Giambattista
Vico, em sua Nova Ciência - isto lá
em 1725 -, postula um ciclo de três fases: Teocrática, Aristocrática e
Democrática. A esta última, seguir-se-ia um caos do qual surgiria por fim uma
Nova Era Teocrática. Vico não pressupunha uma Era do Caos antes que se
iniciasse o teocraticismo, mas, segundo Harold Bloom, pretendendo continuar a
Era Democrática, vivemos a Era do Caos. Leyla Perrone-Moisés, em seu mais
recente livro, chama o pós-moderno de “nosso desastroso período histórico”.
Pode-se
também especular que logo após nossa Era do Caos, a “profecia” de Vico
concretizar-se-á e então adentraremos a Nova Era Teocrática. Os sinais são
claros, enxergá-los e/ou interpretá-los, de fato, requer pouco ou nenhum
trabalho.
Há
pouco revi um vídeo da célebre canção Aquarius,
extraído do filme Hair, que embalou
os sonhos de toda uma geração no final dos anos setenta e início dos oitenta. Os
libertários anos sessenta afirmam-se nos setenta e os jovens sentem-se orgulhosos
de terem quebrado barreiras, tabus e, de alguma forma, libertado o próprio
corpo de dogmas há muito estratificados. A Era
de Aquarius, almejada e cantada por essa geração, seria então a luz no fim
do túnel, a saída da Era do Caos.
Vico
nos assusta: será que teremos mesmo que passar pela Nova Era Teocrática antes
que a Lua esteja na sétima casa? Quanto teremos que padecer até que Júpiter se
alinhe com Marte? Qual o preço a pagar para que a solidariedade e a confiança sejam
abundantes e tenhamos enfim a libertação verdadeira da mente?
Guardados
os devidos exageros, as notícias que pipocam na imprensa dão conta de que
estamos a pouco da Nova Era Teocrática, conservadora e reacionária. Hoje, por
exemplo, corri os olhos por duas importantes matérias a esse respeito: a
perseguição religiosa que tem elegido os cristões como seu principal alvo e o
aumento do islamismo no mundo.
Procurei
na rede e descobri que estas mesmas notícias têm se repetido ao longo dos últimos
três anos: “Islamismo é a religião que mais cresce, oferecendo conforto
espiritual para fiéis no mundo inteiro”; “O número de mesquitas e
mussalas (salas de oração islâmicas) no Estado de São Paulo cresceu cerca de
20% em 2015”; “Até 2050, islamismo crescerá 73% e será religião que
mais terá se expandido no mundo, diz estudo”; “O fim do cristianismo”, “O
cristianismo está com os dias contados” e
così via.
Circunscrevendo
especulações e levando-se em conta as evidências de fatos e estudos, pode-se mesmo
acreditar no fim do mundo cristão. Hoje, a Igreja Católica debate-se em seu
próprio seio. É bem possível que o Papa Francisco, voz dissonante na tradição
conservadora da Igreja, tenha iniciado um processo que, curiosamente, nos
últimos dias fará da Igreja esteio e porto seguro para homossexuais, prostitutas
e toda a sorte de minorias, de maneira que a Igreja morrerá honrada, admirada e
dignamente.
Os indícios da Nova Era Teocrática,
como disse acima, podem ser colhidos aqui e ali. A França, por exemplo, país em
estado de islamização avançado, mostra horror ao cristianismo, face,
evidentemente, a um passado em que o clero protagonizava sedução, abuso e desmandos
em seu conluio com o poder - senão o próprio poder. Hoje, no país de Voltaire,
não é raro atrocidades cometidas contra a mulher ganharem explicações de cunho
multiculturalista.
Assim, o queijo é comido
pelas beiradas. Casos como o do Cairo, Copenhague, Londres, Berlim, Paris e
Nice não passam de uma dentada mais afoita. Passada a comoção, tudo volta à
normalidade, ainda que as mesquitas salafistas em solo francês continuem seu
trabalho de formiguinha.
No contar dos mortos, há
de chegar o dia em que as almas crestadas pela Inquisição serão diminutas e só lembradas
por seu viés exótico, assim como as Cruzadas.
Mas no embate entre a
cruz e o crescente, este último, embora caminhe a passos largos, ainda não
dizimou a primeira. Por enquanto, em terras tupiniquins nada
de homens bombas ou caminhões em meio à multidão, manège islamista; aqui provamos da versão light do fundamentalismo cristão, que há muito perdeu seu poder de
fogo e não mais arbitra contra inimigos, bruxas e hereges.
Seja
o cristianismo, seja o islamismo, ambas pretendem-se religiões de paz, e isto é
fácil de se provar: basta que se contem as vítimas.
Mas
eu pretendia falar da Era de Aquarius,
aquela luz no fim do túnel que muitos verão ao longe, tal Moisés a contemplar a
Terra Prometida. Vá lá, adentremos o território do misticismo: acreditava-se
que a Era de Aquarius teria início em
2150 d.C. (Elsa M. Glover); cálculos foram refeitos e Max Heindel prorrogou seu
início para 2178; Shepard Simpson corrigiu alguns pequenos deslizes e tascou
seu início para 2680 d.C.! Isso significa, caro leitor, que dificilmente
escaparemos à Nova Era Teocrática.
Carl
Jung, parece-me, também versado em astrologia, afirmou que a Era de Aquarius só ocorrerá por volta de
2600 d.C., e em Jung eu acredito!
Por fim, levando-se
em conta os prognósticos aventados pela astrologia e as notícias, o horizonte
está turvo - ou anuviado, como diz uma “amiga”! Portanto, só nos resta o verso
final da célebre canção: “Deixe o raio de sol,
deixe o raio de sol entrar...”.
Publicado originalmente em http://z1portal.com.br/category/miscellanea/
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