hebreu é ludibriado!
E
digo mais: Moisés não só revelou o óbvio, como também contribuiu para inverter
a importância das coisas. Enquanto os hebreus se preocupam com a salsicha de
todo dia, os fariseus metem a mão em sua aposentadoria e acabam com as leis
trabalhistas. Amanhã, passado o susto, a salsicha continuará na prateleira à
espera do povo, só que em menor quantidade, já que terá sua renda ainda mais
sucateada; o papelão, caso não tenha seu preço majorado no mercado, continuará
a fazer parte do cardápio. As substâncias cancerígenas? Bem, o povo hebreu terá
os planos de saúde populares.
Os
animais? O pacífico povo hebreu não se importa com isso. Ademais, os
frigoríficos não têm paredes de vidro, portanto, ignoram a crueldade, o ranger
de dentes, o sangue que jorra...
Caro
leitor, prometo que na próxima semana volto aos livros. A realidade não tem se
mostrado nada atraente, levando-me a Schopenhauer. A solução, parece-me, vem da
ficção.
Publicado originalmente em http://z1portal.com.br/category/miscellanea/
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